31 de mai. de 2009

Nação Bauru, sobre as flores

HISTÓRIA
Sou o caminho diário de diversos bauruenses e minha utilidade é indiscutível. Você já parou pra pensar nisso?

Meu nome é Avenida. Avenida Nações Unidas. Tenho sete quilômetros e meio de extensão e diariamente sou pisada por milhares de pés, sempre aos pares. Carros cujas rodas rolam sobre mim também são muitos; a fumaça que eles exalam cobrem-me de fuligem. Mas não reclamo.

Sou integração e segregação. Integração porque a cidade passa por mim enquanto eu passo por ela. Segregação porque nasci dividindo uma Bauru rica e desenvolvida, à minha direita, de uma Bauru quase rural e marginalizada, à esquerda. Sou uma tatuagem da cidade. “Não devemos apenas opor a cidade dos dominantes à dos dominados, visto que esse é um recorte ideológico que o ‘fato urbano’ tem repudiado constantemente e cada vez mais”, diz a semioticista Lúcia Helena Sant´agostino, em sua dissertação Bauru, chão de passagem. Assim, através de mim, deve-se pensar a cidade enquanto contexto: são os seus habitantes que criam lugares.

Gênesis – Agora rio, mas outrora fui um Rio. Ribeirão das Flores. De vez em quando, bate uma saudade de ser de novo água; verto lágrimas e o povo reclama de enchente.

Em 1956, o prefeito Nicola Avallone Jr., mais conhecido por Nicolinha, canalizou o Ribeirão das Flores. Começava a abrir caminho para uma nova Bauru, antenada com o progresso. Logo mais, o poeta bauruense Euzébio Guerra iria cunhar a expressão “Cidade Sem Limites”, representando toda a pujança desenvolvimentista em que se acreditava estar mergulhado. “A canalização do córrego mudou radicalmente o perfil urbano da cidade”, acredita Sant´agostino.

O urbanista Adalberto Retto Jr., professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual Paulista, vê a minha construção como parte de algo maior: o plano de metas de Juscelino Kubitschek. “É a tentativa de integração do interior, de mudar o pólo de desenvolvimento do Brasil, então circunscrito à costa litorânea. Brasília está inserida nisso: o desenvolvimento interno do País”, acredita. O meu formato curvo, obedecendo ao curso do rio, quebra o “quadriculado” urbano. “A década de 60 chega para romper com a estrutura anterior da cidade. Bauru, por exemplo, era uma estrutura em grelha. A Nações claramente foi desenhada em outros moldes”, ressalta o professor, “Ela tem um desenho autônomo, criando uma fissura urbana, um descontínuo.”

No início dos anos sessenta, construiu-se à minha margem esquerda um prédio que refletia todo esse sentimento moderno. É o até hoje belo Edifício Brasil-Portugal, de dez andares. Mas quem pode contar melhor isso é o sr. Faruk Rumiê. Ele tem 64 anos e é um dos primeiros moradores do prédio. “Vim para cá em 1964. Dia 25 de março”, lembra. “Esse prédio é muito bom. Um dos melhores de Bauru: arejado, não pega o sol de chapa, um belo jardim na frente. Um senhor prédio.” De sua janela, ele acompanhou toda a minha história. “Quando mudei pra cá, não tinha a Nações Unidas direito.”, explica, “Tinha uma grande feira aqui perto”.

O projeto do prefeito Nicolinha, entretanto, só foi editado e concluído um pouco depois, já no governo de Alcides Franciscato (1969-1973). Aproveitando todo o clima de “milagre econômico”, ele decidiu concentrar todos os esforços e obras na região urbana que me circunda. Eu surjo com meu nome Nações Unidas nesse contexto. Então sou, simbólica e intencionalmente, a vitrine da Bauru moderna, desenhada para a escala dos automóveis e dos ônibus. Sou a divisora das águas (do Ribeirão das Flores?) na história de Bauru. Agora novíssima Bauru.

Mas teve um dia que explodi. Estava revoltada com a ditadura militar e por pouco não mato o presidente Geisel. Um caminhão carregado de gasolina tombou nos Altos da Cidade. Os bombeiros desviaram o combustível para um encanamento que levava até o Ribeirão das Flores, então já canalizado. De repente, o gás incendiou e destruiu-me todinha. Momentos antes, a comitiva presidencial havia passado sobre mim. Foi por pouco!

Hoje – Logo no meu começo geográfico, a quadra 1, há um templo religioso: a Igreja Cristã Monte Santo. E uma placa diz: "Provai e vede como o Senhor é bom". Talvez seja. Considero-me abençoada. “Acho que quando a igreja mudou pra cá facilitou muito pra gente vir”, conta Claudete Aparecida Ferraz da Rocha, fiel há dez anos.

Há outras igrejas em minhas proximidades, professando os mais diversos credos. Nações Unidas, religiões unidas. Nação Bauru, a via da integração: não tenho preconceitos contra nenhuma cultura.

Aliás, é na quadra 2 que fica o Terminal Rodoviário de Bauru. Ou seja: todos os que chegam aqui passam por mim. Nações Unidas, nação Bauru. Um território bauruense que é de todos, sem distinção.

Falando em cultura, não posso me esquecer de contar que também abrigo o Centro Cultural. Nele, importante pólo de estudos e manifestações artísticas, funcionam o Teatro Municipal, a Biblioteca e a Secretaria da Cultura. E é lá que trabalha o Aluísio Lisboa Ramos, vigia. Ele passa o dia todo me vendo. “Adoro olhar a Avenida, é bastante movimentada”, fala, recordando-se que já presenciou alguns acidentes de trânsito e outros acontecimentos inesquecíveis. “Olha, mas o mais trágico, que marcou mesmo, foi a morte de um rapaz. Ele tinha acabado de sair de um show aqui no Teatro e foi morto a pauladas”, narra. O fato ocorreu há três anos.

Outra história de que Aluísio se lembra é de uma vez que chorei tanto, no final do ano passado, que a enchente invadiu o Centro Cultural. “Chegou a entrar água até no Teatro, vários voluntários foram recrutados para ajudar a secar”, conta, rindo.

Cruzo com uma outra grande avenida, a Rodrigues Alves, numa das regiões mais movimentadas de Bauru. São carros, pedestres, gente apressada... o dia todo. “Desculpe-me, mas agora não posso falar”, foi o que disse o frentista do posto de gasolina que fica nesse cruzamento, quando lhe perguntei se poderia conversar.

Já a Avenida Duque de Caxias, também importante constituinte da malha urbana bauruense, posa de aristocrata e não se cruza comigo; passa por cima. Sob o viaduto há algumas mesas de alvenaria onde velhinhos às vezes ficam jogando cartas. Do outro lado, um Posto Policial. Por causa dele, tem-se uma quebra de paradigma: ninguém mora embaixo dessa ponte.

Crianças brincando, casais namorando... Fico feliz no trecho em que tenho o Parque Vitória Régia, um bonito espaço verde. Mas quem pode falar é Avelino Cabral da Silva, que passa grande parte da semana vendendo bolas coloridas ali, sempre olhando para... quem? Sim, para mim, a Avenida. “Já faz uns três anos que trabalho aqui. Gosto de ficar aqui por causa das árvores, do verde”, explica. Ele lembra que antes ali “era mato, só, um brejo e mais nada”. Isso há muitos anos, quando Avelino, hoje com 60 anos, ainda era bastante jovem.

Mais um pouco e o que temos? Praça da Paz. Durante o dia, especialmente no calor, crianças maltrapilhas aproveitam para se refrescar no espelho d´água que enfeita a praça. Já à noite, o espaço é disputado por muita gente, sobretudo jovens, que a utilizam para bater-papo e encher o estômago com lanches e os famosos churros.

Outra via que passa por cima de mim é a Marechal Rondon. E debaixo desse viaduto o que há são frases de cunho político. “Abaixo a Ditadura”, “Fora Sarney”, “Fora Collor”, “Fora FHC”... Logo, logo, alguém vai lá escrever “Fora Lula”.

Pra não dizer que não falei das flores, ainda tem espaço em mim para plantas bonitas, mesmo não sendo eu mais o Ribeirão das Flores. No canteiro da rotatória logo após o viaduto da Rondon, há belíssimas flores amarelas. Mas o transeunte raramente percebe: na pressa de (sobre)viver, nunca pára para colher a poesia do cotidiano.

O meu trecho final é o mais maltratado. Às vezes sinto-me ingrata com os pedestres, não há muito espaço para eles. Não há calçadas decentes desde a Rondon até o Zoológico. E, à noite, é um local escuro, mal-iluminado. Tenebroso.

Essa não adequação ao pedestre foi observada pelo professor Retto Jr. “A Nações não permite a multiplicidade de fluxos. É desenhada prioritariamente para o automóvel.” Ele propõe que, se perpendicularmente é impossível a transposição do pedestre, seja mais explorada a linearidade. “Podia ter mais equipamentos regionais, como o Teatro e a Rodoviária, instalados na Nações. Isso provocaria um maior fluxo de pedestres”, defende.

Administração – Enfim, é inegável que sou um patrimônio do povo bauruense. Mais que isso, as diversas Nações são Unidas, então sou patrimônio de todos que adotam Bauru como sua cidade e mesmo de todos aqueles que simplesmente passam por aqui um dia. Eu sou o caminho, embora não seja a verdade nem a vida.

O problema talvez seja administrativo. Preciso ser melhor cuidada. Em alguns trechos ando suja, como se sofresse do intestino. “Uma senhora avenida, espetacular. Tinha que ser mais bem tratada. Deviam conservá-la melhor do que conservam hoje”, desabafa sr. Faruk, morador do Brasil-Portugal.

Retto Jr. gostaria que houvesse transportes alternativos ao longo de mim. “Por exemplo: por que não uma ciclovia da Rodoviária até a Unesp? E por que não dá para fazer cooper na Nações?”, provoca. Nas minhas bordas, ele defende a existência de um espaço público que privilegie o ir-e-vir dos pedestres.

Uma mudança que vem ocorrendo recentemente é com relação à minha personalidade. Fui concebida como via rápida mas agora estou ficando devagar. Idade? Não, apenas precaução. Diversos semáforos e radares estão instalados em mim para que o motorista tenha um pouco mais de respeito e cuidado, sobretudo com o pedestre. “Agora a Nações tem que ser repensada pela Administração Pública. Uma solução inteligente seria pensá-la como um espaço público, articulando diversos pontos”, finaliza Retto Jr.


Quinta-feira, 30 de outubro de 2003

30 de mai. de 2009

O centro de SP como ele é: artistas, pregadores, engraxates, camelôs...

VIDA URBANA
Personagens que sempre existiram fazem parte da paisagem humana da maior metrópole brasileira

Um poeta diria que se trata da "sinfonia popular". Entre os que frequentam aquele caos urbano diariamente, há os que não suportam a muvuca, os que convivem bem com ela e os que, paulistaníssimos, a adoram. Não é para menos. Por dia, 2 milhões de pessoas circulam pelo centro de São Paulo. Muitos se deparam com personagens curiosos, cujo tempo de existência atravessa gerações e confere a eles o selo informal de "patrimônio" da, digamos, paisagem humana da metrópole.

Nem bem o sol nasce, antes mesmo de os ambulantes instalarem ali as banquinhas de DVDs piratas, bolsas e bijuterias, o que se veem são carrinhos de café da manhã - a broa custa R$ 0,50; o pedaço de torta sai por R$ 1. "A freguesia é ótima. O problema é quando chega o fiscal", diz Dalva, de 54 anos, que todos os dias sai às 4 horas do Jardim Ângela para vender quitutes perto da Praça da Sé. Adélio, de 25 anos, teve outra ideia: canjica no copo, por R$ 0,50. "Mas fico só até 8 horas", conta. "Quando os 'home' (da fiscalização) chegam, vou embora." Com medo de uma punição, ninguém dá sobrenome.

Às 7 horas, o comércio nos calçadões ainda está todo fechado. Os camelôs são poucos - não chegam a 15 na Rua Direita. Uma hora mais tarde já estarão em tão grande número que, misturados à multidão, se tornarão incontáveis. "Olha o CD, um é cinco, três é dez, um é cinco, três é dez", apregoa um deles. A vozearia concorre com os homens-sanduíche, tradicionais "marqueteiros da rua". Em seus jalecos, a diversidade de anúncios: "compro ouro", "foto", "atestado de saúde", "advogado"... E há os que gritam "óóó-ticaóóó-ticaóóó-tica", assim, com separação silábica e entonação características. "Em média, ganho 10% da venda a cada freguês que consigo", diz Antonio Neves, de 48 anos, alagoano de Maceió, que desde que chegou a São Paulo, há três anos, sobrevive como "anúncio ambulante".

Em dois quiosques retrôs bem arrumadinhos na Praça Antonio Prado trabalham 16 engraxates. Um deles é Valdivino Pereira Furtuoso, nascido em Carbonita (MG) há 50 anos. "Faço de 15 a 18 'graxas' por dia", garante ele, no ramo há 11 anos. "Naquele capricho, levo 15 minutos por cliente." O serviço custa R$ 5 e o maior movimento é na hora do almoço, quando os engraxates engatam um coro insistente aos transeuntes: "Graxa aí? Graxa aí? Graxa aí?"

E é nessa hora que o paulistano Edson Fernandes - ou, como prefere, Edson Pana -, de 43 anos, encarna o Palhaço Paninha e se esforça para atrair clientela a um restaurante por quilo. "É o espetáculo do almoço, um shoooow de almoço", repete aos passantes. Ator desde 1986, ele ganha a vida animando festas infantis e frentes de lojas. "Trabalho como se fosse o dono do estabelecimento, visto a camisa", alardeia ele, que fatura em média R$ 150 por dia. "Preciso fazer com que o cliente acredite no que eu falo." Alheio ao barulho, o desenhista William Cabral Martins, de 42 anos, faz da rua seu estúdio. Retrata as pessoas, seja ao vivo, seja reproduzindo fotografias. Cobra de R$ 15 a R$ 100, conforme o tamanho da obra.

Há também os pregadores. Entre os inúmeros que atuam na região, uma excêntrica "performance" foi presenciada pela reportagem. Aline Salgueiro Castanho, de 18 anos, utilizava a pintura para levar sua mensagem, na Praça Antonio Prado. Ela integra a Organização Palavra da Vida, um grupo ecumênico que roda o Brasil divulgando o Evangelho. "Não queremos defender nenhuma religião, mas sim o que foi designado para nós", explica ela, que é de Vitória (ES) e pertence à Igreja Batista. "Jesus é a única ponte para chegar a Deus. Apenas a cruz nos liga a Deus."

A poucas quadras dali, na esquina das Ruas 15 de Novembro e da Quitanda, um outro grupo de religiosos tem provocado polêmica. Com uma pregação enérgica - e muitas vezes lançando mão de palavras obscenas -, eles chamaram a atenção da ONG Educa São Paulo, que, em abril, entrou com uma representação no Ministério Público Estadual pedindo providências para que o grupo deixe o local. "Estamos apenas cumprindo a missão que Deus nos deu", se justifica um deles, que preferiu não ser identificado.

Perto dessa esquina, atua o rei do Ibope da rua: o mágico e contorcionista Silvio Romero de Sousa, nome artístico de Moisés Felix da Silva, de 43 anos. Em suas apresentações, reúne dezenas de pessoas. Pega emprestado um par de óculos de algum espectador e o "transforma" em um fajuto de plástico, ensaia golpes de capoeira e não aceita dinheiro pelo show. Mas, ao fim de cada espetáculo, vende óleo de copaíba e sabonete de juá - a preços decrescentes, conforme o interesse do público. "Aqui é show de rua. Ninguém é obrigado a parar. Não quero enganar ninguém", diz ele, conhecido como Baiano - apesar de ser pernambucano do Recife. Há 18 anos em São Paulo, trabalhou como vendedor do Mappin e das Casas Bahia. "Na hora do almoço, ficava olhando as pessoas se apresentarem na rua. Aprendi e há seis anos vivo disso", relata, lembrando que complementa a renda com shows em aniversário - R$ 100 por três horas.

É apenas um dos muitos artistas que podem ser vistos pelas redondezas. Imóveis, à espera de uma moedinha para interagir com o público, não são poucas as estátuas vivas. Uma delas é representada pelo paulistano Leandro Moreira dos Santos, de 29 anos, que se pinta de preto e branco e imita um robô. "Já trabalhei como vendedor de cintos em feira livre e danço 'break'", afirma. "Mas gosto de me apresentar aqui para sentir a sintonia do povo." Povo este já habituado às figuras pitorescas do dia a dia das ruas centrais da capital.


Domingo, 24 de Maio de 2009

29 de mai. de 2009

Um andarilho russo em São Paulo

ENTREVISTA

Há quase um ano o jovem russo Andrej Raider, de 23 anos, está caminhando. Depois de percorrer 3 mil quilômetros cruzando mais de 200 cidades, ele chegou a São Paulo. "Se conseguir trabalho por aqui, fico um ou dois meses", diz.

Raider iniciou sua volta ao mundo a pé na França, em julho do ano passado. Lá, passou dois meses e meio caminhando pelas cidades e conhecendo a cultura local, novas pessoas e o idioma. Depois ficou quatro meses na Espanha, onde trabalhou, fez amigos e aprendeu a língua. Em Portugal, permaneceu por outros três meses.

Foi quando tomou um voo para o Brasil. Desembarcou no dia 17 de abril no Rio de Janeiro, de onde começou uma caminhada, pelo litoral, até São Paulo. Daqui pretende seguir para Curitiba.

O andarilho russo planeja continuar sua jornada pelos próximos seis anos. Para se hospedar, Raider utiliza o CouchSurfing, um site de relacionamentos onde os usuários disponibilizam suas casas para receber estrangeiros gratuitamente, com o objetivo de conhecer outras culturas e idiomas.

Em São Paulo, ele foi abrigado por Steven Beggs, o CEO da escola Seven Idiomas. Como forma de retribuição pela hospedagem, Raider deu três palestras aos alunos de inglês e espanhol da escola, contando sobre seu projeto de caminhar pelo mundo. Ele atendeu à reportagem do Estado para uma breve entrevista.

Por que você decidiu caminhar, a pé, por todo o mundo?

Minha vida era uma rotina. Um dia percebi que estava fazendo as mesmas coisas, encontrando-me com as mesmas pessoas, tendo as mesmas discussões, vivendo as mesmas situações. Era uma vida sem desafios, uma vida "normal". Em breve, eu não me sentiria mais vivo. Fazer uma volta ao mundo, a pé, era um sonho grande de um menino que queria aprender e conhecer tudo o que existe no planeta. Este menino foi (e sou) eu. Também caminho para a paz. Porque a paz é a experiência mais constante que experimento ao longo desta viagem. Paz é tudo o que eu quero dar.

O que a sua família pensou quando você decidiu botar em prática esse projeto?

Não sou casado, nem tenho filhos. Tenho uma irmã que é minha melhor amiga e tenho pais fantásticos. Meus pais dizem: "claro que ficamos preocupados, mas se você acredita que este é seu caminho, vá." Minha mãe diz que eu tenho que fazer isto, se posso, porque a experiência que adquiro andando ao redor do mundo é enorme e tem muito valor. Eles também dizem: "se um dia achar que não consegue mais, volte".

Você mantém contato com eles? Como?

Pela internet. Antes, às vezes minha família me ligava no celular. Mas perdi meu telefone em Caraguatatuba, acredito. E, no momento, estou sem dinheiro suficiente para comprar um novo.

Já conhecia São Paulo?

Não. É minha primeira vez em São Paulo, primeira vez no Brasil, primeira vez na América do Sul. É um mundo novo para mim. E eu amo este mundo.

O que mais o impressionou na cidade?

Fiquei impressionado com o tamanho. Impressionado com todas as possibilidades e pessoas diferentes. Parece-me um lugar multicultural, e isto me agrada mais. O que não me encanta é a agitação. Quando estou caminhando, preciso de tranquilidade. E a agitação das cidades grandes me "infecta", me faz mal.

E do Rio de Janeiro, o que achou?

Quando cheguei ao Rio, estava muito nervoso. Tinha medo de todas as favelas... Mas nada aconteceu. Realmente, não é igual ao filme Cidade de Deus. O Rio é uma cidade maravilhosa. Gostei muito da sua natureza e de suas praias.

Quanto tempo pretende ficar por aqui?

Estou buscando trabalho. Se encontrar, quero ficar aqui um ou dois meses, para ganhar um pouco de dinheiro antes de seguir viagem. Também é possível caminhar sem dinheiro, mas é mais difícil. Se não encontrar trabalho, pretendo ir já no sábado ou no domingo.

Como se preparou para começar esse seu projeto de viagem?

Desenhei uma linha vermelha no mapa-múndi, comprei sapatos, preparei minha mochila e comecei.



Quinta-feira, 28 de maio de 2009

28 de mai. de 2009

Megaevento quer fazer de SP a capital do design

EXPOSIÇÃO

Até domingo, a capital paulista será a sede do KM.M.MM - Viver Design em São Paulo, o maior conjunto de eventos simultâneos sobre o tema já ocorrido na cidade - serão exposições, palestras, debates, oficinas, filmes e instalações. Promovido pela Secretaria Municipal de Relações Internacionais e por 47 entidades, o evento quer transformar São Paulo na capital sul-americana do design. "Planejamos novas iniciativas para trazer especialistas e mostrar a cidade", explica o secretário Alfredo Cotait Neto.

Há eventos em locais como o Museu Brasileiro da Escultura, o Jockey, o Conjunto Nacional e estações de trem e metrô. No Museu da Casa Brasileira, a instalação Eu Não Sou + de Plástico, Sou Sustentável e Gero Renda apresenta 20 sacolas de compra duráveis criadas por designers em parceria com comunidades carentes. Amanhã é o último dia para ver as peças.

Às 17 horas de hoje haverá palestra com o designer inglês Peter Marigold, no CAD Casa & Design, que fica até domingo em uma mansão no Alto de Pinheiros. Sob o tema da sustentabilidade, o CAD exibe 44 ambientes com soluções ecológicas e confortáveis.

O espaço da ONG Projeto Arrastão traz pedidos dos moradores do Campo Limpo, na zona sul. De acordo com a presidente da ONG, Vera Marzagão, dos 700 desejos ali colocados, 150 já foram atendidos pelos freqüentadores da mostra. "Achei genial", disse a designer de interiores Luciana Teperman. "Vou doar material de acabamento para uma casa onde moram quatro pessoas."


Quinta-Feira, 6 de Novembro de 2008

27 de mai. de 2009

Denúncias de pedofilia crescem 75%

CRIMES ONLINE
SaferNet já recebeu 42.122 queixas; lei não incrimina quem armazena pornografia e, assim, garante impunidade

As denúncias de abusos contra crianças e adolescentes na internet cresceram 75% entre janeiro e setembro deste ano, em comparação com o mesmo período de 2007, segundo a SaferNet Brasil. Em 2008, a organização não-governamental (ONG) que combate crimes contra os direitos humanos recebeu 42.122 queixas de crimes de pedofilia online, ante 24.070 no ano passado.

Procuradores, defensores de direitos humanos, policiais e até políticos são unânimes ao destacar que esse aumento tem relação com o sentimento de impunidade. "Por enquanto as operações não conseguem prender ninguém. Apenas se pode cumprir mandados de busca e apreensão", observa o presidente da CPI da Pedofilia, Magno Malta. Um exemplo é que a maior das operações da Polícia Federal contra esse crime, a Carrossel 2, em setembro, só prendeu um suspeito.

O presidente da SaferNet, Thiago Tavares, diz que a atual legislação brasileira permite a impunidade. "Armazenar imagem de pornografia infantil não é crime. Figura como crime apenas partilhar o conteúdo. A conseqüência é que essa prática não resulta em prisões", explicou. Segundo ele, o Brasil ainda está bem atrasado na legislação de combate a crimes virtuais, quando se faz a comparação com Estados Unidos, Europa e Ásia. "Essa posse é crime em vários países do mundo."

Tavares esteve no Congresso ontem para discutir com os líderes das bancadas na Câmara uma série de alterações no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que serão votadas hoje. Para Malta, a solução passa justamente por penas maiores para a pedofilia e a instituição de novos instrumentos jurídicos. Segundo o senador, já existe um acordo de líderes para ratificar as mudanças votadas no Senado.

Entre as inovações, o projeto que será votado traz a tipificação de crimes como assédio e aliciamento de crianças e adolescentes pela internet. Torna crime também fotomontagens, como já acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. "Hoje tem gente que coloca o rosto de uma criança em uma foto de uma pessoa estuprada e passa impune", criticou Tavares. Além disso, passará a figurar como crime anunciar a venda e comercializar material de pedofilia.

O texto que vai a plenário ainda responsabiliza criminalmente os provedores que mantiverem conteúdos suspeitos após denúncia formal ou solicitação judicial de remoção de material impróprio ou criminoso. Algumas ONGs chegaram a ver o texto com ressalvas, por receio de serem incriminadas ao guardarem material pornográfico para futura denúncia. "Era uma crítica de quem não conhece o texto final. Há salvaguardas para agentes públicos que atuam no combate à pedofilia e para os provedores. Haverá um prazo de seis meses para a guarda deste material", ressaltou Malta.

em parceria com Cláudio Vieira e William Glauber.


Quinta-feira, 6 de novembro de 2008

26 de mai. de 2009

Ela, uma menina. Ele, um homem. Isso dá certo?

REFLEXOS DA VIOLÊNCIA
Para especialistas, relacionamento entre adolescentes e homens mais velhos não é saudável

Amanda* tem 12 anos e desde o ano passado namora Fernando*, de 23. Rosana* começou a namorar Eduardo* quando tinha 12 - ele, 18. Era seu segundo namorado. "Não achei estranha a diferença de idade", conta. "O meu primeiro tinha 22 anos." Sara*, aos 16, é mãe da pequena Soraya, de 2 - e vive com o pai dela, Eliseu*, seis anos mais velho. O namoro se iniciou em 2005.

São casos que podem ser comparados ao início do relacionamento de Eloá Pimentel com Lindemberg Alves - quando ela era uma menina de 12 anos e ele, um homem de 19. O que não significa, é claro, que acabem em tragédia. "Cada situação tem sua singularidade", lembra o psicólogo Carlos Eduardo Carvalho Freire, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC).

O que os especialistas afirmam, entretanto, é que nem sempre uma relação assim é saudável. "Quando uma menina dessa faixa etária se envolve com alguém mais velho, a relação é baseada em poder, dominação e submissão", diz o psicólogo Ailton Amélio da Silva, autor do livro Para Viver Um Grande Amor e professor da Universidade de São Paulo (USP).

No caso de Rosana, moradora de Sapopemba, isso é bem claro. Ela não teve acompanhamento dos pais durante a infância - sua mãe morreu quando a menina contava 6 anos; seu pai se mudou para o Ceará. Vivia na casa da irmã mais velha, casada e com a própria família. Sete meses depois do começo do namoro com Eduardo, engravidou. Acabou indo viver com ele e hoje, aos 16 anos, tem dois filhos.

Eduardo, que ganha a vida fazendo bicos como pedreiro, costuma controlá-la com mãos de ferro. Proíbe que saia de casa e não gosta de vê-la conversando com ninguém. Entre um filho e outro, chegaram a se separar. "Trabalhei como marreteira, vendendo doces em ônibus", lembra.

Amanda, que vive em Perus, diz que "faz de tudo" pelo namorado. A relação tem a aprovação da família. "No começo, minha mãe achou ruim. Mas agora ele vem em casa e até dorme aqui às vezes." Vêem-se diariamente.

Eliseu e Sara, que moram em Sapopemba, se conheceram por meio de uma amiga. "Fiquei com ele para que largasse do meu pé. Ele insistiu por três semanas, dando em cima de mim." Onze meses depois, aos 13 anos, teve de abandonar a 7ª série por causa da gravidez. "Sentia enjôo, mas não achei que estava grávida. Minha mãe armou um barraco e me bateu." Ela não tomava pílula. O casal não se preocupava com camisinha. "Tinha vergonha de ginecologista."

Para o psicólogo Ailton Amélio da Silva, a bronca da mãe de Sara veio tarde demais. "Numa situação dessas, os pais têm de conversar. E depois proibir. Elas ainda não têm discernimento. As meninas estão artificialmente sexualizadas por causa da mídia. Aí encontram um adulto com tendências pedófilas e está feita a desgraça." Para ele, nessa fase, "a diferença de idade viola o mundo da criança".

Mas por que esses casos parecem mais comuns na periferia? "A classe média é mais controladora com relação a isso", afirma o psicólogo Antonio Carlos Amador Pereira, autor do livro O Adolescente em Desenvolvimento e professor da PUC. "Está mais presente na vida dos filhos." E famílias estruturadas tendem a proteger mais os filhos.

Ele lembra que amores platônicos de meninas pré-adolescentes por homens mais velhos são comuns. "Um ator, um cantor e até um professor", exemplifica. "Mas são casos que ficam na idealização, apenas." Cruzar essa barreira pode representar um perigo, já que a menina ainda está na fase do "ficar". "Ela não está pronta emocionalmente para uma relação sexual", diz o psicólogo.

Programas sociais mantidos por ONGs ajudam a conscientizar adolescentes na periferia. "Aqui a gente fala a língua deles, sobre temas que os pais muitas vezes não conversam", diz a instrutora de jovens Jessica Regina de Oliveira, da Sociedade de Amigos de Bairro do Conjunto Habitacional Jardim Sapopemba. Além de promover discussões sobre métodos anticoncepcionais e doenças sexualmente transmissíveis, a associação, que atende 100 jovens e 136 crianças, distribui preservativos.

A gerente do programa de crianças, Elisângela Pereira de Melo, diz que a sexualidade é discutida desde cedo. "Felizmente nunca tivemos adolescente grávida aqui." (* para preservar identidade dos entrevistados, os nomes são fictícios).


Domingo, 26 de outubro de 2008

25 de mai. de 2009

Sete designers analisam São Paulo

URBANISMO

Eles estão entre os principais profissionais da área no mundo e se reuniram no Boom SP Design, fórum internacional que termina hoje, no Shopping Iguatemi. A convite do Estado, o egípcio Karim Rashid, o belga Arne Quinze, o grego Andreas Angelidakis, os americanos Todd Bracher e Brent White e os brasileiros Chico Bicalho e Mauricio Queiroz deram opiniões sobre temas como a Lei da Cidade Limpa, sustentabilidade e ainda elegeram "o melhor e o pior" da capital paulista.

Esse, porém, não é o único evento do tipo que a capital abriga por esses dias. Começa hoje no Instituto Tomie Ohtake a exposição Karim Rashid - Arte e Design num Mundo Global. A mostra ficará em cartaz até 4 de janeiro. Desde ontem, a Panamericana Escola de Arte e Design expõe peças e projetos criados por jovens designers - alunos e ex-alunos da instituição - premiados em concursos. O Metrô também embarcou no mundo do design pop. Desde o começo do mês - até 30 de novembro -, 11 painéis de Karim Rashid estão na Estação Clínicas. E, em novembro, a Estação São Bento exibirá a série de molduras Soldados de Chumbo, de Laerte Ramos.


MELHOR E PIOR DE SÃO PAULO

Andreas Angelidakis

"São Paulo é simplesmente fantástica. Acho que, como muitas grandes cidades, é parte design, parte acidente e parte milagre. Eu adoro o Sesc Pompéia e o Masp - dois prédios da arquiteta Lina Bo Bardi. Caminhar para cima e para baixo na Paulista é uma grande experiência urbana. A vista do alto do Edifício Itália é talvez a mais bela "coisa". Não sei se posso dizer o que é feio. Suponho que a pobreza e a desigualdade social, mas os brasileiros sempre conseguem sorrir."

Brent White

"Estou ansioso para conhecer algo de Oscar Niemeyer e Burle Marx."

Mauricio Queiroz

"Maior beleza: o centro histórico. Hoje sujo, violento, degradado, esconde prédios lindos, viadutos históricos, praças cheias de história. O mais feio: corredores viários, como a Avenida Santo Amaro, a Radial Leste e o Minhocão."

Chico Bicalho

"Maior beleza: cultura; coisa mais feia: os engarrafamentos."


PARQUES

Arne Quinze

"Parques podem fazer as pessoas conviverem, em vez de recolherem-se em seus quintais. A principal função deles é conectar pessoas em uma comunidade, literal e figurativamente. Visitantes devem descobri-los como um local de contemplação e silêncio, mas também como um lugar onde podem encontrar-se e interagir com os seus vizinhos."

Brent White

"Uma boa iluminação ajuda a manter o espaço seguro durante a noite. Por sua vez, garante limpeza durante o dia."

Todd Bracher

"Parques são para mim um lugar para se sentir frescor sob os pés. Tornam o concreto do entorno ainda mais bonito, pelo contraste com o verde. Permitem-nos desfrutar de fato a cidade. Não como uma fuga, mas como um contraste dela."

Chico Bicalho

"Qualquer cidade precisa de muitas árvores em todos os lugares. A sombra de uma árvore é o lugar perfeito para o lazer em qualquer parque urbano do mundo."

Karim Raschid

"De modo ideal, nossos ambientes públicos devem transpirar energia positiva, altas experiências, design contemporâneo, um novo conforto que é uma extensão da nova era da casualidade e bem-estar espiritual - um lugar para desfrutar, relaxar, conviver, trabalhar e envolver experiências memoráveis."


PONTOS DE ÔNIBUS

Andreas Angelidakis

"Paradas de ônibus são interessantes, como todos os lugares onde você espera. Eu acho que (se fosse convidado a desenhar pontos de ônibus) iria incidir sobre essas duas qualidades, além da segurança."

Brent White

"(Os pontos precisam ter) interação humana, auto-suficiência, design mais eficiente e proteção para os usuários."

Todd Bracher

"(O maior desafio é) conceber uma peça que pode funcionar visualmente nos vários contextos da cidade."


SUSTENTABILIDADE

Andreas Angelidakis

"A sustentabilidade é uma forma de pensar, não uma tecnologia. Talvez comprar menos e necessitar menos seria uma solução sustentável."

Brent White

"Assim como se tornou padrão na construção proteções contra incêndios e recursos de acessibilidade, a sustentabilidade vai naturalmente se tornar um requisito mínimo."

Karim Rashid

"Depende da utilização de novas tecnologias, novos materiais e de uma melhor concepção. Tenho trabalhado com empresas para reduzir as linhas de montagem, agilizar a produção e elevar a qualidade do produto que fazem."


CIDADE LIMPA

Andreas Angelidakis

"Outdoors podem ser divertidos, mas limpar também é interessante. Cada vez que você muda alguma coisa em uma cidade, muda suas características. Estou mais interessado em observar essas mudanças do que em encontrar a solução 'correta'."

Brent White

"Estou feliz e surpreso em saber que a lei (Cidade Limpa) passou. Suponho que isso vai obrigar os publicitários a se tornar mais espertos ao definir onde eles podem exibir as mensagens."

Todd Bracher

"Deveria haver uma forma equilibrada para anunciar. A publicidade é uma outra camada da cidade, que muda constantemente, permitindo que ela continue a ser atual e viva."

Mauricio Queiroz

"Estamos no meio do processo. Existe um ditado chinês que diz que devemos bater no mato para as cobras aparecerem. A continuação seria o incentivo para empresas restaurarem (as fachadas)."

Chico Bicalho

"Agora que se tirou o tapete é necessário limpar a 'sujeira' arquitetônica. É uma pena que lugares onde havia prédios históricos interessantes tenham se transformado em pesadelos arquitetônicos."


CURRÍCULOS

Karim Rashid: designer egípcio, cresceu no Canadá e se formou em Desenho Industrial em 1982, pela Universidade Carleton, de Ottawa. Desde 1993, tem estúdio em Nova York. Produz para Prada, Sony, Giorgio Armani, Hyundai.

Brent White: é um "objetologista", que observa a evolução dos objetos e experimenta os limites do desenho. Estudou Design 3D, na Cranbrook Academy of Art and Design. Vive em San Francisco.

Chico Bicalho: fotógrafo e criador de brinquedos de corda Critter, vendidos no MoMA, em Nova York. Trabalhou no estúdio fotográfico de Annie Leibovitz. É formado em Escultura.

Arne Quinze: designer autodidata e ex-grafiteiro, é diretor de Criação do Quinze & Milan. Já realizou mais de 4 mil projetos, em 60 países, em transporte, arquitetura, interiores. Desenha para Swarovski e Lamborghini.

Maurício Queiroz: formado em Arquitetura pelo Mackenzie e pós-graduado pela Politécnica de Catalunha, em Barcelona. Realizou projetos para a Mont Blanc, Jóias Vivara, Phytoervas, Dryzun e Etna.

Todd Bracher: formado em Desenho Industrial pelo Pratt Institute, em Nova York. Desenhou para Tom Dixon e Jaguar. Conquistou o Design 21 Award, da Unesco.

Andreas Angelidakis: arquiteto grego e mestre em Ciências Avançadas em Design de Arquitetura, em Columbia. Foi arquiteto da Bienal de Artes de Atenas em 2007 e projeta a de 2009.


Sexta-Feira, 24 de outubro de 2008

24 de mai. de 2009

Mais de 500 comunidades no Orkut falam de Eloá

TRAGÉDIA NO ABC

Sinal dos tempos modernos, milhares de pessoas acompanharam a tragédia de Santo André pela internet. Não apenas lendo e assistindo a portais noticiosos, mas interagindo. No site de relacionamentos Orkut, surgiram 513 comunidades dedicadas ao caso. A garota Eloá Cristina Pimentel, vítima fatal, comoveu tanto que acabou se tornando uma celebridade instantânea da rede mundial de computadores.

A grande maioria das comunidades presta solidariedade aos familiares e amigos de Eloá, com nomes como "Luto por Eloá", "Eloá Cristina em nossos corações", "Mais uma estrela para brilhar no céu". A maior delas - com 166 mil membros - se chama "Forças a Eloá e Nayara!" e alerta: "Só são bem-vindos nessa comunidade pessoas que querem o bem para Eloá e Nayara!"

Muitas aludem à forte amizade entre Eloá e Nayara Rodrigues da Silva, simbolizada pelo fato de a menina ter voltado ao cárcere privado, na quinta-feira, dois dias após ser liberada por Lindemberg Alves. Há ainda as que trazem apelo religioso, desejando que a menina "descanse em paz", "esteja com Deus" e que a família "tenha fé". Outras são um bocado inusitadas, como "Arapiraca está com Eloá". São raras as que procuram difamar a garota, com ofensas pessoais e insinuações.

Na tarde de ontem, em "Forças a Eloá e Nayara", internautas se dedicavam a discutir se a polícia teve ou não culpa no desfecho do caso. Alguns queriam saber dos receptores de seus órgãos, outro pedia o e-mail de Nayara.

Uma enquete postada na comunidade trazia a pergunta: "Voce acha Nayara uma boa amiga por ter 'voutado' ao apartamento?". Até às 18h, a opção "sim" ganhava com 49% dos votos. Na seqüência vinha "sim e se eu 'foce' ela faria a 'msm' coisa", com 40%. Juntas, as duas alternativas negativas - um "não" seco e um argumentando que Nayara colocou a vida em risco - somavam os 11% restantes.

O 'PRIMO' DE LINDEMBERG
Com quase 900 integrantes até o fim da tarde de ontem, a comunidade "FORÇA Lindemberg 'tamos' com 'vc'!" trazia apoio ao outro lado da história. "Antes de mais nada quero deixar claro q reprovo a atitude dele, 'porem' 'kem' nunca 'erro' na vida?", dizia o texto de apresentação. "'Ta' certo concordo 'q' ele tem 'q' ficar uns anos 'presos'... Mas o cara é sangue bom, trabalhador, humilde, a 'mina' 'deixo' ele doido."

Em seu perfil, o criador da comunidade se apresenta como primo de Lindemberg. Quando a reportagem ligou para o telefone que aparece no perfil, o suposto autor da comunidade negou o parentesco. "Alguém que fez isso para me sacanear", disse. "Não tenho nada a ver com a história."

VÍRUS POR E-MAIL
Assim como aconteceu em outros casos de grande repercussão, há pessoas se aproveitando da morte da jovem para espalhar um e-mail com vírus, por meio de um link que remete o internauta a um vídeo falso. A mensagem utiliza o nome da Agência Estado para fazer um resumo do caso e afirmar que, num arquivo em anexo, um vídeo mostra "que o disparo que matou Eloá partiu da arma da polícia". Ao clicar no arquivo, no entanto, o computador é infectado.


Terça-feira, 21 de outubro de 2008

23 de mai. de 2009

Para entender as ações

PASSEIO
No Espaço Bovespa, visitantes aprendem sobre o mercado de capitais

Ações, mercado financeiro, investimentos, bolsa de valores... Para quem não é do ramo, tudo isso parece árido. Mas passar duas horas percorrendo os 750 metros quadrados do Espaço Bovespa, no centro, pode ser um passeio curioso, instrutivo e até divertido. O roteiro, inaugurado há nove meses, divide-se em cinco etapas. No Cinema 3D o visitante assiste a um filme de vinte minutos, cheio de efeitos especiais, que explica o funcionamento do mercado de capitais. A parada seguinte é o auditório. Ali, um ex-operador da bolsa de valores dá uma palestra de 25 minutos sobre a atividade. Depois, todos são encaminhados a seis terminais que simulam negócios. Com a orientação de monitores, eles observam como as corretoras enviam ordens de compra e venda de ações no pregão eletrônico – e o que faz a cotação das empresas subir ou despencar. O programa continua com uma viagem ao passado, em uma espécie de museu multimídia da Bovespa. Para finalizar, quatro estandes com corretoras de verdade ficam à disposição para quem quiser mais informações ou mesmo realizar aplicações em investimentos reais.

A iniciativa da Bovespa busca aproximar o público do mundo financeiro. "Queríamos dar vida a um lugar que ficaria vazio com o fim dos pregões de voz", conta o diretor de marketing da bolsa, Luiz Abidal. Até setembro de 2005, quando as negociações passaram a ser 100% eletrônicas, era ali que ocorriam, numa balbúrdia estressante, a compra e a venda de ações. A reforma do local levou um ano. Hoje, treze ex-operadores do pregão de voz trabalham no Espaço Bovespa, como monitores e palestrantes. São eles que simulam as negociações. Já estiveram lá cerca de 100.000 pessoas. "É uma maneira de a Bovespa exercer seu papel social e educacional", afirma Abidal.

Espaço Bovespa. Rua Quinze de Novembro, 275, centro, 3233-2826. Segunda a domingo, das 10h às 17h. www.bovespa.com.br. Grátis.


Sábado, 4 de julho de 2007

22 de mai. de 2009

O visionário que ajudou a urbanizar SP

MEMÓRIA
Horácio Sabino - taquígrafo, editor, advogado e empreendedor - tem sua história contada em livro; obra foi organizada por suas bisnetas

Horácio Sabino, o homem que empresta seu nome a uma praça em Pinheiros, na zona oeste, foi um empreendedor imobiliário sensível às mudanças urbanísticas enfrentadas pela "cidade que mais cresce no mundo", a São Paulo de seu tempo. Sua história está contada no recém-lançado livro Horácio Sabino - Urbanização e Histórias de São Paulo (Editora A&A Comunicação, 168 páginas, R$ 59), escrito por Carolina Andrade com pesquisa de Ana Carolina Layara Glueck - ambas bisnetas de Sabino."Foram sete anos de trabalho", diz Ana Carolina, que revirou o arquivo da família para produzir a obra. "Mas era um material que precisava ser publicado."

Nascido em 1869 em Florianópolis (SC), Sabino se mudou para São Paulo ainda jovem. Aqui cursou Direito na Faculdade do Largo São Francisco e estudou e praticou a taquigrafia - atuou na primeira Constituinte da República, na Constituinte do Rio de Janeiro e no Congresso Legislativo de São Paulo. "Seu serviço era mais caro que o da concorrência, mas ele tinha uma vantagem: entregava os discursos para a revisão dos autores 24 horas após o pronunciamento", conta Ana Carolina.

Nos anos 1890, Sabino passou a trabalhar também como editor de livros. Editou obras de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) e de Francisca Júlia da Silva (1871-1920) - a "musa impassível", homenageada por escultura homônima de Victor Brecheret (1894-1955).

Após advogar por um tempo, voltou seus olhos para a urbanização de São Paulo. Casado desde 1894, herdou uma extensa área que pertencera ao sogro, Afonso Augusto Milliet, onde hoje fica o bairro de Cerqueira César, nas imediações da Avenida Paulista. Ali construiu a bela casa onde viveria - no endereço em que atualmente se localiza o Conjunto Nacional -, projetada por Victor Dubugras (1868-1933) em 1902. Decidiu lotear o restante das terras. Para tanto, fundou uma empresa, a Companhia Edificadora Vila América. E o novo bairro foi então batizado de Vila América, em homenagem à sua mulher, que se chamava América.

Sua visão urbanística, com requintes de modernidade, proporcionava um avanço para a época. Tanto que ele não parou por aí. Foi sócio de empreendimentos da Companhia City e esteve à frente da Companhia Cidade Jardim, responsável pela urbanização dos arredores de onde hoje fica o Jockey Club de São Paulo.

Sabino morreu em 1950. Recebeu, como homenagem póstuma, um texto do poeta Guilherme de Almeida (1890-1969) publicado no jornal Diário de São Paulo. Sua mulher, América, morreu 15 dias depois.


Quarta-feira, 20 de maio de 2009

21 de mai. de 2009

Por meio de mapas antigos, a evolução da cidade

URBANISMO

Da pequena e provinciana São Paulo de 27 mil habitantes de 1887 à metrópole em formação, com cerca de 3 milhões de moradores em 1954, a historiadora Maria Lúcia Perrone Passos e a arquiteta e urbanista Teresa Emídio reuniram mapas e textos para o interessante livro Desenhando São Paulo (coedição da Senac São Paulo com a Imprensa Oficial, 181 páginas, R$ 120), que mostra a evolução da capital paulista do final do século 19 à metade do século 20.

São 59 mapas, pela primeira vez publicados de forma sistemática, entremeados por textos cuidadosamente escolhidos sobre a São Paulo do período correspondente. Há impressões de Cassiano Ricardo, Menotti Del Picchia, Sérgio Milliet, Claude Lévi-Strauss, Paulo Bomfim, Guilherme de Almeida, Blaise Cendrars, Mário de Andrade e outros. “Quando, nos anos 80, fazia um levantamento de livros sobre a história de São Paulo, comecei a descobrir textos fantásticos”, conta a historiadora Maria Lúcia. “Esse material deu ao livro uma qualidade literária.”

Reunir os mapas, o filé de Desenhando São Paulo, foi tarefa bem mais árdua. Começou há quase 30 anos, quando Maria Lúcia chefiava a Seção de Levantamentos e Pesquisas do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Prefeitura - Teresa trabalhava em sua equipe. “Na época, sentia a necessidade de contar com uma boa coleção de plantas históricas da cidade, para subsidiar nossos diferentes projetos”, comenta a historiadora. “Como tínhamos de identificar bens culturais a ser preservados, era preciso conhecer o processo de evolução do município”, complementa a arquiteta e urbanista.

Desde então, Maria Lúcia lutou obsessivamente para que o livro fosse concretizado. “É meu projeto de vida”, afirma. Os mapas que integram a obra são dos mais variados acervos: Biblioteca Mário de Andrade, Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, Instituto Geológico, Fundação Patrimônio Histórico da Energia e Saneamento, entre outros. “Foram quatro anos de trabalho de campo e dois anos para concluir o livro”, lembra Teresa.

Entre as preciosidades está um colorido e desenhado mapa de 1887, com a indicação das igrejas, edifício públicos, hotéis e linhas de bonde. De 1929, há plantas da cidade de São Paulo efetuadas por meio da aerofotogrametria - técnica em que fotos aéreas norteiam o processo de confecção dos mapas. “Foi a primeira cidade do mundo a ser totalmente fotografada assim”, garante a arquiteta. No livro ainda constam mapas antigos de pontos bastante conhecidos da metrópole, como o Parque do Ibirapuera, a Avenida Paulista e o Museu do Ipiranga.

O recorte cronológico privilegia um período em que São Paulo viveu intenso crescimento urbano. “Vai desde o momento em que a cidade se transforma com a vinda da ferrovia até o quarto centenário de sua fundação”, explica a arquiteta. Por meio dos mapas, percebe-se nitidamente a evolução paulistana. “A partir dos anos 30, técnicos e engenheiros formados pela Poli (Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo) começam a atuar nos serviços públicos”, relata. “A maneira de se pensar o urbanismo muda. Há uma visão mais articulada, com planos para reestruturar São Paulo.” A partir dessa época surgem as grandes avenidas que começam a dar à cidade a cara que ela tem hoje.


Terça-feira, 19 de maio de 2009

20 de mai. de 2009

Um dia após conflito, 4 feridos ainda permaneciam internados

GUERRA DAS POLÍCIAS
No total, 32 pessoas receberam atendimento; hospitais não divulgaram quem pagará a conta

Um dia após o confronto entre policiais civis e militares no Morumbi, 4 das 32 vítimas que foram hospitalizadas anteontem permaneciam internadas até as 19h30 de ontem. Os policiais Flávio Roderley Antonio, Reinaldo de Freitas e José Augusto Merencio continuavam sob observação clínica no Hospital Albert Einstein - onde foram atendidos 19 feridos no confronto. Nenhum precisou passar pela UTI e todos apresentavam quadro de saúde estável.

Felipe Wanderlei Mariano, com fratura exposta no segundo dedo da mão direita e escoriações na mão esquerda, se submeteu a exames no Hospital São Luiz e, em seguida, foi transferido para o Hospital São Leopoldo, em Santo Amaro. No hospital da zona sul, passou por uma cirurgia e permanecia internado até a noite de ontem, sem previsão de alta. Seu quadro era estável.

O Hospital São Luiz recebeu ainda outros cinco policiais civis. Com escoriações leves, hematomas e queimaduras, eles foram atendidos e receberam alta em seguida. Outros cinco policiais foram atendidos no Hospital Itacolomy, na região do Butantã, e dois feridos foram encaminhados ao Hospital Universitário da USP.

Como o conflito ocorreu a poucos metros do Albert Einstein, o hospital ativou seu "plano de catástrofe" - a direção providenciou colchões, sofás e cadeiras extras no saguão e preparou equipes para atender a um elevado número de vítimas simultaneamente.

Em artigo, Henrique Neves, o CEO da instituição, reclamou que um hospital precisa ter "condições permanentes de executar suas atividades sem quaisquer impedimentos, a fim de preservar vidas e amparar quem necessita de cuidados". "Os feridos por balas de borracha e bombas de efeito moral não foram os únicos prejudicados: as conseqüências tiveram impacto nos cerca de 500 pacientes internados e seus acompanhantes", acrescentou.

"O transtorno também impediu que pessoas que buscaram o hospital no fim da tarde daquele dia - para casos urgentes, emergentes e de rotina." Neves lembrou que "durante horas" médicos e enfermeiros foram impedidos de chegar ao hospital. Com a interdição das vias, as ambulâncias também ficaram bloqueadas.

Os hospitais não divulgaram quem vai arcar com os custos. O Einstein afirmou que "o primeiro atendimento é uma obrigação" e que "ainda não foi definido quem vai pagar essa conta". O São Luiz não soube informar sobre o assunto.

ALTA
Por volta das 10 horas de ontem, o coronel da PM Danilo Antão Fernandes, um dos negociadores da greve, teve alta. Ele foi atingido por um tiro durante a manifestação. No fim da tarde, o Estado entrou em contato com ele, por telefone. Já em casa, o coronel afirmou que estava bem, mas se negou a dar entrevista. "Prefiro aguardar o comando se manifestar", disse.

Colaborou Mônica Aquino.


Sábado, 18 de Outubro de 2008

19 de mai. de 2009

Especialistas condenam volta de refém à casa

VIOLÊNCIA
Para ex-comandantes, ação foi 'erro grosseiríssimo' e 'pouco responsável'

Eram 9 horas da manhã de ontem quando Nayara, de 15 anos, voltou ao apartamento onde sua amiga Eloá é mantida em cárcere privado desde segunda-feira. Nayara havia sido liberada na terça-feira. A polícia teria acatado uma exigência do seqüestrador e permitiu o retorno da adolescente. "Foi um erro grosseiríssimo", afirma o coronel da reserva José Vicente da Silva, diretor do Instituto Pró-Polícia e ex-secretário Nacional de Segurança Pública. "Colocar mais um inocente em risco é a última coisa que poderia ser feita."

Ele não foi o único a condenar a concessão feita pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) da Polícia Militar. "Não entendi como permitiram a volta de uma refém menor de idade ao ambiente de risco", diz o capitão da reserva Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) da PM do Rio e co-autor do livro Elite da Tropa - que deu origem ao filme Tropa de Elite. "Foi uma decisão pouco responsável."

Policiais que já atuaram no Gate e hoje ocupam outros postos também criticaram a maneira como o processo vem sendo conduzido. "No processo de negociação é preciso haver alguns limites", defende um deles. "É inadmissível colocar a vida de alguém em risco. E, pior ainda, menor de idade." Como o comando da PM não autorizou que ninguém se manifestasse antes do fim do caso, eles pediram para não ter seus nomes revelados.

HISTÓRIA E PROCEDIMENTOS
Inspirado nas polícias especializadas norte-americanas, o Gate foi criado em 1988. É uma tropa da PM acionada em ocorrências que exigem treinamento específico e equipamentos especiais. Seus policiais são chamados para atuar em ações de combate ao terrorismo, em operações com explosivos, rebeliões em presídios e ações com criminosos armados em locais de difícil acesso ou com reféns.

Comandados pelo capitão Adriano Giovaninni, os cerca de 70 integrantes da tropa têm sua base no bairro de Vila Maria, na zona norte da capital. São requisitados para casos complexos. Operacionalmente, dividem-se em três equipes. Em casos que levam dias, como o de Santo André, um grupo dá lugar a outro.

CAMINHO
É árduo o caminho para quem quer ingressar na "tropa de elite" paulista. Cerca de 200 policiais militares, todos os anos, candidatam-se, voluntariamente. Neste ano, apenas sete conseguiram passar por todas as fases. Os dois dias de testes de aptidão física - natação, corrida, séries de abdominais - já costumam eliminar 90% dos concorrentes. Os que passam dessa fase fazem um rígido curso de 35 dias, com simulações de situações limite com explosivos, reféns e outros obstáculos. Só então passam a fazer parte do efetivo da tropa.

Mas o aprendizado não termina aí. Cursos específicos são constantes. Alguns especializam-se em negociação - no caso de Santo André, quatro negociadores se revezavam -, outros em desarmar explosivos e há os atiradores de elite. Intercâmbios com polícias do exterior são constantes.

Pela "cartilha" do Gate, a invasão em caso de cárcere privado só ocorre em situações extremas. "Desde o começo da negociação, um policial faz o exame técnico do ambiente", afirma o coronel José Vicente. Os policiais só entrarão em três situações: seqüestrador distraído (ou dormindo), acesso facilitado ou risco iminente para a vítima.


Sexta-feira, 17 de Outubro de 2008

18 de mai. de 2009

"Meu primeiro potro morreu antes de eu conseguir acabar de pagar suas parcelas"

ENTREVISTA

Ontem o Estado publicou uma entrevista com o empresário Márcio Toledo, 49 anos, presidente do Jockey Club de São Paulo. Às vésperas do Grande Prêmio São Paulo, ocorrido há pouco com premiação recorde, Toledo falou sobre a história de que o clube pode ser desapropriado pela Prefeitura e a enorme dívida de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). Durante a conversa, ele também contou algumas curiosidades sobre como se tornou presidente da entidade e um pouco de sua vida estudantil. Confira a seguir:

É verdade que o senhor se tornou sócio do Jockey após comprar, meio sem querer, um potro puro-sangue inglês?

Eu nasci no interior (em Indaiatuba) e ainda criança tinha uma relação com o cavalo. Sempre foi meu bicho preferido, desde menino. Com 4 anos de idade eu montava uma eguinha que ganhei e tal. Mas aos 8 anos, quando me mudei para São Paulo, acabei me distanciando dos cavalos. Isso começou a mudar no momento em que eu estava saindo da universidade (Toledo é graduado em Direito pela PUC e Jornalismo pela USP), quando eu tinha meus 24 anos e fui com um grupo de amigos a um leilão do Jockey.

Pensavam em comprar algum animal?

Não. Fomos mais pelo aspecto social mesmo. Um de nossos acompanhantes, entretanto, achou bonito, interessante, charmoso dar um lance em um animal. Ele não imaginava que seu lance seria o único. Só que ficou nele. E o leiloeiro disse: "vendido para o cavalheiro". O leiloeiro, aliás, é até hoje o nosso principal leiloeiro, mas talvez não se lembre dessa história.

E aí acabaram levando o cavalo?

Meu amigo hesitou, ficou em dúvida se era seu mesmo o lance. Então eu disse: "não vamos passar vergonha; vamos comprar o potro".

Era muito dinheiro?

Para nós, sim. Estávamos saindo da universidade e tínhamos pouco dinheiro. Uma dificuldade enorme. Aí resolvemos fazer uma vaquinha, mas todo mundo saiu fora. Eu decidi bancar e ficou para mim.

Passou então a participar da vida do Jockey?

Foi quando começou uma nova história, porque eu não sabia como era ter um cavalo, como fazer e tal. No dia seguinte fui lá para fazer o primeiro pagamento (o potro foi comprado em 12 parcelas). Aí já me mostraram que além daquele preço havia ainda as taxas do leiloeiro. O bolo cresceu, mas eu decidi que iria até o fim. Tinha responsabilidade. Então um treinador do Jockey disse que o potro era muito novo para ficar no clube. Precisava primeiro deixá-lo em um haras. Encontrei um em Jaguariúna e acertei para o potro ficar lá. Todo fim de semana eu ia visitar o potro.

Isso durou muito tempo?

Passados quatro ou cinco meses, a dona do haras me ligou com uma notícia triste. O meu potro havia falecido. Obviamente que eu fiquei triste também, afinal tinha pago apenas quatro parcelas e me envolvido em toda essa história.

Ficou com as parcelas para acabar de pagar...

Sim, paguei até o final. E pensei que isso não poderia me fazer desistir de ter um cavalo para correr no Jockey. Quando disse ao meu amigo, aquele que deu o lance, ele comentou que a situação era tão triste como aquela música do Chico Buarque (Pedaço de Mim), na qual ele canta que "a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu". Afinal eu estava pagando as parcelas do potro "que já morreu".

Nessa época o senhor já havia se associado ao Jockey?

Não. De 1985 para 1986 eu comprei algumas éguas. Aí começa minha história no Jockey. Eu me associei de fato entre 1990 e 1991, já proprietário de cavalos e envolvido no meio.

O senhor é graduado em Direito e Jornalismo. Por que a dupla escolha?

Ao longo do ginásio e no início do colégio, queria ser engenheiro, estudava para isso. Sonhava ingressar na Poli (Escola Politécnica, da USP) ou no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica, localizado em São José dos Campos). No 2º ano do colégio, um professor de Literatura mudou minha cabeça. Eu me fascinei, comecei a escrever, olhar mais o mundo das artes... Tirei para mim que queria fazer Jornalismo. Meu pai me alertou para as dificuldades e propôs que eu cursasse Direito ao mesmo tempo.

No fim, acabou não exercendo nem uma coisa nem outra...

Sim, quando me formei, não pensei nem em ser advogado nem em ser jornalista. Nunca exerci nenhuma dessas duas carreiras, embora eu aplique o que aprendi em meu cotidiano. Decidi ser empresário. A primeira empresa que montei, com um grupo de pessoas que estudaram engenharia, era da área de construção civil. Nossa especialidade era construir escolas. Eu era o diretor financeiro. Fiquei lá até 1986, quando me desliguei para morar em Roma (na Itália), onde fiz um curso de pós-graduação.

E quando fundou sua empresa atual?

Logo que voltei de Roma. Minha empresa, a Interbanc, foi criada em 1988. É uma empresa de investimentos que tem participação em diversos negócios. O principal é a Global Telecom, que presta serviço na área de telecomunicações.


Domingo, 17 de maio de 2009

17 de mai. de 2009

''A crise não pegou o Jockey''

ENTREVISTA: Márcio Toledo: presidente do Jockey Club de São Paulo
GP São Paulo de amanhã terá premiação recorde; Toledo reclama do IPTU e diz que não há risco de clube ser desapropriado

Amanhã, às 16h50, ocorre o Grande Prêmio São Paulo. Será o evento máximo de um fim de semana em que o Jockey Club paulistano estará movimentadíssimo: os 22 páreos programados para hoje (a partir das 13h30) e amanhã (a partir das 13h) terão uma premiação total de R$ 1,3 milhão - só o Grande Prêmio São Paulo dará aos vencedores R$ 509.892, recorde histórico. O presidente da agremiação, empresário Márcio Toledo, conversou com o Estado sobre o evento, a história de que o clube pode ser desapropriado pela Prefeitura e a enorme dívida de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) que eles negociam. "Somos cobrados em R$ 6 milhões por ano. Isso é impagável", afirma.

Premiação recorde em tempos de crise mundial. Como isso foi possível?

Não tivemos queda significativa em número de apostas ou em público. A crise não pegou o Jockey. Nos últimos quatro anos, fizemos um trabalho muito forte e sério, renegociando todos os contratos, buscando mais receitas e diminuindo as despesas históricas. Além disso, passamos a sediar diversos eventos, desde shows musicais até a Casa Cor.

A maior fonte de renda do Jockey hoje são os eventos?

Sim. Hoje representam 50% das receitas do clube todo. O segundo item em termos de receita é a exploração do patrimônio do Jockey (o clube tem um prédio no centro da cidade, com a maior parte das unidades locadas) e as anuidades dos sócios (atualmente, 3,5 mil). As corridas praticamente empatam dinheiro. Do volume total de apostas, 75% volta para o apostador, em prêmios. Os outros 25% servem para pagar a premiação dos cavalos e toda a infraestrutura de promoção das corridas.

No início do ano, surgiu uma história de que a Prefeitura estaria interessada em desapropriar o Jockey, para ali manter um parque...

Nós ficamos sabendo disso por meio da imprensa. Nunca aconteceu nada de concreto.

A Prefeitura jamais o procurou para conversar a esse respeito?

Não.

E quanto ao IPTU? A dívida do Jockey continua imensa?

É uma discussão polêmica que existe desde 1933, quando o Jockey definiu que mudaria sua sede da Mooca para a Cidade Jardim. De lá para cá, houve momentos em que ele foi anistiado e momentos em que essa cobrança existiu. O que discutimos hoje é uma dívida que vem de 1989.

Mas qual é a discussão?

O Jockey questiona se é justa essa cobrança. Os outros clubes de São Paulo são parcialmente isentos do IPTU, ou seja, pagam apenas o imposto predial, e não o territorial. Ao Jockey é imputada cobrança total, de uma área de 620 mil m², com a mesma tributação de uma mansão no bairro.

Qual é o valor do IPTU?

Em torno de R$ 6 milhões por ano. É um valor impagável. Todas as receitas brutas do Jockey são de R$ 2,5 milhões por mês. Como dirigente de uma entidade não posso me furtar a questionar e buscar um valor que chegue a outro patamar. É claro que tudo o que já foi julgado e incorporado como dívida vem sendo pago, parceladamente, à Prefeitura. No ano passado mesmo o Jockey pagou um total de R$ 1,2 milhão dessa dívida. É um processo complexo.

Então o desejo do Jockey é ter isenção do imposto territorial?

Exatamente. Se formos equiparados aos outros clubes, pagaríamos em torno de 5% a 7% do que nos é cobrado hoje. Cerca de R$ 300 mil. Um valor palatável.

Aí daria para pagar?

Seria mais razoável, apesar de continuar caro diante de nossas receitas. Eu acredito que as autoridades públicas precisam entender que o Jockey é um espaço da cidade, um patrimônio de São Paulo. Toda grande cidade tem um hipódromo, que é um ponto importante, turístico. Nem todos oferecem essa amplitude de eventos que nós oferecemos. É preciso uma mudança de mentalidade. Na França, por exemplo, o governo dá dinheiro para promover as corridas de cavalos, porque as entende como patrimônio cultural.

O senhor acredita nesse caminho?

Acredito muito numa solução para o futuro. Nós sempre estaremos cumprindo os processos de parcelamento dessas dívidas. Damos nossa demonstração de seriedade e acredito muito na sensibilidade das autoridades públicas para entenderem a importância do Jockey. São Paulo é uma cidade tão carente de espaços e o Jockey oferece entretenimento. Não o vejo como uma área só de seus sócios, mas como espaço de toda a cidade. O Jockey recebe eventos, se fortalece e passa a ter utilidade pública.

Há alguma outra dívida do Jockey hoje?

Não. Essa questão tributária é nossa única pendência. Durante muitos anos o Jockey foi devedor de bancos e chegou a atrasar o pagamento de seus fornecedores. Quando eu assumi, devíamos água e energia elétrica. Estávamos na iminência de ter a luz cortada por falta de pagamento. Hoje está tudo regularizado, seja com os bancos, seja com as empresas.

Como o senhor conseguiu?

Logo no início de minha gestão, tomei uma medida muito dura: suspendi todos os pagamentos durante 60 dias, até entender cada um dos contratos. Passei a renegociá-los, então, obtendo uma relação comercial melhor.

Como o senhor avalia as comparações entre o presente do Jockey e seu passado glamouroso?

Tenho uma leitura um pouco diferente da história do Jockey. Ele foi fundado pela elite e quem fez seu glamour foi a elite. Mas são as camadas populares que fizeram o patrimônio do Jockey. O povo de São Paulo lotava nossos espaços, apostava nos cavalos. Isso possibilitava a riqueza e o glamour. O glamour só existe quando há plateia.

E hoje, há plateia?


Quem for ao Grande Prêmio São Paulo irá ver mulheres elegantes e grandes empresários, sim. E o público vem aumentando. No ano passado tivemos 20 mil pessoas e neste ano esperamos 30 mil (a capacidade total é de cerca de 40 mil pessoas).


Sábado, 16 de maio de 2009

16 de mai. de 2009

Telas alternativas para quem curte um cineminha

CULTURA
Filmes na tenda, no caminhão e na laje reúnem apaixonados pela telona em várias regiões de SP

Para quem quer fugir do circuito comercial, não faltam opções de cinemas alternativos em São Paulo. Há desde iniciativas esporádicas, bancadas por empresas e com data para acabar, até projetos fixos com programação constante. O clima informal favorece o encontro de amigos com o interesse comum: a paixão pela sétima arte.

Parte da programação da 13ª edição do Cultura Inglesa Festival, os curta-metragens Timing (de Amir Admoni, Débora Mamber e Felipe Grytz), She's Lost Control (de Daniel Augusto) e Olhos de Fuligem (de Denise Vieira Pinto) vêm sendo exibidos nas 34 unidades da escola de inglês em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Desde quarta, os filmes também estão "em cartaz" em um cinecaminhão que percorre oito locais da Grande São Paulo.

Ele ficará estacionado nas sedes das ONGs Associação Meninos do Morumbi, Acer (Diadema), Projeto Vizinho Legal (favela do Jaguaré) e Paidéia Associação Cultural (em Santo Amaro); e nas escolas públicas David Zeiger (em Parelheiros), Alberto Salotti (Cidade Dutra), Johann Gutemberg (Jaçanã) e Guilherme de Almeida (Cangaíba). "Esperamos que, no total, 2 mil pessoas sejam atingidas pelo projeto", afirma o coordenador do festival, Laerte Mello. "Estamos formando uma plateia diferenciada." A programação segue até o dia 23.

Outro projeto que contribui para a popularização do cinema é o Cine Tela Brasil, capitaneado pelos cineastas Laís Bodanzky e Luiz Bolognesi. Criado em 2004 para exibir filmes nacionais a comunidades de baixa renda, o Cine Tela já percorreu 225 cidades e realizou 2.672 sessões. Até agora, 525.544 espectadores assistiram a pelo menos um dos 77 filmes em projeções. Na capital paulista, as próximas sessões acontecerão entre 25 e 27 de junho, em Sapopemba.

PERIFERIA
O cinema da periferia não fica no shopping nem cobra ingresso. Se o tempo colabora, o teto é estrelado. Tem até lanterninha, com uniforme e tudo. A pipoca é grátis, cortesia de Zé Batidão, dono do bar homônimo que empresta a laje para a exibição dos filmes. Em cartaz, o Cinema na Laje, projeto do poeta e agitador cultural Sérgio Vaz. "Fizemos o Cinema Paradiso da periferia", diz ele, em alusão à película italiana Nuovo Cinema Paradiso, de 1988, escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore.

Ele se refere, obviamente, a uma das cenas mais pungentes da fita, quando, precedendo o incêndio que destruiu o cinema, o projecionista decide exibir ao ar livre, na praça. Na laje do Zé Batidão cabem até 150 pessoas. "O shopping assusta um pouco o povo das quebradas", acredita Vaz.

Desde março, as exibições acontecem duas vezes por mês - sempre na primeira e terceira segundas, às 20 horas. Na estreia, o público conferiu dois documentários: Povo Lindo, Povo Inteligente, de Sérgio Glagliardi e Maurídio Falcão, e A Ponte, de João Wainer e Roberto T. Oliveira. Na próxima segunda, serão mostrados os documentários Ilha das Flores (de Jorge Furtado) e Osvaldinho da Cuíca - Cidadão Samba (de Toni Nogueira, Simone Soul e Osvaldinho da Cuíca), com a prometida presença do homenageado.

Há sete anos, o Bar do Zé Batidão (Rua Bartolomeu dos Santos, 797, Chácara Santana, zona sul) ainda abriga um evento que fervilha a cultura dos bairros da região: um sarau poético organizado pela Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), que tem à frente o próprio Vaz. "Não temos patrocínio nenhum", conta. "Eu pago a projeção, o cara do bar faz a pipoca, um amigo meu arranjou a roupa de lanterninha..." A telona da laje mede 3 metros de altura por 3 metros de largura.

CINECLUBES
O presidente da Federação dos Cineclubes do Estado de São Paulo, Felipe Macedo, aprecia essas iniciativas, embora não as classifique dentro do que chama de "movimento cineclubista". "Há algumas regras para que um projeto seja considerado cineclube", explica. "Entre elas, a estrutura coletiva e democrática." De acordo com Macedo, o número de cineclubes em São Paulo vem aumentando bastante. "De setembro para cá, houve um crescimento de 50%", estima. "Hoje há cerca de cem em todo o Estado - metade deles na capital. No ano passado não chegavam a 70."


Sexta-feira, 15 de Maio de 2009

15 de mai. de 2009

Nas ruas, por uma cara-metade

COMPORTAMENTO
No Rio e em SP, ‘Movimento dos Sem Namorados’ faz atos para reivindicar direito ao amor

Solteiros do mundo todo, uni-vos. E, com sorte, encontrai vossas caras-metades. É essa a ideia do Movimento dos Sem Namorados, curiosa ação promovida pelo site de relacionamentos ParPerfeito e repercutida em comunidades do Orkut e do Facebook, blogs – o oficial é www.movimentodossemnamorados.com.br/blog –, um microblog no Twitter (www.twitter.com/semnamorados) e “cantadas” no site de vídeos YouTube.

“Quem sabe os participantes não conseguirão alguém até o Dia dos Namorados, para poder curtir a data já acompanhados?”, deseja o idealizador da brincadeira, Claudio Gandelman, presidente do Meetic para a América Latina, grupo francês cujo principal produto é o site ParPerfeito. “É um movimento como o dos sem-terra, mas sem armas nem invasão.”

O fim de semana oficial dos encalhados se inicia amanhã, no Rio. Uma passeata está marcada para começar ao meio-dia, na Avenida Rio Branco – a concentração será na Candelária. Em São Paulo, os manifestantes do coração irão se encontrar às 15 horas de domingo, na Marquise do Parque do Ibirapuera.

Para justificar a pertinência do movimento, a organização se apoia em dois dados. De acordo com o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem quase 53 milhões de solteiros no País. E levantamento realizado pelo Instituto Ipsos/Marplan/EGM no ano passado mostra que 33% dos moradores dos Estados do Rio e de São Paulo não encontraram um, digamos, “cobertor de orelha”.

Números à parte, solteiros paulistanos e cariocas estão animados com a iniciativa. “Estarei lá (no Ibirapuera) no domingo. Se tudo der certo, aproveitarei esse movimento para conhecer alguém interessante”, diz o relações-públicas João Gustavo Rahal Gonzalez, de 22 anos, sem namorada há 2. “Tenho saído com algumas meninas, mas não acho ninguém mais inteligente, que valha a pena.”

Outra que promete marcar presença é a instrumentadora cirúrgica paulistana Ayridia Cantarutti, de 25 anos. “Meu último namoro durou apenas quatro meses”, conta ela, sozinha há dois anos e cinco meses. “Então resolvi dar um tempo porque os homens fazem a gente sofrer muito. Mas não estou fechada para isso. Vai que aparece alguém interessante...”

Solteira há seis meses, depois do rompimento de um relacionamento de sete anos, a psicóloga carioca Erika Martin, de 34 anos apoia a ideia. “Queria poder ir à passeata (amanhã), mas estarei trabalhando. Pelo menos lá eu iria encontrar pessoas com o mesmo objetivo que eu”, afirma.

Morador da zona sul do Rio, o promotor de eventos Vinicius Belo, de 23 anos, ficou sabendo do evento graças a um e-mail enviado pela ex-namorada, com quem terminou há um ano e cinco meses. “Sou precoce. Comecei a trabalhar muito cedo. Quero alguém acima de 25, que seja independente e tenha seu dinheiro, carro, casa”, frisa. “A maioria (das mulheres) quer ficar apenas uma noite. Namorar é sempre bom, faz falta. Trabalho com festas, inaugurações, então estou cansado de balada. Chega uma hora que você quer ir ao cinema ou ao teatro.”

Para Vinicius, o melhor do movimento é o interesse comum dos participantes. “Todo mundo ali quer a mesma coisa. O mundo está muito esquisito”, comenta. Ambos preferem procurar a cara-metade no mundo real, sem apelar para sites de relacionamentos. “Algumas amigas estão em sites, mas eu tenho resistência”, explica Erika. “É meio deprimente.”

NA CONTRAMÃO
Enquanto uns não veem a hora de achar o par ideal, há quem comemore o divórcio. Uma festa na Vila Madalena, marcada para o dia 23 e aberta ao público, irá marcar a nova fase da vida da assessora de Imprensa Meg Sousa, de 27 anos, que assinou o divórcio no início do mês. “Na verdade é uma liberdade, um recomeço”, explica. “O ex-marido também foi convidado, mas a namorada dele não deixou que ele participasse.”

A balada, com traje à fantasia, terá docinhos chamados de “bem-separados”, buquê, distribuição de camisinhas e outros brindes. Até um site foi criado (www.festadodivorcio.com.br) para divulgar o evento.

Se depender da nova solteira do pedaço, entretanto, o estado civil não deve permanecer assim por muito tempo. Ao tomar conhecimento, pela reportagem do Estado, do Movimento dos Sem Namorados, ela demonstrou interesse em participar. “Preciso arrumar um namorado urgente! Vou a essa passeata”, disse.

Colaborou Roberta Pennafort.


Quinta-feira, 14 de maio de 2009

14 de mai. de 2009

Avenida Paulista ganha guardiã da mobilidade

ACESSIBILIDADE
A cadeirante Julie Nakayama, de 22 anos, começou ontem a sua tarefa de fiscalizar as condições das calçadas de um dos símbolos de São Paulo

Os problemas podem passar despercebidos para quem não tem deficiência física ou dificuldade de locomoção. Mas são uma pedra no caminho daqueles que precisam cruzar a avenida com o auxílio de cadeira de rodas, muletas ou bengala. Bastaram 500 metros de caminhada, com a reportagem do Estado, para que a cadeirante Julie Nakayama, de 22 anos, encontrasse quatro falhas no calçamento. "As concessionárias quebram o piso para prestar seus serviços e depois remendam mal, deixando desníveis", diz ela, sobre o principal problema encontrado, consequência, em geral, de reparos feitos por companhias de fornecimento de água, de energia ou de gás.

Desde ontem, sua missão é relatar falhas assim - e também buracos, mesinhas de bares na calçada que atrapalhem a passagem, carros-forte estacionados que não deixam espaço para uma cadeira de rodas - à Gerência da Avenida Paulista, criada no ano passado. Para, desse modo, tentar melhorar a vida dos paulistanos que têm algum tipo de deficiência ou dificuldade de mobilidade e utilizam a avenida símbolo da cidade. "Passarei metade do dia aqui e metade na Câmara, em horários alternados", conta ela, que é contratada como assistente parlamentar da vereadora Mara Gabrilli (PSDB), também deficiente. "Ela vai contribuir com seu olhar, por vivenciar isso no dia a dia", diz a vereadora. "Se o trabalho der certo, podemos pensar em expandir para outros pontos da cidade."

Formada em Publicidade pela Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), Julie foi nadadora - entre os 9 e os 16 anos de idade disputou provas internacionais - e atua como bailarina e atriz. Integrante do Movimento Superação, participa anualmente da passeata que acontece na Paulista, sempre em 3 de dezembro, em referência ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. "Minha luta sempre foi pela independência da pessoa com deficiência", diz ela, que convive com a situação desde o nascimento.

Em seu primeiro dia de trabalho, ela utilizou um caderninho para anotar os problemas encontrados - e enfrentados - no percurso. Em breve, o trabalho será mais hi-tech. "Estamos querendo mandar as informações para a Gerência da Paulista via mensagem de texto de celular, para agilizar", conta. Em http://guardiadapaulista.ning.com, ela mantém um blog colaborativo - que permite a postagem de conteúdo de autoria de leitores previamente cadastrados - e pode ser seguida pelo serviço de microblogs Twitter (www.twitter.com/guardiapaulista). "A ideia é que todos possam me ajudar a fiscalizar a avenida", afirma Julie, nitidamente empolgada.

A princípio, o foco será voltado para a manutenção da acessibilidade das calçadas - que, após a reforma concluída no ano passado, se tornaram adaptadas a quem tem dificuldades de locomoção. Mas Julie não esconde qual é sua segunda meta: sensibilizar os comerciantes instalados na avenida para também tornarem seus estabelecimentos acessíveis aos deficientes. "Nós ganharemos com isso. E eles também, já que terão mais clientes", defende. "Os condomínios também precisam se adaptar."

Julie esquematizou sua rotina de modo a checar um trecho da avenida por dia. "Assim conseguirei ver tudo", explica, deixando claro que vai se deter em qualquer detalhe que encontrar. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), cuja sede fica em um ponto central da avenida, cedeu um espaço em seu prédio onde vai funcionar o QG de Julie. "Terei onde guardar minhas coisas e utilizar o banheiro", explica. "Também deixarei meu carro estacionado lá."

O gabinete da vereadora faz planos pensando no sucesso de Julie. Se tudo der certo, a guardiã deve virar gibi. Está em estudo a ideia de publicar os problemas da avenida em quadrinhos. E Julie, claro, seria a protagonista. Nada mal para quem tem uma ligação umbilical com a Paulista. Ela, que sempre morou na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo, veio ao mundo em 1986 no Hospital Santa Catarina, no número 200 da avenida.


Terça-feira, 12 de Maio de 2009

13 de mai. de 2009

Evento testa presença de turistas

VIRADA CULTURAL
Pela primeira vez em um feriado, expectativa é que 330 mil pessoas de fora de SP aproveitem a Virada Cultural

Consolidada como sucesso de público e de crítica, a Virada Cultural, cuja quinta edição começa às 18 horas de hoje em São Paulo, testa sua força para atrair turistas à cidade. Afinal, pela primeira vez, o evento cai em um fim de semana precedido por feriado. "É claro que é a nossa festa, a festa do paulistano", diz o organizador do evento, José Mauro Gnaspini. "Mas o turista é superbem-vindo." Ele lembra que o forte nesse tipo de evento são as excursões "bate-volta" - grupos que fretam ônibus e partem logo após a festa, sem se hospedar em hotéis. Por causa disso, aliás, a São Paulo Turismo (SPTuris) preparou diversos bolsões, espalhados pela cidade, para que esses ônibus tenham onde ficar estacionados - serão 700 vagas, no total.

De acordo com a SPTuris, a Virada Cultural foi o evento paulistano que mais atraiu público em 2008. Foram 3,5 milhões de pessoas - em segundo lugar ficou a Parada Gay, com 3 milhões, seguida pelo réveillon na Paulista, com 2,4 milhões. A expectativa é de que a quantidade se repita neste ano. E que a Virada atraia 330 mil turistas à cidade, assumindo o segundo posto neste quesito, logo atrás da Parada Gay - que traz 400 mil pessoas de fora.

Gnaspini espera que o comércio da região central - principalmente bares, lanchonetes e restaurantes - também participe da Virada, permanecendo de portas abertas. "Na primeira edição (em 2005) ninguém abriu, mas a cada ano as adesões aumentam", conta. "Neste ano, enviei mil ofícios, assinados um a um, pedindo para que eles (os comerciantes) integrem o evento. A Virada Cultural quer estimular a vida ininterrupta, essa vocação 24 horas que São Paulo tem."

INFRAESTRUTURA
Uma das principais queixas de quem frequentou as edições anteriores da Virada foi a falta de banheiros. Neste ano, a organização triplicará a oferta de sanitários químicos - serão 900 - e promete higienizá-los com mais eficiência.

A maior parte das 800 atrações ocorrerá no centro, onde 22 espaços estão sendo montados especialmente para o evento. No total, 1,5 mil profissionais trabalham na festa - além de 5 mil artistas.

Para evitar incidentes, a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana preparam policiamento ostensivo - serão 1,5 mil PMs e 950 guardas-civis. Também foram contratados 800 seguranças particulares. Estarão de prontidão, para o caso de alguma emergência, 150 brigadistas, 40 ambulâncias e 20 UTIs móveis.

A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) também prepara operação especial. Haverá proibição de estacionamento nas Ruas Aurora, General Osório e Conselheiro Nébias e interdições na Avenida Rio Branco e na Rua Xavier de Toledo. A recomendação é que seja priorizado o transporte público - os trens do Metrô e da CPTM irão funcionar ininterruptamente.

LEVE O GUARDA-CHUVA
Guarda-chuva e agasalho devem ser itens obrigatórios para quem for encarar a maratona cultural. A recomendação é do Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), que prevê chuvas fracas em pontos isolados da cidade, principalmente nos fins da tarde de hoje e de amanhã. O casaco se justifica para os eventos durante a madrugada: enquanto a previsão é de 23°C no início da festa, às 18 horas, a temperatura deve cair para 17°C, com chuviscos, ao longo da noite.


Sábado, 2 de Maio de 2009

12 de mai. de 2009

Hoje é dia de sair e se divertir em SP

VIRADA CULTURAL
Centenas de shows, performances e outras atrações culturais estarão espalhadas pela cidade até as 18 horas

A festa continua, o show não pode parar. Quem perdeu ontem ainda tem mais um dia inteiro de programação cultural pela cidade. Aos que já estão no pique, nada de descanso: o roteiro dominical da 5ª Virada Cultural tem inúmeras atrações que valem a pena.

Logo cedo, às 9 horas, o grupo pernambucano Cordel do Fogo Encantado é a atração da Avenida São João, com o propósito de fazer uma homenagem teatral, poética e musical ao povo nordestino. No mesmo palco, Zeca Baleiro tem apresentação prevista para o meio-dia - enquanto Fafá de Belém relembra todas as canções do disco Água, de 1977, no Teatro Municipal.

Está marcado para as 15 horas, na Avenida São João, o esperado show dos Novos Baianos. Não devem faltar sucessos consagrados, como Acabou Chorare e Preta Pretinha. Também às 15h, no Teatro Municipal, Francis Hime apresenta, acompanhado pela Orquestra Experimental de Repertório, as canções do disco de 1973, batizado com seu nome. Às 18h, Maria Rita encerra a programação musical da São João, com um show que deve compilar material de seus três álbuns. Ao mesmo tempo, Beto Guedes canta no Teatro Municipal, faixa a faixa, todo o seu disco Alma de Borracha, de 1986.

Fãs de Raul Seixas (1945-1989) ganharam um palco exclusivo neste ano, em memória aos 20 anos da morte do músico. Ao longo das 24 horas, todos os discos da carreira de Raul devem ser apresentados na Avenida Cásper Líbero, em ordem cronológica. Hoje, destaque para o álbum A Panela do Diabo, interpretado por Marcelo Nova e Os Panteras, às 16h45.

Roqueiros terão seu espaço na Praça da República. Hoje devem acontecer ali shows de CPM 22 (às 10h10), Nação Zumbi (às 12 horas), Nasi (às 14) e Ike Willis com a The Central Scrutinizer Band (às 17h20), entre outros.

Mas é claro que há mais do que música na Virada. Repete-se hoje às 7h55, às 11h40 e às 17h40 a apresentação Le Chant des Sirènes, do grupo francês Mécanique Vivante. O concerto mecânico, com sirenes, poderá ser ouvido em um raio de três quilômetros. Também ocorrem duas novas apresentações, às 9h50 e às 16h35, da companhia francesa Beau Geste, em que um bailarino dança sobre uma retroescavadeira, no Viaduto do Chá. Às 8 horas, no Jardim da Luz, um encontro de aficionados promete reunir 460 veículos antigos.

Às 11h, no palco do Sesc Paulista, a peça Sertão no Meio do Redemoinho faz uma leitura contemporânea e urbana da obra de Guimarães Rosa (1908-1967), envolvendo ruas e praças de cidades paulistas. Fragmentos da obra do dramaturgo irlandês Samuel Beckett (1906- 1989) serão encenados em Esperando Godot, no Museu do Tribunal de Justiça, no centro, às 15 horas.

Voltado ao público infanto-juvenil, a Cia. Druw traz para o Anhangabaú o espetáculo Lúdico, inspirado na obra do pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944). A ideia da apresentação é mostrar um passeio pelo universo da criação artística.


Domingo, 3 de Maio de 2009

11 de mai. de 2009

Com Zé do Caixão, vivos assombram os mortos no cemitério

VIRADA CULTURAL
Alter ego de José Mojica Marins convidou público para passear entre túmulos do Cachoeirinha e a assistir a filmes mórbidos

Em um teatro com 140 cadeiras, cerca de 200 pessoas se amontoavam na noite de sábado no Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na Vila Nova Cachoeirinha, à espera da atração mais lado B da Virada Cultural: o cineasta José Mojica Marins - ou melhor, seu alter ego, Zé do Caixão. Com meia hora de atraso, ele chegou ovacionado pela plateia: "Podem me fazer três perguntas, sobre o que quiserem. Comunicação, almas penadas, extraterrestres...", disse, engolindo os "esses" como lhe é habitual, para o delírio dos fãs.

Ali, no centro do cenário montado com luz avermelhada, muitas velas e uma cadeira - que Zé não usou -, o personagem trash dialogou com o público por cerca de 20 minutos. "O tempo está curto e logo mais nós estaremos no cemitério", apressou a todos.

Não, ele não estava profetizando a morte coletiva. O evento previa mesmo uma caminhada para logo ao lado, a pouco mais de 100 metros dali. À meia-noite, começaria uma mórbida sessão de cinema em frente do Cemitério da Vila Nova Cachoeirinha, onde um telão já estava montado.

De cigarro na boca, Zé do Caixão liderou a estranha procissão. Quando atravessava a rua com seus seguidores, um ônibus da linha 9653 teve de parar e aguardar. Os passageiros, visivelmente cansados, estamparam um sorriso ao perceberem a razão da muvuca: "Vai, Zé do Caixão!", alguns gritaram.

Zé continuou andando. Ao chegarem ao espaço montado para o "cinetério", o cinema do cemitério, seus seguidores se juntaram a um grupo mais ou menos do mesmo tamanho que já os aguardava ali. "O cemitério é um lugar legal, onde ninguém fala mal de ninguém", soltou Zé do Caixão.

ENTES QUERIDOS
Ao menos por uma madrugada, ao que tudo indicava, seria a vez de os vivos assombrarem os mortos da Vila Nova Cachoeirinha. Já de microfone na mão, a estrela da noite ensinou os presentes a "rever" um ente querido já falecido. "Não se trata de nada sobrenatural, é realmente a força do seu pensamento que quer ver a pessoa", explicou. "Ela vem e você mata a saudade, conversa com ela, que não vai responder."

Exaltou o cinema nacional em contraposição ao dos Estados Unidos: "Os americanos ficam doidos pela nossa macumba, nossas mulheres, as mulheres mais lindas do mundo." Em seguida, atendendo a clamores, rogou uma de suas indefectíveis pragas.

Estava oficialmente aberta a seção de cinema. Na projeção, O Massacre da Serra Elétrica (originalmente The Texas Chain Saw Massacre), rodado em 1973 pelo diretor Tobe Hooper e distribuído no ano seguinte.

Mas quem imaginava que os seguidores de Zé do Caixão iriam se contentar com o filme? Ficaram ali praticamente só os que já aguardavam o início da exibição. Os que vieram do Centro Cultural continuaram caminhando atrás de Zé. Alguns pediam para tirar uma foto, outros se conformavam apenas em segui-lo e observá-lo. De volta ao Centro Cultural, uma fila foi organizada para que todos tivessem seus segundos ao lado do ídolo-trash, eternizando o momento com uma fotografia.

A balada em frente do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha se arrastava madrugada adentro. Após o filme, o público pôde conferir um show de Rogério Skylab, compositor, autor de letras de gosto duvidoso, cujo hit Motosserra vinha bem a calhar com o espírito da noite: "Serrei suas duas pernas, os seus dois bracinhos/ Você ficou sendo a Vênus de Milo do meu jardim/ Te serrei por dentro e fora, te serrei no meio/ Restou um toquinho que eu serrei também/ Serrei feliz."

Em sua playlist estavam ainda No Cemitério: "Encontrei meu grande amor/No cemitério/Te ergui da sepultura"; Funérea: "Minha casa é um cemitério/O meu pai um morto-vivo/Minha mãe é uma caveira/Minha avó/É uma bruxa", e IML: "Abri a geladeira do IML/Cadáver com bunda, com HIV/Cadáver cantando, cadáver é assim."


Segunda-feira, 4 de Maio de 2009

10 de mai. de 2009

Virada atrai turistas jovens para SP

CULTURA
Público de fora cresce 15% e já gasta R$ 120 milhões na capital; dois em cada três vêm do interior paulista

A Virada Cultural deste ano bateu todos os recordes. Do público total de 4 milhões de pessoas que acompanharam as atrações do fim de semana, 380 mil eram turistas, ante 330 mil do ano passado. A maior parte deles era jovem (até 29 anos), com ensino superior. Apesar da crise, eles gastaram R$ 120 milhões na cidade - R$ 20 milhões a mais do que a expectativa e R$ 30 milhões a mais do que o montante registrado em 2008.

"Por isso digo: a cultura é a nossa praia", afirma Caio Luiz de Carvalho, presidente da São Paulo Turismo (SPTuris). "É muito importante avaliarmos o quanto os talentos criativos geram de riqueza e empregos para a cidade."

NÚMEROS
De acordo com dados preliminares de uma pesquisa realizada pela SPTuris (referente a uma amostragem de 500 entrevistados, do total de 1 mil), apenas 3% dos turistas eram estrangeiros, sobretudo da Argentina, França, Chile, Estados Unidos e Inglaterra. Os brasileiros vieram principalmente de cidades do interior do Estado (70% deles) - a maioria de Campinas, São José dos Campos, Taubaté, Jundiaí, Santos e Rio Claro. De fora do Estado, as principais cidades que apareceram na pesquisa foram Rio, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília, Londrina, Florianópolis, Ponta Grossa e Aracaju.

Mais da metade dos turistas (58%) era do sexo masculino. A grande maioria (58%) tinha até 29 anos - 17% estavam na faixa dos 30 a 39; 14%, de 40 a 49; 9%, de 50 a 59; e 2% eram acima de 60 anos de idade.

Quanto à renda mensal, a maioria dos turistas "viradeiros" ganha até dez salários mínimos - 30% de 1 a 5 salários e 36% de 6 a 10, além de 3% com até 1 salário. Os visitantes com renda de 11 a 20 salários respondem por 22% do total. Têm renda superior a 20 salários mínimos 9% dos turistas.

Apenas 3% dos turistas eram desempregados. A maioria (36%) tinha emprego assalariado com carteira assinada; 20% eram estudantes; 14%, autônomos; 9%, funcionários públicos; 7%, profissionais liberais; 4%, assalariados sem registro profissional; 4%, empresários; 2%, aposentados; e 1%, donas de casa.

Diploma universitário consta do currículo de 43% desses turistas - sendo que 9% deles são pós-graduados. Outros 26% têm curso superior incompleto; 27%, ensino médio. Apenas 1% parou na instrução básica e 3% concluíram o fundamental.

De acordo com a SPTuris, 70% dos visitantes que compareceram ao evento vieram para São Paulo exclusivamente pelo lazer. Estavam aqui a trabalho 16% e a estudos, 7%. Outros 7% vieram à cidade para visitar amigos ou parentes e acabaram aproveitando a festa.

Dos R$ 314,30 diários gastos em média pelo visitante, a maior parte (46%) foi com despesas de alimentação. O lazer ficou com 30%, seguido pelo transporte (14%), por compras (5%) e por hospedagem (5%). Os hotéis do centro da cidade tiveram 78% de ocupação durante o fim de semana.

Para o próximo ano, a expectativa é de que o número de turistas seja ainda maior. No último fim de semana, estiveram na cidade 14 agentes de viagens e 8 jornalistas de turismo de outros Estados e países da América do Sul, convidados pela SPTuris para conhecer a Virada. "É um trabalho que fazemos para atrair mais turistas no futuro", diz o presidente do órgão.


Quarta-feira, 6 de Maio de 2009

9 de mai. de 2009

Com seis salas, Teatro da Funarte é reaberto na região central de São Paulo

CULTURA

Na noite de ontem, a Fundação Nacional de Artes (Funarte) reabriu suas instalações paulistanas, no bairro dos Campos Elísios, após reforma. Agora são seis espaços com programação regular de teatro, dança, artes visuais, música e oficinas culturais. Além da já conhecida Sala Guiomar Novaes - destinada a espetáculos musicais -, a Funarte ganhou duas salas para artes visuais, duas para artes cênicas - com arquibancadas pantográficas - e uma para realização de oficinas e ensaios de espetáculos.

A reabertura contou com a apresentação de espetáculo de dança - Abaçaí, do Balé Folclórico de São Paulo -, a inauguração de uma exposição de arte - Da Rua: Que Pintura é Essa? - e o show Balangandãs, da cantora Ná Ozzetti. Além, claro, do tradicional coquetel.

Sexta-feira, 8 de maio de 2009

8 de mai. de 2009

No Orkut, solidariedade de estranhos e até propaganda

VIOLÊNCIA

Enquanto as câmeras miravam a janela do apartamento em Santo André, milhares de pessoas acessavam o perfil no Orkut de Eloá - e ali deixavam recados. "Estou torcendo por você. E que esse idiota vá para a cadeia", escreveu uma pessoa. "Não desanime, Deus está com você. Estamos orando", postou outra. "Espero que você saia bem dessa, pois é nova e tem uma linda vida pela frente. Estou assistindo e até agora o que mais me marcou foi você aparecendo na janela e pedindo calma", dizia um outro recado.

A maioria dos recados não parecia ser de amigos ou familiares, mas de gente que acompanhou o caso pela mídia. "Moça, sei você não me conhece, mas agora conheço você - não de uma maneira agradável, mas conheço como todo o Brasil", escreveu um internauta.

Foram postados também xingamentos e piadas de mau gosto. Houve quem se aproveitasse da elevada audiência do perfil de Eloá para divulgar seu candidato nas eleições e até para tentar fazer negócio. "Vendo Opala 87 'novinho'", insistia um internauta. A farra virtual acabou às 15h30, quando alguém - provavelmente um amigo que tinha a senha - bloqueou os recados da página. Nesse instante, os 10.879 recados não puderam mais ser acessados e parte começou a ser apagada.


Quinta-feira, 16 de Outubro de 2008

7 de mai. de 2009

Moçambique é a bola da vez

O ELDORADO AFRICANO

Depois de Angola, o novo porto seguro para os brasileiros empreendedores deve ser Moçambique. Em comum, a nação africana também tem o português como língua oficial. Já moram por lá cerca de 2,5 mil brasileiros - metade se mudou nos últimos três anos. E essa população deve aumentar.

Nesse período, três gigantes brasileiras instalaram escritórios em Maputo - a capital e maior cidade do país, com pouco mais de 1 milhão de habitantes. A Vale faz estudos para começar a explorar carvão. A Camargo Corrêa planeja a construção de uma usina hidrelétrica. E a Odebrecht prepara obras de infra-estrutura urbana. No rastro dessas iniciativas, outras empresas brasileiras devem mirar o foco para Moçambique. "A tendência é, consideradas as proporções, que aconteça aqui o que ocorreu com Angola", concorda Leônidas Coelho, chefe do setor consular da Embaixada Brasileira em Maputo.

Ele conta que há também assessores técnicos brasileiros trabalhando em diversos ministérios do governo moçambicano. "Até pouco tempo atrás, os pouco mais de mil brasileiros que moravam por aqui eram religiosos", lembra.

Os missionários continuam pregando por lá. São, em sua maioria, ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. Mas há os que professam outros credos - geralmente membros de Igrejas pentecostais. Em minoria, há também religiosos católicos.

Nas outras nações africanas de língua portuguesa, a presença brasileira é bem mais tímida. E resume-se, justamente, a ações de missionários religiosos.

Distantes 640 quilômetros do continente, cerca de 300 brasileiros moram em algumas das dez ilhas de Cabo Verde. "Há muitas freiras católicas", diz a vice-cônsul brasileira Ariane Brandão. "Mas também temos Igrejas pentecostais e mórmons."

Em Guiné-Bissau, na costa ocidental, estima-se que vivam 200 brasileiros. "A grande maioria já está aqui há mais de 15 anos", conta o encarregado consular José Carlos da Costa. "Quase todos são da Assembléia de Deus ou da Universal."


Domingo, 12 de outubro de 2008