30 de set. de 2009

Lista registra 6 museus ''fantasmas''

CULTURA
Embora instituições só existam no papel, constam como ativas e atreladas à Secretaria de Estado da Cultura

Dos 49 museus indicados pela Secretaria de Estado da Cultura como "em fase de municipalização", 12 estão fechados e 6 são museus "fantasmas". Embora só existam no papel, essas instituições aparecem como ativas e atreladas à pasta no cadastro das unidades administrativas disponível no site da Secretaria de Estado da Fazenda.

Fantasma, por exemplo, é o Museu Histórico, Artístico e Folclórico Luiz Gonzaga, de Embu. "Foi desativado em 1993, por falta de pagamento do aluguel do prédio", conta o atual secretário municipal da Cultura, Paulo Oliveira da Silva. "O acervo se espalhou. Há quadros no Centro Cultural, no Museu de Arte Sacra e algumas peças no prédio da prefeitura. E, com certeza, sumiu alguma coisa."

Para a lamentação dos que tinham ligação com o espaço, Silva diz que não tem como reimplantá-lo. "Fico muito triste porque as obras foram para todo lado e muitas peças desapareceram", desabafa a artista plástica Raquel Trindade, cujo pai foi um dos fundadores do museu, em 1968. "É a nossa cultura sendo destroçada."

A coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura, Claudinéli Moreira Ramos, admite que houve alguns casos de sumiço de peças, mas afirma que não chegou ao seu conhecimento nenhuma história de acervo completamente perdido. "De qualquer forma, vamos estudar detalhadamente cada situação."

Em Campinas, o Museu Histórico e Pedagógico Campos Salles, foi simplesmente desalojado após a interdição, em 1996, do Palácio da Mogiana, onde a instituição funcionava. O acervo foi então recolhido e trazido à capital, onde repousa, numa reserva técnica da Secretaria da Cultura. Uma surpresa para própria Secretaria Municipal da Cultura que não tinha informação do paradeiro da coleção.

"Ao menos desde 1992, quando cheguei à secretaria, posso dizer com segurança que a prefeitura não teve notícia do acervo", afirma o coordenador do Departamento de Extensão Cultural de Campinas, Américo Villela, responsável pelos museus locais. "Até aqui, ninguém falou nada de municipalização, muito menos de um lugar que nem existe."

Em São Joaquim da Barra, a desinformação também é geral. De acordo com a prefeitura, o Museu Histórico e Pedagógico Barão de Pinto Lima teria sido extinto há cerca de 20 anos. "Algumas coisas estão no almoxarifado, mas a maior parte se perdeu", conta o assessor de Relação com a Comunidade, José Renato Fiori. "Nunca tive acesso a essas peças", admite a responsável pelo Setor de Educação e Cultura, Carmem de Freitas e Silva. "Também não me falaram nada sobre esse processo de municipalização."

Ainda não há destinação definida para o acervo dos museus que não tiveram continuidade - geralmente peças de valor local, sobre costumes das cidades do interior entre os séculos 19 e as primeiras décadas do século 20. "Vamos analisar e avaliar o valor de cada patrimônio. Existem museus que receberam doação de todo tipo de material, sem referência ou importância histórica", diz Claudinéli Moreira Ramos.

ESPAÇO REAPROVEITADO
Além das instituições que simplesmente sumiram, há museus cujos acervos foram incorporados por outros equipamentos de cultura municipais. Em Mogi-Guaçu, Monte Mor e Bauru, as coleções dos museus dos municípios - Dr. Sebastião José Ferreira, Dr. Carlos de Campos e Morgado de Matheus, respectivamente - foram anexadas a outras instituições e, hoje, os administradores não diferenciam mais o acervo. Nos três casos, os museus tiveram de ceder espaço para órgãos públicos - escritórios da prefeitura, departamento de águas e esgoto, uma farmácia popular -, quando foi trocada a administração.

Para Simona Misan, doutora em História Social pela USP - cuja tese foi sobre museus locais -, o fato de o governo planejar a municipalização de uma instituição que só existe no papel pode incentivar os municípios a recriar museus. "Vai servir para relembrar uma história que já era praticamente esquecida, ou, pelo menos, para regularizar a situação e extinguir de vez", diz. "Cada cidade precisa avaliar a necessidade de ter ou não um museu."

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Domingo, 9 de agosto de 2009

29 de set. de 2009

Na transição, oficinas e acompanhamento

CULTURA
Haverá 190 visitas técnicas a cidades até o fim de 2010

Antes que o processo de municipalização seja finalizado, as cidades terão de aprovar leis que garantam a destinação de recursos e a criação de equipes técnicas próprias para os museus que serão incorporados – atribuições hoje inexistentes na maior parte. “O município precisará dotar o museu com orçamento, recursos humanos e equipe própria. Não iremos encerrar nenhum processo sem que esses requisitos sejam cumpridos”, garante a coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura, Claudinéli Moreira Ramos.

Nesse meio tempo, a promessa é de que todo o acervo dos museus histórico e pedagógicos do Estado seja checado e regularizado – hoje, o governo não sabe o número total de peças existentes, incorporadas desde a década de 1950, quando as instituições foram criadas. “Em Piracicaba (onde o Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes acaba de ser reformado pelo Estado), por exemplo, vamos acompanhar de perto o processo até dezembro.”

Na tentativa de uma transição administrativa bem-sucedida, o governo do Estado anuncia que realizará oficinas preparatórias e visitas técnicas periódicas às cidades. Estão planejadas 54 oficinas e 190 visitas aos municípios até dezembro de 2010 – prazo estipulado para a finalização do processo de municipalização, quando se encerra o contrato com assessoria técnica especializada, no valor de R$ 963 mil.

Nas oficinas, serão enfatizados aspectos como capacitação de profissionais, documentação e inventário dos acervos e criação de plano museológico para as instituições. “São medidas que nos propomos a realizar para auxiliar as cidades a criar espaços dinâmicos, que não sirvam como simples depositários da história local, mas para reflexão sobre ela”, diz a museóloga Cecília Machado, diretora do Sistema Estadual de Museus (Sisem). “Não poderemos formar museólogos, mas sim capacitar equipes para a gestão e o desenvolvimento das atividades de cada lugar.”

O Estado também vai coordenar a realização de audiências públicas sobre a municipalização em cada cidade. “Será nelas que as comunidades vão decidir a cara que esperam para os museus”, explica Cecília. “Vamos estimular a criação de conselhos para as instituições e também a criação de associações de amigos, que servem basicamente para captar recursos.” Além disso, afirma a museóloga, o Sisem estará à disposição para fornecer exposições itinerantes e “orientar em questões técnicas específicas” os municípios interessados.

‘LAVAR AS MÃOS’
Entretanto, nem todos os agentes culturais do interior têm recebido bem tais notícias. “O Estado decidiu, por lei, que vai lavar as mãos em relação aos museus do interior. Aos poucos, fica mais indolente”, acredita o secretário de Cultura de Itapetininga, Fábio Sacco. Ali existe o Museu Histórico e Pedagógico Dr. Fernando e Júlio Prestes de Albuquerque, que quase desapareceu na década de 1990. “Historicamente, o Estado já se manteve a distância e agora vai para ainda mais longe. É uma situação cômoda.”

Para os responsáveis pelo programa, as medidas vão incentivar a aproximação das comunidades. “Não estamos passando a responsabilidade. Vemos como uma necessidade da comunidade poder administrar o próprio equipamento cultural. O Estado fica longe, é difícil saber os anseios de cada comunidade”, defende a diretora do Sisem, Cecília Machado. “Faz mais sentido que cada município decida o que deve ficar exposto, a programação do museu, de forma livre e desburocratizada.” Trata-se, nesse caso, de questão de política cultural. “O processo vem de uma visão de que não cabe ao Estado executar as atividades diretamente, mas sim garantir condições para que elas sejam executadas”, resume a coordenadora Claudinéli Moreira Ramos.

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Domingo, 9 de agosto de 2009

28 de set. de 2009

''Não há interesse em museus só locais''

CULTURA
Estado ainda reforma instituições, mas acelera a municipalização

Se depender da vontade da atual gestão, a partir de 2011 nenhum museu em São Paulo será administrado pela Secretaria de Estado da Cultura. A meta é que todos os 67 museus públicos estaduais atrelados à pasta estejam sob outro comando. Os 18 principais - 14 na capital, incluindo a Pinacoteca do Estado e o Museu da Língua Portuguesa - já são geridos por organizações sociais. Os 49 restantes - todos de fora da capital - passam por um processo de municipalização que deve ser concluído até o fim do próximo ano. "Não há interesse do Estado em manter museus que têm relevância só local", afirma o secretário de Cultura, João Sayad.

A entrega do Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, em Piracicaba, anteontem, mais do que devolver à população (após um ano e meio de obras) a instituição restaurada e reformada - ao custo de R$ 747,2 mil -, simboliza o primeiro passo do processo de municipalização. O museu deixa de ser estadual, embora haja um compromisso de acompanhamento nas próximas etapas.

Nesse processo terão o mesmo destino o Museu Histórico e Pedagógico Conselheiro Rodrigues Alves, de Guaratinguetá, e a Casa de Cultura Paulo Setúbal, de Tatuí, que serão entregues após reformas similares - e orçadas praticamente nos mesmos valores. Essa melhoria, entretanto, não acontecerá nos demais museus em processo de municipalização. "Não existe plano de reformar mais nenhum", afirma o secretário. "Nosso plano é municipalizar. Não há recurso para, antes, reformar todos os museus."

Não é a primeira vez que se fala em municipalizar os museus estaduais paulistas. Criados a partir de 1956 - com o objetivo de "preservar a história da cidade (onde se localiza) e do patrono (nome da personalidade que dá nome à instituição)" -, os acervos dos museus começaram a ser repassados aos municípios em 1998, a partir de um decreto do governador Mário Covas. "A função do Estado é definir a política pública, a vocação e firmar parcerias", diz a coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Secretaria de Estado da Cultura, Claudinéli Moreira Ramos. "O processo vem de uma visão de que a função do Estado não é de executar as atividades culturais, mas garantir condições para que sejam executadas." A ideia da secretaria, agora, é rever, regularizar e concluir todos os processos em andamento - nem todos os municípios, porém, concordam com a atual política e dizem que o governo "lava as mãos".

RESSALVAS
Especialistas ouvidos pelo Estado apoiam a política, mas fazem ressalvas. "Os museus vivem situação difícil e municipalizar pode ser a solução", diz o historiador Marco Antonio Villa, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autor do livro Breve História de São Paulo, ainda inédito. "Entretanto, é preciso que haja uma proposta consistente, pois um museu só é bom quando interessa à população." Para o historiador Paulo Henrique Martinez, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e organizador do evento "Museus Municipais e Políticas Públicas", a municipalização pode aproximar a população local do museu. "Mas é preciso deixar o acervo atraente, dinamizando-o com eventos e exposições temporárias. Assim, o museu se torna interessante para pequenos municípios, movimentando o turismo e o comércio."

Essa é a receita da diretora de Cultura de São José do Rio Pardo, Lúcia Vitto. Sob seu comando está a Casa de Cultura Euclides da Cunha - em processo de municipalização - e o Museu Municipal Rio-Pardense. "Temos um evento no museu pelo menos a cada dois meses", conta. "As pessoas vêm e se apaixonam pelas peças que estão expostas. Isso faz a molecada gostar de História."

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Domingo, 9 de agosto de 2009

27 de set. de 2009

Na escola, no trabalho, no condomínio ou no lazer, multas serão repassadas a fumantes

CIGARRO BANIDO - PUNIÇÃO

Desde a zero hora, os infratores da lei antifumo em São Paulo estão sujeitos a multas de R$ 792,50 a R$ 1.585. Apesar de o governo de São Paulo ter afirmado que o objetivo não é penalizar os dependentes de nicotina e, sim, quem não coibir o cigarro em ambientes de uso coletivo, fechados ou parcialmente fechados, o fumante pode ficar com a conta. Isso no trabalho, no condomínio, na escola e até na hora de lazer.

Para o juiz da 20ª Vara do Trabalho de Brasília, Rogério Neiva Pinheiro, se o empregado causar prejuízos, o empregador terá direito à reparação. "Até com desconto no salário", diz ele, que não descarta outras sanções, incluindo demissão por justa causa. E há o outro lado da moeda: os empregados devem exigir direitos. "O trabalhador pode pedir rescisão por justa causa e até indenização por não trabalhar em um ambiente livre do fumo."

Segundo Luiz Tarcísio Ferreira, jurista especializado em Direito Público, se as multas forem aplicadas ao estabelecimento por fumo em local impróprio (como escadas e corredores), o funcionário poderá ser responsabilizado. O gerente da Associação Comercial Empresarial do Brasil, Fabrízio Quirino, também acredita que "os empreendimentos vão repassar as penas ao funcionário."

E quem já começou a passar da teoria para a prática foram as administradoras de condomínios, com aval do Sindicato da Habitação (Secovi), que orientaram os residenciais a estabelecer punição aos fumantes, em assembleias - além de livrar os ambientes comuns de cinzeiros. Os clubes devem seguir o mesmo caminho. "Acho bom que haja esse entendimento (do repasse da multa)", diz a presidente da Associação de Clubes Esportivos e Sócio Culturais, Sileni Monteiro de Arruda Rolla.

O Círculo Militar decidiu que associados flagrados fumando serão suspensos por um mês do ambiente em que estavam. Outras associações ainda discutem a medida, enquanto o Pinheiros informou que vai "esperar o comportamento dos sócios nos próximos 30 dias". Sileni, que também preside o Paineiras do Morumby, ressalta que, pelo estatuto, "o transgressor com certeza será submetido a sanções como suspensão, advertência e até expulsão, conforme o caso". Penas semelhantes, aliás, devem recair sobre funcionários públicos infratores.

ESCOLAS
Um segmento que ainda se mostra dividido é o educacional. Entre as universidades, PUC-SP e USP já definiram que vão repassar as multas tanto a funcionários quanto a alunos. Já o reitor do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Paulo Antonio Gomes Cardim, informou, que "é assunto delicado e juridicamente polêmico". A rede Unip - com 24 câmpus no Estado - nem discutiu a multa. Já os Colégios Santa Maria e Dante Alighieri e a rede de idiomas Wizard, com 500 locais, só informaram ter banido o fumo há anos.

em parceria com Eduardo Reina e Fernanda Aranda.


Sexta-feira, 7 de agosto de 2009

26 de set. de 2009

Forte turbulência deixa 28 feridos na rota Rio-Houston

AVIAÇÃO
Boeing da Continental Airlines, com 179 pessoas, fez pouso de emergência em Miami

Um Boeing 767-200 da Continental Airlines, com 179 pessoas a bordo - 168 passageiros e 11 tripulantes -, enfrentou forte turbulência ontem de manhã sobre o Oceano Atlântico, deixando 28 feridos. O voo 128, que partiu do Rio com destino a Houston, Texas (Estados Unidos), foi desviado para Miami, onde fez pouso de emergência. Até as 19 horas de ontem, quatro pessoas estavam internadas em estado grave, segundo informações de autoridades locais ao jornal Miami Herald.

Pelo menos oito feridos foram levados aos Hospitais Jackson Memorial, Hialeah, Metropolitan e Mercy. Seis pessoas continuavam hospitalizadas até as 19 horas de ontem "em boas condições", segundo boletim dos hospitais. A Continental Airlines não divulgou identidade e nacionalidade dos ocupantes, mas, segundo relatos, metade era brasileira.

O avião saiu do Rio às 21h45 de domingo e deveria ter chegado a Houston às 6 horas de ontem. A turbulência ocorreu na madrugada, enquanto a aeronave sobrevoava a região entre Porto Rico e as Ilhas Turks e Caicos. Cerca de uma hora depois, às 6h35 (horário de Brasília), o avião pousou em Miami. As causas serão apuradas pela Agência Federal de Aviação dos Estados Unidos.

A turbulência, de cerca de 15 segundos, foi descrita como "momentos de queda livre". "Quem não estava usando cinto de segurança saiu do banco e bateu no teto", disse ao Estado o executivo dinamarquês Jan Lomholdt, de 43 anos, que vive no Rio. "Vi pelo menos 20 pessoas nos ares." Em nota, a empresa frisou que os sinais para apertar os cintos foram acesos.

O incidente arruinou a cabine. Boa parte da proteção plástica das luzes se quebrou. Pelo menos um banco se soltou e máscaras de oxigênio caíram. "Tudo estava nos ares. Livros, malas, garrafas, roupas, caixas. E as pessoas se seguravam como podiam", disse Lomholdt, que fraturou as costas.

O executivo contou que uma mulher, sentada perto da área da tripulação, "machucou toda a face", atingida por garrafas e vidros de perfume, com a abertura dos bagageiros. "Quem não conseguiu se agarrar bateu duas vezes: no teto e depois no chão." Um passageiro médico ajudou no atendimento.

Após a turbulência, os passageiros ficaram em silêncio. "Todos pareciam em choque", disse Bruno Louis Baker, de 13 anos, enteado de Lomholdt. Após o pouso, segundo o executivo, os passageiros foram informados de que viajariam a Houston na mesma aeronave. "Foi um absurdo. O avião estava todo quebrado, tinha gente com o pescoço imobilizado." Parte dos passageiros seguiu em outro voo e alguns ficaram em Miami.

Em nota à imprensa, o Jackson Memorial informou que os passageiros internados não gostariam de "relatar suas histórias". Por isso, "nenhuma informação específica" sobre seus estados de saúde seria divulgada.

RECORRENTE
Em 25 de maio deste ano, um voo TAM que fazia a rota Miami-São Paulo também passou por turbulência - 21 passageiros ficaram feridos. Segundo a Associação Brasileira de Parentes e Amigos das Vítimas de Acidentes Aéreos, dez pessoas entraram na Justiça pedindo indenização. Caso passageiros do voo 128 da Continental acionem judicialmente a companhia, o valor do seguro aeronáutico dos Estados Unidos é de US$ 120 mil por pessoa.

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Terça-feira, 4 de agosto de 2009

25 de set. de 2009

Mapeados, 32 saraus de SP estarão em guia a ser lançado neste mês

CULTURA
Levantamento privilegiou grupos que se reúnem com periodicidade fixa - maioria fica na região central da capital

A cidade de concreto também faz poesia. Sob esse lema, a organização Poiesis - mesma instituição que administra a Casa das Rosas e o Museu da Língua Portuguesa, entre outros locais - organizou e prepara o lançamento, previsto para este mês, de um inédito folheto com os "pontos de poesia" da Grande São Paulo. O levantamento resulta de um trabalho de quatro meses do poeta Rui Mascarenhas. "Surpreendi-me muito com a diversidade temática dos saraus. Cada comunidade tende a transformar em poesia suas diferentes realidades", afirma. "O importante é que todos os grupos estimulam a produção literária."

O folheto, que será distribuído gratuitamente na Casa das Rosas e nos endereços onde ocorrem os saraus - a tiragem inicial é de 5 mil exemplares -, traz uma relação de 32 eventos com periodicidade fixa. E localiza em um mapa. É nítido, por exemplo, que a maior parte está concentrada na região central. Por outro lado, aparecem muitas iniciativas em bairros de periferia, como Cidade Tiradentes, Itaim Paulista e São Miguel Paulista, na zona leste. O mapa ainda inclui grupos das cidades vizinhas de Suzano, Guarulhos, Carapicuíba, Embu, Pedreira, Diadema e Santo André.

Em geral, os saraus são frequentados por aficionados por poesia que moram na região onde ocorrem - ou têm alguma ligação artística com os organizadores. Com o mapa publicado, espera-se que surjam, entretanto, mais figuras como o poeta Renato Palmares, de 44 anos, apelidado de "peregrino da poesia". Não é para menos: desde 2005, é assíduo frequentador de vários saraus diferentes. "Chego a participar de quatro em uma semana."

Palmares mora no Campo Limpo, zona sul. Ali perto, costuma comparecer ao Sarau do Binho - que ocorre sempre às segundas - e ao Sarau da Cooperifa - às quartas. Quinta-feira é dia de enfrentar ônibus, trem e metrô para, após uma "viagem" de 2 horas, participar do Elo da Corrente, em Pirituba, zona norte. Palmares também é figurinha fácil no Sarau Poesia na Brasa - quinzenalmente, aos sábados, na Vila Brasilândia, zona norte. "O mais importante é o movimento em si", empolga-se ele, que trabalha como produtor cultural e já teve textos publicados em quatro coletâneas de poesia. "Tenho visto muita molecada que faz poemas e se orgulha da própria existência."

O Sarau da Cooperifa, desde 2001, é um bom exemplo de como a poesia pode mexer com os moradores da periferia. Transformou-se em um evento que costuma atrair 200 pessoas a cada edição, sempre no Bar do Zé Batidão, na Chácara Santana, em M? Boi Mirim. "Quem lê enxerga melhor", resume o poeta e organizador, Sérgio Vaz.

Em abril, o sarau promoveu, pelo terceiro ano consecutivo, o "Poesia no Ar", em que todos os poetas foram convidados a colocar poemas dentro de 500 balões de gás hélio. Como eles dizem, "para ninguém ficar sem poesia na cidade, o sarau chega via aérea na casa das pessoas".

E se a poesia pode vir, assim, por acaso, por que os saraus precisam nascer de forma planejada? O Sarau Elo da Corrente, de Pirituba, começou como evento de lançamento de um livro - Desencontros, do poeta Michel da Silva Ceriaco, em 2007. "Queríamos fazer uma festa, acabou virando um evento semanal de confraternização do bairro", diz a mulher, a poetisa Rachel Almeida da Silva, uma das organizadoras.

PARA TODOS OS GOSTOS
O Sarau Diverso Politeama, em Pinheiros, começou como um clubinho fechado, em 2006. "A gente se reunia na casa de amigos e apresentava as criações", conta a poetisa Barbara Leite. No ano seguinte, a ideia se expandiu e o encontro passou a ser público, em um bar. E engana-se quem pensa que só a poesia tem espaço nesses eventos. "Chegou lá é só fazer a festa: poesia, música, teatro, dança. Pretendemos estimular a comunicação entre todas as artes." Do clubinho fechado para hoje, a principal mudança foram os endereços. De lá para cá, o sarau transferiu-se cinco vezes de local. "Somos o sarau mais itinerante que existe", brinca Barbara. Nem tanto. Exemplo de nomadismo é o Sarau Portátil, outra iniciativa do gênero, que une literatura, música, cinema e teatro em bares e praças aleatoriamente.

Em dezembro, nasceu o ZAP: Zona Autônoma da Palavra, evento que ocorre uma vez por mês na Pompeia. A noite começa com a projeção de filmes, seguida pelo "microfone aberto" - em que poetas podem declamar ou ler textos. Mais tarde, o ponto alto: uma batalha poética, em que os participantes são julgados por uma comissão formada na hora. Qualquer pessoa pode participar. "É só chegar e se inscrever", diz a poetisa Roberta Estrela D?Alva, uma das organizadoras. O campeão da noite leva um kit com livros, CDs e DVDs.

Mas não são só novas - e moderninhas - iniciativas que roubam a cena poética paulistana. Exemplo de tradição é a Casa do Poeta Lampião de Gás de São Paulo, que promove saraus desde 1948. Atualmente, os encontros acontecem quinzenalmente, no auditório da Associação Paulista de Imprensa, na Liberdade. "Provavelmente somos o sarau, em atividade, mais antigo da cidade", acredita a vice-presidente da entidade, poetisa Analice Feitoza de Lima.


Segunda-feira, 3 de Agosto de 2009

24 de set. de 2009

Uma casa onde o tempo insiste em parar

CULTURA
Imóvel que pertenceu a Guilherme de Almeida tem preservados objetos pessoais do poeta e vai virar museu e centro de estudos

Percorrer os imponentes cômodos do sobrado de 230 m² onde viveu o poeta, advogado, jornalista, crítico de cinema, ensaísta e tradutor Guilherme de Almeida (1890-1969) é uma volta no tempo. Tempo em que o som vinha da vitrola - preservada, na sala -, os textos eram datilografados - sua Remington Rand, sobre a escrivaninha na mansarda, não tem pingo na letra i - e São Paulo contava com tão menos luzes que era possível brincar de ser astrônomo e passar horas observando estrelas - o telescópio de Almeida ainda está lá, na casa em que morou por 23 anos, de 1946 até a sua morte. Hoje, Casa Guilherme de Almeida.

Depois de ficar fechado por quase três anos, o imóvel, que pertence ao governo paulista desde a década de 70, passa por uma série de adequações para ser reaberto, no primeiro semestre de 2010, como museu e Centro de Estudos de Tradução Literária. "Aqui discutiremos teoria da tradução, tanto de prosa quanto de poesia", adianta o poeta Marcelo Tápia, diretor da instituição. "Também servirá para estimular o interesse pela obra de Guilherme de Almeida." Tanto que já está na pauta a ideia de reeditar toda a obra de Almeida. E, no dia da reinauguração da Casa, deverá ser lançado o último livro do poeta, Margem, concluído dois meses antes de sua morte e ainda inédito. "(A obra) é a transição da vida para a morte", impressiona-se Tápia. "Guilherme de Almeida fez uma espécie de testamento." O último poema, cujo título é um ponto final, diz: "Sem/ mim/ em/ mim? Sim:/ FIM."

O espaço será administrado pela Poiesis, mesma organização que está à frente da Casa das Rosas e do Museu da Língua Portuguesa. Graças a isso, a programação da Casa Guilherme de Almeida foi antecipada para este ano - funciona na Casa das Rosas, na Avenida Paulista. Cursos e palestras já aconteceram no primeiro semestre e, a partir de hoje, começa uma nova leva.

NA COLINA
Quando se mudou para o sobrado, no número 187 da Rua Macapá, em Perdizes, Guilherme de Almeida tratou logo de apelidá-lo carinhosamente de "casa da colina". Por ali, saraus eram constantes. Entre os frequentadores, estavam o escritor Oswald de Andrade (1890-1954), o escultor Victor Brecheret (1894-1955) e as pintoras Tarsila do Amaral (1886-1973) e Anita Malfatti (1889-1964). Quadros e livros - há um acervo de cerca de 6 mil títulos, entre eles muitas primeiras edições de autores modernistas, autografadas - espalhados pela casa evocam lembranças dessa efervescência cultural.

O mobiliário também é impressionante, complementado por enfeites e louças de porcelana. Alguns itens são curiosos, como, no quarto principal, uma pequena cama para o cachorro do poeta. Almeida era fã de cães da raça pequinês - o último, chamado Ling Ling, morreu um ano depois de seu dono e ganhou um túmulo no quintal da casa. Objetos que aludem à Revolução de 32, cuja causa foi defendida ardentemente por Almeida, também permanecem ali. Há até a arma que Almeida usou, quando se alistou na "guerra paulista".

Engana-se quem pensa que, fechada, a Casa esteja parada. Minuciosas, dez pessoas cuidam da catalogação do acervo - objetos, mobília, livros e obras de arte. Enquanto isso, o projeto de readequação do espaço recebe os últimos retoques antes de ser posto em prática. "O espaço terá uma dupla vida, já que será museu e centro de estudos", explica o arquiteto e artista plástico Carlos Fernando Coelho Nogueira, coordenador de Programação Visual da Poiesis.

Nos fundos da casa, haverá uma pequena arquibancada e um deck, utilizados para palestras e outros eventos. No interior, estão previstos, entre outros, um projeto de iluminação e uma reorganização dos objetos, de modo que possam ser melhor vistos pelos visitantes. De acordo com a Secretaria de Estado da Cultura, os custos das obras ainda não foram calculados.


Sábado, 1 de Agosto de 2009

23 de set. de 2009

Proibido pedágio no Rodoanel

ESTRADAS
Determinação judicial vale a partir de hoje; concessionária diz que continuará a cobrar tarifa

O juiz Rômolo Russo Júnior, da 5ª Vara da Fazenda Pública da capital, suspendeu ontem a cobrança de pedágio nas 13 praças do Trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas - administrado pela Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR) -, na Região Metropolitana de São Paulo. A cobrança foi considerada ilegal em virtude da Lei Estadual nº 2.481, de 1953, que proíbe tarifação em um raio de 35 km a partir da Praça da Sé.

"Além disso, as rés deverão devolver à massa de consumidores todo numerário arrecadado durante todo o período de cobrança da tarifa ilegal, por meio de ação coletiva a ser proposta a juízo da Defensoria Pública do Estado, ou do Ministério Público", escreveu o juiz.

A proibição da cobrança deve valer a partir de hoje, quando a decisão será publicada, de acordo com a Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). O descumprimento da lei está sujeito a multa de R$ 50 mil por dia.

Em janeiro, o mesmo juiz concedeu liminar para suspender a cobrança, mas ela só ficou suspensa por cerca de nove horas, no dia 9 daquele mês. Sua decisão acabou cassada pelo desembargador Antonio Carlos Munhoz Soares, vice-presidente do TJ-SP.

Na ocasião, respaldado pelo contrato de concessão em vigor, o governo estadual alegou que a suspensão imediata da cobrança do pedágio nas praças do Rodoanel poderia causar dano à economia, tese então acatada pelo desembargador Munhoz Soares.

Em nota divulgada no início da noite de ontem, a CCR informou que vai manter a cobrança do pedágio no Rodoanel. A empresa ampara-se no despacho do desembargador Soares, de janeiro, dizendo que este vale até que "haja decisão definitiva de mérito, sem possibilidade de novo recurso judicial". A nota ainda acrescenta que a CCR "confia na decisão final da Justiça, nas normas do contrato de concessão assinado" e que "desde que (...) assumiu a gestão do Trecho Oeste do Rodoanel Mário Covas, em junho de 2008, vem cumprindo todas as obrigações e normas do contrato de concessão".

A Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados do Estado de São Paulo (Artesp) comunicou, por meio de nota, que entende como legal "a cobrança de pedágio até que todos os recursos judiciais cabíveis estejam esgotados". A Artesp acrescenta que "a referida sentença não tem o alcance de alterar o efeito do despacho" em que o desembargador Soares cassava a liminar anterior e que, portanto, a medida não tem efeito imediato. Também informou que vai recorrer nos tribunais superiores contra a decisão.

A ação popular, distribuída em dezembro, é de autoria de César Augusto Coelho Nogueira Machado contra a Fazenda Pública do Estado de São Paulo, a Artesp, a CCR e a Encalso Construções.

ENTENDA O CASO
A liminar: Em 8 de janeiro, juiz suspendeu pedágio no Rodoanel alegando que as praças estão a menos de 35 km do Marco Zero da capital

O recurso: O governo derrubou a liminar no dia seguinte com manifestação do Tribunal de Justiça (TJ). Suspensão durou cerca de nove horas

A divergência: Ao julgar o mérito, juiz restaurou ontem a liminar sob pena de multa. Governo diz que não haverá nova suspensão da cobrança, pois vale decisão de janeiro, do TJ

em parceria com Fábio Mazzitelli.


Terça-feira, 28 de julho de 2009

22 de set. de 2009

Catacumbas espalhadas por SP servem de roteiro turístico

Tour inclui igrejas e prédios históricos e ocorre amanhã - com repeteco no sábado seguinte

"Cantinhos curiosos de São Paulo" são a predileção do arquiteto Marcio Mazza. E é por isso que amanhã ele promove - com repeteco no próximo sábado, se houver interessados -, por meio de seu site Arq!Bacana, um inusitado roteiro turístico pelos "espaços da morte" da capital paulista. "Não precisamos fazer os passeios convencionais", argumenta ele, com a autoridade de quem organizou, nos últimos dois anos, 15 tours - dos quais participaram um total que beira 2 mil pessoas.

O roteiro será guiado pelo também arquiteto Renato Cymbalista, que estuda a relação, nos espaços arquitetônicos, entre vivos e mortos há 15 anos - o tema esteve presente em seu mestrado e seu doutorado, ambos pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), e agora pauta seu pós-doutorado, em andamento pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Quando falamos em morte, sempre imaginamos os cemitérios. A ideia desse roteiro é mostrar como os corpos das pessoas mortas também estão em outros locais da cidade", adianta Cymbalista, autor de um dos capítulos do livro Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo (Editora Narrativa Um, 240 págs., R$ 35), cujo itinerário inspirou o programa de amanhã.

Os participantes sairão do Pátio do Colégio - onde verão as relíquias de Padre José de Anchieta (1534-1597). Passarão pela Igreja de Santa Cruz dos Enforcados, na Liberdade, e conhecerão o antigo cemitério do mesmo bairro. Na Rua do Carmo, está prevista uma visita à Igreja da Boa Morte - fundada por uma irmandade que se dedicava, até meados do século 19, a "zelar pela paz dos irmãos mortos". O grupo também fará, entre outras, uma parada na cripta da Catedral da Sé. "Ali estão sepultados os bispos e arcebispos de São Paulo, além de personalidades históricas como o cacique Tibiriçá", conta Cymbalista.

OUTROS PASSEIOS
O sucesso da empreitada é tanto que não há mais vagas para o passeio de amanhã - as 40 foram preenchidas rapidamente. Mas a organização está montando uma lista de espera (informações pelo telefone 3078-7658) e irá repetir o roteiro já no sábado que vem.

Mazza tem no currículo excursões pelo Rio Tietê, visitas a obras de Júlio Guerra (1912- 2001) - o autor da polêmica e criticada estátua de Borba Gato, em Santo Amaro - e a endereços curiosos como o Farol do Jaguaré, construído em 1942, no bairro homônimo, para servir de guia a quem navegasse pelo Rio Pinheiros. "São roteiros voltados para quem gosta de São Paulo", comenta. "Geralmente aparecem arquitetos, mas já levei donas de casa, crianças... Acho legal ampliar o alcance." As inscrições podem ser grátis ou custar até R$ 70, conforme o itinerário da vez.

Recentemente, o site Arq!Bacana firmou uma parceria com a editora Narrativa Um. A ideia é que os passeios apresentados no livro Dez Roteiros Históricos a Pé em São Paulo sejam postos em prática. "Queremos promover pelo menos um por mês", revela o editor Roney Cytrynowicz. "O próximo, em setembro, será um percurso pela região da Avenida São João."


Sexta-feira, 31 de julho de 2009

21 de set. de 2009

Na Sé, monumento homenageia padroeiro de SP

A estátua de São Paulo Apóstolo que aparece na foto principal desta página foi visitada por Carlos Beutel e seu grupo de “andarilhos noturnos” no último dia 2. Fica na frente da Catedral da Sé, na praça homônima, centro da capital. Inaugurada no domingo anterior, dia 28 de junho, pela Igreja Católica, ela relembra os 2 mil anos de nascimento do santo. A estátua de bronze, criada pelo escultor paulista Murilo Sá Toledo, mostra “a figura do apóstolo perplexo perante a voz que o interpela”, conforme descreveu, na cerimônia de inauguração, d. Odilo Pedro Scherer, cardeal-arcebispo de São Paulo. Ele se referia à passagem bíblica em que Jesus fala com o santo, provocando sua conversão.


Domingo, 26 de julho de 2009

20 de set. de 2009

O andarilho do centro

PAULISTÂNIA
Desde 2005, Carlos Beutel organiza passeios noturnos pela cidade

"Quando eu morrer quero ficar,/ Não contem aos meus inimigos,/ Sepultado em minha cidade,/ Saudade./ Meus pés enterrem na Rua Aurora,/ No Paiçandu deixem meu sexo,/ Na Lopes Chaves a cabeça/ Esqueçam./ No Pátio do Colégio afundem/ O meu coração paulistano (...)." Recitados por Carlos Beutel, os versos do poeta Mário de Andrade (1893-1945) parecem uma reza, tamanha devoção. "Minha relação com São Paulo é a mesma de um pai com seu filho", compara. "Filho dá trabalho, enche o saco... Mas, de repente, está trabalhando, cuidando da sua vida, namorando... Olha, meu filho cresceu, que bonito! Então bate aquela alegria..."

Aos 54 anos, esse paulistano do Bom Retiro ainda se surpreende com nossas belezas e cicatrizes urbanas. "É uma cidade totalmente inesperada", adjetiva. "Quantos europeus não vêm aqui e se encantam com as nossas galerias, nossas ruas, o (Edifício) Copan?" Todo esse deslumbramento fez com que ele tivesse a ideia de organizar um passeio noturno, a pé, pelas ruas centrais. "Em paralelo à recuperação do centro, é preciso salvar a moralidade pública, a ética e a solidariedade", defende. "A caminhada é apenas um pontinho, uma verruga no corpo todo." A vontade veio há cerca de dez anos, mas só foi concretizada em outubro de 2005. Os primeiros passeios, ainda para poucos amigos, saíam da Biblioteca Mário de Andrade e não tinham a organização de hoje em dia. "Quando mais gente se agregou, resolvi planejar melhor", lembra.

Em março de 2006, o programa passou a ter o formato atual. Começa na frente do Teatro Municipal, todas as quintas, sempre às 20 horas. Os participantes recebem um colete amarelo - para que o grupo seja facilmente identificado - e são conduzidos por um guia turístico profissional. Virou uma tradição. "Eu mesmo só faltei duas vezes", garante Beutel. A cada semana, um roteiro diferente, sempre visitando endereços históricos da região central. Quase todas as edições têm um convidado - em geral, um arquiteto, artista ou líder comunitário - que fala sobre o tema do passeio da noite. Que varia muito. Pode ser "igrejas históricas" ou "questões urbanísticas da cracolândia", conforme o itinerário previsto.

O sucesso da iniciativa é materializado pela quantidade de participantes - em geral, mais de 50 pessoas por semana. Procurada por Beutel, a SPTuris apoia o projeto, divulgando-o em suas cinco centrais de informações turísticas. Os passeios são de graça. A única contrapartida financeira do organizador é o direito de estampar o logotipo e o nome de seu restaurante vegetariano nos folders sobre a caminhada e nos coletes amarelos utilizados.

'ECOPAULISTANO'
O centro paulistano sempre fez parte do cotidiano de Beutel. Seu restaurante - comprado em 1986 - funciona há 18 anos na esquina das Ruas Dom José de Barros e Barão de Itapetininga, em um prédio tombado, construído no início do século 20. Ele não mora longe dali. Vive no Copan, famoso edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer e erguido, nos anos 50, na Avenida Ipiranga. "Venho trabalhar a pé ou de bicicleta", afirma.

"Quando abri meu restaurante aqui, era uma criminalidade absurda. Todo mundo era assaltado. Nenhum turista podia vir", diz. "Só na minha rua eram 30 trombadinhas por dia. Uma situação de caos, de desgoverno..." Ele reconhece, é claro, que ainda há muito para ser feito. "Mais uns 15 anos de trabalho para ficar decente." Porque "a cidade merece", Beutel decidiu se engajar. Participa, por exemplo, do Movimento Nossa São Paulo. "A vida de nós, paulistanos, é muito ruim. Somos felizes porque temos um otimismo inato", acredita. "Mas é complicado não poder andar em paz com o vidro do carro aberto, demorar no ônibus, essas coisas. Por isso, precisamos nos mobilizar."

Antes disso, sua vida já gravitava pelo centro. Ele foi office-boy e, depois, corretor de imóveis. Estudou Direito na tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco - formou-se em 1982, mas jamais seguiu carreira. "Advogar não é para mim", comenta. "Acho que meu português não é suficientemente bom."

Há seis anos, abriu uma filial de seu restaurante nos Jardins - administrada pela sua segunda mulher, Milene, com quem vive desde 1989 e teve duas de suas três filhas. A gastronomia vegetariana não é apenas um negócio; é filosofia de vida. "Graças a Deus sou vegetariano", declara, sobre a opção que adotou há três décadas. "Se você é pacifista, não pode admitir que matem animais do jeito que fazem. E também há duas outras questões: a saúde e o fato de que eles desmatam áreas verdes para botar gado."

Nas paredes de seu restaurante, mensagens afixadas deixam claras suas opiniões. Sob o lema "ecologia da boca pra dentro", ele exibe panfletos contrários ao uso de sacolas plásticas e copos descartáveis. Também pede consciência no consumo de água e clama para que os frequentadores não falem ao celular enquanto almoçam. "Acho que é uma falta de respeito com as outras pessoas e com você mesmo", justifica-se. "É hora do almoço! Para, desliga, sai do mundo um pouco, né?"

E qual é a válvula de escape desse ecologista urbano, essencialmente paulistano? Beutel tem um sítio em Cotia, na Grande São Paulo, para onde costuma "fugir" nos fins de semana.

NOVO PASSEIO
Depois de ouvir muitos pedidos para criar um horário alternativo para suas caminhadas, Beutel inaugurou, há pouco mais de um mês, um novo formato: nas manhãs de sexta, o passeio "São Paulo nas Alturas" sai da sede de seu restaurante, o Apfel, e vai até o Copan - com direito a subida ao prédio, para admirar a vista do centro de São Paulo. Para participar é preciso desembolsar R$ 10. "Mas é claro que se alguém vier e me contar uma boa história, eu não vou cobrar...", revela ele, em tom de quase confidência.

A tradicional versão noturna continua existindo. Informações sobre ambos os programas podem ser obtidas pelo telefone (11) 3256-7909. Se o próprio Beutel atender, nem será preciso perguntar quem está falando. Seu jeito de tratar as pessoas - sempre esbanjando simpatia e dizendo "ô, meu filho" - já entrega que do outro lado da linha está o incansável andarilho do centro da cidade.


Domingo, 26 de julho de 2009

19 de set. de 2009

Na voz do governador, poemas clássicos para os estudantes

Mil CDs de poesia devem chegar à rede pública paulista

Entre outubro e novembro, cerca de mil escolas estaduais paulistas – um quinto do total – devem receber um CD com poemas declamados pelo governador José Serra (PSDB). O tucano, que “emprestou” sua voz para Olavo Bilac (1865-1918) e Castro Alves (1847-1871) aceitou o convite da Poiesis – organização que mantém, entre outras entidades, a Casa das Rosas e o Museu da Língua Portuguesa –, para integrar do elenco do disco Gravado na Alma.

Além de difundir a poesia, o projeto visa a incentivar a leitura de autores clássicos através de vozes conhecidas. José Serra terá entre seus companheiros de CD personalidades como a jornalista Ana Paula Padrão, o ex-jogador de futebol Raí, o sommelier Manoel Beato, a atriz Clarice Abujamra e o músico Toquinho. “Todos aceitaram participar sem cobrar cachê. As gravações foram quase todas feitas em estúdio. A exceção foi o governador, que pediu que fôssemos até o Palácio dos Bandeirantes”, conta Dirceu Rodrigues, um dos idealizadores do projeto. Ele conta que foram necessárias várias tentativas até que Serra acertasse o tom. “É que o microfone é muito sensível”, justifica, lembrando que ruídos do ambiente do Palácio, como telefones tocando, dificultaram as gravações.

O governador só impôs uma condição para participar: que ele pudesse declamar os versos de Vozes da África, de Castro Alves. Onde se lê o seguinte trecho: “Deus! ó Deus! Onde estás que não respondes?...”. O outro poema recitado por Serra é um dos sonetos de Via Láctea, de Olavo Bilac.

Orçado em R$ 12 mil – valor que inclui produção, aluguel do estúdio, edição, gravação, mixagem e masterização – , o projeto foi custeado pela Secretaria de Estado da Cultura. Não está descartada a gravação de nova tiragem em 2010.

em parceria com Pedro Venceslau.


Sexta-feira, 24 de julho de 2009

18 de set. de 2009

Falta um manual técnico para calçadas paulistanas

ENTREVISTA: Germán Guillermo Madrid: especialista em vias públicas
Para engenheiro civil colombiano, via pública ideal é aquela que passa despercebida, que deixa a vida mais fácil

Ele é conhecido internacionalmente como autoridade em um assunto sobre o qual poucos param para pensar, mas está incorporado ao dia a dia de toda a população. O engenheiro civil colombiano Germán Guillermo Madrid é especialista em calçadas e vias públicas. Graduado pela Universidade de Medellín (Colômbia), com PhD pela Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh (Estados Unidos), ele acumula mais de uma centena de trabalhos publicados sobre o tema em 20 países. Sua empresa de consultoria tem na carteira clientes brasileiros, alemães, norte-americanos, costa-riquenhos, guatemaltecos, panamenhos e, claro, colombianos. Madrid é coautor do Manual de Desenho e Construção dos Componentes do Espaço Público (MEP), utilizado em Medellín desde 2003. Em sua sexta visita a São Paulo – onde, a convite da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), ministrou um curso na semana passada –, o engenheiro respondeu a algumas perguntas do Estado.

Em sua opinião, quais os principais problemas encontrados nas calçadas de São Paulo?

Os mesmos das calçadas de todas as cidades grandes. Uma grande deterioração, pobres especificações e condições de mobilidade para deficientes motores ou visuais e a falta de um manual técnico para unificar os procedimentos de construção ou intervenções em obras antigas e novas.

Medellín ganhou seu manual em 2003. Quanto tempo levou a elaboração?

Elaboramos o texto entre os anos de 1999 e 2002. É uma obra pioneira tanto na extensão do conteúdo como nos temas complementares, mas foi derivada dos princípios estabelecidos antes pela Cartilha das Calçadas de Bogotá.

Como o manual foi criado?

Éramos uma equipe com três profissionais do Instituto Colombiano de Produtores de Cimento (ICPC) e quatro do Laboratório de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Pontifícia Bolivariana. Além de uma designer gráfica. O manual é um compêndio com todas as diretrizes de desenho urbano, arquitetônico, paisagístico e técnico para o desenho e a construção do espaço público e temas associados, de acordo com a legislação de mobilidade e acessibilidade que existe na Colômbia – e não é muito diferente das que vigoram em outros lugares. O princípio é que a cidade seja digna e para todos.

Conforme os estudos atuais, como seria a via pública ideal?

É aquela que passa despercebida, ou seja, que permite um deslocamento ou estada sem nenhum obstáculo ou nada esteticamente desagradável. Em resumo: é aquela que deixa a vida mais fácil.

Qual é o maior erro que a administração pública comete em relação às vias públicas e sobretudo as calçadas?

Em primeiro lugar, o fato de o administrador não fazer nada, esquecer-se da existência das vias. É preciso ter consciência de que as vias públicas são obras que precisam ser desenhadas, construídas e mantidas de acordo com parâmetros técnicos.

Qual a cidade que você acredita ter o melhor passeio público em todo o mundo?

Talvez Sidney (na Austrália), porque tem um tratamento uniforme e coerente em toda a cidade. Mas há muitas cidades com desenhos fabulosos, especialmente na Europa.


Terça-feira, 21 de julho de 2009

17 de set. de 2009

Fotos de São Paulo integram acervo de museu cubano

FOTOGRAFIA

FOTO: Angelo Pastorello/ Divulgação

Personagem da seção Paulistânia, o fotógrafo paulistano Angelo Pastorello levou longe suas imagens da São Paulo distorcida - desde outubro ele tem se dedicado a fazer ensaios da cidade, munido de uma câmera pinhole (uma caixa escura, sem lente nem visor, apenas com um orifício).
Ontem ele recebeu um e-mail de Lourdes Benigni, diretora do museu cubano de arte contemporânea Casa de Las Américas. Ela informava que cinco fotos (como o Mercadão, acima) de sua série Cenas de São Paulo, passam a integrar o acervo da instituição.

O interesse surgiu após sua recente visita à ilha, onde participou, com artistas de dez países, da mostra coletiva Ars Latina Habana 2009. Integram a exposição, inaugurada dia 21 no Centro de Desarrollo de las Artes Visuales, outros três brasileiros.


Quinta-feira, 30 de julho de 2009

16 de set. de 2009

Sua frase no museu

CULTURA

Que tal ser autor de uma frase que ficará estampada em uma parede do Museu da Língua Portuguesa? Pois a Poiesis, organização que mantém o espaço, abriu um concurso que irá premiar as dez frases que melhor traduzam a língua portuguesa. É o concurso Idiomaterno.

Os trabalhos deverão ser entregues até o dia 30 de setembro. O regulamento completo está no site do Museu. Os vencedores, além de terem suas frases grafadas na parede, ganharão um Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, 20 ingressos para o Museu e um conjunto de catálogos das exposições temporárias que já aconteceram lá.


Quarta-feira, 29 de julho de 2009

15 de set. de 2009

Um artista urbano: o chinês invisível

ARTE

O artista chinês Liu Bolin, 36 anos, ganhou fama de "camaleão humano" e "homem invisível". Desde 2006 ele posa para fotos camuflando-se na paisagem urbana.

É inegável a conotação política de seu trabalho: Bolin escancara o que é ser "massa", cidadão puntiforme, em um país com 1,4 bilhão de habitantes.

Confira alguns de seus trabalhos:

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução

FOTO: Reprodução


Quarta-feira, 29 de julho de 2009

14 de set. de 2009

Tributo a Gonzagão segue até amanhã em São Paulo

CULTURA
Série de shows no Vale do Anhangabaú relembra os 20 anos da morte do 'rei do baião'

Muito além de Asa Branca. Para relembrar os 20 anos da morte de Luiz Gonzaga (1912-1989), o grande artista popular que ficou conhecido como o "rei do baião", o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, tornou-se palco para três dias de muita música. A programação, iniciada na noite de ontem, vai até amanhã. No total, serão 36 shows musicais, emboladas e intervenções circenses. Com a apresentação Balaio de Elba, coube à cantora Elba Ramalho as honras da abertura.

Entre os destaques de hoje estão os versáteis Carlinhos Antunes e Quinteto Mundano, às 15h30; o violinista francês Nicolas Krassik e o grupo Cordestinos, às 17 horas; Dominguinhos - o discípulo de Luiz Gonzaga -, às 19 horas; e Oswaldinho do Acordeon, às 23 horas. A Orquestra Popular do Recife deve se apresentar à meia-noite.

Amanhã, a festa continua. Vale conferir a apresentação da Banda de Pífanos de Caruaru, os "Beatles de Caruaru", às 13 horas. Antonio Nóbrega sobe ao palco às 14 horas. Às 16 horas é a vez do forró pé de serra do Trio Virgulino. O tributo a Gonzagão se encerra às 18 horas, com Alceu Valença.

A programação completa pode ser conferida no site da Secretaria de Estado da Cultura (www.cultura.sp.gov.br), que promove o evento.

TRANSPORTE
Por causa do evento cultural, tanto os trens do Metrô como os da CPTM terão horários especiais de funcionamento. Na madrugada de hoje para amanhã, todas as estações das linhas Azul, Verde e Vermelha do Metrô estarão abertas para embarque e desembarque até a 1 hora. Entre 1 hora e 3 horas, os usuários terão acesso ao sistema somente pelas estações São Bento (Linha Azul) e Anhangabaú (Linha Vermelha). As demais estações ficarão abertas apenas para desembarque. A Linha Lilás não participa do esquema especial, fechando normalmente à meia-noite.

A CPTM disponibilizará viagens extras a 1 hora, às 2 horas e às 3 horas. Os embarques acontecerão somente nas estações Luz, Brás e Palmeiras-Barra Funda, integradas ao Metrô. As demais estações terão apenas desembarque.


Sábado, 18 de julho de 2009

13 de set. de 2009

Licitação de 2007 sob suspeita

SÍMBOLO DA CIDADE

Não são apenas as obras de restauração que têm colocado o Teatro Municipal sob os holofotes, a dois anos de seu primeiro centenário. O símbolo paulistano é a principal locação da minissérie Som & Fúria, dirigida por Fernando Meirelles e exibida pela Rede Globo desde terça-feira. Entretanto, nem todas as notícias recentes têm sido boas para o Municipal. Conforme o Estado revelou em 23 de março, uma licitação – ocorrida em 13 de novembro de 2007 para a compra de oito instrumentos para o Municipal no valor total de R$ 226.779 – está sob investigação do Ministério Público Estadual (MPE) e do Departamento de Procedimentos Disciplinares (Proced) da Prefeitura, cujos relatórios apontam sobrepreço total de duas vezes e meia o valor de mercado. São suspeitos a ex-diretora técnica do Teatro, Isleyd Pereira Smarzaro; o microempresário e músico Leônidas Júnior de Souza Faria, ex-arquivista do Municipal e cuja firma ganhou a licitação; e o funcionário público Clésio André de Melo. Há ainda dúvida quanto a origem dos instrumentos, já que Faria não apresentou notas fiscais que comprovem a legalidade da importação.


Domingo, 12 de julho de 2009

12 de set. de 2009

Ateliê restaura vitrais com ''pedigree''

SÍMBOLO DA CIDADE
Maioria dos trabalhos do tipo no País leva grife Conrado Sorgenicht

Somados, são 300 m² de vitrais. Cerca de 200 mil peças de vidro. Quase 100 anos de história. Se os números já impressionam, a imagem se encarrega de dar beleza a um trabalho artesanal: em um pequeno cômodo no Parque Santo Antônio, perto da Estrada do M'Boi Mirim, três senhores dedicam-se, desde outubro, a restaurar os 25 belos conjuntos de vitrais do Teatro Municipal, que passa por longa e completa reforma em preparação aos festejos de seu centenário, a ser comemorado em 2011. Os pedaços de vidro pintado evocam a memória de um homem que se tornou sinônimo da arte de vitrais: Conrado Sorgenicht Filho (1904-1994).

O avô de Sorgenicht, também Conrado, trocou a Alemanha pelo Brasil em 1888, e fundou em São Paulo, perto da Estação da Luz, um ateliê dedicado à fabricação de vitrais artísticos. Com sua morte, em 1901, o negócio passou para o filho homônimo. A terceira geração, nas mãos de Conrado Sorgenicht Filho, começou informalmente quando este, ainda moleque, ajudava o pai - costumava dizer que, aos 6 anos, o ajudara a fazer os vitrais do Teatro Municipal - e se tornou oficial em 1935, quando herdou a empresa. O trabalho da família ganhou tal notoriedade que o nome Conrado Sorgenicht virou grife do ramo, a ponto de se tornar o preferido do arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928), autor do projeto do Teatro Municipal, entre outros marcos paulistanos. Estima-se que 80% dos vitrais brasileiros existentes hoje sejam da estirpe - só em São Paulo estão em cerca de 300 igrejas, no Mercado Municipal, na Fundação Armando Alvares Penteado, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco e no Teatro Municipal.

A tradição corria o risco de se extinguir com a morte do último Conrado Sorgenicht, pois sua filha única não se interessou em seguir a carreira. "Então assumimos a empresa", conta Sergio Nascimento, de 51 anos - 27 deles trabalhando com o "velho Conrado", com quem aprendeu "tudo sobre vitrais". Hoje Sergio atua na companhia do irmão, Benedito Nascimento, de 49 anos, e do cunhado, Lucio dos Santos, de 47. São os três senhores do início desta reportagem. Eles admitem que o que mais fazem atualmente é restaurar obras feitas pela família Sorgenicht no passado. "Gostamos muito desse tipo de trabalho", diz Sergio, relembrando seu mestre, Conrado. São raros os serviços novos. Às vezes aparece uma igreja ou outra.

Para nortear a tarefa de restauração das peças do Teatro Municipal - que já haviam passado por processo semelhante em 1982, quando o ateliê ainda era capitaneado por Conrado - eles se guiam por desenhos detalhados dos conjuntos. São verdadeiros mapas, onde cada uma das 200 mil peças tem um número. Na hora de desmontar os vitrais, os pedaços de vidro são marcados com um pedaço de fita crepe, numerado com caneta. "Depois é um quebra-cabeça para montar tudo de novo", conta Lucio. "Precisa ficar do mesmo jeito que era antes."

O processo todo inclui a limpeza e o polimento das peças, a substituição das que estão quebradas ou trincadas e o realce da pintura. Cada demão de tinta pede 24 horas de forno, a temperatura média de 600° C, para a cor impregnar o vidro. "Dependendo da peça, preciso colocar cinco vezes no forno", explica Benedito. Um trabalho minucioso e paciente.

Já restaurados, os primeiros quatro conjuntos de vitrais foram recolocados no Municipal há uma semana. Até o fim do ano, espera-se que todos voltem a embelezar um dos mais famosos símbolos de São Paulo. Com uma novidade. "Os que ficam na área externa ganharão uma proteção de vidro, de 4 milímetros", adianta a arquiteta Rafaela Calil Bernardes, do Departamento de Patrimônio Histórico, que acompanha a obra. Ela garante que o vidro não vai atrapalhar a visualização dos vitrais. "E serão muito úteis contra as intempéries."


Domingo, 12 de julho de 2009

11 de set. de 2009

Paulistanos no top 30 do mundo

ARQUITETURA
Escritório da Vila Madalena está na lista dos mais promissores de 2009, segundo a revista britânica 'Wallpaper'

Os arquitetos paulistanos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz estão sorrindo. E não é à toa. Pela primeira vez um escritório brasileiro integra o catálogo anual que a revista britânica Wallpaper - especializada em arte, design e arquitetura - publica desde 2007. O trio está à frente do felizardo escritório, que carrega suas iniciais no nome: FGMF. "Ficamos meio surpresos porque tem um monte de brasileiro estourando por aí", admite Forte. "A escolha é um selo de qualidade ao nosso trabalho", comemora Gimenes. "O eco internacional da publicação certamente será grande. Isso nos renderá grande reconhecimento."

Criado há dez anos, quando eles ainda eram estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), o FGMF começou a ganhar notoriedade internacional do ano passado para cá. "Chegamos a sair em publicações especializadas de dez países", estima Gimenes. "Aparecemos na Índia, Itália, Eslovênia, Equador...", enumera Forte, lembrando que, em maio, eles estiveram na Bienal de Arquitetura de Pamplona, na Espanha. Tamanha exposição, acreditam eles, funcionou como um ímã para os olhos dos editores da Wallpaper.

O anuário não busca coroar arquitetos já consagrados, mas revelar tendências. Ou seja: com a seleção, a revista procura mostrar quais são os 30 escritórios de arquitetura mais promissores do mundo.

Assim que a publicação escolheu os integrantes da edição, passou aos eleitos uma missão: em um mês, deveriam desenvolver um projeto conceitual que exprimisse os principais conceitos da linha arquitetônica da equipe. Para cumprir a tarefa, o trio paulistano lançou mão das conclusões a que chegou no ano passado, quando resolveu refletir sobre pontos em comum da produção do escritório - até agora são mais de 160 projetos realizados.

A casa conceitual apresentada à Wallpaper não tem nada de convencional: graças a trilhos, os cômodos se movimentam e os espaços podem assumir diferentes configurações. Quando ela está completamente "fechada", ocupa apenas 77 m² de um terreno de 400 m². Mas, conforme os movimentos, a área útil pode abranger todo o espaço disponível. "É uma ideia meio maluca", concorda Forte. "O cara pode abrir tudo e dar uma superfesta. Depois fechar e ir dormir."

Essa exploração da gradação dos espaços, uma rica confusão do que é dentro e do que é fora, de certa forma tem sido uma constante na carreira do trio. "Acontece de o cliente perguntar qual é a área construída da casa e a gente nunca saber direito", diz Marcondes Ferraz. Em resumo, eles frisam que gostam de provocar as relações entre as pessoas por meio das dinâmicas espaciais.

Essas características podem ser percebidas - ainda que de forma mais sutil - em outras obras do FGMF que conta, além dos sócios-proprietários, com outros 13 funcionários. É o caso da sede do Projeto Viver, entidade social do Jardim Colombo, cujo prédio ficou pronto em 2006. "Percebemos que o que faltava para os moradores da favela era o espaço público. Então criamos várias áreas livres que passaram a funcionar como praças", explica Marcondes Ferraz. "Preocupamo-nos em fazer um prédio muito simples, para que não assustasse aquela população. Não poderia ser nada suntuoso." A obra acabou rendendo ao escritório duas premiações: menção honrosa na Bienal de Arquitetura de Brasília e o Prêmio Especial Eduardo Kneese de Mello, do Instituto de Arquitetos do Brasil. Até agora, os arquitetos acumulam 18 prêmios.

FUTURO
A próxima empreitada deve ser um complexo comercial de 2,7 mil m² na Vila Madalena. Mas esqueça a ideia de um prédio certinho ocupado por engravatados. "Será o oposto da Vila Olímpia", antecipa Forte, comparando com o bairro conhecido por abrigar empresas multinacionais. O projeto, que deve começar a sair do papel no segundo semestre - a previsão é que fique pronto em 2010 -, valoriza as áreas comuns, com espaços de interação entre os funcionários de diversas empresas. E todas as 21 unidades terão varanda.

Eles têm consciência de que o sucesso chegou cedo. Aos 32 anos - idade comum ao trio -, não é usual tal destaque nessa área. "A arquitetura tem um tempo para acontecer", acredita Forte. "Acabamos estourando mais cedo. Nosso material emplacou lá fora."


Domingo, 12 de julho de 2009

10 de set. de 2009

''Não gosto de ser 'a elegante''', diz Costanza

PAULISTÂNIA
Aos 69 anos, a empresária e consultora lança amanhã o 3.º livro

Não há quem tenha ouvido falar em Costanza Pascolato que rapidamente não a associe a elegância. A instantânea ligação semântica tem motivos: Costanza se tornou conhecida pelas dicas de moda, pela refinada etiqueta e pelo estilo - bem, é inevitável - elegante. "Eu sou elegante. O que significa isso? Não é uma profissão, nem nada. E a imprensa carimba: 'a elegante Costanza'", desabafou ao Estado, na última quinta, em entrevista para divulgar seu terceiro livro - Confidencial (Editora Jaboticaba, 240 págs., R$ 45), que será lançado amanhã e mistura um pouco de memórias com dicas de moda, beleza e bem-viver. "Não gosto de ser 'a elegante'. Isso já me fez sentir em crise de identidade."

A declaração não busca renegar o atributo que lhe deu notoriedade. Mas, sim, lembrar que ela, aos 69 anos, em plena forma - 52 quilos, 1,61 metro de altura -, se mantém na ativa. "Eu sempre dei um duro danado", frisa. "Sou consultora de moda e empresária." E com uma rotina rígida. Levanta-se regularmente às 6 horas e todos os dias - após tomar 1,5 litro de água, se arrumar (em um ritual que leva duas horas) e fazer pilates - trabalha na empresa têxtil da família, a Santaconstancia, que dirige desde o fim dos anos 80. No trajeto de seu apartamento, em Higienópolis, para a fábrica, no Parque Novo Mundo, dá graças por terem inventado o celular. "Vou trabalhando pelo telefone. Hoje tem até internet por celular. Estou adorando."

Nascida em Siena, na Itália, Costanza Maria Teresa Ida Clotilde Pallavicini Pascolato veio com os pais, Michele e Gabriella, para o Brasil aos 6 anos. Os flashes e as colunas sociais sempre a perseguiram. "Eu era criança e fui pular o carnaval em Santos. Minha foto saiu na primeira página do jornal", lembra. "Por isso digo que essa notoriedade sempre me acompanhou."

Mais mocinha, aluna do Colégio Dante Alighieri - "Não gostava de escola, era um fracasso" -, seu pai ficava sabendo que ela havia cabulado aula pelas colunas sociais. "Uma vez saiu que eu estava na piscina do (clube) Harmonia, quando tinha de estar na escola", conta. Se o estudo formal não a agradava, isso não atrapalhou sua paixão pelos livros. "Tinha uma governanta que uma vez por semana ia fazer compras. Eu sempre encomendava um livro", diz. Adolescente, já lia Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Arthur Rimbaud (1854-1891) e Jean-Paul Sartre (1905-1980). "Eu achava o máximo, mas não entendia nada", ri.

Terminado o colégio, não fez faculdade. "Eu tinha uma pretensão intelectual, mas sou uma ignorante", repete, com lampejos de modéstia. "Mas sempre fui interessada em arte. Meu pai me mostrava os concertos (musicais) modernos russos desde quando eu tinha 5 anos", exemplifica. No final da década de 50, se tornou amiga e assistente de artistas como Clóvis Graciano (1907-1988). "Eu pintei mural com ele", orgulha-se. Também gostava de esportes. Jogava tênis, andava a cavalo e nadava. "Aos 15 anos, fui campeã sul-americana de salto ornamental, em Mar del Plata (na Argentina)."

Em 1962 veio o primeiro de três casamentos. Com o banqueiro Robert Blocker, brasileiro filho de americanos, teve as duas filhas, Consuelo e Alessandra. Separou-se dez anos depois. "Fui meio deserdada (pela família)", afirma. "Naquela época, era escândalo isso de separação, eu me sentia uma idiota." Com isso, veio a necessidade de trabalhar. "Estava completamente na pendura e tive de me virar. Fiquei procurando emprego e acabei na Editora Abril, como produtora da revista Claudia", relata. "Eles me achavam uma dondoca." Costanza ia trabalhar dirigindo um estiloso fusca laranja.

É dessa época o enlace com o segundo marido, o marquês italiano Giulio della Volta, com quem viveu até a morte dele, por enfarte, em 1990. Mas nem tudo foi perfeito nesse período. Em 1986, Costanza entrou em depressão profunda. "Um mergulho no inferno", define. Engordou - segundo ela, em decorrência dos remédios - e acabou frequentando o grupo Vigilantes do Peso. A alimentação saudável, aliás, é algo que a preocupa. "Nunca quis ser gorda", explica. "Adoro comida, mas prefiro passar fome a comer algo que não seja bom." Por isso, leva marmita para o trabalho, preparada por uma cozinheira particular. "Não é esnobismo. Mas desta forma eu sei até o tipo de azeite que foi usado."

Dois anos depois do trauma da viuvez, novo drama: um câncer de mama. "A gente fica fraca, tive de operar, essas coisas", resume. Em 1995, a passeio com a família na fazenda do primeiro marido, no Texas, Estados Unidos, mais um susto. "Caí do cavalo e fraturei uma vértebra." Seu último casamento - com o produtor musical, escritor, compositor e jornalista Nelson Motta - durou seis anos e acabou em 2001. Culminando em outro baque. "Foi duro. Comecei a passar mal, caía o cabelo, essas coisas", conta ela, que acabou diagnosticada com uma síndrome. "Meus olhos saltavam. Acabei me curando com homeopatia e meditação." Depois disso, raramente é vista sem óculos escuros.

Há 20 anos, as mulheres da família Pascolato têm um compromisso aos sábados: almoço com a matriarca, Gabriella, de 92 anos. Cada semana em um restaurante. Outro prazer de Costanza é papear com as amigas. "Superamizades, da infância", diz. "Penso que, se eu tivesse conseguido um marido para a vida toda, sentiria o mesmo com ele. É preciso crescer juntos, viver juntos, enfrentar coisas juntos. Ter duas histórias em conjunto."


Domingo, 5 de julho de 2009

9 de set. de 2009

A bordo de jardineira, um tour no Ipiranga

PASSEIO
Nova atração do Aquário de São Paulo mostra história do bairro

Começa no sábado mais uma atração do Aquário de São Paulo: passeios guiados, a bordo de jardineiras dos anos 30, pelos pontos históricos do bairro do Ipiranga. “É uma maneira de mostrarmos aos visitantes a riqueza de nossa região”, afirma o coordenador do projeto, Augusto Cezar Fidalgo, funcionário do Aquário.

A princípio, o itinerário será simples e com apenas 4 quilômetros. Deve durar cerca de 30 minutos. Duas jardineiras, uma amarela (de 1931) e uma vermelha (de 1932) – ambas da marca Ford –, oferecerão o passeio, que acontecerá todos os dias deste mês, das 9 às 18 horas, com saídas conforme a demanda.

“Após as férias escolares, deveremos ter a atração somente nos fins de semana”, adianta Fidalgo. Por causa da capacidade do veículo, cada tour leva, no máximo, 11 pessoas.

O embarque acontecerá em frente ao Aquário, na Rua Huet Bacelar, 407 (informações pelo 2273-5500 ou em www.aquariodesaopaulo.com.br), ao preço de R$ 5 por pessoa. Dali, a jardineira percorrerá as principais ruas do bairro.

Um guia irá mostrar, ao longo do caminho, os endereços mais importantes, bem como suas histórias. A parte chata é que o tour não prevê paradas para que os participantes possam descer e conhecer melhor cada ponto.

PONTOS AVISTADOS
De dentro da jardineira, devem ser vistos o convento onde viveu, na Avenida Nazaré, a religiosa ítalo-brasileira Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), conhecida como Madre Paulina – que se tornou santa em 2002; o octogenário Instituto de Cegos Padre Chico, na Rua Moreira de Godoi; e a casa, na Rua dos Patriotas, onde morou o advogado, banqueiro e industrial Ricardo Nami Jafet (1907-1968), que foi diretor da Mineração Geral do Brasil e presidente do Banco do Brasil.

Não ficarão de fora, é claro, os dois importantes e conhecidos museus do bairro, ambos vinculados à Universidade de São Paulo (USP): o Museu de Zoologia (Avenida Nazaré, 481) e o Museu Paulista, popularmente chamado de Museu do Ipiranga (Parque da Independência, s/nº).

Para os apaixonados por veículos antigos, a maior graça não serão os pontos históricos conferidos pelo caminho, mas o prazer de estar a bordo de uma jardineira. “A ideia surgiu porque aqui no Ipiranga há muitos colecionadores de carros antigos”, comenta Fidalgo. “Fiz uma parceria com um amigo, que cederá os dois veículos que utilizaremos nos passeios. São o xodó dele.”

E se a proposta é experimentar um pouco os ares de antigamente, a trilha sonora também contribuirá. Sucessos musicais das décadas de 30, 40 e 50 devem embalar a imaginação – e a memória, no caso de quem viveu aquele tempo – dos passageiros. A lista musical ainda está sendo definida, mas Fidalgo garante que não vão faltar sucessos do “rei do rock” Elvis Presley (1935-1977) e muito jazz daquele tempo.

A compra do ingresso para o tour pelo bairro não dá direito a visitar o Aquário de São Paulo – cuja entrada custa R$ 20 de terça a domingo e R$ 15 às segundas-feiras.


Quinta-feira, 2 de julho de 2009

8 de set. de 2009

Reduto de intelectuais corre risco de fechar

CULTURA
Antes frequentado pela 'intelligentsia' paulistana, o Bar do Museu, no centro de SP, enfrenta batalha com condomínio onde está instalado

Com uma antiga e pesada mobília, o bar tem cara de museu. Nas paredes, quadros originais de Alfredo Volpi (1896-1988), Clóvis Graciano (1907-1988) e Aldemir Martins (1922-2006), entre outros. Escondida no centro de São Paulo, na sobreloja do bloco C de um condomínio comercial no número 324 da Avenida Ipiranga, a sede da Associação dos Amigos do Museu de Arte Moderna é chamada de Bar do Museu. "Hoje somos um clube quase sem sócios, apenas uns cinco ou seis", admite a secretária aposentada Clarice Berto, de 64 anos, presidente da agremiação desde 2001. "Todos morreram ou, pela idade, não frequentam mais."

Verdade é que o bar, que já foi reduto da intelligentsia paulistana, corre risco de extinção por outro problema. O atual síndico do prédio, Edney Cordeiro, decidiu comprar briga com o espaço. Em 2006, sua gestão aprovou, em assembleia, norma que proíbe a entrada de visitantes no prédio a partir das 21h. "Isso reduziu o movimento do bar, que é o que mantém a associação. No fim do ano passado precisamos demitir nosso garçom, que estava conosco há 31 anos", conta Clarice. Há dois meses, novo golpe: agora todo o prédio precisa deixar de funcionar à meia-noite. E nada pode abrir aos sábados. "Estamos perdendo tudo", desabafa.

Após insistentes recados deixados pela reportagem na administração do condomínio, o síndico autorizou que seu assessor jurídico, o advogado Lucas Evangelista Campos, esclarecesse a situação. "O condomínio tem o direito de determinar restrições de horários de funcionamento", afirma. "Trata-se de uma questão de economia doméstica." O caso tramita em juízo. Pesa contra a associação uma enorme dívida de taxas condominiais, de cerca de R$ 30 mil. "O imóvel pode ser leiloado para pagar essa dívida", diz o advogado.

HISTÓRIA
A associação surgiu em 1948, quando o industrial e mecenas Ciccillo Matarazzo (1898-1977) reuniu um grupo de amigos intelectuais com o objetivo de criar um museu de arte em São Paulo. A primeira sede funcionou na Rua Sete de Abril, contígua ao próprio museu - que dez anos mais tarde foi transferido para o Parque do Ibirapuera. Ali foi discutida a criação do Teatro Brasileiro de Comédia, em 1948 - o produtor teatral Franco Zampari (1898-1966) era frequentador.

Nas mesas do bar compareciam com assiduidade os artistas plásticos Aldemir Martins, Alfredo Volpi e Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976), o cantor Sílvio Caldas (1908-1998), a escritora Lygia Fagundes Telles, o historiador e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (1916-1977) e os políticos Ulysses Guimarães (1916-1992) e Jânio Quadros (1917-1992).

Artistas costumavam doar quadros próprios para a instituição, dando origem ao rico acervo preservado até hoje. Sílvio Caldas presenteou a associação com dois violões. Um deles está na parede. "O outro eu empresto para quem quiser tocar", garante Clarice.

Em 1978, os associados cotizaram-se para que o grupo tivesse sede própria. Desde então, ocupa a sobreloja do Edifício Investimento, na Avenida Ipiranga. A vocação de difusão artística e cultural é mantida não só pelo rico acervo permanente como pelas exposições temporárias - desde 2005 foram 25 mostras, com curadoria do artista plástico Eurico Lopes. "Privilegio o caráter experimental", afirma. Até agosto, fica em cartaz ali ...E A Cidade, com obras de Andréia Lucena e Lumy Maeda.

Ciente da importância histórica do local, uma nova geração de artistas e produtores culturais tem se esforçado para movimentar o bar. "É um símbolo de São Paulo, por isso procuramos fazer aqui boa parte de nossos encontros", afirma o novelista Leandro Barbieri, de 24 anos, que gravou no bar duas de suas novelas - Nos Tempos da Garoa e Virados Pra Lua, ambas exibidas pelo site www.spetaculos.com.br.

Leandro e um grupo de colegas resolveram buscar algum tipo de ajuda. Por meio do vereador Gilson Barreto (PSDB), foi encaminhado à Secretaria das Subprefeituras um pedido de auxílio ao reconhecimento do valor histórico do espaço. Por enquanto, eles aguardam. "Por mim, o Leandro seria o nosso próximo presidente", derrete-se Clarice, que enxerga nos jovens a esperança de que o Bar do Museu não seja obrigado a fechar as portas.


Segunda-feira, 6 de julho de 2009

7 de set. de 2009

45 mil telefonemas por dia

SERVIÇO

Não passa de uma coincidência, mas desde julho do ano passado a central que recebe os 45 mil telefonemas diários para o número 156 fica na Rua 25 de Janeiro, no bairro da Luz. Sim, a rua que homenageia a data de fundação, em 1554, da Vila de São Paulo de Piratininga, a capital paulista de 455 anos.

A central 156 foi criada pela prefeitura em 2002, para servir de atendimento aos mais variados temas da cidade - de qual o dia para o rodízio de seu carro a pedido de poda em árvores, atualmente são 3 mil assuntos, referentes a 97 serviços diferentes. O sistema sempre foi terceirizado e hoje em dia é prestado pela empresa de teleatendimento Call Tecnologia e Serviço.

"O usuário leva, em média, de 2 a 3 minutos para ser atendido", garante a coordenadora operacional do sistema, Renata Veiga. "Temos capacidade para receber até 70 mil ligações por dia. Mas só chegamos perto desse limite quando há algum problema na cidade, como greve de ônibus e metrô." Desde 26 de janeiro de 2007, as ligações para o número 156 são gratuitas.

Para dar conta desse turbilhão de telefonemas com as mais variadas perguntas, críticas e sugestões, trabalha ali um exército de 900 atendentes, que se revezam em turnos durante as 24 horas do dia. Em horários de pico, chegam a estar ali 350 ao mesmo tempo. "Todo mundo recebe um treinamento e cada operador é habilitado a alguns assuntos", explica Renata.

As informações mais solicitadas variam conforme a época do ano. Em dezembro, por exemplo, são muitos que ligam para saber mais sobre o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e como se recadastrar em programas sociais. Atualmente, são constantes os pedidos de esclarecimentos sobre a inspeção veicular obrigatória. "Mas o que não muda é a liderança de dúvidas quanto a itinerários de ônibus, da SPTrans", conta Renata. "Sempre na casa dos 40% do total." Por isso que o maior grupo dos operadores, cerca de 130, é treinado para atender a assuntos da SPTrans.

Mas não é sempre que o serviço dos atendentes é passivo, à espera de solicitações dos cidadãos. "Quando determinada secretaria solicita, também precisamos ligar para as pessoas", diz a coordenadora. Recentemente, por exemplo, parte dos operadores iniciou um trabalho ativo de informações sobre um programa da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento SociaL O projeto beneficia 17 mil pessoas. Nessa primeira fase, 400 receberão as ligações do 156. "Já houve casos também de a Secretária da Saúde pedir para avisarmos quem retirou determinado medicamento gratuito a comparecer de volta para trocar, porque o lote estava com algum problema", lembra Renata.

Os operadores trabalham em turnos de 6 horas, com três intervalos - dois de 10 minutos e um de 20 minutos - para evitar o surgimento de lesão por esforços repetitivos, a famigerada LER. Na tentativa de deixar o ambiente menos sufocante, a empresa decora o ambiente de acordo com as datas comemorativas mais próximas. Carnaval, Páscoa, Dia das Bruxas, Natal... nenhuma passa em branco. "Serve para motivar a equipe", acredita o gerente de operação Rodrigo Bueno.

Para o aniversário da cidade da qual eles tanto escutam os problemas, em 25 de janeiro, os enfeites foram especiais. Eles selecionaram 27 pontos de São Paulo e cada setor do amplo salão onde ficam os atendentes passou a representar um deles. Copos com drinques simbolizaram a Vila Madalena, muito verde lembrava o Parque do Ibirapuera e máscaras e confetes aludiam ao Sambódromo.

Nota do autor: No início do ano, dediquei-me por quase um mês à elaboração de um caderno especial em comemoração ao aniversário de 455 anos de São Paulo. Entretanto, por causa do número de páginas do suplemento, nem todas as reportagens que produzi foram publicadas. Pretendo colocar algumas delas, inéditas, neste espaço.


Segunda-feira, 6 de julho de 2009

6 de set. de 2009

A "nova" Praça Luís Carlos Paraná

PRAÇA

Depois de uma longa reforma, a Praça Luís Carlos Paraná, no Itaim, será reaberta hoje. O espaço de 3 900 metros quadrados, localizado no cruzamento das avenidas Brigadeiro Faria Lima e Cidade Jardim, é uma das doze áreas verdes revitalizadas pela Subprefeitura de Pinheiros.

Sabe quem foi Luís Carlos Paraná, que desde 1981 empresta seu nome à pracinha?

Nascido em Ribeirão Claro (PR), ele trabalhou como lavrador até os 19 anos. Aprendeu sozinho a tocar violão. Nos anos 50, quando morou em uma pensão no Rio de Janeiro, dividiu um quarto com João Gilberto. Na década seguinte, já estabelecido em São Paulo, criou a histórica boate Jogral, na Avenida São Luís. Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulo Vanzolini, Jorge Ben e Noite Ilustrada eram alguns dos freqüentadores. Sua composição mais conhecida é Maria, Carnaval e Cinzas, defendida, em 1967, por Roberto Carlos no III Festival da Música Popular Brasileira, promovido pela TV Record. Paraná morreu em 1970, aos 38 anos.


Quarta-feira, 16 de julho de 2008

5 de set. de 2009

Da Paulista para o Largo São José

MISTÉRIOS DA CIDADE

Lembra das pedras portuguesas das calçadas da Avenida Paulista? Desde o dia 15 de junho, 25 metros cúbico delas decoram a obra da foto, parte da reforma do Largo São José do Belém, na Mooca. Trata-se do pedestal para a imagem de São José, em bronze, que mede 1,80 metro de altura.


Segunda-feira, 7 de Julho de 2008

4 de set. de 2009

Ópera ao ar livre

EVENTO

Um telão medindo 5 metros por 3,75 metros irá transmitir, ao vivo, a última récita da ópera Madame Butterfly, de Giacomo Puccini, em cartaz no Teatro Municipal. A projeção irá ocorrer na Praça Ramos de Azevedo, diante da fachada do teatro. Ali, do lado de fora, o público poderá acompanhar tudo de graça.

Será no domingo (29), às 17h.


Quinta-feira, 26 de junho de 2008

3 de set. de 2009

Vasos gigantes? Não. Apenas caçambas estilizadas

MEIO AMBIENTE

Durante toda esta semana, trinta caçambas de lixo coloridas foram espalhadas pela cidade. Elas foram transformadas em gigantes vasos de plantas.

Além de trazer mais cor e vegetação à cidade, a iniciativa serve para divulgar o Festival Motomix, que ocorre no sábado (28), no Parque do Ibirapuera.


Quarta-feira, 25 de junho de 2008

2 de set. de 2009

Luzes novas na Liberdade

IMIGRAÇÃO JAPONESA

Para comemorar o centenário da imigração japonesa, 1 350 lâmpadas foram trocadas nos postes da Liberdade. Elas foram doadas por uma empresa do ramo. Saíram as tradicionais lâmpadas de vapor de sódio e entraram as de vapor metálico -- modernas e eficientes, duram 50% mais que as comuns e são acendidas mais rapidamente. A iluminação nova pode ser conferida a partir da noite de hoje.


Quarta-feira, 18 de junho de 2008

1 de set. de 2009

Samurais no metrô

EXPOSIÇÃO

Até o dia 30, quem passar pela estação Santa Cecília do metrô pode conferir uma exposição de samurais feitos de origami. As dobraduras são obra de Alzira Cattony, que há mais de trinta anos trabalha com a técnica. Desde 2005 ela tem se dedicado a pesquisar sobre samurais.


Terça-feira, 17 de junho de 2008