31 de mar. de 2009

Dez motivos para não demolir o Minhocão

1. A demolição traria mais transtornos que benefícios. Inaugurado em 1971, o Elevado Costa e Silva é a principal ligação leste–oeste da cidade. Em seus 3,4 quilômetros de extensão trafegam 70 000 carros por dia.

2. Sua retirada significaria 4 000 veículos a mais por hora circulando na Avenida São João e em outras ruas do centro. Congestionamentos gigantes na certa.

3. Do ponto de vista imobiliário, é ingênuo acreditar que os cerca de 140 prédios existentes no entorno – hoje completamente degradados – recuperariam seu valor do passado. "Com ou sem Minhocão, a classe média dificilmente voltaria a ocupar esses imóveis", diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio.

4. A Empresa Municipal de Urbanização, encarregada em agosto pelo prefeito José Serra de buscar alternativas para a área, não possui sequer um projeto concreto. "Temos simplesmente idéias embrionárias", afirma a diretora da entidade, Regina Monteiro.

5. Não há um estudo oficial de quanto se gastaria para demoli-lo. Fala-se em 80 milhões de reais – uma dinheirama ao levar em conta as tantas outras prioridades da cidade, que acumula dívida de 32,8 bilhões de reais.

6. A implosão de suas 1 000 vigas de concreto (30 a 40 metros cada uma) abalaria a estrutura dos prédios próximos. Mesmo que se opte por uma demolição cuidadosa, parte a parte, as construções vizinhas podem ser afetadas.

7. Já imaginou seis meses de obras na região? É o tempo estimado para colocar o viaduto no chão e tirar montanhas de entulho de lá.

8. É verdade que outras cidades no mundo estudam a retirada de vias elevadas como parte da renovação urbana. Boston, nos Estados Unidos, construiu um túnel subterrâneo que cruza a cidade nas margens da baía. Ele passou a absorver o tráfego de um "minhocão" erguido na década de 40 na região sul. Detalhe: o projeto custou 30 bilhões de reais. Ou seja, quase o dobro do orçamento anual de São Paulo.

9. Existem idéias menos radicais para amenizar o impacto dessa obra tão polêmica. Instalar biombos nas suas laterais, por exemplo, minimizaria o volume do ruído para a vizinhança. É o que se faz no Japão, onde existem vias elevadas para todo lado.

10. Aos domingos e feriados, o Minhocão se transforma. Fechado para o trânsito, vira pista para atletas de fim de semana e espaço de lazer para crianças.


Quarta-feira, 1° de fevereiro de 2006

30 de mar. de 2009

20 coisas que você não sabia sobre Felipe Massa

PERFIL
O sonho de ser campeão mundial de Fórmula 1 povoa a cabeça do paulistano Felipe Massa desde sua estréia nas corridas de kart, aos 8 anos de idade. Quando for dada a largada do Grande Prêmio da Austrália, na virada do próximo sábado (17) para domingo, ele vai acelerar com a consciência de que a chance está, mais do que nunca, em seu volante. Com a aposentadoria do heptacampeão Michael Schumacher, esta é a primeira vez – desde que Ayrton Senna morreu, em 1994 – que um brasileiro tem condições reais de brigar pelo título. "Ele está no lugar certo na hora certa", afirma o ex-ferrarista Rubens Barrichello, que até hoje não conseguiu chegar perto da conquista. Nas páginas a seguir, vinte histórias sobre a maior estrela atual do nosso automobilismo.

Ele quer se casar ainda neste ano
O namoro com a empresária Anna Raffaela Bassi, que começou em outubro de 2002, teve derrapadas na largada, mas deve terminar no pódio. Eles vão se casar em breve. "Nós nos conhecemos no Guarujá. Tinha um amigo meu que saía com uma amiga dela", conta o piloto. "Eu só pensava: que baixinho folgado, um pivete", lembra Anna Raffaela, três anos mais velha (ela tem 28 e ele, 25) e herdeira da grife paulistana Guaraná Brasil. Em dez dias estavam namorando. "Eu fugia dele", revela. "Piloto, morando fora do país e mais novo que eu... Não tinha como dar certo!" Muitas voltas depois, o casamento deve ocorrer ainda em 2007, no fim do ano. "A prioridade em minha vida é o Felipe", ela agora se derrete.

Vão morar no Morumbi
Criado no Itaim Bibi, Felipe Massa comprou um apartamento de 628 metros quadrados, com quatro suítes, no Morumbi. Deve ficar pronto no meio do ano. Estima-se que tenha pago cerca de 7 milhões de reais pelo imóvel.

Vive entre Mônaco, São Paulo, Botucatu e Guarujá
A Fórmula 1 de 2007 será disputada em dezessete cidades ao redor do mundo. Mas apenas em duas delas Massa se sente em casa: Mônaco, onde vive na maior parte do ano, e São Paulo, onde ele nasceu e onde mora sua namorada. Vai muito também a Botucatu, no interior do estado, para onde os pais se mudaram quando ele tinha 5 anos, e ao Guarujá, onde os sogros têm uma residência de praia.

Seu primeiro carro foi um Palio 1.0. Hoje, tem duas Maserati e uma Ferrari
Em comum, apenas a dona das marcas: Fiat. Seu primeiro automóvel (fora das pistas) foi um Palio 1.0 cinza-chumbo. "Antes de completar 18 anos, meu pai não me deixava dirigir", explica. "Só ganhei o carro quando tirei carta." Agora Massa coleciona três máquinas: duas Maserati Quattroporte pretas e uma Ferrari 599 cinza-chumbo.

Quando criança, queria dirigir até a charrete do leiteiro
A mãe, Ana Elena Massa, lembra as peripécias do filho: "Em Botucatu, ele convenceu o carteiro a lhe emprestar a moto. Ficou todo feliz porque deu uma volta no condomínio, mas acabou queimando a perna no escapamento. Até a charrete do leiteiro ele deu um jeito de conduzir".

Era o manobrista oficial das festas da família
Em todas as reuniões familiares, o garoto bancava o valet. Ficava esperando os tios chegarem e pedia para guardar os carros. "Era tão arteiro que fazia questão de estacioná-los bem coladinhos um ao outro, para que ninguém que não fosse tão pequeno quanto ele conseguisse entrar nos carros depois", revela a mãe.

Bom aluno? Hummm...
"Sempre dei trabalho na escola", admite Massa. "Repeti a 1ª e a 2ª série e matava aulas direto." Ele brincava de corridas imaginárias com borrachas, réguas e lápis. E nada de prestar atenção às aulas. "Contratamos até uma professora particular para ajudá-lo", diz o pai, Luiz Antonio Massa, o Titônio.

Seu bisavô fundou a maior fábrica de carrocerias de ônibus do Brasil
José Massa, bisavô do piloto, foi o fundador da encarroçadora de ônibus Caio, maior do Brasil na sua área. A empresa, entretanto, não pertence mais à família, proprietária de uma fábrica de produtos plásticos em Botucatu.

Foi sócio do Pandoro por seis meses
Um mês após seu fechamento, em julho do ano passado, o tradicional bar Pandoro, no Jardim Europa, passou para novos proprietários – Felipe Massa entre eles. Ele emprestaria sua grife à casa. "Só vou acompanhar a distância e comer", disse. Iria. Em fevereiro, a sociedade foi desfeita. "A Ferrari pediu para ele sair do negócio", afirma o empresário Marcelo Ruas, amigo do piloto. "A ordem neste ano é para ele se concentrar só na Fórmula 1." Massa nega-se a comentar o assunto.

É bagunceiro e desorganizado
Não é só a toalha molhada em cima da cama, não. Massa faz bagunça em toda a casa. "Chega e vai largando o tênis na porta, espalha a roupa pelo quarto...", reclama Anna Raffaela. "Quando ele usa o banheiro, então, parece que por ali passou um furacão."

Corre 10 quilômetros (a pé) por dia
Para agüentar o desgaste físico das pistas, todo piloto precisa ter um bom condicionamento físico. Ele pratica, diariamente, duas horas de exercícios aeróbicos e musculação. Quando está em São Paulo, costuma correr 10 quilômetros no Parque do Ibirapuera, a menos de 200 metros da academia onde malha. Entre os aparelhos que usa, há um simulador de direção desenvolvido em parceria com a Ferrari. A força necessária para girar o volante é similar à da Fórmula 1.

Pega carona com Rubinho
Foi-se o tempo em que tínhamos Ayrton Senna e Nelson Piquet duelando dentro e fora das pistas. Os rivais brasileiros agora travam uma batalha bem morna. A ponto de Massa não admitir nenhuma comparação com seu antecessor na Ferrari, Rubens Barrichello. "Nosso relacionamento é muito bom", confirma Rubinho. "Divirto-me muito com o Felipe nas comemorações dos bons resultados." A camaradagem rende até umas caroninhas. No último dia 1º, foi no avião particular de Barrichello, um Legacy, que Massa voou do Barein ao Brasil.

Leva no pescoço réplicas dos circuitos onde venceu
Preocupada com os riscos da profissão do namorado, Anna Raffaela presenteou-o, no primeiro Natal que passaram juntos, com um escapulário de prata. Disse que era para protegê-lo. Ele não o tira nunca, nem para tomar banho. Depois, ela lhe deu outros mimos: um capacetinho de ouro branco e réplicas dos dois circuitos onde ele venceu, Turquia e Brasil. "Espero que logo minha correntinha esteja tão cheia deles que até pese no meu pescoço", diz o piloto.

Se vai bem em um treino, não tira mais a cueca
Massa tem uma superstição: quando vai bem nos treinos, repete a cueca durante todo o fim de semana. "Coincidência ou não, usava a mesma cueca, branca, nos dois GPs que venci", conta. "Claro que eu já a marquei para utilizá-la novamente outras vezes."

Existem dezenas de perfis falsos no Orkut com seu nome
Há 400 comunidades no Orkut dedicadas a Massa e 59 perfis de gente que tenta se passar por ele. "Nunca me interessei em participar do Orkut porque acho que é muita exposição", diz. "Mas já entrei algumas vezes com a senha do meu irmão para ver o que andam falando de mim."

Garante que não chora nem se o Schumacher voltar a correr
Quando chorou pela última vez, Massa não passava de um quase anônimo piloto de Fórmula Renault. "Foi numa corrida que eu liderava com trinta segundos de vantagem para o segundo colocado e acabei rodando", lembra. O snif! snif! não se repetiu. "Nem ganhar o GP Brasil me fez chorar. Quando me emociono, é como se a lágrima secasse antes de cair."

Adora mesas estreladas
"O que mais aprecio em São Paulo são os bons restaurantes", diz o piloto, freqüentador do Gero, nos Jardins, e do circuito gastronômico da Rua Amauri. "Na semana do GP Brasil, em outubro, ele esteve aqui com quatro amigos", conta o gerente do Gero, Ricardo Trevisani. "Saboreou uma costeleta de vitela à milanesa e tomou Coca-Cola."

Pagar mico na TV? Nem pensar
Massa sempre foi reservado. Quando começou na Fórmula 1, redobrou os cuidados com a mídia. "Recebemos dezenas de pedidos de entrevista e convites para programas de TV, mas filtramos tudo", admite Márcio Fonseca, seu assessor de imprensa. "Nós nos negamos a ir ao Casseta & Planeta e ao programa do Tom Cavalcante, por exemplo." Massa receia que a superexposição banalize o seu trabalho.

Se quiser, só usa roupas que ganha de presente
Imagine embolsar milhões de dólares por ano mas, mesmo assim, não precisar enfiar a mão no bolso para se vestir com as melhores roupas da Puma e da Dolce&Gabbana. Felipe Massa tem esse privilégio, graças a um acordo com as duas marcas. Vaidoso e preocupado com a aparência, ele aproveita para rechear o guarda-roupa sempre que vai a Milão, na Itália. "Corro em uma categoria que é um glamour", justifica.

Ganha 8 milhões de dólares por ano
"Quando o Felipe foi embora para a Europa, tivemos de vender um carro para ajudar a mantê-lo", diz o pai do piloto. A dureza acabou. Estima-se que Massa tenha um salário anual de 8 milhões de dólares. É menos do que ganha Rubens Barrichello (10 milhões), atualmente na Honda, e Kimi Raikkonen (25 milhões), seu companheiro na Ferrari. Mas já é o dobro do que o próprio Felipe recebia em 2006.


Quarta-feira, 14 de março de 2007

29 de mar. de 2009

Investigado não comprovou origem dos instrumentos

INVESTIGAÇÃO NO TEATRO
Faria recusou-se a mostrar notas à comissão e ao 'Estado'

Os instrumentos adquiridos pelo Teatro Municipal em novembro de 2007, no valor total de R$ 226.779, não tiveram origem comprovada por seu fornecedor, o ex-arquivista do Teatro Leônidas Júnior de Souza Faria. Em 26 de março de 2008, questionado pela Comissão de Apuração Preliminar da Secretaria da Cultura sobre a existência das notas, Faria comprometeu-se a apresentá-las no dia seguinte. Entregou, porém, apenas um bilhete manuscrito, dizendo ter encontrado uma única nota "nos documentos". "Assim que achar (as restantes), lhe envio rapidamente", completou. Os comprovantes, entretanto, jamais foram apresentados.

Em entrevista ao Estado, por telefone, o ex-arquivista disse que não mostrou as notas fiscais porque os membros da comissão foram "mal-educados". "Por isso, tomei a decisão de não colaborar com nada", alegou. "Me senti insultado. Nem sabia por que estava lá. Fui pego de surpresa. Cheguei e me derramaram um monte de perguntas, sem me explicar direito. Foram estúpidos, com olhar intimidador, como se eu fosse o pior criminoso do mundo."

Depois, em novo contato telefônico, Faria adicionou que não entregou os documentos por causa de "uma chuva" em seu estabelecimento. Ele ainda reafirmou a existência das notas fiscais, mas disse que não poderia apresentá-las à reportagem. Questionado sobre o motivo do sigilo, ele desligou o telefone.

HISTÓRICO
Antes de se tornar fornecedora de instrumentos eruditos importados ao Teatro Municipal, a microempresa do ex-arquivista Leônidas Júnior de Souza Faria era uma gráfica. Entre 2003 e 2005, produziu banners, folhetos explicativos, diplomas de gratidão, títulos de cidadão paulistano, camisetas e coletes a diversas secretarias municipais e à Câmara Municipal. Em novembro de 2006, mudou o objeto social de sua empresa de "comercio varejista de artigos de papelaria" para "comércio varejista de instrumentos musicais e acessórios".

A revenda que importou instrumentos da Alemanha e dos Estados Unidos para o Teatro fica nos fundos de uma residência no bairro do Jaguaré, na zona oeste. A licitação questionada pelo Departamento de Procedimentos Disciplinares (Proced) da Prefeitura e pela 3ª Promotoria de Justiça da Cidadania do Ministério Público Estadual (MPE) é a segunda vencida por Faria no ramo musical - sua empresa já havia fornecido instrumentos (um glockenspiel e um tímpano sinfônico) ao Teatro em agosto de 2007, no valor total de R$ 46.800,00.

Faria reclama que, após o início das investigações, vem tendo dificuldades para continuar com seu negócio. "É um mundo muito fechado (o meio musical). Com essa ?fofocaiada? rolando, estou passando por dificuldades financeiras por não conseguir mais vender", afirma. "Depois desse escândalo, todas as portas foram fechadas para mim."

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.

Segunda-feira, 23 de março de 2009

28 de mar. de 2009

Licitação do municipal sob suspeita

INVESTIGAÇÃO NO TEATRO
MP apura compra de instrumentos; há indícios de superfaturamento e dúvidas quanto a origem das peças

Uma harpa comprada por R$ 93.600 custaria R$ 18.870. Um contrabaixo comprado por R$ 50.800 custaria R$ 15.300. Um glockenspiel - instrumento de percussão - comprado por R$ 22.000 custaria R$ 11.667,35. Esses são alguns exemplos de instrumentos musicais adquiridos, no valor total de R$ 226.779, pelo Teatro Municipal de São Paulo - em licitação ocorrida em 13 de novembro de 2007. Com suspeitas de superfaturamento e dúvidas quanto à licitude da origem dos equipamentos, o processo está sendo apurado pelo Departamento de Procedimentos Disciplinares (Proced) da Prefeitura e pela 3ª Promotoria de Justiça da Cidadania do Ministério Público Estadual (MPE), onde virou inquérito civil.

São três os alvos da investigação: o microempresário e músico Leônidas Júnior de Souza Faria, que entre 2004 e 2007 trabalhou como arquivista musical do Teatro e cuja firma ganhou a licitação; a funcionária pública Isleyd Pereira Smarzaro, então diretora do Departamento Técnico do Teatro; e o também funcionário público Clésio André de Melo que, em desvio de função, realizou as cotações preliminares do processo de licitação sob investigação.

A denúncia original foi feita pelo então diretor da Escola Municipal de Música, o músico Henrique Autran Dourado. Quando soube da compra, ele questionou os valores - para ele, os preços pagos foram "abusivos" - e a idoneidade da empresa vencedora do pregão - estabelecimento "não tradicional no ramo". Em memorando enviado em 13 de março de 2008 à diretora do Teatro, Beatriz Franco do Amaral, recém-chegada ao cargo, Dourado exemplificou que um contrabaixo da mesma marca adquirida (por R$ 50.800) poderia ser comprado nos Estados Unidos pelo equivalente, na época, a R$ 15.300. "O valor (desembolsado) nos parece enormemente desproporcional", escreveu ele. "A municipalidade poderia ter sido poupada de grandes ônus".

Dourado ainda executou uma pesquisa de preços de equipamentos similares em cinco empresas brasileiras, obtendo valores entre R$ 17 mil e R$ 25 mil. Entre os instrumentos restantes, a Comissão de Avaliação Preliminar da Secretaria de Cultura efetuou cotações - com acréscimo de 100% sobre o preço do fabricante, a fim de cobrir tributos e despesas de importação - que confirmaram sobrepreço na maioria deles.

Em ofício enviado em maio do ano passado ao procurador geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, avaliou que há "indiscutível indício de superfaturamento". "A suspeita surgiu após o encerramento das licitações (...), com a disparidade dos preços pagos pelo departamento, juntamente com o fato de toda a compra ter sido realizada com um único fornecedor não tradicional no ramo", escreveu o secretário.

Na sequência das investigações, em agosto do ano passado, o Proced também recomendou ao Ministério Público que continuasse apurando, não só a "questão do superfaturamento dos instrumentos (...) mas inclusive quanto à procedência deles (...) posto que a municipalidade pode até ter adquirido bens que não foram obtidos de forma lícita". "É certo que há algo errado nesse caso, mas por enquanto não é possível apontar culpados", antecipa-se o procurador César Cordaro, presidente da comissão que investiga o caso no Proced.

Músicos do Teatro ouvidos pelo Estado confirmam que também entre integrantes da orquestra houve estranhamento em relação ao processo. "Ninguém entendeu a pressa com que os instrumentos foram comprados", disse um deles. "De repente, apareceram com essa história, sem espetáculo marcado, nem nada. Depois, quando chegou o contrabaixo de R$ 50 mil, só se ouviam cochichos nos bastidores."

Separadamente, os três suspeitos - Faria, Isleyd e Melo - entraram com recursos para tentar impedir a abertura do inquérito civil. Os pedidos, porém, não foram acatados pelo Ministério Público e a investigação continua. O secretário de Cultura não quis dar entrevista. Por meio de sua Assessoria de Imprensa, informou que está "aguardando a conclusão das investigações que ainda estão em curso para se manifestar".

NEGATIVAS

Ouvidos em 26 de março de 2008 pela comissão, Melo e Faria negaram que houvesse algum tipo de favorecimento no processo licitatório. Em entrevista ao Estado, Faria afirmou que toda a investigação foi motivada por "uma situação política", que acabou "descambando nele". "Se eles encontraram por outro preço lá, por que não foi levantado antes? Eu tenho meu preço, compra quem quer", disse. "Quando passar essa questão, vou entrar com processo pedindo indenização contra quem fez a denúncia (o músico Dourado), que inventou histórias."

O funcionário público Melo - que em seu primeiro depoimento negou ter realizado pesquisa de preço para o processo licitatório; afirmação que desmentiu depois, em novo depoimento - foi removido do cargo por "desvio de função". Atualmente, trabalha na Secretaria Municipal de Participação e Parceria, onde cuida do agendamento da frota de carros do órgão. "Não sou técnico, não tenho formação musical. Se houve erro na pesquisa de preços foi na inocência", declarou Melo, em entrevista ao Estado. "Os instrumentos foram comprados em pregão presencial, aberto a todos, publicado, nada foi dirigido a uma empresa ou outra." O ex-funcionário do Teatro também desqualifica a denúncia de Dourado. "Seria louvável fazer uma pesquisa de instrumentos em seu país de origem, mas a compra pelo Estado exige burocracia. Atender a todas as exigências fiscais encarece mesmo."

A diretora do Teatro, Isleyd, já havia sido exonerada do cargo em fevereiro de 2008. Hoje, integra uma comissão que reavalia licitações da Secretaria Municipal de Turismo. Procurada pela reportagem, ela estava em Brasília na quarta-feira e chegou a agendar um horário para entrevista, via celular - mas deixou de atender ao telefone na sequência e nos dias seguintes.

Para o jurista Luiz Tarcísio Teixeira, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC), especialista em Direito de Estado e ex-secretário municipal de Negócios Jurídicos (2002-2004), só o fato de Faria atuar como funcionário do Teatro na época da licitação já desqualificaria todo o processo. "A defesa pode sustentar que ele não era funcionário, apenas prestava um serviço", explica. "Mas é no mínimo suspeito: ele era contratado e participou de licitação na mesma secretaria. Conhecia e transitava pela estrutura interna da administração. Do ponto de vista moral, jamais poderia ter participado do processo."

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Segunda-feira, 23 de março de 2009

27 de mar. de 2009

PF vai usar em inquérito dados estaduais do caso da TAM

AVIAÇÃO

Na 17ª manifestação organizada pela Associação dos Familiares e Amigos das Vítimas do Voo TAM JJ 3054 (Afavitam) – 12 delas em São Paulo, 4 em Porto Alegre (RS) e 1 em Brasília (DF) –, os cerca de 90 familiares participantes voltaram ontem ao Aeroporto de Congonhas, na zona sul de São Paulo. Muitos comemoravam o resultado de um encontro com o procurador da República Rodrigo De Grandis, no sábado. “Os inquéritos finalizados pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Civil foram incorporados no processo da Polícia Federal”, conta o presidente da Afavitam, o professor universitário Dario Scott – que perdeu a filha, de 14 anos, no acidente. Ele lembrou que o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também continua no caso.

De acordo com a Afavitam, o procurador disse que até setembro o processo deve ser encaminhado para avaliação da juíza Paula Mantovani, da 1º Vara Federal Criminal de São Paulo. E o estatuto das investigações foi mudado de sigilo total para parcial, o que significa que, a partir de agora, tudo o que não atrapalhe as investigações poderá ser compartilhado com os advogados das famílias.

Carregando banners e vestindo camisetas com fotos das vítimas, ontem os manifestantes levaram flores até o saguão do aeroporto. Em seguida, na frente do guichê da companhia aérea, citaram, nome a nome, todos os que foram responsabilizados pelo Ministério Público Estadual na maior tragédia da aviação brasileira. A cada nome dito, o coro respondia com um uníssono: “cadeia”. A manifestação durou pouco mais de 1 hora, atraiu a atenção de quem estava em Congonhas e levou familiares às lágrimas.

“Nossa luta é pela justiça e pela verdade. Queremos que isso jamais aconteça novamente e que essas mortes não tenham sido em vão”, diz a psicóloga Zeoni Warmling, cuja filha, de 19 anos, foi uma das 199 vítimas da tragédia ocorrida em 17 de julho de 2007. Entre familiares e amigos das vítimas, a Afavitam reúne 432 pessoas. Das 199 vítimas do acidente, 172 famílias foram indenizadas. As restantes ainda não procuraram a TAM para negociar.


Segunda-feira, 23 de março de 2009

26 de mar. de 2009

Livros para ouvir (no trânsito, no celular...)

CULTURA
Loja exclusiva para audiolivros acaba de ser inaugurada no Tatuapé; na cidade, há pelo menos quatro editoras especializadas no ramo

Comuns na Europa e na América do Norte, os audiolivros ainda não pegaram por aqui. Para tentar alavancar esse mercado, uma das pelo menos quatro editoras especializadas no filão em São Paulo acaba de inaugurar uma livraria destinada exclusivamente a comercializar os livros nesse formato: a Audiolivro, que fica na Rua Bom Sucesso, 247, no Tatuapé (0xx-11- 2098-3331). "No ano passado, mantivemos um quiosque no Shopping Metrô Santa Cruz, e foi uma experiência bem interessante. Então, resolvemos abrir nosso espaço", conta o proprietário, Marco Giroto.

Antes disso, os livros lançados pela editora - que, fundada em 2007, acumula cerca de 80 títulos - poderiam ser adquiridos somente em outras livrarias ou via internet. Como, aliás, acontece com suas principais concorrentes na cidade: a Livro Falante, a Livrosonoro e a Universidade Falada. Nelas, há a opção de comprar em CD, com preços que variam de R$ 24,90 a R$ 30, ou fazer um download do arquivo de áudio, em formato MP3, de R$ 4 a R$ 18 - a Livrosonoro não oferece esta última opção.

Boa parte dos títulos lançados não é produzida especialmente para o formato. Trata-se de uma nova versão de obras que se tornaram conhecidas em edição de papel. Pode-se ouvir clássicos como Iracema, de José de Alencar, e best sellers como O Monge e o Executivo, de James C. Hunter, e 1808, de Laurentino Gomes.

A falta de tempo e o trânsito de São Paulo são os principais argumentos utilizados por quem já se rendeu à mania. "Moro em Interlagos, estudo na Vila Buarque e trabalho no Morumbi", conta a estudante de Biblioteconomia Angela Reis Silva, que em dezembro comprou Quando Nietzsche Chorou, de Irvin D. Yalom - o primeiro audiolivro de sua coleção, que já ultrapassa uma dezena. "Só para ir de casa à faculdade, gasto duas horas no ônibus. Vou ouvindo algum livro no meu (tocador de) MP3."

Não são só os leitores que utilizam esse raciocínio, a propósito. Giroto, o dono da Audiolivro, era analista de sistemas quando decidiu abrir o negócio. De sua casa, na zona leste, à empresa, em Alphaville, gastava um total de três horas, entre ida e volta. "Todas as rádios tocavam as mesmas músicas. Fiquei indignado", lembra. Resolveu fazer livros em áudio.

Situação parecida levou o médico dermatologista Claudio Wulkan a criar a Universidade Falada, em 2006. "Como sempre estou andando entre um consultório e outro, costumava ouvir audiolivros que trazia do exterior", conta ele. Sua editora já tem 250 títulos e mantém uma ação social disponibilizando seu acervo para a Fundação Dorina Nowill para Cegos.

Criada no ano passado, a Livrosonoro escolheu outro alvo para mirar: os jovens estudantes. "Estamos nos especializando nos títulos indicados para os vestibulares", explica um dos proprietários, Luiz Carlos Gioia. "O livro sonoro não substitui o impresso, mas é uma alternativa para quem tem dificuldade ou não gosta de ler. Há a facilidade de ouvi-lo no carro, no celular, no iPod... E o jovem não 'paga o mico' de ficar lendo perto de seus colegas." (Ao que parece, nas novas gerações há quem acredite que ler seja hábito vergonhoso.)

Por falar em vestibular, a Livro Falante tem um interessante projeto de transformar em áudio a obra de Machado de Assis. Na voz do repórter do CQC - programa jornalístico-humorístico da Band - Rafael Cortez, já foram lançados Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas e O Alienista. E está para sair Quincas Borba. Em MP3, Machado de Assis continua imortal.

Onde encontrar: Audiolivro: www.audiolivro.com.br; Livro Falante: www.livrofalante.com.br; Livrosonoro: www.livrosonoro.com; Universidade Falada: www.universidadefalada.com.br


Sábado, 21 de Março de 2009

25 de mar. de 2009

Prédio histórico é reaberto no centro

PATRIMÔNIO
Tombado pelo Conpresp, edifício da agência matriz da Nossa Caixa foi construído em meados do século passado

Por oito meses, o bancário Dagoberto Duzze Domingos andou 200 metros a mais para chegar ao trabalho. A partir de hoje, ele e os outros 53 funcionários da agência matriz da Nossa Caixa - instalados desde 14 de janeiro numa filial vizinha - voltam ao histórico edifício sede, no número 111 da Rua 15 de Novembro. E os paulistanos poderão, além de conferir os detalhes da reforma de R$ 1,9 milhão que durou até a semana passada, observar o painel de 14,5 metros por 1,4 metro com fotos antigas do centro da cidade que o departamento de marketing do banco mandou instalar numa das paredes para celebrar a reabertura. "Lá é diferente. O espaço é bem mais amplo", comenta Domingos.

Projetado pelo Escritório Técnico Ramos de Azevedo, Severo Villares e Companhia, o edifício começou a ser construído em 1941, para o Instituto Brasileiro do Café. Com a 2ª Guerra Mundial, o dinheiro minguou e as obras se arrastaram, com sucessivas interrupções, por uma década inteira. Só em 1951 os trabalhos recomeçam a todo vapor e o prédio ficou pronto.

O artista plástico italiano Gaetano Miani foi contratado pelo instituto e deixou quatro obras ali: A Conquista Tomada do Tosão de Ouro, um afresco de 2,67 por 8,30 metros; Bandeirantes, pintura em cerâmica azul e ouro de 4 por 4 metros; Riquezas do Brasil, pintura em esmalte sobre cobre composta por seis figuras, cada uma com 1 por 0,8 metro; e Brasil Dá Café ao Mundo, escultura em cerâmica revestida de cobre. Destas, apenas a última não fica em exposição na agência reaberta hoje.

Quando o banco comprou o prédio, em 1956, incorporou a seu acervo cultural as obras de Miani. O próprio artista plástico foi chamado, em 2004, para restaurar suas criações.

Tombado no ano passado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), o edifício passou nos últimos meses pela maior reforma de sua história. Degradados pelo tempo, os caixilhos tiveram a cor verde original recuperada e as ferragens em latão da porta de vidro principal polidas. O piso, de granito, e as paredes e pilares, de mármore, também foram restaurados, mantendo as tonalidades originais e os desenhos dos veios das pedras.

Os três pisos da agência - um total de 1,5 mil metros quadrados - passaram pelo processo. Todas as instalações hidráulicas e elétricas foram modernizadas. "Nossa preocupação era preservar a estrutura, de alto valor histórico, e, ao mesmo tempo, melhorar o conforto das pessoas que circulam pela agência. Além de aumentar o nível de iluminação, que era muito baixo", explica o arquiteto Paulo Yokomizo, que concebeu o projeto há quase três anos. "O prédio estava muito defasado. Nunca havia passado por uma reforma completa assim."


Segunda-Feira, 29 de Setembro de 2008

24 de mar. de 2009

A hora da Vila Leopoldina

IMÓVEIS
De carona nos novos prédios, empresários investem na região

Em dezembro do ano passado, o empresário Luiz Massella resolveu ampliar sua pizzaria, a Ritto. Com mais 45 lugares, ela passou a comportar 185 clientes. Fez bem. Afinal, se em 2005 a casa costumava receber 280 pessoas em uma noite de sábado, agora são cerca de 350. "E espero continuar crescendo de 20% a 25% ao ano", diz. O movimento em seu restaurante é reflexo do momento vivido pela Vila Leopoldina, bairro que fica entre a Lapa e o Alto de Pinheiros, na Zona Oeste. A região foi descoberta pelo mercado imobiliário em meados dos anos 90. Pouco tempo depois, passou a receber um grande número de edifícios residenciais destinados à classe média. Além da oferta de apartamentos cada vez maior, uma das razões dessa atração é a boa localização, nas proximidades das marginais e do Parque Villa-Lobos, por exemplo. "Se continuar assim, daqui a dez anos a Vila Leopoldina será uma nova Moema", prevê Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp).

É uma ótima notícia para quem tem imóvel no bairro. Em 1996, o preço do metro quadrado de área construída não chegava a 1 500 reais. Hoje, custa o dobro – para comparar, em Moema o valor médio é de 5 300 reais. "Quando, há dois anos e meio, paguei 380 000 reais por meu apartamento de 180 metros quadrados, não esperava essa valorização", afirma a engenheira civil Adriana Marcellino. "Foi um belo investimento." Nascido de um loteamento realizado em 1894, o bairro era o endereço de diversas olarias no início do século XX. Na década de 50, com a construção do Centro Industrial Miguel Mofarrej, grandes indústrias se instalaram por lá. De certa forma, esse passado preparou terreno para os espigões que atualmente são erguidos ali. "É mais fácil negociar com um só proprietário do que com diversos donos de casinhas, quando precisamos de uma área para construir um novo prédio", explica Fabio Romano, gerente de uma incorporadora que atua no bairro. "A procura é tão grande que temos vendido um apartamento por dia." De carona com o progresso, vem o problema do trânsito. Moradores da Rua Carlos Weber – onde estão dezessete dos últimos 61 lançamentos na Vila Leopoldina – já reclamam que, em horário de pico, a situação está complicada. "A rua é estreita para ser mão dupla", diz Adriana Marcellino. "A CET precisa tomar providências logo."

No encalço dessa corrida imobiliária, os estabelecimentos comerciais funcionam como um acabamento do novo perfil da região. "Decidimos apostar, já que hoje há muita gente com alto poder aquisitivo morando por aqui", conta o empresário Marco Antonio Soraggi, que inaugurou sua loja de computadores no início deste mês. Mercados, farmácias, locadoras, papelarias... Aos poucos, os moradores da Vila Leopoldina começam a ter de tudo na porta de casa. "Reinávamos sozinhos. Agora, é preciso investir para não perder espaço para a concorrência", admite o empresário Paulo Henrique Alves, que vai gastar 1,6 milhão de reais na reforma de sua padaria. Ele pretende atender, no início do ano que vem, 140 pessoas sentadas. Hoje, tem apenas 25 lugares. "O público daqui mudou", constata. "Os vizinhos não querem somente entrar na padaria para comprar um pãozinho, mas tomar seu café-da-manhã conosco."

Números do bairro

1 294 unidades
foram lançadas nos últimos dois anos

250 000 reais
é o preço médio de um apartamento de 90 metros quadrados

2 800 reais
é o preço médio do metro quadrado – há dez anos, não chegava a 1500 reais


Quarta-feira, 25 de outubro de 2006

23 de mar. de 2009

O magnata do sexo

NOITE
Dono do Bahamas, ponto de encontro de garotas de programa, o polêmico, falastrão e encrencado Oscar Maroni é acusado de formação de quadrilha, tráfico de mulheres e favorecimento à prostituição

A bordo de um reluzente Jaguar verde, modelo S-Type, avaliado em 200.000 reais, o empresário Oscar Maroni Filho dirigia sem rumo por rodovias nos arredores de São Paulo na noite de terça-feira (7). Com um gorro preto para evitar ser reconhecido ("Minha careca é quase um RG"), ele ainda se adaptava à condição de foragido da Justiça. A vida do dono da boate Bahamas, notório reduto da prostituição de luxo em Moema, ficou complicada depois do acidente com o avião da TAM no Aeroporto de Congonhas, em 17 de julho. Ocorre que ele também é dono do Oscar's Hotel, construído a 600 metros do aeroporto, muito próximo da rota dos aviões. A prefeitura viu irregularidades na obra e mandou fechar o hotel e o Bahamas, que tem bar, restaurante, pista de dança, sauna mista e shows de strip-tease, apresentados no palco e em um lago com carpas. Maroni zombou pessoalmente do prefeito Gilberto Kassab, a quem apelidou de "Madre Superiora", e protestou, ao lado de sua poodle Docinho, contra a interdição. Desde então, não parou de dar entrevistas. Em uma delas, ele teria admitido a prática de prostituição em sua boate: "Sim, é prostituição de luxo sim, não vamos ser hipócritas". Dois dias depois, teve a licença do Bahamas cassada e o Ministério Público Estadual o denunciou por formação de quadrilha, exploração de prostíbulo, favorecimento à prostituição e tráfico de mulheres. "Eu estava transando com a minha namorada quando o telefone tocou e soube da ordem de prisão", conta Maroni, referindo-se ao mandado expedido pela 5ª Vara Criminal. "Eu me desesperei e saí correndo pelado pelo quarto." Seus advogados impetraram habeas corpus, mas o pedido foi negado na última quinta-feira pelo Tribunal de Justiça.

Em funcionamento há 27 anos, o Bahamas recebia uma média de 200 clientes e 150 garotas de programa por dia – a entrada custa 135 reais para homens e 35 para mulheres. Cada uma delas cobrava de 300 a 500 reais por uma hora de entretenimento num dos 23 quartos existentes na casa. O negócio transformou Maroni num magnata do sexo. Entre os bens que gosta de ostentar figuram uma coleção de carros importados, uma fazenda com 12 000 cabeças de gado em Araçatuba, no interior do estado, dezenas de imóveis e o tal hotel. Vaidoso e falastrão, mesmo diante de situações adversas Maroni adora fazer propaganda de si mesmo e de suas proezas sexuais. Afirma que, num cálculo modesto, já foi para a cama com 1.500 mulheres. Com declarados "50 e uns anos", três vezes por semana treina boxe e faz musculação. "Eu curto a estética", diz ele, que exibe uma tatuagem com as iniciais de seu nome no braço esquerdo. "É idêntica à usada para marcar meus bois e cavalos."

Outro orgulho de Maroni são os oito pares de botas que sempre calça. "Um deles é de orelha de elefante, outro de couro de crocodilo e agora vou comprar um de pele de tubarão", gaba-se. Pode chegar ao trabalho num alinhado terno Armani ou em jeans rasgado e camiseta justa. "Gosto de me vestir assim, criando estilos." Na verdade, ele quer se parecer com Larry Flynt, dono da revista americana Hustler, conhecido pelas polêmicas em torno da promoção de pornografia. Outro de seus ídolos é Hugh Hefner, o idealizador da revista Playboy e famoso por promover festas particulares com as playmates. Maroni está reformando uma cobertura de 320 metros quadrados no 20º andar de um prédio em Moema. Planeja se mudar em breve para lá com a namorada de 23 anos. "Vou promover festas iguais às do Hefner", promete.

Até enriquecer, enfrentou muitos percalços. A acusação de lenocínio, como é chamado o incentivo de qualquer tipo à prostituição, rendeu-lhe duas passagens rápidas pela cadeia, em 1996 e 1998. O porte ilegal de armas foi a razão da terceira visita ao xilindró, em 2004. Formado em psicologia, Maroni teve seu próprio consultório durante seis anos. Difícil acreditar que ele seria capaz de ouvir um paciente. Agitado, fala sem parar e repete exaustivamente algumas histórias e frases de efeito, como: "Posso ser imoral, mas não sou ilegal". Paulista de Jundiaí, filho de uma família de classe média, conta que desde cedo foi atraído pelo universo da prostituição. Aos 17 anos, já morando em São Paulo, ele mantinha o hábito de ficar na porta da extinta e luxuosa boate La Licorne, na Rua Major Sertório, na Vila Buarque, para observar a chegada das garotas de programa. "Aquilo me fascinava, mas eu não tinha dinheiro para pagar." Na faculdade, comprou um trailer de cachorro-quente e começou a ganhar dinheiro. Com a venda dos sanduíches, diz ele, comprou uma casa de prostituição, depois outra, até se desfazer de tudo para investir no Bahamas. Ele alega usar a mesma fórmula desde o início. O faturamento viria da venda de ingressos e bebidas – lá, uma garrafa de uísque 8 anos custa incríveis 590 reais. Maroni afirma não ter participação nos cachês cobrados pelas jovens entre 18 e 25 anos que freqüentam o Bahamas. "Ganho apenas na entrada de homens e mulheres. Se eles transam nos quartos, não é problema meu."

em parceria com Fabio Brisolla.


Quarta-feira, 15 de agosto de 2007

22 de mar. de 2009

O site da prefeitura melhorou, mas...

INTERNET
...há erros para corrigir, embora a navegação agora seja mais simples

Em média, 50 000 pessoas por dia acessam o endereço eletrônico da prefeitura paulistana (www.prefeitura.sp.gov.br). A maioria busca informações corriqueiras, como índices de tributos ou dados relacionados ao IPTU. Desde o último dia 25, os paulistanos que preferem trocar as filas nos órgãos públicos pelos cliques no computador têm à disposição um site remodelado. Além da nova roupagem, os dados estão mais bem organizados. "Agora, o usuário não tem a obrigação de entender o organograma da prefeitura para conseguir o que precisa", afirma o secretário de Gestão, Januario Montone. Antes, o site era estruturado a partir do sem-número de repartições da burocracia municipal. Já a nova versão é fundamentada em quatro pilares: serviços oferecidos aos paulistanos; informações para empresas; leis, contratos e andamento de licitações; e direitos e deveres dos funcionários públicos. Com base nesses links, as informações são cruzadas e o internauta é conduzido às páginas do departamento responsável. Para conferir os relatórios orçamentários, por exemplo – e verificar se a administração está cumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal –, o portal leva o usuário até a página correspondente da Secretaria de Finanças. O ponto de partida passa a ser o assunto que o cidadão deseja consultar, e não a secretaria ou empresa correspondente.

Na barra superior da home page aparecem informações úteis como a previsão do tempo e a extensão dos congestionamentos de trânsito em São Paulo naquele momento. Outra novidade interessante é o intercâmbio com outros sites. Além dos das secretarias e subprefeituras, há o Dicionário de Ruas, o Cidade de São Paulo (mantido pela SPTuris) e o da CET, entre outros. Só que nem tudo é boa notícia. Veja São Paulo testou o novo site e encontrou falhas nas páginas internas (veja o quadro abaixo). A navegação ficou mais fácil, mas há erros para corrigir.



Quarta-feira, 7 de junho de 2006

21 de mar. de 2009

Corredor verde

MEIO AMBIENTE
Trecho da Radial Leste vai ganhar ciclovia e 1564 árvores

Uma nova e bela roupagem pode tomar conta da Radial Leste a partir de janeiro do ano que vem. A prefeitura e o Metrô firmaram convênio que prevê a instalação de uma ciclovia de 12 quilômetros entre as estações Tatuapé e Corinthians-Itaquera, trecho em que os trens trafegam no nível da avenida. Ao longo do percurso serão plantadas 1564 árvores, uma a cada 7,5 metros, em média. Mais de 900 postes vão iluminar o caminho dos ciclistas. Trata-se de um investimento de 9 milhões de reais, que será bancado pela administração municipal. O Metrô cedeu o espaço e desenvolveu o projeto. "Incentivar o uso de bicicletas e arborizar toda a região representa uma mudança de mentalidade", acredita o secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge.

A ciclovia (que se somará aos parcos 30 quilômetros existentes em São Paulo) vai interligar oito estações da Linha Vermelha. Uma delas, a Guilhermina-Esperança, conta com um bicicletário que comporta 100 magrelas. Apenas dezessete pessoas por dia têm utilizado o serviço gratuito. Até janeiro, outros dois devem ser construídos, nas estações Carrão e Corinthians-Itaquera. "O ideal seria termos trinta bicicletários na cidade", diz o secretário estadual dos Transportes Metropolitanos, José Luiz Portella. Não é de hoje, aliás, que o Metrô vem incentivando o uso de bicicletas. Desde fevereiro, é permitido transportá-las nos trens paulistanos aos sábados, domingos e feriados, em vagões determinados.

Durante uma reunião ocorrida no início do mês, os secretários Portella e Eduardo Jorge apresentaram o projeto aos subprefeitos de Aricanduva, Itaquera, Mooca e Penha, cujas áreas serão beneficiadas. A idéia é que o conceito paisagístico aplicado na ciclovia seja repetido em outros pontos da região. "Juntos, vamos pensar na melhor maneira de arborizar toda a Radial, inclusive os canteiros centrais", afirma Jorge. Uma boa notícia para a Zona Leste, que, assim, fica menos cinzenta.


Quarta-feira, 18 de julho de 2007

20 de mar. de 2009

O clube dos escritores

CULTURA
Entre um chá (ou uísque) e uma tertúlia, acadêmicos paulistas querem mudar a imagem de sua instituição

Eleito em fevereiro, o escritor Ignácio de Loyola Brandão acaba de assumir a cadeira 37 da Academia Paulista de Letras (APL) – vaga desde a morte, há sete meses, do poeta Sólon Borges dos Reis. "Mandei uma carta diferente para cada um dos acadêmicos e, acredito, tive muitos cabos eleitorais lá dentro", conta o escritor, sobre a campanha. Como é de praxe nas academias, sua eleição foi combinada antes de os votos irem para a urna. Candidato único, não era a primeira vez que ele flertava com a APL. Quando o jurista Miguel Reale morreu, em abril do ano passado, Loyola cobiçou a cadeira. Foi dissuadido por alguns membros, que o aconselharam a aguardar melhor momento, pois naquela ocasião estava tudo acertado para a eleição do próprio filho do acadêmico, o também jurista Miguel Reale Júnior.

Esse clubinho de literatos, fundado em 1909, é formado pelas mais variadas figuras. Há desde autores conhecidos, como a romancista Lygia Fagundes Telles, o poeta Mário Chamie e o próprio Loyola, até empresários, como Antônio Ermírio de Moraes e José Mindlin. Aos 70 anos, Loyola é o sétimo mais jovem da APL – a média de idade dos membros é de 78 anos. O mais velho é o engenheiro Milton Vargas, 93. Na outra ponta está o ex-secretário estadual da Educação Gabriel Chalita – 37 anos e 42 livros publicados. Chalita garante que não se sente à parte como caçula da turma. "Meus colegas me tratam com muito carinho", diz. "Fico até impressionado como eles sugerem coisas, lêem o que eu escrevo..."

As reuniões da academia ocorrem às quintas-feiras, no 2º andar de um prédio no Largo do Arouche, no centro. Inaugurado em 1955, o edifício foi construído em um terreno doado à APL pelo governo do estado. A instituição ocupa o térreo e três de seus dezesseis andares – no restante funciona a secretaria estadual de Educação, que paga 56 000 reais mensais de aluguel. Um negocião. "É o que nos mantém", afirma o atual presidente da casa, o jurista José Renato Nalini. "Afinal, precisamos arcar com o pagamento de luz, gás, água, correio e dez funcionários." Outra despesa são os jetons: cada acadêmico recebe 250 reais para comparecer aos encontros – o que dá 1 000 reais por mês, caso ele vá todas as semanas. "Alguns dependem disso para os seus gastos pessoais", diz Nalini. "Sabe quanto um escritor ganha de direitos autorais? Os intelectuais vivem com muita dificuldade."

Antes de cada sessão há um chá da tarde. São servidos salgadinhos, canapés, bolos, frutas, sucos e, caso alguém queira, cerveja ou uísque. Bebidas alcoólicas foram introduzidas no menu da casa pelo escritor e jornalista Luís Martins (1907-1981), nos anos 70. "Ele sempre gostou de uísque", lembra sua viúva, a contista Anna Maria Martins, hoje titular da cadeira 7. "Era de um grupo de intelectuais ao qual pertenciam o pintor Lasar Segall, o poeta Vinicius de Moraes e o sociólogo Sérgio Buarque de Holanda." A dois anos de comemorar seu centenário, a academia esforça-se para mudar a imagem de sisuda e inalcançável. Tem a ambição de se transformar em um centro cultural à disposição dos paulistanos. Esse processo foi iniciado em 2005, quando o jurista Ives Gandra Martins assumiu a presidência, e continua na gestão atual. "Quero que a juventude se interesse por leitura, por escrever, por pensar", afirma Nalini.

Quase toda semana ocorrem ali debates e palestras abertos ao público. Entre os temas que foram alvo das tertúlias estão as implicações da filosofia de Friedrich Nietzsche no direito e as obras dos intelectuais Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque de Holanda. Na quinta (19), às 17 horas, haverá um debate sobre meio ambiente. O próximo passo será promover maior acesso à biblioteca, cujo acervo de 100 000 volumes só pode ser consultado por não-acadêmicos com agendamento prévio (3331-7222). "É a maior riqueza da APL", diz Mário Chamie, indicado por seus colegas para disputar o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, na Espanha, cujo resultado sai no meio do ano.

Curiosidades sobre a Academia Paulista de Letras

• Por sessão a que comparecem, os acadêmicos ganham um jetom de 250 reais

• Por mês, a APL recebe 56000 reais de aluguel ­ treze dos dezesseis andares do prédio são ocupados pela Secretaria de Estado da Educação

• A biblioteca, localizada no 3º andar, possui 100 000 volumes

• O acadêmico mais velho é o engenheiro Milton Vargas, com 93 anos. O caçula é o ex-secretário de Educação Gabriel Chalita, com 37

• A média de idade dos quarenta membros da APL é de 78 anos. Três a mais do que na Academia Brasileira de Letras (ABL)

• Ao contrário do que acontece na ABL, os acadêmicos paulistas não usam fardão nas cerimônias de posse


Quarta-feira, 18 de abril de 2007

19 de mar. de 2009

Reclamação de obra à noite sobe 83%

MAPA DO BARULHO

O aumento das obras realizadas à noite está criando um novo mapa do barulho na cidade de São Paulo. Além dos bares e das casas noturnas, atualmente as britadeiras, os caminhões-betoneira e os gritos dos peões também perturbam os paulistanos no horário em que a maioria está dormindo. De acordo com dados do Programa de Silêncio Urbano (Psiu), a média mensal de reclamações de obras noturnas cresceu 83% em relação ao ano passado.

Em 2006, as queixas de moradores incomodados com esse tipo de barulho eram tão poucas que a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras nem sequer discriminava tais dados. No ano passado, foram aproximadamente 110 reclamações por mês. E o número saltou para 199,5 mensais, em média, de janeiro a outubro deste ano - representam 7,17% do total das queixas.

A pedido do Estado, o arquiteto Eliseu Genari, pesquisador de acústica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), mediu os ruídos em 15 pontos da cidade. O resultado mostrou que, durante o dia, o trânsito, os aviões de Congonhas e os gritos na Rua 25 de Março continuam apresentando riscos para as pessoas que permanecem longos períodos nessas áreas. À noite, os problemas são os bares da Vila Madalena e as obras que extrapolam o recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.

Uma possível explicação para o aumento de reclamações de obras à noite é o início, em 30 de junho, das restrições para caminhões durante o dia em uma área de 100 km² dentro do centro expandido. As empresas se viram obrigadas a transferir suas entregas para a noite e, para compensar a falta de materiais durante o dia, muitas empreiteiras começaram a trabalhar de madrugada.

O secretário de Coordenação das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, refuta essa tese. Para ele, foi o aquecimento da economia vivido antes da atual crise que impulsionou o setor de construção civil e levou a essa situação. Em relação à elevada quantidade de reclamações, Matarazzo diz que é um sinal de que o Psiu é eficaz. "Esse número vai continuar alto por um tempo, mas vamos manter uma fiscalização forte para que os estabelecimentos se conscientizem. Aí, sim, reduziremos as queixas", explica o secretário.

De janeiro a outubro deste ano, o Psiu recebeu 37.010 reclamações, número 22% superior ao mesmo período de 2007. A Subprefeitura de Pinheiros é a campeã de queixas, principalmente por causa dos bares das Vilas Madalena e Olímpia. A Prefeitura não detalhou os números pós-restrição a caminhões.

em parceria com Renato Machado.


Domingo, 16 de Novembro de 2008

18 de mar. de 2009

Cheia de galpões, Barra Funda vira novo polo teatral

CULTURA
Alternativos agitam o bairro; curso de Artes Cênicas da Unesp se mudará para a vizinhança nesta semana

Meio-dia de quinta-feira. É o segundo dia de apresentação da peça Quem Não Sabe Mais Quem É, o Que É e Onde Está Precisa se Mexer, da Cia. São Jorge de Variedades. Pelas ruas da Barra Funda, o espanto das pessoas é grande. Os primeiros 15 minutos da encenação ocorrem do lado de fora do teatro, um galpão que há dois anos abriga a sede do grupo e agora, pela primeira vez, é aberto ao público. Na frente do histórico e tradicional Theatro São Pedro, inaugurado em 1917, a atriz Mariana Senne proclama: "Eu não sou Hamlet. Eu não represento mais nenhum papel. As minhas palavras já não me dizem mais nada." Praticamente uma metáfora da nova onda de teatros alternativos que domina o bairro.

Casa de São Jorge, Casa Livre, Grupo Tapa, Casa Laboratório, Galpão do Folias, Balagan, Confraria da Paixão, Casulo Espaço de Cultura e Arte... São pelo menos oito espaços alternativos que, nos últimos anos, ocupam endereços nos arredores da Barra Funda. Todos abrigam estudos e ensaios de suas trupes e boa parte tem aberto as portas para o público em geral. "Não podemos só ficar olhando para o próprio umbigo", comenta Sandro Borelli, diretor do Casulo, aberto em janeiro. "Em abril, devemos ter espetáculos em cartaz."

As explicações para essa "invasão artística" são simples. O bairro é próximo do centro, bem servido por transporte público e cheio de antigos galpões que podem ser aproveitados como espaços teatrais. "É um lugar que vem se revigorando", acredita Cibele Forjaz, diretora da Casa Livre, cujo primeiro espetáculo aberto ao público na sede própria, Vemvai - O Caminho dos Mortos, está em cartaz há pouco mais de um mês. "A gente está lendo umas histórias muito loucas sobre a Barra Funda, como tudo se transformou da chegada do trem ao atual estágio de exploração imobiliária", completa Georgette Fadel, da Casa de São Jorge. "Barra Funda é uma barafunda."

Um dos pioneiros por ali foi o Galpão do Folias. "Na época (em 1998), foi uma escolha circunstancial", explica um dos gerentes do grupo, Carlos Francisco. "Viemos porque nosso galpão era um bom espaço para o tipo de proposta que apresentamos." Há sete anos , a Confraria da Paixão também montou sua sede na Barra Funda. "Tínhamos uma certa relação com o bairro, pois alguns atores moravam por aqui", lembra o diretor, Luiz de Assis Monteiro.

Muitos pretendem se envolver cada vez mais com a comunidade próxima. "Queremos fazer um trabalho de produção de audiolivros, exercitando nosso trabalho vocal, para os cegos da Fundação Laramara, aqui perto", diz Cacá Carvalho, diretor da Casa Laboratório. "Morador da Barra Funda paga 25% do valor do ingresso", divulga Mariana Senne, da Casa de São Jorge.

Soma-se a esses redutos alternativos um dos três endereços da Fundação Nacional de Artes (Funarte) em São Paulo. Na Alameda Nothmann, no vizinho bairro de Campos Elísios, o prédio de 1,2 mil m² passou por uma reforma que durou dois anos e tem um auditório moderno.

Mas a grande novidade no circuito cultural do bairro é a inauguração do câmpus do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp), ao lado da Estação Barra Funda do Metrô. Dentre os cursos oferecidos ali a partir de segunda-feira está o de Artes Cênicas. O prédio tem sete espaços para apresentações: dois teatros, um circo e quatro salas para eventos menores. "Pretendemos abrir ao público em geral", fala o diretor Marcos Pupo Nogueira. "Vamos dialogar bastante com o bairro", diz o coordenador do curso, Wagner Cintra.

ENDEREÇOS

Balagan: Rua Olga, 444; tel.: 3667-4596

Casa de São Jorge: Rua Lopes de Oliveira, 342; tel.: 3824-9339

Casa Laboratório: Conselheiro Brotero, 182; tel.: 3661-0068

Casa Livre: Rua Pirineus, 107; tel.: 3564-3663

Casulo: Rua Sousa Lima, 107; tel.: 3825-2711

Confraria da Paixão: Rua Lopes de Oliveira, 659; tel.: 3667-3497

Galpão do Folias: Rua Ana Cintra, 213; tel.: 3361-2223

Grupo Tapa: Rua Lopes Chaves, 80; tel.: 3662-1488


Domingo, 15 de março de 2009

17 de mar. de 2009

Nos mais tradicionais, nada de pechincha

SOCIEDADE
Harmonia, Paulistano e Pinheiros continuam 'sem crise'

Entre 10 de fevereiro e 13 de março, a reportagem do Estado tentou negociar títulos nos 25 maiores clubes da cidade. Em oito deles, não houve brecha para descontos. No Sociedade Harmonia de Tênis, no Esporte Clube Pinheiros e no Anhembi Tênis Clube nem há títulos disponíveis. O candidato a sócio precisa entrar em uma lista de espera. "Faz quatro anos que não temos títulos à venda", conta o presidente do Esporte Clube Pinheiros, Antonio Moreno Neto. "A cada quatro meses, a gente repõe os eventuais sócios que saem." No último evento do gênero, em dezembro, eram 950 candidatos para 80 vagas. Nesse processo, quem tem parentesco próximo com associados antigos leva vantagem.

Moreno Neto está tranquilo quanto aos efeitos da crise econômica. E usa números para justificar seu otimismo. Todo início de ano, o clube oferece descontos para quem preferir pagar, de uma bolada só, todas as 12 mensalidades. "Em 2008, 24% dos nossos sócios pagaram dessa forma", diz. "Neste ano, pelo momento econômico, esperávamos uma queda. Mas fomos surpreendidos: 26% preferiram quitar assim."


O QUE É PRECISO PARA ENTRAR


Club Athletico Paulistano: Indicação de sete sócios; título:
R$ 150 mil

Sociedade Harmonia de Tênis: Não há títulos à venda - a espera tem 50 nomes. Eles custam de R$ 18 mil a R$ 25 mil. Há uma
taxa de transferência de R$ 93 mil

Clube Atlético Monte Líbano: Indicação de dois sócios e um
conselheiro; título: R$ 105 mil

Sociedade Hípica Paulista: Indicação de dois sócios com mais de cinco anos de clube; título: R$ 90 mil - em oito vezes;
à vista, desconto de 10%

Clube de Campo São Paulo: Indicação de seis sócios; título: R$ 2 mil, mais taxa de transferência de R$ 60 mil, à vista

Clube Hípico de Santo Amaro: Indicação de dois sócios; título: R$ 50 mil - em 12 vezes

Esporte Clube Pinheiros: Não tem títulos à venda. Para entrar é preciso comprar de um sócio que queira sair - o preço varia entre R$ 8 mil e R$ 13 mil - e pagar a taxa de R$ 20.338 ao clube

Esporte Clube Sírio: Indicação de um sócio; título: R$ 32 mil (com a assinatura de dois conselheiros, cai para R$ 6 mil em quatro vezes ou R$ 5 mil à vista)

A Hebraica São Paulo: Indicação de dois titulares, dois diretores e dois conselheiros; título: R$ 31.590 - em promoção, por R$ 17 mil. Para casal com até 30 anos, sai por R$ 8,5 mil

Clube Paineiras do Morumby: Indicação de dois sócios; título:R$ 23 mil - em 14 vezes

Clube Atlético São Paulo: Indicação de um sócio; título:
R$ 10 mil (com taxa de admissão) - em até seis vezes

Anhembi Tênis Clube: Não há títulos à venda. Custam R$ 9 mil. É preciso entrar em uma lista de espera com 40 nomes

Tênis Clube Paulista: Título: R$ 6 mil (individual) e R$ 8 mil (familiar) - em até 16 vezes; à vista, 20% de desconto

Clube Alto dos Pinheiros: Título: R$ 5 mil (individual) e R$ 7,5 mil (familiar) - em até seis vezes

Jockey Club de São Paulo: Indicação de dois sócios; título: R$ 5 mil

Círculo Militar de São Paulo: Título: R$ 3,5 mil (individual) e R$ 7 mil (familiar) - em até dez
vezes; com a diminuição do número das parcelas, o clube
oferece descontos progressivos que chegam a 35,71%

São Paulo Futebol Clube: Indicação de dois sócios; título: R$ 3 mil - em seis vezes

Club Homs: Indicação de dois sócios; título: R$ 2.136 (individual) e R$ 2.700 (familiar)

Clube Espéria: Título: R$ 1 mil (individual) e R$ 2 mil (familiar) - em dez vezes, no cartão

Clube Atlético Juventus: Título: R$ 888 (individual) e R$ 1.328 (familiar) - em 12 vezes

Sport Club Corinthians Paulista: Título: R$ 710 (individual) e R$ 970 (familiar) - em 12 vezes

Esporte Clube Banespa: Título: R$ 517 (individual) e R$ 1.725 (familiar) - em 24 vezes; à vista com 10% de desconto

Associação Portuguesa de Desportos: Título: R$ 430 (individual) e R$ 560 (familiar) - em três vezes

Sociedade Esportiva Palmeiras: Título: R$ 300
(individual) e R$ 500 (familiar) - em duas vezes

Associação Atlética Banco do Brasil: É preciso ser funcionário ou parente de funcionário; título: uma mensalidade - de R$ 46,06 a R$ 155,44

em parceria com Rodrigo Brancatelli.


Domingo, 15 de março de 2009

16 de mar. de 2009

Falta de sócios breca investimentos

SOCIEDADE
De acordo com sindicato, reajustes das mensalidades abaixo da inflação também dificultam melhorias

A dificuldade em conseguir novos sócios tem funcionado como uma bola de neve e engessado os clubes na hora de investir em novidades. Com a perda de 2 milhões de sócios nos últimos anos, nem mesmo a tradição e a história têm sido suficientes para atrair novos interessados. "A manutenção vem sendo feita", pondera o presidente do Sindicato dos Clubes do Estado (Sindiclube), Armando Perez Maria. "O problema é que não sobra para comprar equipamentos e investir em modernização."

Integrantes de clubes tradicionais, como a Sociedade Harmonia de Tênis, nos Jardins, um dos mais exclusivos da capital, já reclamam na internet de que há poucos instrutores na academia e de que a quadra precisa de reformas urgentes. No Club Athletico Paulistano, também nos Jardins, os sócios mais antigos se revoltaram no fim do ano passado quando souberam que o salão nobre abrigaria um show "popular" do sambista Zeca Pagodinho. Em outros lugares, modalidades esportivas mais caras e menos populares podem ser canceladas em prol de atividades mais lucrativas e menos dispendiosas, como natação e academia de ginástica.

De acordo com Perez Maria, há ainda o problema do reajuste das mensalidades - que muitas vezes ultrapassam os R$ 400 e acabam saindo mais caras do que um plano completo em uma academia top da capital. "No início do ano, por exemplo, o Paulistano reajustou em 5% suas taxas de manutenção", conta. "Menos do que a inflação do último ano (de 5,9%)." Pelo raciocínio de Perez Maria, isso significa que cada vez sobra menos para investimentos reais em novidades.

NOVOS SÓCIOS
Há, claro, um grande número de paulistanos que não mede esforços para se filiar aos clubes de São Paulo. Mariana Botelho de Souza, de 36 anos, por exemplo, que trabalha no mercado financeiro, não pensou duas vezes em pagar mais de R$ 20 mil no ano passado para entrar no Esporte Clube Pinheiros. Seus filhos, André, de 11 anos, e Gabriel, de 17, agora mal têm tempo para tantas atividades. "O Gabriel faz academia, natação, além de participar dos eventos e tomar sol na piscina", conta, orgulhosa. "O André gosta de fazer futebol e de ir à natação. Eles ainda estão fazendo amigos, se enturmando."

Mariana e seu marido escolheram o Pinheiros por já conhecerem a estrutura do local. Para eles, nem mesmo as superacademias ou os parques públicos servem de alternativa para quem quer ter a tranquilidade de frequentar um espaço como o Pinheiros. "As academias, por exemplo, por mais que tenham mil atividades, não são voltadas para as crianças", argumenta. "E no clube você pode largar as crianças, sabendo que ali as pessoas têm o mesmo nível. Não é a mesma coisa que soltar no shopping. Ali no Eldorado, por exemplo, tem um ponto de ônibus bem do lado, então mistura, né?"

Para a administradora de empresas Renata Mancini, de 34 anos, a segurança dos filhos também foi o fator mais importante na escolha do clube - há um ano ela integra o quadro de sócios do Paineiras do Morumby. "É como um shopping, mas extremamente mais seguro", diz. "Minhas filhas, Julia e Laura, de 9 e 7 anos, gostam muito de nado sincronizado e o Paineiras é um dos melhores locais para a prática desse esporte. Posso soltar as duas no clube, ir fazer academia e não me preocupar com segurança."

CRISE?
A presidente da Associação de Clubes Esportivos e Sócio Culturais de São Paulo (Acesc), Sileni Monteiro de Arruda Rolla, dá de ombros para a crise. "Com ela, quer lugar melhor para melhorar o estado de espírito que o clube?", afirma a também presidente do Paineiras do Morumby. "O nosso associado faz o seguinte raciocínio: vou cortar o supérfluo, como a viagem de meu filho ao exterior, mas manter a escola e o clube." O presidente de A Hebraica, Raul Sarhan, apela para outros argumentos para cativar os associados. "É preciso lembrar que o clube é uma comunidade, é onde a sociedade se encontra", frisa. Para alguns, o status não tem preço.

em parceria com Rodrigo Brancatelli.


Domingo, 15 de março de 2009

15 de mar. de 2009

Crise faz clubes liquidarem títulos

SOCIEDADE

O diálogo mais parece venda de telemarketing.

- Era caro sim, mas agora está super em conta. O título custa R$ 31.590, mas está em promoção por R$ 17 mil. Quantos anos você tem? Ah, menos de 30 anos! Então sai por R$ 8.500! E dá para dividir também...

Bastam cinco minutos de uma conversa cheia de pontos de exclamação e as facilidades só se multiplicam para quem quer se filiar a um dos mais tradicionais clubes desportivos de São Paulo, outrora reduto da elite paulistana. Tem filhos? A mensalidade ganha desconto. Não conhece ninguém do clube para pedir indicação? Sem problemas, é só dar um pulinho lá no domingo que é possível conseguir facilmente todas as assinaturas necessárias.

Em tempos de crise econômica, de condomínio-clube, de academias que de tão grandes parecem shoppings e do aumento de opções de lazer na cidade, os clubes de São Paulo vivem um momento tão delicado quanto a Bolsa de Valores. A população de sócios chega hoje a 5 milhões de pessoas nos clubes paulistas, mas já foi de quase 7 milhões. O assunto é quase um tabu para a maioria dos dirigentes, uma vez que os clubes dependem muito de seu status. Alguns falam em descontos, outros em desburocratização, outros em pechinchas. Mas a verdade é que, para muitas entidades que precisam retomar urgentemente seus tempos áureos, só falta mesmo a placa de SALDÃO em maiúsculas bem na porta.

"As promoções têm sido constantes, mas não se trata de ?fim de feira?, e sim de reduções para atrair novos associados", afirma Armando Perez Maria, diretor executivo do Sindicato dos Clubes do Estado (Sindiclube). "Eles estão se tornando viáveis para um público maior."

Em maior ou menor grau, a situação é vivida em praticamente todos os 3.562 clubes do Estado - 712 deles na capital. E são essas liquidações que têm conseguido, nos últimos anos, manter estável o número de associados. "Houve uma grande queda, de cerca de um terço dos associados, entre 1995 e 2005", afirma Perez Maria. "De lá para cá, a situação está estabilizada."

A Hebraica São Paulo, por exemplo, cujo título custa normalmente R$ 31.590, está em promoção por R$ 17 mil. Para casal com até 30 anos, sai por R$ 8.500. Barganha parecida acontece no Esporte Clube Sírio: o título, que custa R$ 32 mil, pode ser comprado por R$ 5 mil, caso o novo sócio seja indicado por um dos 120 conselheiros. Já o Clube Atlético São Paulo (SPAC), o mais antigo da capital, está distribuindo flyers na vizinhança para atrair a clientela. Tudo pela sobrevivência.

em parceria com Rodrigo Brancatelli.


Domingo, 15 de março de 2009

14 de mar. de 2009

A Irlanda é aqui. Para devotos de St. Patrick

FESTEJOS
O dia do santo, 'padroeiro' dos bebedores de Guinness, é comemorado no fim de semana em São Paulo, com circuito de cervejas, shows e exposição

Um gole para o santo. No caso, Saint Patrick - ou, em bom português, São Patrício, que viveu entre os anos 386 e 493 -, padroeiro da Irlanda, por tabela padroeiro dos bebedores da cerveja irlandesa Guinness. Cada vez mais o paulistano se rende às comemorações do dia 17 de março, feriado nacional irlandês. "O interesse pela cultura da Irlanda é muito grande em São Paulo, mesmo por pessoas que não têm nenhuma descendência ou mesmo nunca foram ao país", comenta a presidente do Instituto Brasil-Irlanda, Maria Alice Ancona Lopez.

O instituto, aliás, foi fundado no ano passado e integra, pela primeira vez, os festejos do santo na cidade. Serão 34 eventos, sob o rótulo-guarda-chuva de Cara Irlanda. Haverá lançamento de livro (Contos e Lendas da Mitologia Celta, de Christian Leourier), palestras como Dança Irlandesa ou Joyce com Lacan, show e a exposição de arte Obras Recentes, do artista irlandês radicado no Brasil James Concagh.

Mas é a cerveja Guinness que reúne os maiores devotos do santo irlandês. Amanhã e domingo (dias 14 e 15), três vans bancadas pela marca da bebida vão fazer um roteiro por dez bares que integram as comemorações. Haverá dez saídas de cada ponto, entre 19h e 2h. Os participantes são: All Black, Mulligan e O'Malleys, nos Jardins; Drake's e Finnegan's, em Pinheiros; KiaOra e PJ Clarkes, no Itaim-Bibi; Melograno e Republic, na Vila Madalena; e The Joy, em Higienópolis. Quem participar do tour ganha benefícios como a primeira cerveja de graça e desconto de R$ 5 no táxi para voltar para casa - sim, o politicamente correto "se beber, não dirija" e a lei seca não foram esquecidos pelos organizadores.

CONVERTIDOS

Saint Patrick pode ficar tranquilo porque há seguidores fervorosos por aqui. Desses, 52 têm seus nomes numa tabuleta afixada no pub All Black. Um verdadeiro rol da fama. São os que já beberam mais de uma centena de pints - a dose padrão, de 568 ml - de Guinness, como o empresário André Giannobile e o publicitário Daniel Feitosa, de 34 e 32 anos, respectivamente. Amigos que frequentam o pub pelo menos uma vez por semana, religiosamente. "Há uns quatro anos", frisa André.

Daniel foi o primeiro a se converter. "Em 1997, fui morar nos Estados Unidos para fazer um curso", conta. "Cheguei justamente no dia 17 de março. Não entendi o que era aquele monte de gente bêbada, fazendo um verdadeiro carnaval." O santo agiu. E arrebanhou mais um fiel. "Quando voltei ao Brasil, era superdifícil encontrar a bebida por aqui", se recorda. "Eu ia em casas de importados."

O evento é tão importante para o publicitário que ele chega a reservar hotel próximo do bar. "Assim não preciso dirigir de volta para casa e fico mais perto", diz ele, que mora na Vila Matilde. "Além disso, fortalece o ritual. Saint Patrick virou meu santo padroeiro."

CAFÉ E HARMONIZAÇÃO
Em Higienópolis, o restaurante Sal Gastronomia terá, a partir de domingo, harmonização de pratos com cervejas Guinness. A curadoria é assinada pelo mestre cervejeiro da Guinness, Gergal Murray, em recente visita ao Brasil.

E há ainda a opção de saborear o irish coffee, bebida que mistura café, uísque e creme de leite. A opção estará no cardápio de 38 cafeterias brasileiras entre 17 e 27 deste mês, em uma iniciativa apoiada pela Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Em São Paulo, participam duas unidades do Fran's Café e quatro do Suplicy Cafés Especiais.

Mesmo com poucos irlandeses vivendo por aqui - em todo o Estado são cerca de 300, de acordo com o consulado -, São Paulo não vai fazer feio no Saint Patrick's Day. Prepare a camisa verde (a cor oficial da Irlanda).


Sexta-feira, 13 de março de 2009

13 de mar. de 2009

Funcionário animal

BICHOS
Empresas lançam mão de mascotes para descontrair o ambiente

Todos os dias, por volta das 9 da manhã, Maktub fica numa agitação só. O boxer sabe que, quando a publicitária Silvana Tinelli sai para o trabalho, ele vai a tiracolo. Com 7 meses de idade, o cão praticamente integra o quadro de 65 funcionários da agência novaS/B, no Jardim Paulistano. "É o terceiro boxer que convive com a gente nesses dezessete anos da empresa", conta Silvana. "Ele humaniza a agência e nos dá alegria." Maktub tem liberdade para circular e entrar nas salas e, duas vezes por semana, é adestrado por um treinador particular. Ah, sim. Ele não é o único animal que freqüenta o pedaço. Não raras vezes, os jabutis Michelangelo, Felippo, Rafaelli e Luana aparecem de mansinho no meio de reuniões. "Esses bichos fazem com que nos sintamos em casa", diz o publicitário Valmir Leite.

Claro que, para a convivência dar certo, o animal precisa ser saudável e comportado. Sharon, da raça labrador, "bate cartão" na Ricardo Aquino Arte e Design, loja de decoração em Pinheiros. "Ela nunca quebrou nenhuma das minhas delicadas peças", diz o designer Ricardo Aquino. O fotógrafo Alvaro Elkis, que trabalha com dois colegas num estúdio nas Perdizes, é rigoroso com seu golden retriever. "O João não mexe em nada porque sabe que, se derrubar algo, fica para fora." Para a sorte dos que não toleram animais de estimação ou, no máximo, gostam deles desde que bem longe, lá fora, amarradinhos, ainda são poucas as empresas paulistanas que liberam seus corredores para a bicharada. "Estudos comprovam que a presença de mascotes no ambiente de trabalho reduz o stress e a ansiedade dos funcionários", diz o zootecnista Alexandre Rossi, que leva dois vira-latas para o seu escritório em Pinheiros. "Os benefícios para os cães também são enormes, já que eles gostam de fazer parte de um grupo."

A buldogue francesa Pig precisou enfrentar as urnas antes de conviver com os vinte funcionários na sede da fábrica de rações Premier Pet, no Brooklin. "Ela foi aceita por unanimidade", conta Daniela Komatsu, coordenadora de marketing. A empresa batalhou ainda por uma autorização especial da administradora do edifício comercial onde está situada para que a cachorra pudesse entrar e sair todos os dias. Já a advogada e empresária Ruth Vallada, diretora do showroom da fábrica de móveis Clássica Design, no Campo Limpo, encontrou outra maneira de driblar o descontentamento de alguns funcionários. Os vira-latas Spike e Kita ficam entre os móveis do showroom, onde são bem-aceitas e divertem o ambiente. "Lá na fábrica, elas vão pouco. Levo-as para o almoço, no refeitório, em um cantinho que é delas", diz. "Alguns funcionários não gostam muito, mas ninguém chega a reclamar."

Quem decidiu ter uma mascote na empresa não se arrepende. "A Farah até ajuda nas vendas", garante Eneida Bertolucci, sócia da loja de luminárias Bertolucci, na Lapa. "Quando o cliente vem com criança, então, ela se derrete toda." Esse apelo, digamos, comercial dos animais foi bem explorado pela loja de produtos de natação Pro Swim, no Campo Belo. "Há dez anos temos nosso chow-chow na empresa", conta a gerente Mônica Freitas. O cachorro, que alegra principalmente a meninada, estampou o cartão de Natal da empresa e inspirou até um bichinho de pelúcia chamado Chowchinha – um cãozinho estilizado vestindo sunga e óculos de natação.


Quarta-feira, 23 de maio de 2007

12 de mar. de 2009

Aventura ecológica

VALE A VIAGEM
No Parque das Neblinas, a uma hora e meia de São Paulo, dá para fazer trilhas, andar de bike, praticar canoagem ou apenas curtir a natureza

Caminhar pelas trilhas do Parque das Neblinas, no limite entre Bertioga e Mogi das Cruzes, a 115 quilômetros da capital, é refazer os trajetos dos trabalhadores que derrubaram a mata original dali. "Até os anos 50, essa região era intensamente explorada pela indústria do carvão", conta Guilherme Rocha Dias, coordenador do parque. "Quando a área, recuperada, foi aberta à visitação, mantivemos as mesmas trilhas." Adeptos de caminhada ecológica encontram seis opções de rota, todas ladeadas por muito verde e animais silvestres. A mais longa, recomendada apenas para aventureiros experientes, dura quatro horas e oferece uma bela visão da orla de Bertioga.

Na década de 60, a fábrica de papel Suzano comprou terras na área. Encontrou-as devastadas pelos carvoeiros. O objetivo da empresa era plantar eucaliptos para extrair a celulose, sua matéria-prima – o que continua fazendo em lotes próximos ao parque. Em 1988, reservou os arredores do Rio Itatinga para que a Mata Atlântica se recuperasse. Dezesseis anos depois, abriu o Parque das Neblinas, administrado pela ONG Instituto Ecofuturo. Em seus 28 quilômetros quadrados foram catalogadas 226 espécies de aves, 47 de anfíbios, 35 de mamíferos e oito de peixes. Esse trabalho de contagem é feito em parceria com instituições de ensino superior, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade de Mogi das Cruzes.

Todas as atividades destinadas aos visitantes têm foco ambiental. É preciso acordar cedo para apreciar a beleza do parque e ter espírito intrépido. Além das trilhas, dá para praticar canoagem, andar em uma pista de arvorismo e pilotar mountain bike. Entre as opções menos radicais, há oficina de fotografia e um curso que ensina a identificar orquídeas. A entrada é gratuita, mas as atividades são cobradas (os preços variam de 30 a 100 reais por pessoa, conforme o pacote contratado).

Vá preparado. Tudo é muito rústico. O celular, por exemplo, não pega. "Às vezes, recebemos grupos dispostos a acampar no meio da mata", conta a bióloga Michele Martins, que coordena o processo de visitação. "É um acampamento natural, não tem nem banheiro." Para atender os turistas, há uma simpática casa de fazenda, que funciona como sede. Nela, os interessados assistem a um videozinho que conta a história do parque e encontram a estrutura de apoio: guarda-volumes, banheiros e uma cozinha (com fogão a lenha) de onde saem receitas caipiras preparadas por moradoras de Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes.

Parque das Neblinas. Rodovia SP 102, quilômetro 85. Bertioga (SP). 4724-0555. As visitas devem ser agendadas.


Quarta-feira, 9 de julho de 2008

11 de mar. de 2009

Uma leitura do zôo

BICHOS
O biólogo Guilherme Domenichelli antecipa informações que serão publicadas em livro

Elefante bebe água pela tromba? Crocodilo tem lágrimas? Uma sucuri pode mesmo engolir um boi? Não é só para os bichos que o biólogo Guilherme Domenichelli tem olhos e ouvidos quando caminha pelo Zoológico. “As perguntas e comentários mais curiosos que ouço das crianças ficam bem marcados”, diz ele, que trabalha no Zôo desde 2001 – começou como estagiário, quando estava no 3º ano da faculdade. As dúvidas mais curiosas serão respondidas no livro Girafa Tem Torcicolo?, que deve ser lançado no mês que vem pela Panda Books.

Domenichelli cultiva desde pequeno o hábito de compilar informações instigantes do mundo animal. Aos 9 anos, adorava passear no sítio do avô, em São João da Boa Vista, onde passava horas observando a natureza. Depois, pesquisava sobre a vida dos animais em livros e anotava num caderninho.

“Tudo que eu sabia, colocava lá. Tenho-o guardado até hoje”. O livro, de certa forma, é uma versão bem-acabada desse seu caderno – com a diferença de que agora quem escreve é um biólogo do Zôo, e não um menininho curioso.

Bastante comunicativo, desde agosto Domenichelli apresenta o programete Passeio Animal, quadros de 5 minutos distribuídos ao longo da programação da TV Rá-Tim-Bum. A experiência tem lhe rendido uma certa fama entre a criançada. É comum que ele seja reconhecido como “o tio da televisão”, quando circula pelo Zôo. E, óbvio, acaba virando alvo de novas inquietantes perguntas. Por que urubus não têm penas na cabeça? “Não é doença, como muitos pensam”, explica. “Trata-se de uma adaptação. Como come carniça, se ele tivesse penas, se sujaria todo. E não teria como se limpar, atraindo moscas.” As girafas deitam para dormir? “Nunca. Dormem em pé. No máximo, dobram as pernas e se apóiam sobre elas. Cabeça encostada no chão é sinal de que está doente.” Qual a diferença entre cágado, tartaruga e jabuti? “Todos são répteis quelônios. Mas a tartaruga, em geral, vive no mar; os cágados em água doce; e os jabutis são terrestres.”

Nos fins de semana, é comum que aceite convite de amigos e familiares para passear – adivinhe! – no Zoológico. “Não tem jeito. Acabo virando o monitor da turma”, resigna-se, bem-humorado. E dá-lhe perguntinhas. Por que cobras e boa parte dos lagartos mostram a língua? Não é sinal de má-educação. “São animais que sentem o cheiro pela língua. Captam o odor do ambiente e levam para um órgão no céu da boca”, afirma. Qual a diferença entre camelo e dromedário? Essa é fácil. “A principal é o número de corcovas. Camelo tem duas; dromedário, uma.” E entre crocodilo e jacaré? “Os primeiros têm focinho longo e estreito. Nos jacarés, o focinho é curto e arredondado.” Foca ou leão-marinho? “A principal diferença é que, fora da água, a foca não consegue se apoiar nas nadadeiras dianteiras e, ao contrário do leão-marinho, anda se arrastando.”

Animado com a estréia no mundo dos livros, Domenichelli já prevê novos títulos sobre o mesmo tema. “Tenho me preocupado em anotar mais os comentários que ouço”, revela ele, que mantém em sua casa, em Santo André, um rottweiler, 12 periquitos australianos, 13 tartarugas e 3 jabutis.

E, para ninguém reclamar de pergunta sem resposta: 1) A tromba do elefante é um prolongamento do nariz. Pode sugar até 8 litros de água – que depois será esguichada na boca ou no corpo; 2) Quando mastigam, crocodilos e jacarés pressionam as glândulas lacrimais; por isso o “choro falso”; 3) Sucuris realmente expandem muito o maxilar, mas não o suficiente para engolir um boi – no máximo, um bezerro. E o torcicolo das girafas? “Em cativeiro, acontece. Quando sedamos uma para fazer algum exame, é necessário acomodar o pescoço direitinho. Senão, vai ficar dolorido quando ela acordar.”


Segunda-feira, 20 de outubro de 2008

10 de mar. de 2009

O engenheiro especializado em Jardins

PAULISTÂNIA
Alexandre de Souza Lima se tornou o construtor preferido do miolo nobre – e caro – de SP

Pelo menos uma vez por semana, o engenheiro civil Alexandre de Souza Lima deixa seu carro em um estacionamento na Rua Sarandi e ziguezagueia, a pé, mais de 4 quilômetros pelos Jardins. Não é um passeio qualquer. Durante 40 minutos observa atentamente os imóveis das Ruas Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra e Alameda Lorena, entre outras. “Ando sempre pelas quadras mais nobres”, ressalta. A semelhança entre ele e os milhares de endinheirados que percorrem – e consomem – nesses luxuosos endereços paulistanos para por aí.

O tour semanal de Alexandre é estritamente profissional. Dono da construtora Souza Lima, boa parte de seus clientes está ou pretende estar nos Jardins. “Muitos me procuram ainda antes de terem o ponto”, explica. “Então fico de olho nas lojas, vejo se tem alguma com indícios de que vai fechar... Preciso saber o que funciona em cada rua.”

Sua estratégia dá certo. Aos 35 anos, se orgulha de ser o engenheiro que mais toca obras nos Jardins. “Nos últimos três anos, foram mais de 80 imóveis nessa região”, conta ele. Atualmente, há três em construção por ali – dentre as 16 em andamento pela construtora, no total. São marcas importantes do miolinho nobre paulistano, que renderam a Alexandre o epíteto de “engenheiro das grifes”: as lojas Le Lis Blanc, Fause Haten, Carlos Miele, Zeferino e Sacada, entre outras. E o Espaço Santa Helena, a Chocolat Du Jour...

Sua construtora, fundada em 1996, quando ele ainda era estudante, acumula no currículo mais de 500 obras. Noventa por cento, na capital paulista. Vão de unidades da marca de cosméticos Anna Pegova a restaurantes como A Bela Sintra, Café de La Musique, Tahitian Noni, o tradicional Pandoro – sua reconstrução – e o recém-inaugurado Le Bouteque, de Erick Jacquin e Evandro Andreoni.

PRIMEIROS PASSOS

Alexandre não é desses predestinados, que ainda crianças demonstram aptidão extraordinária para esta ou aquela vocação. Decidiu cursar Engenharia na hora do vestibular. “Me preocupava com o futuro, em como iria sobreviver”, admite. “Tinha dúvidas entre Direito e Engenharia.” Ele afirma que o namoro o ajudou a tomar gosto pela profissão. “Conheci uma menina, que hoje é minha mulher (a médica Cristina), filha de um engenheiro. Passei a ver mais de perto e a gostar da área.”

Em 1995, participou do concurso Jovem Cientista com uma discussão sobre o desperdício na construção civil. Sua monografia fugia do lugar-comum. “Falava-se muito que a cada oito prédios que se constrói, dois se perdem em desperdício”, lembra. “Quis mostrar que o prejuízo é muito maior em outras coisas que ninguém tratava, como os encargos burocráticos.” Ganhou o prêmio. Recebeu uma homenagem em Brasília e almoçou com o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.

Seu estudo foi publicado, no mesmo ano, pelo Sindicato da Construção Civil de Grandes Estruturas no Estado de São Paulo (Sinduscon). O livreto chama-se Redução de Custos na Construção Civil: Uma Visão Mais Ampla. “Passei a ser convidado para dar diversas palestras sobre o assunto”, conta.

PASSOS MAIORES

A Souza Lima nasceu em 1996. “Era apenas eu e um peãozinho”, lembra Alexandre, que hoje emprega 60 funcionários internos e gera de 400 a 450 empregos indiretos – chega a conduzir 20 obras simultâneas. “No começo a gente dava muita manutenção. Eu ligava para os caras e fazia o que tinha, desentupimento, esses servicinhos.” Foi graças a um desses servicinhos que ele conseguiu conquistar o primeiro grande cliente.

Era verão, entre 1996 e 1997. O problema estava na primeira sorveteria Parmalat de São Paulo, em plena Rua Oscar Freire. “Ligaram para mim desesperados”, conta. A máquina de sorvete da empresa tinha uma serpentina na qual passava água fria para resfriá-los. “A água entrava e era jogada fora, limpinha.” Eles tinham um reservatório com 20 mil litros de água e pediram para que Alexandre bolasse um sistema para 30 mil litros. “Achei um absurdo e propus a instalação de uma bomba para reaproveitar a água”, relata. “Disse a eles: vocês vão reduzir a conta de água, ficar ecologicamente corretos e nunca mais terão problema.”

A reação imediata não foi das melhores. Ficaram meio reticentes com a petulância daquele jovem engenheiro. “Se não der certo, vocês não me pagam”, disse Alexandre, num xeque-mate certeiro. O sistema funcionou, ele embolsou os R$ 7,5 mil acordados e ainda faturou a confiança do cliente. “Fiz mais de 30 sorveterias do grupo no Brasil.” Uma coisa puxa a outra e Alexandre passou a ser contratado para pequenas unidades de outras marcas voltadas para praças de alimentação. Depois restaurantes. E, sim, lojas de grife. Boa parte delas, nos Jardins. Tudo planejado. “Eu queria ser a empresa de referência na execução dessas obras de alto padrão”, garante. “Você não imagina o quanto o pessoal gasta por ali. Por menos de R$ 3 mil o m² não se constrói nos Jardins. Tem loja que custou R$ 15 mil o m²”.

PASSOS TRANQUILOS
Paulistano de nascimento, Alexandre foi criado na Granja Viana, em Cotia. Aos 16 anos se mudou com a família para o bairro do Morumbi. Sempre viveu em São Paulo. Cursou Engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Há oito anos se casou e foi morar no Real Parque. Adora esportes. “Pratico wakeboard uma vez por mês, na represa de Piracaia, onde tenho uma casa. E assino esses pacotes para assistir a todos os jogos de futebol pela TV”, diz ele, que, a propósito, é palmeirense. Mas, desde que seu filho Felipe nasceu, há pouco mais de um ano, se tornou principalmente pai no tempo livre. “Brinco com ele antes de vir para o trabalho e antes de dormir”, conta. “E, nos fins de semana, procuro sempre ir a lugares que sejam bons para crianças.”


Domingo, 8 de março de 2009

9 de mar. de 2009

Parques Cidade de Toronto e da Água Branca também já tiveram problemas nos lagos

AMBIENTE

Quando olha para o lago do Parque Cidade de Toronto, do qual é frequentador assíduo, o aposentado Benedito de Souza acha pequeno o acidente no Parque da Aclimação. "Aqui foi muito mais grave", afirma ele, que mora na região há 30 anos e acompanhou o surgimento do parque, inaugurado em 1992.

O Cidade de Toronto ocupa 110 mil m² no bairro de Pirituba, zona oeste da capital. Setenta por cento do terreno seria ocupado pelo lago, mas parte do espaço se transformou em um brejo, coberto por matagal. Ainda nos anos 90, o vertedouro que estabilizava o nível de água começou a se romper. Frequentadores notavam o nível da água baixando. Em 2003, dois anéis de concreto foram instalados e o nível da água subiu. Três anos depois, vândalos abriram fenda em uma comporta que represa a água. "Das 2 às 5 da tarde, a água levou embora tudo quanto era peixe", lembra Souza.

De acordo com Hélio Neves, chefe de gabinete da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, o brejo formado em parte do lago será mantido. "Os animais, como preás e aves, se adaptaram ao espaço", justifica.

Entre 2002 e 2007, os dois tanques de carpas do Parque da Água Branca secaram. O motivo teria sido a construção de um edifício que teria afetado o lençol freático , conforme apurou o Ministério Público estadual, na época.


Quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

8 de mar. de 2009

Projetos de leitura crescem no País

EDUCAÇÃO
Em dois anos, mais do que triplicou o número de iniciativas no Brasil que facilitam acesso da população ao livro

Eles sabem que metade da população adulta é analfabeta funcional, que os brasileiros não leem nem dois livros por ano e que os estudantes estão entre os piores do mundo em testes de leitura. Mesmo assim, contrariando uma realidade preocupante, uma série de pessoas sozinhas, organizações não-governamentais e mesmo municípios e Estados estão multiplicando projetos de incentivo à leitura pelo País. Dados do Programa Nacional do Livro e Leitura (PNLL), dos Ministérios da Cultura e da Educação, mostram que o número de projetos cadastrados saltou de 162 em 2006 para quase 600 em 2008.

A última edição do Prêmio Vivaleitura, por exemplo, teve 1.899 projetos inscritos de todos os Estados, tanto das capitais quanto dos pequenos municípios do interior do País. São bibliotecas em casas de palafita na região amazônica, nas garagens da periferia de grandes cidades, no lombo de animais, nos carrinhos de catadores de papel, no porta-malas de carros, em ônibus adaptados. Vizinhos que se unem e criam grupos de leitura, professores que criam modelos pedagógicos para serem usados extraclasse, redes de ensino que reformularam seus programas.

“A principal característica deles é que boa parte envolve um alto grau de voluntariedade e criatividade”, afirma Jefferson Assumpção, coordenador-geral de Livro e Leitura do Ministério da Cultura. “Apesar de haver muitos geridos por governos e empresas, geralmente os projetos são criados por pessoas que se sentem modificadas pela leitura, que desenvolvem uma profunda relação com os livros e que querem levar isso para os outros”, diz.

Em Alto Alegre do Pindaré, uma cidade maranhense com menos de 30 mil habitantes, um jegue circula pelas ruas de terra carregando bolsas cheias de livros. Senhoras, crianças e adultos formam fila para emprestar até dois exemplares por vez, todas as semanas. Em Florianópolis, uma moradora do bairro da Lagoa da Conceição construiu uma biblioteca dentro de um barco para que pudesse emprestar livros para várias comunidades, inclusive as de difícil acesso - o projeto hoje é coordenado por uma ONG chamada Sociedade Amantes da Leitura.

“O essencial em um projeto é possibilitar que a biblioteca saia do prédio fechado e chegue até as pessoas”, diz Lourdes Atiê, coordenadora pedagógica do Prêmio Vivaleitura, uma iniciativa criada há três anos pelos Ministérios da Educação, da Cultura e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI), com patrocínio da Fundação Santillana. “Depois disso, precisam pensar não apenas em distribuir os livros, mas em ajudar para formar um leitor autônomo. A universidade precisa dialogar com a comunidade, a escola precisa atrair o interesse do seu aluno e a sociedade deve ajudar a ter canais entre pessoas e livros.”

EM VEZ DE LIXO, LIVROS
“Ler e brincar, é só começar”, reza o lema de um projeto na Liberdade, região central de São Paulo. A cada duas semanas, sempre às terças-feiras, uma carroça de catadores de lixo sai da sede da Associação Maria Flos Carmeli, na Rua do Glicério, e estaciona no pátio da Igreja Nossa Senhora da Paz, a poucos metros dali. Em vez de lixo, a carroça fica carregada de livros. Poucos minutos depois, está rodeada de crianças, na maioria alunos da escola municipal que funciona ali pertinho, atentas às histórias contadas pelo jovem Fábio Pereira de Abreu, de 29 anos.

E quem é esse sujeito, capaz de cativar as crianças com livros? Paulistano da Vila Brasilândia, zona norte da capital, ele já tinha trabalhado como contínuo, auxiliar de expedição e em uma lan house, até conhecer a associação. Acabou contratado como monitor de informática. Há um ano, foi convidado pela coordenadora pedagógica da ONG, Silvana do Nascimento, para fazer um teste de mediação de leitura. Ele nem sabia muito bem o que era isso, mas já adorava crianças. Sua experiência anterior em algo parecido eram as peças teatrais que ele encenava com os colegas em uma igreja na Vila Brasilândia, quando adolescente.

Fábio foi aprovado. “Sou fascinado por criança”, não se cansa de afirmar. “É preciso ter um cuidado especial para ler para elas. Comecei utilizando fantoche, depois fui criando fantasias que tinham a ver com as histórias.” Foi assim quando leu A Casa Sonolenta, de Audrey Wood, sobre um lugar em que todos viviam dormindo. “Coloquei pijama e pantufas”, lembra. Foi um sucesso.

Depois disso, a cada história, inventava uma fantasia. Vestiu-se até de galinha. “Ler para as crianças é o que mais gosto de fazer”, conta. “Quando estou fantasiado, elas ficam em dúvida se sou eu mesmo”, diz. Ao se preparar para contar Os Três Lobinhos e o Porco Mau, de Eugene Trivizas, no dia 2 de dezembro, resolveu inventar uma espécie de personagem-coringa. “Transformei-me no ‘Palhaço das Histórias’”, diz. Ele pretende repetir o personagem em outras sessões.

A carreira de contador de histórias mudou a rotina de Fábio. Ele, que não tinha o hábito da leitura, agora devora oito obras por semana - todas infantis. “Não sabia nada de literatura infantil”, revela. “No começo, a coordenadora pedagógica da associação era quem indicava os títulos que devia ler.” Tomou tanto gosto pela coisa que acabou entrando no curso de Pedagogia, na Uninove.

E de onde veio a ideia de levar os livros nessas carroças? “As crianças que atendemos aqui na associação (cerca de 90, de 3 a 6 anos) são, em sua maioria, filhos de catadores de material reciclável”, explica a coordenadora pedagógica, Silvana do Nascimento. Quem leva a carroça até o pátio, a cada 15 dias, é um carroceiro profissional, pai de algumas das crianças atendidas.

O acervo da ONG é formado, principalmente, por livros recebidos em doação. São 1,8 mil títulos. A cada evento, a carroça leva 400 deles. Os livros podem ser emprestados pela criançada - em média, são retirados 82 por mês -, que se compromete a devolver na quinzena seguinte. “As crianças cuidam bem dos livros”, se orgulha Fábio. “Até hoje, perdemos apenas dois exemplares.”


NÚMEROS

4,7 livros
é a média de leitura anual da população brasileira, incluindo a Bíblia e livros didáticos e técnicos, segundo pesquisa feita no ano
passado com adolescentes e adultos pelo Instituto Pró-Livro

1,3 livro
é o número de obras que os brasileiros leem por ano por vontade própria, sem ser obrigados por escolas ou universidades

1,1 livro
é o número de obras que as pessoas compram por ano

39% dos leitores
brasileiros têm até 17 anos, ou seja, estão em idade escolar e leem livros indicados pela escola; 14% têm entre 18 e 24 anos, idade
compatível com ensino superior

em parceria com Simone Iwasso e José Luis da Conceição.


Domingo, 4 janeiro de 2009

7 de mar. de 2009

O primeiro tango na Berrini

DANÇA
Evento de rua que deve começar a partir de amanhã será semanal

Carlos di Sarli, Francisco Canaro, Osvaldo Pugliese, Anibal Troilo... O paulistano que está familiarizado com esses nomes certamente vai adorar. Quem nunca os ouviu terá a chance de conhecer a obra deles e de outros mestres do tango em evento gratuito e aberto na tarde de amanhã – se não chover. Às 17 horas, a Praça General Gentil Falcão – que fica na altura do número 1.000 da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin – será transformada num verdadeiro salão de dança. O programa, organizado por um grupo de apaixonados pelo estilo musical argentino, deverá se repetir semanalmente.

“No ano passado, eu viajei para a Europa e vi como esse tipo de coisa é muito comum por lá”, afirma o advogado Jairo Braz de Souza, de 65 anos, um dos idealizadores do projeto, batizado de Tango na Rua. Entre outros lugares, a prática acontece no Largo do Carmo, em Lisboa, Portugal, e no Hyde Park, em Londres, na Inglaterra. Além, é claro de Buenos Aires, capital argentina e capital mundial do tango. “Queremos mostrar para as pessoas que o tango é viável. Exige um certo preparo e paciência, mas não é impossível de ser aprendido”, completa o advogado, que se dedica à dança há três anos.

Outra “fãzaça” do estilo é a psicóloga Virgínia Hollaender, de 63, que começou a dançar como consequência de sua profissão. “Há uns 13, 14 anos, quando abri meu consultório, notei que muitas pessoas recém-separadas tinham dificuldades para refazer sua vida”, lembra. “Resolvi promover alguns bailes para dar a oportunidade a eles de se conhecerem.” O primeiro desses eventos aconteceu em 1995.

No começo ninguém arriscava passos de tango. Até que, no mesmo ano, a psicóloga resolveu acompanhar um festival de dança no Rio e lá conheceu um casal de argentinos. “Convidei-os para dar um workshop de tango ao meu pessoal daqui”, conta. “Me entusiasmei e também aprendi.” Virgínia se transformou em uma grande divulgadora do gênero. Organizou pelo menos 14 excursões para Buenos Aires com o objetivo de mostrar aos paulistanos a beleza do tango. A psicóloga continua acreditando que a dança ajuda a aproximar as pessoas. Foi em um baile, aliás, que ela conheceu seu terceiro e atual marido. Mas não, não era de tango. “Depois ele aprendeu comigo e hoje também dança”, afirma.

Os organizadores do evento esperam receber pelo menos 200 pessoas. Estima-se que, dentre os 4 mil paulistanos que praticam assiduamente algum tipo de dança, cerca de 300 se dediquem ao tango. “A maior parte está na faixa dos 40, 50 anos, mas já têm aparecido alguns praticantes com cerca de 25 anos”, afirma o jornalista Milton Saldanha, de 63 anos, proprietário do jornal Dance, especializado no tema, que há 15 anos circula gratuitamente nas escolas de dança. Na Grande São Paulo, há 120 academias de dança – quase todas oferecem a modalidade, mas apenas uma, na Vila Mariana, é especializada exclusivamente em tango. “É um mundo ainda muito pequenininho”, admite Saldanha.

Para quebrar qualquer preconceito dos mais jovens, a arquiteta (por formação) e professora de tango (por opção) Juliana Maggioli estará amanhã na praça. Aos 25 anos, recém-graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, ela decidiu transformar o hobby em profissão. “Dou aula em três academias e tenho cinco alunos particulares”, diz. “Durante o Tango na Rua, quero ajudar as pessoas que estão começando a dançar. E contrariar o mito de que o tango é algo ultrapassado e para velhos.”


Sábado, 7 de março de 2009