31 de jan. de 2009

Multa barata e impunidade facilitam abusos

SUJEIRA NAS ESTRADAS
No ano passado, apenas 37 infratores por mês, em média, foram punidos com a taxa de R$ 85,13

Todo mundo que passa pelas rodovias já deve ter testemunhado algum engraçadinho jogando lixo pela janela. Provável também que dificilmente saiba de alguém que tenha sido multado. A explicação é simples: são raríssimos os casos em que a polícia consegue penalizar um porcalhão das estradas.

A Polícia Militar Rodoviária – que atua em rodovias estaduais, um total de 22 mil quilômetros – e a Polícia Rodoviária Federal – a quem compete fiscalizar as federais, que em São Paulo representam mil quilômetros – informaram ao Estado o número de punidos por atirar lixo nas estradas no decorrer do ano passado. No primeiro caso, a média mensal ficou em 29 multas por mês, considerando os dados até outubro, já que os do último bimestre ainda não estavam consolidados. Os policiais federais autuaram, mensalmente, oito motoristas. Um total de 37 multas por mês, em média.

“É um absurdo. Nunca soube que alguém foi multado por causa de lixo”, diz Odair Tafarelo, gestor de Atendimento da AutoBAn, concessionária do Sistema Anhanguera-Bandeirantes.

Os policiais se defendem. “Há uma dificuldade de constatação”, explica o tenente André Nogueira, chefe do Setor de Controle de Autuações do Comando de Policiamento Rodoviário da Polícia Militar. O chefe de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal, inspetor Edson Varanda, concorda que o número de punições é baixo pelo tamanho do problema. “Mas é difícil de detectar, afinal um motorista nunca faz isso na presença de uma viatura”, argumenta. “E não temos condição de colocar uma viatura a cada quilômetro.”

De acordo com o artigo 172 do Código de Trânsito Brasileiro, é infração média “atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias”. O motorista que fizer isso está sujeito à multa de R$ 85,13 e à perda de quatro pontos na habilitação.

Na opinião do advogado Cyro Vidal Soares da Silva, presidente da Comissão de Assuntos e Estudos Sobre Direito de Trânsito da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP) e ex-diretor do Detran, só com punições severas os porcalhões deixarão de sujar as rodovias. “O único meio com o qual se consegue uma certa disciplina é aplicando multa”, diz. Ele defende um aumento no valor da punição. “E a multa deveria passar de média para grave ou gravíssima, com o veículo recolhido para inspeção”, defende. “Aí quero ver o cidadão se arriscar a jogar uma latinha pela janela do carro.”

Há países em que a pena é bem mais rigorosa para quem comete tal infração. Em Cingapura, a multa é de US$ 630 e dobra em caso de reincidência. O sujeito ainda é obrigado a assistir a vídeos educativos e a passar um dia prestando serviços como gari.


Domingo, 18 de janeiro de 2009

30 de jan. de 2009

Parcerias com ONGs garantem reciclagem

SUJEIRA NAS ESTRADAS

Está na reciclagem a saída para a montanha de lixo retirada diariamente das estradas. Boa parte das concessionárias mantém parcerias com ONGs e cooperativas de reciclagem para que o lixo recolhido nas rodovias tenha um fim ecologicamente correto.

É o caso do Instituto Recicle, ONG que desde 2006 realiza projetos com a Ecovias, concessionária responsável pelo Sistema Anchieta-Imigrantes. “Sensibilizamos os moradores do entorno das rodovias para que não joguem lixo na estrada, levamos teatro educativo às crianças e ensinamos adultos a reaproveitar o lixo, transformando, por exemplo, papel em artesanato”, explica a coordenadora de Gestão Ambiental da ONG, Edilane Nogueira.

As 147 toneladas de lixo recolhidas mensalmente pela Ecovias passam por triagem. A concessionária encaminha o que é reciclável para quatro cooperativas. É uma iniciativa comum a boa parte das empresas que operam em São Paulo. “Todo dia recebemos dois caminhões carregados de lixo coletado nas estradas”, confirma Oscar Vieira Neto, coordenador da Cooperativa Renascer, de Tatuí, parceira da concessionária SPVias há dois anos.


Domingo, 18 de janeiro de 2009

29 de jan. de 2009

Por mês, 900 caminhões de lixo são retirados das rodovias paulistas

SUJEIRA NAS ESTRADAS
Detritos aumentam o risco de acidentes, prejudicam a drenagem das pistas e causam mortes de animais

Todos os meses, as concessionárias que administram 4,3 mil quilômetros da malha rodoviária paulista retiram cerca de 900 caminhões cheios de lixo das estradas. O levantamento, realizado pela Agência Reguladora de Transporte (Artesp) a pedido do Estado, dá uma ideia do tamanho do problema causado por porcalhões que, ao viajar, parecem se esquecer de levar a civilidade junto com as malas.

“Nesta época do ano, por causa das férias, recolhemos 20% a mais de lixo”, revela Artaet Martins, assessor de Qualidade, Meio Ambiente e Responsabilidade Social e Empresarial da Ecovias. A média mensal de detritos retirados das estradas pela concessionária, que administra as rodovias Anchieta e Imigrantes, é de 147 toneladas – 30% a mais do que dois anos atrás.

A Artesp recebe relatórios de atividades das 12 concessionárias que atuam no Estado de São Paulo. Um dos itens que aparece nesse material é a quantidade de lixo recolhido. Não há uma padronização – metade das empresas informa em volume, metade em peso, o que impossibilita uma estatística total consolidada. A média mensal de 2008, nas rodovias paulistas sob concessão, foi de 406,87 toneladas e 3.874,57 m³.

De acordo com a Ecovias, o perfil de quem suja as rodovias mudou. “Há dois anos, 60% da sujeira era depositada por moradores de comunidades próximas”, diz Martins. Assim, no acostamento era comum que fossem encontrados móveis velhos e detritos domésticos. “Hoje, a maior parte do lixo é jogada por ocupantes de veículos.”

As consequências podem ser desastrosas. “O lixo acumulado aumenta o risco de acidentes e obstrui a drenagem das rodovias”, explica Odair Tafarelo, gestor de Atendimento da AutoBAn, que administra as rodovias Anhanguera e Bandeirantes. Há ainda um efeito colateral: a morte de animais. “São atraídos pelos odores de restos de comida e acabam atropelados”, conta Martins, da Ecovias. “Em 2006, eram 120 animais mortos por mês no Sistema Anchieta-Imigrantes. Hoje são 190.” Desses, 80% são cães.

Pelo lado das concessionárias, há ainda um ônus financeiro. “Só para recolher o lixo diariamente gastamos R$ 350 mil por mês”, diz Martins. “Investimos R$ 70 mil por mês na limpeza das rodovias”, afirma Antonio Mozelli, gerente de Conservação Rodoviária e Meio Ambiente da SPVias, que administra 516 quilômetros em trechos das Rodovias Castello Branco e Raposo Tavares, entre outras.

Esse caro trabalho precisa ser constante. “Pelo edital da concessão, temos a obrigação de manter a rodovia bem conservada”, explica Mozelli. A SPVias divide sua malha viária em seis lotes, para organizar a operação. Em cada um deles ficam oito funcionários de limpeza e um caminhão. O lixo recolhido é depositado em pontos chamados por eles de “unidades de conservação”. “Ali fazemos uma pré-seleção, separando o que é reciclável e o que vai para lixões”, diz Mozelli.

Cinco caminhões e 58 funcionários cuidam da limpeza do Sistema Anhanguera-Bandeirantes. “Os agentes catam o lixo e acondicionam em sacos plásticos que ficam na beira da rodovia. Em seguida passa um caminhão e recolhe”, conta Tafarelo, da AutoBAn. Os detritos ali recolhidos são encaminhados para dois lixões – um no km 33 da Rodovia dos Bandeirantes, outro em Limeira.

A Ecovias divide seus funcionários em duas equipes: uma mais próxima do litoral e outra mais perto da capital. Cada grupo conta com 40 pessoas. “O lixo é recolhido e vai para uma central de resíduos onde a gente faz a primeira triagem”, relata Martins. “Temos parcerias com quatro cooperativas de reciclagem em São Bernardo do Campo e Diadema e mandamos esse material para lá.”

A malha rodoviária paulista sob concessão responde por 68% dos deslocamentos intermunicipais no Estado. A Secretaria dos Transportes não tinha dados consolidados sobre o lixo recolhido nas outras rodovias.


Domingo, 18 de janeiro de 2009

28 de jan. de 2009

A face afro de um bairro italiano

SOCIEDADE
Livro recém-lançado resgata a origem do Bexiga e mostra a importância da população negra em sua formação

Reconhecido como uma pequena Itália dentro de São Paulo, o bairro do Bexiga recebeu grandes levas de ex-escravos. "É um pedaço da África", definia reportagem do jornal Correio Paulistano em 1907. Este viés poucas vezes abordado é tema do livro Bexiga - Um Bairro Afro-Italiano (Editora Annablume, 107 páginas, R$ 20,00), recém-lançado pelo jornalista e professor universitário Márcio Sampaio de Castro.

Não é de hoje que o assunto chama a atenção de Castro. "Sou de família negra e meu pai foi criado no Bexiga. Isso sempre me intrigava, pois para mim ali era bairro de italianos", conta. Ele debruçou-se sobre o tema durante o seu mestrado, na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em 2006. O livro recém-lançado é consequência dessa pesquisa.

REDUTO AFRO
De acordo com o jornalista, houve dois momentos em que a população negra se instalou ali. "No início do século 19, a região às margens do Córrego Saracura foi ocupada por um quilombo", afirma. O córrego passava onde hoje é a Avenida 9 de Julho.

Os escravos refugiados viviam no mesmo local em que, atualmente, funciona a escola de samba Vai-Vai. "Isso foi tão forte que até os anos 60 ali era conhecido como quadrilátero negro ou pequena África", exemplifica.

Nessa época, a região ainda era só pasto e mato. O bairro do Bexiga nasceu, oficialmente, em 1878, quando o proprietário rural Antônio José Leite Braga começou a lotear suas terras - o imperador Dom Pedro II chegou a lançar a pedra fundamental de um hospital para o novo bairro, mas a obra nunca saiu do papel.

Uma outra leva populacional negra veio para São Paulo no final do século 19. Libertados, os ex-escravos saíram das fazendas e acabaram se instalando nos endereços preteridos pelos paulistanos.

"Enquanto no Rio, essa população foi para os morros, aqui ela procurou as regiões de várzea, de baixadas", explica Castro. Como eram áreas que sofriam constantemente problemas de alagamento, não tinham valor imobiliário. Os negros acabaram indo para o Bexiga, o Cambuci, a Barra Funda e a Casa Verde, sempre às margens de córregos.

Ao mesmo tempo, a capital paulista recebeu os imigrantes italianos. Motivados pelo barato preço dos lotes, os calabreses acabaram se estabelecendo no Bexiga. "Os terrenos custavam pouco e cabiam no bolso dos imigrantes", justifica o pesquisador. "O calabrês veio com a ideia de ser independente, montar seu próprio negócio."

O bairro ficou conhecido como reduto italiano. "Procurou-se construir a ideia de uma São Paulo mais europeia. Assim não interessava ter uma associação com a negritude", acredita Castro. "Os negros passaram a ser vistos como atraso. A mídia ajudou nesse processo."

Graças a algumas manifestações culturais, a herança negra sobreviveu. É o caso da escola de samba Vai-Vai, que ocupa o espaço que 200 anos atrás foi quilombo. Ela foi criada em 1930, como dissidência do grupo carnavalesco Cai-Cai.

E também da Pastoral Afro da Paróquia de Nossa Senhora da Achiropita, criada em 1988, quando se comemorava o centenário da Abolição dos Escravos. "Nosso objetivo é resgatar as tradições dos negros católicos", afirma a enfermeira Valéria do Carmo Silva, uma das coordenadoras da pastoral.Dos 30 integrantes, poucos são negros - ela é. "São dois orientais, quatro brancos, oito negros... O resto é mestiço", conta.

Conhecida por sua tradicional festa italiana, a Achiropita com sua pastoral afro é o retrato mais nítido dessa característica mista do bairro. "Mas, nas missas, noto que os negros ainda são minoria", observa Valéria.

Ao longo do calendário litúrgico, os membros da pastoral organizam missas, casamentos e batizados afro e celebram os santos negros. "No ano passado, também oferecemos um curso profissionalizante que ensinava a fazer bijuterias e a pintar tecidos", diz a enfermeira. Em 2001, o trabalho da pastoral afro da paróquia dos italianos foi tema de outro livro, Axé, Madona Achiropita!, da jornalista Rosangela Borges, publicado pela Editora Pulsar.


Terça-feira, 6 de janeiro de 2009

27 de jan. de 2009

Brasil às moscas

CIDADE
Tradicional avenida paulistana está com 15% de seus imóveis vazios

Basta um passeio rápido pelos 2,5 quilômetros da Avenida Brasil, no Jardim América, para notar a abundância de placas de imobiliárias: de cada sete imóveis da via, um está disponível para venda ou locação. Uma média de 15%, mais que o dobro da encontrada no restante da capital. Os altos preços cobrados pelos proprietários, as restrições da Lei de Zoneamento e a idade dos imóveis são as causas da baixa procura. "Quando analisam a relação custo-benefício, os interessados optam por instalar seus escritórios na região da Paulista, por exemplo", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). O aluguel de um casarão na Brasil chega a custar 80 000 reais mensais. Para se tornar dono do imóvel, então, é preciso assinar um cheque de até 10 milhões de reais.

Antes estritamente residencial, a Avenida Brasil atualmente é ocupada por quase duas dezenas de clínicas e laboratórios médicos, além de escritórios. Estão ali uma unidade do Hospital Albert Einstein e consultórios como o do cirurgião plástico Munir Curi, o do especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih e o da dermatologista Ligia Kogos. "A região vem se caracterizando por ter centros médicos de boa qualidade", acredita Abdelmassih, que paga mais de 25 000 reais de aluguel por uma casa de 1 600 metros quadrados. "É um lugar tradicional e de fácil acesso a quem vem de fora", diz Ligia, que há seis anos atende em um sobrado construído no início do século passado. A avenida também é o endereço de dez lojas de material para construção, todas camufladas como showrooms (a Lei de Zoneamento permite apenas serviços no local, restringindo o comércio a alimentação, móveis, farmácias, antiquários e bancas de revistas).

Quando foi urbanizado, em 1915, o corredor era uma das vitrines da São Paulo que se modernizava. Ganhou amplos canteiros centrais, ornamentados com palmeiras, tipuanas e paineiras, e assumiu o posto de principal via do Jardim América, loteamento da companhia inglesa City planejado pelo arquiteto e urbanista Barry Parker. Foi lá que ocorreu uma das primeiras provas automobilísticas da cidade, em 1936, vencida pelo lendário italiano Carlo Pintacuda. O evento terminou em tragédia: a também famosa corredora francesa Hellé-Nice perdeu o controle de seu Alfa Romeo e matou quatro espectadores. Outros 22 ficaram feridos. Algumas décadas depois, muitos moradores migraram para ruas do miolo dos Jardins, onde o barulho causado pelo trânsito é menor e a privacidade, maior.

Se as condições atuais continuarem espantando interessados, os casarões vazios devem provocar a desvalorização de seu entorno. Enquanto um imóvel leva em média cerca de três meses para ser negociado em São Paulo, na Brasil esse processo tem demorado mais de seis. "A tendência é que, a médio prazo, os preços caiam", acredita Pompéia.


Quarta-feira, 12 de abril de 2006

26 de jan. de 2009

Os nossos Sherlocks

POLÍCIA
Como funciona o Instituto de Criminalística, cujo laboratório de DNA ajuda a identificar as vítimas do acidente de Congonhas

exames de DNA depois de excluídas todas as outras possibilidades de identificação: reconhecimento visual, impressões digitais e arcada dentária", explica a perita Norma Bonaccor-so, há dez anos na equipe. "Mas decidimos iniciar paralelamente esse processo para tentar minimizar o sofrimento dos familiares." Um andar acima, numa sala que em nada lembra os cenários de CSI, série campeã de audiência nos Estados Unidos sobre os bastidores de um laboratório de perícia criminal, funciona o Núcleo de Engenharia, ou-tro departamento envolvido com o acidente do dia 17. As investigações a respeito das condições do avião e do aeroporto são de competência federal. Quatro engenheiros do IC, no entanto, foram acionados para colher provas para o inquérito aberto pelo 27º Distrito Policial da capital, que apura as responsabilidades pelas 200 mortes. Os peritos do departamento nunca estiveram diante de uma tragédia dessas dimensões, a maior da história da aviação brasileira. Mas eles acompanham muitos outros casos – em média, cinqüenta por mês. Atualmente, por exemplo, ainda investigam o desabamento da Estação Pinheiros do metrô, em janeiro, e o acidente com uma grua que matou quatro operários na Marginal Pinheiros, em junho.

Estruturado em dezenove núcleos, o IC atua como auxiliar do Judiciário. Os 1 100 peritos que trabalham ali elaboram, juntos, 2 milhões de laudos por ano. Faz parte da rotina deles analisar objetos e locais. Ou seja, buscam evidências o tempo todo. "Nosso trabalho ajuda a prender os culpados e libertar os inocentes", diz Sumara Antonio Quixadá, há 21 anos no Nú-cleo de Balística. Para se tornar um perito e embolsar um salário inicial de 4000 reais, é preciso ter formação superior (em qualquer área), ser aprovado em um concurso público e fazer um curso preparatório de onze meses na Academia de Polícia. O instituto foi fundado em 1924 – chamava-se Delegacia de Técnica Policial – com a missão de aplicar métodos científicos no esclarecimento de crimes. Desde 1998, com a criação da Superintendência da Polícia Técnico-Científica, o IC está diretamente ligado ao Instituto Médico Legal – ambos dividem um orçamento anual de 157 milhões de reais vindo da Secretaria Estadual de Segurança Pública, mais 800000 reais do governo federal. Verba nem sempre suficiente. Apesar dos esforços dos funcionários, a estrutura física do IC é precária. Muitas salas são improvisadas, algumas caixas de papelão fazem as vezes de armário e há peritos que reclamam da falta de material. "Não temos sequer luvas de couro para trabalhar com destroços", diz Antonio Nogueira Neto, do Núcleo de Engenharia. "No caso de Congonhas, tivemos de usar máscaras emprestadas da Defesa Civil."

À espera da Aeronáutica
Pouco mais de uma hora após a tragédia, o engenheiro Lourenço Trapé Neto, do Núcleo de Engenharia, chegou às proximidades do Aeroporto de Congonhas. "Ainda não haviam começado a resgatar os corpos", lembra. Ele e outros três dos 24 peritos de sua equipe estão no caso. Munidos de câmera fotográfica, vistoriaram o prédio atingido, os destroços do avião e toda a situação da área ao redor. Como se trata de um acidente aéreo, agora precisam aguardar por um relatório da Aeronáutica, prometido para daqui a seis meses. "Não temos acesso à caixa-preta, por exemplo", diz. "Por isso, dependemos dessa investigação para concluir a nossa perícia."

Mutirão para analisar mais de 100 amostras
A cada seis horas, chegam ao laboratório de DNA do Instituto de Criminalística mais amostras dos corpos não identificados do maior desastre aéreo já acontecido no Brasil. Até a manhã da última quinta (26), eram mais de 100. "Essa etapa do exame torna-se menos complexa quando conseguimos extrair o DNA de células do sangue", conta a perita Norma Bonaccorso, que retornou antecipadamente das férias para coordenar as pesquisas. Em casos de carbonização, os peritos normalmente analisam os ossos. "Recebemos um fragmento e precisamos prepará-lo, em banho-maria, para isolarmos a célula", diz. "A partir daí, quebramos as membranas da célula, extraímos o DNA e comparamos com o de um familiar." No dia 21, foram coletadas amostras de sangue de 84 familiares de vítimas. Exames feitos com ossos costumam levar, na mais otimista das hipóteses, uma semana para ficar prontos. Devido às condições atípicas dessas amostras, no entanto, a equipe não se arrisca a estipular prazo para a conclusão do trabalho.

Detalhistas e boas de tiro
Quando olham para um projétil, em casos de crime, todos os dezenove peritos do Núcleo de Balística enxergam detalhezinhos que passariam despercebidos para os leigos. "É como uma impressão digital", conta Sumara Antonio Quixadá, que às vezes chega a ficar seis horas consecutivas de olhos grudados nas lentes de um dos três microscópios do departamento. "Depois de disparado, um projétil nunca é igual a outro." A caçula da equipe, Fabiana Paiva Pires, 28 anos, começou a trabalhar em janeiro e ainda tem muito o que aprender. Mas não se intimida. "Gosto de armas desde criança", afirma, com cinco band-aids nos dedos machucados de tanto manuseá-las. "Trabalhar aqui é um sonho, pois chego a dar 200 tiros por dia." No núcleo há um espaço destinado a esses disparos. São necessários para testar as armas apreendidas, muitas vezes em más condições, e comprovar o uso das mesmas nos crimes investigados. Informações importantes que, como tudo no IC, se transformam em laudos.

Oitocentos computadores para analisar
No fim da década de 60, o adolescente Sérgio Shoiti Kobayashi devorava livros de ficção científica e sonhava com supercomputadores. Desde janeiro, ele dirige o Núcleo de Perícias de Informática, onde trabalham doze peritos. "Tenho cerca de 800 computadores na fila de espera para analisar", diz. "Cabe tanta informação neles que encontrar indícios é como achar agulha em palheiro." Estão com a equipe, há um mês, os 25 discos rígidos dos computadores utilizados pelos alunos que invadiram a reitoria da USP, durante a greve estudantil ocorrida neste ano. Dentro dos discos, há atas de reuniões, textos de panfletos e outros documentos. "Eles apagaram diversos arquivos, mas nós os estamos recuperando", afirma Kobayashi. "Todos os nomes envolvidos constarão no laudo." A perícia deve ser concluída dentro de um mês.


Quarta-feira, 1º de agosto de 2007

25 de jan. de 2009

Onde tudo começou

HISTÓRIA
No dia do aniversário da cidade, é lançado livro que mostra as dificuldades enfrentadas pelo grupo de jesuítas que fundou São Paulo

Pode parecer exagero, mas o escritor, jornalista e historiador Hernâni Donato levou setenta anos para escrever Pateo do Collegio: Coração de São Paulo (Loyola; 280 páginas; 90 reais), com lançamento previsto para sexta (25), durante as comemorações do aniversário da cidade. Isso não quer dizer que Donato, nascido em Botucatu em 1922 e autor de outros oitenta livros, seja moroso em sua produção. Mas mostra sua obsessão por temas históricos que lhe aguçam a curiosidade e a capacidade de tocar vários projetos em paralelo, sem abandoná-los pelo caminho. O interesse pelo centro histórico paulistano surgiu tão logo o futuro escritor, aos 15 anos, se mudou para São Paulo. Seu primeiro emprego foi no jornal Correio Paulistano, que funcionava na esquina da Rua Líbero Badaró com o Largo de São Bento. "Todas as noites, após o trabalho, os jornalistas costumavam se reunir em um dos quatro cafés que havia no centro da cidade", lembra. Para chegar até eles, obrigatoriamente passavam, a pé, pelo Pátio do Colégio. "Desenvolvi uma sensibilidade telúrica por aquele espaço", diz. "Então nasceu a vontade de um dia escrever sobre ele."

De lá para cá, sempre que encontrava algo que pudesse servir para a obra, Donato anotava em uma das centenas de fichinhas de papel que se acumulam em sua gaveta. Dessa extensa apuração nasceu um livro recheado de curiosidades históricas paulistanas, tendo como foco o Pátio do Colégio, marco da fundação da cidade. "Ainda hoje continuo descobrindo coisas", afirma. "E fico impressionado como o Pátio é um ser vivo, onde tudo acontece." No livro, Donato descreve como foi que, após uma penosa caminhada a partir de São Vicente – em alguns trechos, era preciso engatinhar –, os missionários jesuítas elegeram aquele ponto no Planalto de Piratininga, favorecido geograficamente, para ser sede da aldeola. O padre Manuel da Nóbrega teria exclamado que a terra era a melhor do mundo. E José de Anchieta profetizado que ali estariam as portas para o futuro do Brasil.

Os religiosos não tardaram a se aliar com o cacique Tibiriçá. "Se não fosse pela ajuda do líder indígena, nada teria existido", acredita Donato. Aos poucos, Anchieta e companhia começaram a incutir nos índios os princípios cristãos, convencendo-os a abandonar práticas como o canibalismo e os rituais de pajelança. Não sem muita resistência. Em batalhas entre tribos era comum que, seguindo os homens armados, as mulheres carregassem tachos para preparar o prato antropófago com o inimigo morto. Para a história, a missa celebrada em 25 de janeiro de 1554, dia de São Paulo, marca a fundação da cidade. Ali no Pátio havia, construídas de pau-a-pique, uma igrejinha, uma escola e uma cabana que servia de abrigo a cerca de vinte religiosos.

Um ano depois da fundação, a aldeia contava com 82 habitantes. Hoje, cerca de 1 milhão de pessoas passam, diariamente, pelos arredores do Pátio, cuja forma atual, inaugurada em 1979, é a de sua quarta construção. Apesar da pequena população, os problemas eram muitos. Padres faziam as vezes de médicos e farmacêuticos. Anchieta realizava sangrias em índios doentes e partos – batizando mãe e filho como cristãos. À mesa, folhas de árvores serviam como guardanapos e farinha de mandioca e abóbora eram quase os únicos pratos disponíveis. De certa forma, esses obstáculos fortaleciam a figura de José de Anchieta. "Ele se destacou por suas atividades como intelectual, professor, médico, poeta e confessor", diz Donato. "Mas São Paulo nasceu de um fenômeno complexo, coletivo e múltiplo de desenvolvimento ao longo do tempo."

* Lançamento do livro Pateo do Collegio: Coração de São Paulo. Pátio do Colégio. Rua Boa Vista, s/nº. Sexta (25), às 16h. Metrô Sé.


Quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

24 de jan. de 2009

Hoje tem palhaçada

EXPOSIÇÃO
Em cartaz na Galeria Olido, mostra recupera história do circo em São Paulo

É como dar uma espiada nos bastidores do espetáculo. Uma bem montada exposição em cartaz na Galeria Olido encanta os olhos mais nostálgicos ao trazer, por meio de 124 fotos, um pouco da trajetória da arte circense em São Paulo. "Exibir as imagens nesse endereço é emblemático", diz a curadora Verônica Tamaoki, pesquisadora especialista em história do circo. Ela se refere ao largo em frente à galeria – que empresta nome à mostra Largo do Paissandu, Onde o Circo se Encontra. A história da região está intimamente ligada ao desenvolvimento do circo na cidade. "Desde o século XIX, com as temporadas ali realizadas, esse lugar se tornou um terreno sagrado do circo", conta. Durante décadas, bares e cafés localizados nas proximidades alternaram-se como ponto de encontro de artistas, sempre às segundas-feiras (dia de sua folga semanal). O costume, em menor intensidade, ainda sobrevive.

As trupes circenses incluíram São Paulo em seu roteiro por volta de 1870. Vinham, sobretudo, atraídas pelo dinheiro do café. A existência na capital de muitos imigrantes, que já haviam conferido espetáculos do gênero na Europa, contribuiu para que palhaços, acrobatas e anões fossem vistos com interesse pelo público. Algumas apresentações ocorriam em teatros e cabarés. Outras, em tendas armadas no Largo de São Bento, no Largo dos Curros (atual Praça da República) e no próprio Largo do Paiçandu. Foi ali que o faquir Silki realizou dois de seus quatro longos jejuns – em 1957, quando teria ficado 107 dias sem comer; e em 1980, a última e maior abstinência, de 115 dias.

Mas a grande figura do circo paulistano foi Abelardo Pinto, o Piolin. Nascido em Ribeirão Preto, em 1897, ele se consagrou no início dos anos 20, na companhia do grupo uruguaio Irmãos Queirolo. Mais tarde, montou a própria trupe. Em 1972, para comemorar o cinqüentenário da Semana de Arte Moderna, o então diretor do Masp, Pietro Maria Bardi, convidou o Circo Piolin para se apresentar sob o vão livre do museu. O palhaço que divertiu gerações de crianças e adultos morreu em 1973, após se engasgar com uma bala. Na data de seu aniversário, 27 de março, passou a ser comemorado o Dia do Circo.

A exposição em cartaz na Galeria Olido pode ser a primeira de uma série de iniciativas para preservar a arte circense. Há planos para que um prédio na esquina do Largo do Paiçandu com a Avenida Rio Branco, tombado em janeiro, seja transformado em uma escola municipal de arte circense. "Até o fim do ano começaremos as obras", promete o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. No mesmo edifício deverá funcionar um centro de memória. "Já estamos reunindo o acervo, comprando material e recebendo doações", diz Calil. Outra novidade é a Praça do Circo, perto do Viaduto Antártica, na Barra Funda. Com previsão de inauguração até dezembro, o local se tornará um espaço pronto para receber tendas circenses. Quem foi mesmo que disse que o circo morreu?

Largo do Paissandu, Onde o Circo se Encontra. Galeria Olido. Avenida São João, 473, centro, 3331-8399, Metrô República. Segunda, 12h às 19h; terça a sábado, 12h às 21h30; domingo, 12h às 19h30. Até dia 27.


Quarta-feira, 23 de julho de 2008

23 de jan. de 2009

A maldição do Fura-Fila

TRANSPORTE
Estimada em 1,2 bilhão de reais, obra que já mudou de nome duas vezes desabou e atrapalhou o trânsito por vinte horas

Pau que nasce torto não endireita. Esse provérbio popular parece se aplicar muito bem ao Fura-Fila, monstrenga obra que, por custar tanto a ficar pronta, parece ter se incorporado ao folclore paulistano. Seu mais recente capítulo ocorreu às 23h30 da última segunda, quando um módulo de 81 metros de comprimento e 990 toneladas do trecho em construção na Zona Leste despencou sobre o Viaduto Grande São Paulo. "Foi um erro de cálculo em um procedimento já dominado pela engenharia", afirma o secretário municipal de Transportes, Alexandre de Moraes. "Felizmente não houve vítimas." Os vinte operários que trabalhavam no local saíram a tempo e nenhum carro trafegava pelo viaduto naquele momento.

Quem sofreu o efeito colateral foram os motoristas. O viaduto ficou interditado até as 19h30 de terça-feira.– de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), 7 000 carros chegam a cruzá-lo por hora. Para atenuarem o impacto no trânsito, 180 marronzinhos deslocaram-se para a região. O consórcio responsável pela obra, formado pelas empresas Carioca Engenharia e Andrade Gutierrez, precisou fazer uma operação de emergência para reposicionar o módulo. Cinqüenta profissionais, entre projetistas, técnicos e engenheiros, utilizaram 40 toneladas de concreto para equilibrar a estrutura.

O Fura-Fila foi apresentado como proposta eleitoreira de Celso Pitta, em 1996. Seria um trem futurista que percorreria um trajeto de 125 quilômetros. Eleito, Pitta pouco fez para colocá-lo em prática – mas enterrou 270 milhões de reais na obra. Na gestão Marta Suplicy, o projeto também não saiu do lugar. Rebatizado de Paulistão, recebeu 330 milhões de reais em investimentos. Os 174 pilares de concreto na Avenida do Estado eram um marco negativo na paisagem paulistana e davam a impressão de que nunca serviriam para nada. Sob o nome de Expresso Tiradentes, parte da obra finalmente foi inaugurada no ano passado, já sob a gestão Gilberto Kassab. Nada de trens futuristas nem dos 125 quilômetros do projeto original. Acabou virando um corredor de ônibus de 8,5 quilômetros de extensão, por onde circulam 21 veículos que transportam 42 000 pessoas por dia. Liga o Parque Dom Pedro II, no centro, ao Sacomã, na Zona Sul.

Outros três trechos precisam ser terminados para que o Expresso Tiradentes fique, enfim, pronto. Seus 32 quilômetros de extensão terão consumido, então, 1,2 bilhão de reais. O corredor deve chegar até Cidade Tiradentes, no extremo leste paulistano. Estima-se que, se for de fato concluído, transportará 500 000 passageiros por dia. "O projeto é interessante porque vai criar uma alternativa de deslocamento em uma das regiões mais carentes da cidade", acredita o engenheiro Jaime Waisman, especialista em transporte urbano. O secretário Alexandre de Moraes ainda não sabe se o prazo de inauguração do trecho em que ocorreu o acidente, marcada para a segunda quinzena de maio, será alterado. "Vamos aguardar os laudos técnicos para definir isso", condiciona. "Mas certamente o consórcio responsável pela obra será multado." Após tantos nomes diferentes, tanto dinheiro investido e tantos problemas, a previsão é que o Expresso Tiradentes estará entregue à população até o fim de 2009. Será?


Doze anos de confusões
De promessa eleitoreira a obra que custa a ficar pronta, eis a história do Expresso Tiradentes

• Com cara de trem futurista – e abuso de recursos gráficos –, o Fura-Fila foi apresentado por Celso Pitta na campanha eleitoral de 1996.

• Durante sua gestão, Pitta enterrou 270 milhões de reais na obra, que não chegou a lugar algum. Na prática, o Fura-Fila não passava de alguns pilares erguidos em 3 quilômetros de trajeto – o projeto original previa 125 quilômetros.

• Em sua campanha, em 2000, Marta Suplicy prometeu que não abandonaria o Fura-Fila. Rebatizou-o de Paulistão, investiu 330 milhões de reais e... nada. Até o fim de sua gestão, o que se via eram apenas 174 pilares de concreto fantasmas na Avenida do Estado.

• Eleito em 2004, o prefeito José Serra chegou a cogitar implodir tudo. Voltou atrás ao contabilizar o que já fora gasto ali.

• Em março de 2007, o prefeito Gilberto Kassab inaugurou o primeiro trecho da obra, rebatizada de Expresso Tiradentes. Nada de trens futuristas. Com 8,5 quilômetros em funcionamento, o corredor tem 21 ônibus e liga o Parque Dom Pedro II, no centro, ao Sacomã, na Zona Sul. Transporta 42 000 pessoas por dia.

• O Expresso Tiradentes só deve ficar completo no fim de 2009. Terá, então, 32 quilômetros de extensão.


Quarta-feira, 9 de abril de 2008

22 de jan. de 2009

Vaga é o que não falta

DEPOIMENTO
Em um dia, repórter de Veja São Paulo tenta se empregar
como motoboy em três firmas. Foi aprovado em todas


Dirijo moto há quatro anos. Acho incrível sentir o vento batendo no corpo e ouvir o ronco do motor. É um misto de liberdade e perigo. Se não fosse jornalista, até que eu poderia ganhar a vida sobre duas rodas. No último dia 18, uma sexta-feira, vesti uma camiseta alaranjada, uma surrada calça jeans e calcei um par de tênis velhos. Treinei algumas gírias para parecer mais convincente – abusei de "trampo", "mano", "treta", "barão" e "é nóis na fita". Fui pedir emprego em três firmas de motofrete. Logo na primeira, na Vila Olímpia, um motoboy chamado Paulo me animou: "Se trabalhar direitinho, dá para tirar até um barão e meio, filho". Ou seja, 1 500 reais. Ele me orientou a pedir informação no balcão de atendimento. "Sempre tem vaga." Mandaram que eu preenchesse uma ficha com dados pessoais e do meu emprego anterior. Entreguei o papel e fiquei quase uma hora esperando para ser entrevistado. Enquanto aguardava, outro candidato, Rodrigo, puxou assunto. "Entra nessa, não, mano. Já caí quatro vezes", contou ele, com seus seis anos de experiência. Durante a entrevista, a funcionária foi simpática, disse que eu iria ganhar três camisas de uniforme e seria contratado como esporádico, ganhando 6 reais por hora. "Ser registrado só depende de você", garantiu. "Então chegue sempre no horário e cumpra suas obrigações." Bons motociclistas ainda são recompensados com uma cesta básica no fim do mês. Aprovado na primeira etapa, teria de entregar toda a documentação (RG, CPF, foto 3 por 4, CNH e atestado de antecedentes criminais) na próxima segunda para agendar minha entrevista com a psicóloga. Fiquei preocupado, mas o motoboy Paulo falou que era "mamão" (algo fácil). "De boa, mano. Aqui todo mundo é louco mesmo."

Dali, eu me dirigi a uma empresa menor, em Santo Amaro. Na entrada, uma faixa anunciava: "Precisa-se motoqueiro". Ofereci-me. Fátima, a responsável pela firma, me deu um caderno espiral. "Escreva aí seu nome, endereço, telefone e RG." "E quando começo?" "Pode vir na segunda, pagamos de 5,30 reais a 5,50 reais a hora, de acordo com o cliente." Com dois empregos na garupa, tentei um terceiro na Vila Mariana. O atendimento foi bem parecido com o da Vila Olímpia. Um homem que se apresentou como Sampaio pediu que eu levasse os documentos na segunda-feira. Começaria no dia seguinte. Na cidade dos congestionamentos, o que não falta é vaga para motoboy.


Quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

21 de jan. de 2009

Os donos da rua

CIDADE
Pelo menos é assim que boa parte dos 150 000 motoboys paulistanos se comporta. Embora realizem um trabalho útil de entregas numa metrópole congestionada, eles desrespeitam as leis de trânsito, vivem em guerra com os motoristas, são temerários e, quando resolvem protestar, atravancam ainda mais o tráfego de São Paulo

Há uma guerra em marcha nas ruas e avenidas de São Paulo. De um lado, prefeitura e governo federal. De outro, milhares de motoboys insatisfeitos com medidas que tentam colocar alguma ordem em seu frenético vaivém. No último dia 18, pelo menos 700 motociclistas atravancaram ainda mais o trânsito em diversas regiões para protestar contra o aumento do seguro obrigatório (de 183,84 para 254,16 reais), a proibição de circular pelas vias expressas das marginais e a obrigatoriedade de utilizar apenas veículos com menos de nove anos de fabricação, entre outras determinações. Os motoboys, sempre em grupo, prometem fazer mais barulho e, para defender os interesses de uma minoria, atrapalhar todos os paulistanos. O poder público garante que vai endurecer a fiscalização. No início do ano entraram em vigor novas regras do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), como normas para o uso de baús e a necessidade de faixas refletivas nas laterais e na traseira dos capacetes, que devem ser certificados pelo Inmetro. Também será obrigatório que o motoboy trabalhe com um veículo registrado em seu nome.

Muitas das medidas visam à segurança dos próprios motociclistas. Todos os dias, 25 acidentes com motos ocorrem nas ruas paulistanas, com o saldo de um morto. "As motos são apenas 9% da frota, mas representam 25% dos acidentes com vítimas fatais", afirma o secretário municipal dos Transportes, Alexandre de Moraes. O grande número de acidentes é explicável. Na ânsia de realizar suas tarefas o mais rápido possível, o motoboy coloca a sua vida e a de outros em risco. Afinal, a maioria ganha por produção. Para driblarem o trânsito, cometem toda sorte de infrações. Cruzam faróis vermelhos, passam por calçadas, andam na contramão... "Minha mãe e minha mulher pedem todo dia para eu sair dessa profissão", conta José Mariano Lucas Junior, motoboy há cinco anos. "Mas não tem jeito. Ser motoboy vicia." Eles recebem por volta de 5 reais a hora, apesar de as empresas chegarem a cobrar do cliente 18 reais pelo mesmo período. Se a compra de algum equipamento de segurança significa gasto extra, eles deixam para lá. Um capacete certificado pelo Inmetro, por exemplo, custa a partir de 70 reais. Para economizar, há quem prefira modelos importados da China, que saem por até metade desse valor – e não dão a mesma proteção. "A moto é instável e, quando cai, o motociclista não tem controle sobre o corpo", diz a médica fisiatra Júlia Maria D’Andréa Greve, do Hospital das Clínicas. "Um capacete fajuto não absorve o trauma, mesmo em velocidades baixas." Além do óbvio prejuízo ao trânsito – um motociclista acidentado fecha, por vários minutos, ao menos uma faixa de rolamento –, esse é também um problema de saúde pública. Segundo dados da Secretaria dos Transportes, um acidentado grave atendido em um hospital estadual custa ao governo cerca de 200.000 reais.

Surgidos na década de 80 como uma evolução motorizada do office-boy, os motoboys rapidamente se multiplicaram e foram incorporados às necessidades diárias do paulistano. Tanto que eram 19 000 em meados dos anos 90 e, hoje, estima-se que haja mais de 150 000 costurando o trânsito da cidade com suas buzininhas agudas, capas pretas e agilidade que parece desafiar as leis da física. Comunicam-se num dialeto próprio, recheado de gírias como "enrolar o cabo" (acelerar), "trampo roça" (serviço distante) e "roda presa" (motorista lento). Não à toa, ficaram conhecidos como "cachorros loucos". Mas não os chame assim. A não ser que queira briga. Eles agora desejam ser conhecidos como "profissionais motociclistas". A convivência nas ruas não é nada pacífica. Casos em que motoristas tiveram os espelhos retrovisores de seus veículos arrancados ou mesmo portas chutadas por motoboys são comuns. "Falta educação para quem dirige carro, ônibus, caminhão e, claro, moto", afirma Ronaldo Simão Costa, motoboy há catorze anos. "É a violência do trânsito que muitas vezes nos obriga a reagir com mais violência." O crescimento absurdo do número de motoboys na cidade é a principal causa da explosão da frota de motocicletas. Em 2000, 375.000 circulavam pela capital. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran), no ano passado já eram 652.000, um aumento de 74%. Nesse mesmo período, a frota de automóveis cresceu 17%. O modelo mais usado pelos motoboys é a Honda CG 125 cilindradas.

Numa metrópole com tráfego caótico como São Paulo, os motoboys tornaram-se uma espécie de mal necessário. "Mesmo quem não gosta da gente acaba usando nossos serviços", diz Aldemir Martins de Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Motociclistas da Cidade de São Paulo (Sindimoto). "Seja para receber uma pizza quentinha, um remédio urgente ou um documento importante." Veja São Paulo testou a eficácia de seus serviços. Na última quarta (23), enviou três envelopes (de moto, de carro e de ônibus) da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na Zona Sul, para a região central. A idéia era ver qual portador chegava primeiro. O motoboy ganhou disparado (confira quadro na pág. 34).

Com suas motos muitas vezes em más condições – eles dizem que é proposital, para evitar roubos –, os motoboys trabalham muito. Em média, dez horas por dia. Mas, claro, também se divertem. Neste fim de semana ocorre a terceira edição do Motoboy Festival, um evento que pretende reunir 20 000 pessoas no Centro de Exposições Imigrantes. Haverá quarenta estandes e uma programação que prevê leilão de motos, eleição da "musa motoboy", concursos, gincanas, testes oftalmológicos e até uma palestra com a vereadora Soninha (PPS). Em 2003, eles foram tema do premiado documentário Motoboys – Vida Loca. "Rodamos o filme durante um ano nos piores horários das ruas mais movimentadas da cidade", conta o roteirista Giuliano Cedroni. Nos palcos, faz sucesso o engraçado personagem Jacksonfaive, interpretado pelo ator Marco Luque nos espetáculos teatrais do Terça Insana. Seus esquetes espalharam-se e ganham audiência em sites de vídeo na internet. "É um personagem muito próximo das pessoas", diz. "Tento fazer com que a platéia tenha uma visão mais humana do motoboy."

prefeitura vem realizando testes para delimitar os espaços de carros e motos. Na semana passada, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) resolveu experimentar uma faixa exclusiva na Avenida 23 de Maio, a exemplo da que existe na Avenida Sumaré. Deu tudo errado. Enquanto os motoboys passavam ligeiros, os motoristas ficaram parados em congestionamentos atípicos para o mês de janeiro. O prefeito Gilberto Kassab anunciou na quarta que a medida não foi aprovada. A partir do dia 11, não poderão mais trafegar na via expressa das marginais Pinheiros e Tietê. Segundo a companhia, na via expressa são registrados duas vezes mais acidentes que na via local. "É um absurdo", afirma Gilberto Almeida dos Santos, presidente do Sindicato dos Mensageiros Motociclistas do Estado de São Paulo (Sindimotosp). "A via local, por causa do entra-e-sai de carros, é mais perigosa. Sem falar que o trânsito ali é mais demorado." O presidente da CET, Roberto Scaringella, rebate: "É claro que na via expressa da marginal o motoboy chega mais rápido. Às vezes, ao céu".

Essa briga entre motoboys e poder público deve esquentar ainda mais. O vereador Jooji Hato (PMDB) promete colocar em votação, no início de fevereiro, uma proposta para derrubar o veto da ex-prefeita Marta Suplicy a seu projeto de lei que proíbe a carona em motocicletas de segunda a sexta-feira. "É uma forma de evitar crimes", diz Hato, que é motociclista há quarenta anos e atualmente pilota uma Honda CB Hornet 600 cilindradas. "Grande parte dos motoqueiros que trafegam em dupla tem a intenção de assaltar." Ele lembra que já foi vítima de motociclistas com comparsas na garupa por duas vezes. De acordo com um levantamento feito em 2007 pelo Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), 61,5% dos 15 000 casos de crimes contra o patrimônio cometidos nas zonas oeste, central e em parte da sul tiveram a participação de motociclistas. Em três blitze realizadas em novembro e dezembro, o 34º Batalhão de Trânsito da Polícia Militar vistoriou 8 633 motos. Noventa delas foram apreendidas e sessenta ocupantes presos em flagrante. "Em raríssimos casos a legislação permite a apreensão de veículos em mau estado", afirma o major Ricardo Fernandes de Barros, comandante do 34º Batalhão. "Depois da imprudência, a conservação inadequada é a causa do maior número de acidentes."


A vida sobre duas rodas

150 000 motoboys circulam em São Paulo, segundo um dos sindicatos da categoria. Para a Secretaria de Transportes, seriam 250 000

2 000 empresas de motofrete atuam na cidade

1 000 reais brutos por mês é quanto ganha em média um motoboy que trabalha dez horas por dia

200 000 reais é quanto custa aos cofres públicos um acidentado grave atendido em hospital estadual, segundo a Secretaria de Transportes

61,5% dos crimes contra o patrimônio são cometidos por bandidos de moto


O que eles não querem

Aumento do seguro obrigatório de 183,84 para 254,16 reais

Proibição de trafegar nas vias expressas das marginais

Obrigatoriedade de utilizar apenas veículos com menos de nove anos de fabricação

Proibição de uso de motos em nome de terceiros para trabalhar

Faixas refletivas nas laterais e na traseira dos capacetes, que devem ser certificados pelo Inmetro


Eficiência comprovada

Às 10 horas da última quarta, Veja São Paulo mandou três envelopes (de moto, carro e ônibus) da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, no Brooklin, para o Viaduto do Chá. Confira quanto tempo cada portador demorou para fazer o percurso de 11 quilômetros

1 - 17 minutos
O motoboy andou pela Marginal Pinheiros, entrou na Avenida Rebouças e seguiu pela Rua da Consolação até o centro. "O túnel da Rebouças estava meio parado, mas de moto não tem erro", disse. "A gente vai costurando."

2 - 33 minutos
Para fugir do trânsito da Avenida Rebouças, o motorista preferiu sair da Marginal Pinheiros e pegar as ruas Gabriel Monteiro da Silva, Groenlândia e Bela Cintra. "A coisa só complicou um pouco perto do cruzamento da Gabriel com a Faria Lima."

3 - 52 minutos
"Caminhei por 350 metros até o ponto, na Marginal Pinheiros", disse o office-boy. "O ônibus Praça Princesa Isabel demorou doze minutos para chegar." Ele desembarcou no Túnel do Anhangabaú e subiu a escadaria até a prefeitura.


O que eles pensam sobre...
Veja São Paulo reuniu na semana passada um grupo de motoboys para um bate-papo. Durante duas horas, eles soltaram o verbo. Confira algumas frases:

MOTORISTAS
"Falta atenção e respeito com os motoboys. Nove em cada dez motoristas que fecham a gente estão no celular."
Lucas Junior

"Quando o cara está em casa esperando uma pizza quentinha, nos recebe com o maior love. Aí você encontra o mesmo cara durante o dia e passa a ser inimigo dele."
Bicchioni

"Deveriam aumentar o rodízio para os carros: das 8 da manhã às 8 da noite."
Andréa

SOLIDARIEDADE
"A gente não fica nem cinco minutos parado na rua. Se acabar a gasolina, a moto quebrar ou acontecer um acidente, aparece sempre outro motoboy para ajudar."
Lopes

"Ninguém gosta de dar informação. Uma vez um taxista falou que iria me responder só porque eu sou mulher."
Andréa

VIOLÊNCIA
"Quando o motorista fecha e já pede desculpa, beleza. Mas a maioria fecha e ainda sai xingando. Aí não tem jeito. Perdemos a cabeça mesmo."
Bicchioni

"É difícil conhecer algum motoboy que não tenha chutado um retrovisor ou uma porta. A gente é tratado com violência e responde com violência."
Santos

MOTOCICLETA
"Comprei uma moto zerinho e amassei o tanque com o capacete. Quanto mais cara de velha tiver, menor o risco de roubarem. Levaram a minha mesmo assim."
Santos

"O ladrão rouba a nossa moto e vende na Rua General Osório, no centro, por 500 reais."
Lopes

"Como as concessionárias cobram caro, nós financiamos esse mercado. Um jogo de pneus novos custa 230 reais. Um de meia-vida (usado) sai por 50."
Costa

DROGAS
"Todo mundo que trabalha em empresa conhece dois ou três colegas drogados: usam de maconha a cocaína. Isso acontece em todas as profissões."
Santos

"Tem um chegado meu que fuma maconha e desce a 23 de Maio a 130 quilômetros por hora. Uma loucura. Se qualquer coisa esbarrar na moto, é morte certa."
Lucas Junior

FAMÍLIA
"Minha mãe e minha mulher pedem todo dia para eu sair dessa profissão. Mas não tem jeito. Ser motoboy vicia."
Lucas Junior

"Meu próprio pai, que é taxista, odeia motoboy. Sempre diz que, se algum embaçar com ele, vai derrubar mesmo."
Lucas Junior

"Tinha três irmãos, todos motoboys. Um morreu num acidente de carro. Nunca tive vergonha de ser motoboy."
Lopes

em parceria com Alessandro Duarte.


Quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

20 de jan. de 2009

Na volta do Guarujá, muita tranquilidade

FERIADO
Família faz em 1h10 percurso no qual já gastou 5 horas

Só a mais otimista das previsões diria que o investigador de polícia Neimar Luís de Carvalho, de 38 anos, teria um retorno tão tranquilo a São Paulo, ontem, após passar o feriadão no Guarujá. Em 1 hora e 10 minutos, ele fez o percurso de cerca de 90 quilômetros, Via Rodovia Anchieta, do apartamento de sua família, na Praia do Tombo, até a residência, no Tucuruvi, na zona norte. "Já houve ano em que levei 5 horas", lembra, com a autoridade de quem passa o réveillon na praia há 25 anos. "Só deixamos de ir na virada de 2001 para 2002, quando nossa filha tinha menos de 30 dias", comenta a mulher, a bancária Patrícia de Almeida Pires Carvalho, de 32 anos.

A filha a que ela se refere é Júlia, a primogênita do casal. Em 2004, nasceu a mais nova, Fernanda. E essa simpática dupla cedeu um espaço no banco de trás da Parati da família para que a reportagem do Estado pudesse acompanhar o retorno, no fim da manhã de ontem. Com tererê novinho - feito na feirinha da Praia das Astúrias, onde a família adora saborear churros e comprar miudezas -, as duas comportaram-se bem, apesar da visível cara de sono. Júlia entretinha-se com um minigame moderno, o PSP. A caçula Fernanda preferia um DVD player portátil, em que assistiu a um vídeo infantil da Xuxa e ao desenho animado Caillou.

Pois é. Em tempos hi-tech, pais abençoam esses pequenos aparatos, muitas vezes a garantia de uma viagem sem sobressaltos, brigas, reclamações ou a famosa e irritante perguntinha exaustivamente repetida: "Tá chegando?" No meio do caminho, as meninas decidiram trocar a diversão. No DVD player, Júlia substituiu a Xuxa pela Pequena Sereia, da Disney. "Mãe, posso tirar a sandália?", perguntava Fernanda, já ficando descalça antes mesmo de ouvir o consentimento de Patrícia.

Alheio às distrações das crianças, Neimar queixava-se do "absurdo cobrado pelos pedágios" - R$ 17,00 na ida e R$ 8,00 na volta - e explicava que preferia subir pela Anchieta, em vez da Imigrantes. "Eu sempre me dei bem por aqui", diz. "Acho uma boa opção para quem é da zona norte."

O feriadão de fim de ano foi o primeiro em que a família aproveitou o apartamento do Guarujá. Metade das coisas - muitas roupas e a bicicleta, por exemplo - não retornou a São Paulo. "Eu devo voltar amanhã (hoje) ou terça, porque tenho ainda 15 dias de férias", conta. "Patrícia retorna ao trabalho amanhã (hoje), mas desce para o Guarujá no fim de semana." E até a Páscoa quase todo sábado será dia de pegar a estrada de volta ao litoral. Com um motivo a mais. "Comprei uma prancha no ano passado e agora voltei a surfar", diz Neimar, que não pegava onda desde a adolescência.


Segunda-Feira, 5 de Janeiro de 2009

19 de jan. de 2009

Em SP, as ''raposas voadoras''

PASSEIO
Seis exemplares do maior morcego do mundo estão em exposição

Desde ontem, seis exemplares do maior morcego do mundo podem ser vistos no Aquário de São Paulo, no Ipiranga. São dois machos e quatro fêmeas, com cerca de 2 anos de idade e pouco mais de 1 metro de envergadura - ou seja, da ponta de uma asa à ponta da outra. Quando adultos, morcegos dessa espécie, chamados popularmente de "raposas voadoras", chegam a medir 1,8 metro de envergadura. Em cativeiro, vivem mais de 20 anos.

Para abrigar esses mamíferos, nativos do Sudeste Asiático, a instituição preparou um recinto de mais de 40 m² e 8,5 metros de altura - o cenário inclui galhos de árvores, uma cascata e destroços de um avião, em referência à Ilha de Java, castigada com bombardeios durante a Segunda Guerra.

"Tivemos de planejar para que os galhos ficassem com alturas diferentes, pois os morcegos costumam se organizar de acordo com uma hierarquia", explica a bióloga Laura Ippolito, há quatro anos funcionária do Aquário.

Apesar de o espaço só ter sido aberto ao público ontem, os morcegos chegaram a São Paulo há duas semanas. "Ainda passam por um processo de adaptação", diz a bióloga. "Aos poucos, estamos invertendo o fotoperíodo deles, de hábitos noturnos, para que a população possa observá-los em atividade durante o dia." Nascidos em cativeiro, os animais foram adquiridos de um zoológico argentino.

Mas esqueça a ideia de que esse bichão se alimenta de sangue, como um vampiro de cinema. "Existem quase mil espécies de morcegos no mundo e só três são hematófagas", esclarece o veterinário William Stutz, presidente da Ação Ambiental Morcego Livre, ONG criada com o objetivo de desmistificar os morcegos e mostrar sua importância ao meio ambiente. "As ?raposas voadoras? costumam se alimentar de frutas." De acordo com Stutz, que estuda os mamíferos voadores há 26 anos, 70% das variedades de morcegos são insetívoras.

Inaugurado há dois anos e meio, o Aquário de São Paulo conta com 3 mil animais, de cerca de 500 espécies. A maioria é peixe. Seus principais destaques são o espaço dos pinguins - com cinco exemplares adquiridos há seis meses - e um tanque de 1 milhão de litros de água salgada onde vivem seis exemplares de tubarão-lixa.

Serviço
Aquário de São Paulo. Rua Huet Bacelar, 407; Ipiranga; (0XX11) 2273-5500. R$ 20,00. www.aquariodesaopaulo.com.br


Sábado, 3 de Janeiro de 2009

18 de jan. de 2009

Angola atrai cada vez mais brasileiros

O ELDORADO AFRICANO

Nada de subemprego. Nada de viver mal. Ao contrário da maioria dos brasileiros que migra para os Estados Unidos ou países europeus, boa parte dos que vão para Angola ocupa altos cargos em empresas multinacionais. Para convencê-los, salários que chegam ao triplo do que recebiam no Brasil, moradia, carro com motorista e passagens aéreas para rever a família - em média, a cada dois meses.

De acordo com estimativas da Embaixada do Brasil em Luanda, o número de brasileiros que hoje vivem no país africano pode chegar a 40 mil. “E tem aumentado muito”, conta Daniel Leitão, conselheiro da Embaixada. “Mas é uma população flutuante. Freqüentemente os contratos de trabalho incluem passagens de volta, periodicamente, ao Brasil.”

Mas por que tamanho interesse? De 1975 a 2002, Angola viveu uma sangrenta guerra civil que deixou 500 mil mortos. Nesse período, investimentos em infra-estrutura e desenvolvimento foram deixados de lado. Resultado: com o fim do conflito, se iniciou um processo de construção do país. Como não havia mão-de-obra angolana qualificada, os migrantes preencheram esse espaço. Ganhando bem. “Quase todo mundo que está aqui veio em busca de altos salários”, diz o relações-públicas mineiro David Braga, que vive em Luanda - a capital, com 4,5 milhões de habitantes - há um ano. “Afinal, nem todos têm ‘coragem’ de morar em um lugar com certas restrições de alimentação, higiene e segurança.”

Segundo a Associação dos Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran), há mais de 50 firmas brasileiras instaladas no país africano hoje. “O país está em grande crescimento econômico. E isso nos dá a possibilidade de crescer também”, afirma o diretor de relações institucionais da Aebran, Marcos Alexandre da Silva. Economista, se mudou para lá há dois anos. Atua como diretor Comercial da Andrade Gutierrez.

Quem puxou a fila das empresas brasileiras por lá foi o grupo Odebrecht, instalado em Angola desde 1984. De lá para cá, eles construíram hidrelétricas, investiram na urbanização de parte de Luanda Sul e criaram um programa de saneamento e requalificação urbana em Luanda.

Hoje a Odebrecht emprega 30 mil funcionários em Angola - 2,5 mil brasileiros. “Consolidamos uma parceria muito forte entre os dois países”, afirma o diretor da construtora Norberto Odebrecht em Angola, Humberto Rangel. No país africano, o grupo investe ainda em mineração, agroindústria e imóveis - tem participação, por exemplo, no único shopping do país, inaugurado no ano passado.


Domingo, 12 outubro de 2008

17 de jan. de 2009

Estrela apagada

CIDADE
Infiltrações de água causaram o fechamento do Planetário do Carmo

Quando foi inaugurado, em novembro de 2005, o Planetário do Carmo era o único do gênero em funcionamento na cidade. O do Ibirapuera estava interditado desde 1999 e só reabriria em 2006. Com 12 000 lentes, seu projetor Universarium VIII havia passado por uma atualização tecnológica para se tornar o mais avançado do Brasil. Sua cúpula, de 20 metros de diâmetro, dividia com a do planetário do Rio de Janeiro a condição de a maior do país. Bancado pela Telefônica, o prédio construído para abrigar o planetário, no Parque do Carmo, em Itaquera, custou 11 milhões de reais. Sua arquitetura, estilosa, lembra a forma espiralada das galáxias. Mais de 100 000 visitantes depois, o local está sem funcionar há sete meses. "Temporariamente fechado para reforma", anuncia um cartaz afixado em sua entrada. Informação, aliás, que não aparece no site da prefeitura (até a última quarta-feira era possível encontrar ali seus "horários de funcionamento"). Nem no Guia dos Parques Municipais, livreto lançado pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente no último dia 30. Nas páginas desse guia, o planetário aparece como uma das atrações do Parque do Carmo – sem nenhum aviso de que, ao que tudo indica, não vai reabrir tão cedo.

O principal motivo que levou o planetário a ser interditado é a infiltração de água. Na época das chuvas de verão, começaram a surgir goteiras e rachaduras. Um fantasma que vem à lembrança: o Planetário do Ibirapuera também sofreu com isso. "Mas era diferente", explica o astrofísico Fernando Nascimento, diretor dos planetários de São Paulo. "O prédio do Ibirapuera já tinha mais de quarenta anos e apresentou esses problemas por causa da idade." Medidas de primeiros socorros foram tomadas para preservar os equipamentos. Uma espécie de cabaninha coberta com plástico protege atualmente os projetores, e o Universarium VIII ganhou uma capa de tecido, para evitar o acúmulo de poeira. Mesmo com o planetário desativado, os aparelhos são ligados semanalmente para um check-up.

Em fevereiro, a Secretaria do Verde pediu à Telefônica que se encarregasse de saber o que ocorreu com o prédio. A Telefônica, por sua vez, acionou a construtora Afonso França, responsável pela execução da obra, e encomendou a uma empresa independente uma série de laudos técnicos. O diagnóstico deve ser entregue à prefeitura em outubro. Somente então se decidirá quem vai arcar com a reforma na estrutura do prédio e quando as obras começarão. Enquanto isso, os trinta funcionários dos planetários paulistanos, que se revezam entre os parques do Ibirapuera e do Carmo, convivem com as 274 poltronas vazias deste último. "É triste, mas são coisas da vida", conforma-se Nascimento. "Como numa cirurgia, esperamos que o prédio volte a funcionar em condições plenas." Só não se sabe quando.


Quarta-feira, 11 de julho de 2007

16 de jan. de 2009

Perigo que vem do céu

CRIME
Cerca de 2 000 paulistanos desafiam a lei, insistem que balão é arte e, com isso, colocam em risco a população

"Quando acordo e vejo o céu limpinho, azul, bate uma vontade de voltar a soltar balão..." Para o empresário Caio*, o hobby virou saudade. Desde que se casou, há quatro meses, nada mais de balonismo. Foi condição imposta pela mulher. "Antes, participava de todos os festivais e minha turma chegou a soltar um de 50 metros de altura", lembra. Turma é como os baloeiros chamam as suas organizadas equipes. Em São Paulo, estima-se que sejam mais de quarenta – num total de 2.000 praticantes –, cada qual com um nome (Emenda, Abalo, Aliados do Céu, Antigões...) e um emblema. "Balão é coisa que passa de geração para geração", diz o comerciante Leandro*, que há mais de dez anos tem sua turma. "É paixão mesmo, arte."

Para os fãs, a atividade pode até ser encarada como arte. Mas é crime. De acordo com a Lei de Crimes Ambientais, de 1998, "fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas (...), em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano" pode render de um a três anos de cadeia. "É algo tão perigoso que a lei criminaliza todas as atividades do processo que leva à soltura do balão", afirma o tenente Marcelo Robis Nassaro, da Polícia Militar Ambiental. Nos últimos cinco anos, 65 baloeiros foram detidos na Grande São Paulo e 210 balões apreendidos. Segundo o Corpo de Bombeiros, 219 incêndios que ocorreram no mesmo período foram causados por eles. No dia 17 de maio, por exemplo, um balão de 8 metros de altura danificou 400 dos 3.800 metros quadrados do telhado do Centro Cultural São Paulo, no Paraíso. O incêndio mobilizou 32 bombeiros.

Nos meses de junho e julho, esses trambolhões voadores se tornam mais comuns, pois a prática ainda está associada às festas juninas. O inverno, com ventos frios e pouca umidade do ar, é ideal para que os balões alcem vôos longos e altos. São essas mesmas condições climáticas, aliás, que favorecem os incêndios. "Mais da metade das ocorrências do ano são registradas nos meses de ar seco", diz o tenente Marcos das Neves Palumbo, do Corpo de Bombeiros. Em média, os balões têm 20 metros de altura e custam de 800 a 10 000 reais, dependendo do tamanho, do acabamento e do material empregado. Os mais caros chegam a ser equipados com sistema GPS, o que permite sua recuperação com maior facilidade. Uma turma de baloeiros pode levar um ano para preparar o seu, principalmente por causa dos detalhados desenhos que costumam estampá-los.

Preocupadas com o constante risco de incêndios, as catorze empresas do Pólo Petroquímico do Grande ABC, no limite de Santo André com Mauá, mantêm um esquadrão de sentinelas. Munidos de binóculo, quarenta vigilantes ficam de olho no céu. Quando um balão é avistado, comunicam-se entre si até terem certeza de onde ele vai cair. "Felizmente, nunca registramos nenhuma ocorrência grave", diz Sidney dos Santos, gerente da Associação das Indústrias do Pólo Petroquímico do Grande ABC. "Mas já houve casos em que tivemos de abater o balão no ar com um jato d'água." Em 2001, 113 balões caíram nos 2 milhões de metros quadrados do pólo. Alarmada, a associação decidiu investir em campanhas de conscientização. Está dando resultado: no ano passado, aconteceram "apenas" 27 quedas.

Enquanto a sociedade se mobiliza em ações como essa, a polícia segue fazendo um trabalho de formiguinha (veja o quadro). Flagrar grupos pequenos de baloeiros é tarefa quase impossível. "Só conseguimos chegar a um evento do tipo quando recebemos uma denúncia", admite o tenente Nassaro. A tática que os policiais têm adotado é ficar de olho nos sites das turmas e em comunidades da rede de relacionamentos Orkut. Tanto que, para não dar bandeira, os baloeiros estão evitando divulgar datas e locais de seus encontros na internet. Não custa repetir: é uma atividade clandestina e criminosa, que coloca a população em risco.

* Nome fictício


Quarta-feira, 20 de junho de 2007

15 de jan. de 2009

São Paulo em construção

MEMÓRIA
Neto de engenheiro de Ramos de Azevedo expõe fotos do início do século XX

Quinze anos atrás, durante uma visita a um tio em Santos, o médico paulistano Miguel Gobbi Neto foi presenteado com um tesouro fotográfico. Centenas de imagens bem conservadas, em preto-e-branco, retratavam a arquitetura e o cotidiano da São Paulo do início do século XX, em especial as edificações projetadas pelo escritório de Ramos de Azevedo e executadas pelo construtor italiano Miguel Gobbi, seu avô. "Por ser o único neto homem a trazer o sobrenome da família, fui encarregado de zelar pelo material", lembra. Até o início deste ano, a coleção ficou cuidadosamente guardada na casa do médico. "Ao ler a coluna Memória Paulistana, da Vejinha, pensei em resgatar essa história", conta. Gobbi organizou no Hospital Santa Catarina, onde é chefe de um dos ambulatórios, a mostra Construções: um Olhar sobre a São Paulo do Século XX, que começa na próxima segunda (12).

O construtor Miguel Gobbi nasceu em 1878, no norte da Itália, e, ainda criança, ficou órfão de pai e mãe. Criado por um tio que integrava a Guarda Suíça do Vaticano, logo se viu freqüentando o seminário. Não se adaptou à vida ascética. "Sempre que tinha folga, saía para caçar patos com um amigo", diz seu neto. "Em uma das vezes se acidentou e machucou gravemente o braço." Foi durante o tempo em que ficou internado, tratando-se, que tomou a decisão de abandonar o seminário. Fez então vários cursos relacionados à construção civil. Em 1906, aportou no Brasil e começou a atuar com Ramos de Azevedo. O trabalho da dupla rendeu muitos frutos à paisagem urbana de São Paulo. É atribuída a Gobbi a construção do Palácio das Indústrias, do Mercado Municipal e do Teatro Municipal, além de diversas mansões. Um pouco dessa história pode ser conferida nas fotos da exposição.

Construções: um Olhar sobre a São Paulo do Século XX. Boulevard Irmã Margarida Behlau, no Hospital Santa Catarina. Avenida Paulista, 200, 3016-4231. Grátis. Até 9 de julho. A partir de segunda (12).


Quarta-feira, 14 de junho de 2006

14 de jan. de 2009

Visitinha animal

BICHOS
Pelo menos vinte cães "voluntários" alegram pacientes em hospitais

Aos 3 anos, o golden retriever Joe Spencer tem agenda cheia. Às segundas e quartas, bate cartão no Hospital São Paulo, na Vila Clementino. Toda terça, comparece a uma escola especializada em pessoas com paralisia cerebral, no mesmo bairro, e às quintas vai ao Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (Graac), na Vila Mariana. "Quando Joe não tem trabalho voluntário, ele fica tristonho", acredita a administradora Luci Borges, dona do cachorro, que desde 2005 é levado para visitar doentes e idosos. No mesmo ano, a pedagoga Cecília de Souza Leite criou um projeto similar. Hoje, coordena uma equipe com treze cães que se revezam em hospitais públicos, asilos e clínicas da cidade. "É impressionante ver como as crianças ficam felizes quando os animais entram nos quartos", conta Cecília.

O uso de animais em tratamentos médicos começou por volta de 1800, na Inglaterra, em uma clínica de doentes mentais. Ali, os pacientes eram incentivados a cuidar dos bichos. Com o passar dos anos, outras técnicas foram desenvolvidas. Por aqui, a pioneira é a médica veterinária e psicóloga Hannelore Fuchs, que em 1987 se doutorou na USP com um estudo sobre os benefícios da interação de animais com pacientes. Dez anos mais tarde, montou uma equipe – hoje formada por dezoito pessoas – para levar cães, pequenos roedores e tartarugas a hospitais como a Santa Casa, na Vila Buarque, e o Nossa Senhora de Lourdes, no Jabaquara. "Os pacientes ficam mais calmos, choram menos, e o relacionamento com os enfermeiros melhora", afirma.

Antes de entrarem nos hospitais, os cães têm a boca e as patas limpas com anti-séptico. A cada quatro meses passam por um veterinário. As visitas, semanais, duram de uma a duas horas. Esse tempo, distribuído entre os pacientes, parece pouco para Mateus da Silva, 5 anos, tetraplégico desde os 3. Ele abre um sorrisão quando recebe o carinho da golden Lola. Ou para Rafael Souza, 2 anos, que, depois de ficar três dias internado com uma crise respiratória e obter alta, não queria nem saber de ir embora para casa. "O cachorro é meu", dizia, enquanto levava Lola pela coleira no corredor do Hospital Mandaqui.

em parceria com Filipe Vilicic.



Quarta-feira, 29 de agosto de 2007

13 de jan. de 2009

Viagem ao fundo do mar

DIVERSÃO
Aquário de São Paulo ganha setor com 1 milhão de litros para peixes de água salgada e espera dobrar o número de visitantes

A bióloga Juliana Brandão deixou os peixes um pouco de lado. Desde o dia 2, tem se dedicado exclusivamente a cinco novos moradores do Aquário de São Paulo. "Virei babá de pingüins", diz ela. "Eles necessitam de acompanhamento especial até que se adaptem." Não foi só a rotina dela que mudou. Após catorze meses de obras – e paralisação completa das visitas por vinte dias –, o espaço de 3 000 metros quadrados no Ipiranga dobrou de tamanho. Agora com animais de água salgada, o aquário abriga um total de 3 000 exemplares, de 500 espécies. Os funcionários passaram de setenta para 110, entre oceanógrafos, veterinários, biólogos e monitores. A expectativa é que o número de visitantes salte de 25 000 para 50 000 por mês.

Inaugurado há dois anos, o Aquário de São Paulo costuma agradar às crianças não só pela fauna, mas também por uma cenografia chamativa. No Vale dos Dinossauros, por exemplo, grandes bonecos em forma de répteis extintos se movimentam mecanicamente. Entre os novos setores, há uma réplica, em tamanho natural, de um submarino da II Guerra Mundial e a reprodução da estação polar brasileira na Antártica. O ponto alto do passeio é o aquário gigante de 1 milhão de litros de água salgada. Para observá-lo, o público fica em um recinto que lembra um navio naufragado. Os peixes – inclusive seis exemplares de tubarão-lixa – são vistos através de placas acrílicas quando se olha tanto para a frente quanto para o alto. Dia sim, dia não, é nessa enorme piscina que o oceanógrafo Ricardo Cardoso mergulha para tratar dos animais. "Dou a eles peixes, crustáceos e moluscos", conta. "É um trabalho de cerca de uma hora."

Aquário de São Paulo. Rua Huet Bacelar, 407, Ipiranga, 2273-5500. 10h/18h (seg. a dom.). R$ 10,00 (seg.) e R$ 20,00. www.aquariodesaopaulo.com.br.


Quarta-feira, 16 de julho de 2008

12 de jan. de 2009

Dez motivos para ver estrelas no Planetário do Carmo

1. É o único planetário fixo de São Paulo, já que o do Ibirapuera está interditado desde 1999. Bancado pela iniciativa privada, consumiu investimentos de 11 milhões de reais.

2. Para comemorar a inauguração, no último dia 30, as sessões deste mês são gratuitas. Basta chegar uma hora antes do início e retirar o ingresso.

3. Com 12 000 lentes, o projetor Universarium VIII passou por atualização tecnológica e é considerado o mais avançado do Brasil. Garante uma reprodução fiel de cores, tamanhos e posição dos astros. Além dele, há 74 projetores periféricos distribuídos pela sala.

4. Tem a maior cúpula do país, com 20 metros de diâmetro, empatada com a do planetário do Rio de Janeiro. Cada fileira de poltronas ganhou uma inclinação diferente para facilitar a visão dos 274 espectadores.

5. Mesmo do lado de fora, o público não fica à toa. Astrônomos explicam o funcionamento de um relógio de sol, realizam projeções com telescópio (nas quais se vêem as manchas solares) e mostram os pontos cardeais na rosa-dos-ventos.

6. O projeto arquitetônico reproduz de forma estilizada as galáxias em espiral, como a Via Láctea.

7. No momento mais impressionante da sessão, o visitante faz uma "viagem" por diversos planetas do sistema solar. Ao chegar à Terra, são mostradas montanhas e florestas. A idéia é ressaltar a necessidade da preservação do meio ambiente.

8. Em uma instalação permanente a céu aberto, podem-se conhecer as camadas do interior do nosso planeta. Há uma exposição semelhante no planetário de Chicago, nos Estados Unidos.

9. Aproveite e estique o passeio pelo Parque do Carmo. Numa área de 1,5 milhão de metros quadrados de muito verde, é possível andar no meio de um cafezal, pedalar pela ciclovia ou simplesmente relaxar à beira de um de seus seis lagos.

10. Na hora de parar o automóvel, o visitante está livre da praga dos flanelinhas. O estacionamento comporta 131 carros, nove ônibus e 27 motos.

Planetário do Carmo. Rua John Speers, 137, Parque do Carmo, Itaquera, 6521-1144 e 6522-8555. 10h e 14h (seg., qua. e qui.); 10h, 12h, 14h e 16h (sáb. e dom.). Fecha nos dias 25 e 1º.


Quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

11 de jan. de 2009

Longa jornada dentro da noite

EVENTO
Virada Cultural terá 24 horas de shows, peças, exposições, filmes...


Que tal um espetáculo de balé às 2 da manhã no Museu do Ipiranga? Uma pré-estréia de cinema às 4? Ou um recital de poesias madrugada adentro? No próximo fim de semana, entre 14 horas de sábado (19) e 14 horas de domingo (20), a cidade terá uma programação sob medida para os notívagos. Organizada pela Secretaria Municipal de Cultura e pela SPTuris (antigo Anhembi), em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura e o Sesc, a Virada Cultural irá pulverizar mais de 200 atrações por dezenas de pontos, durante 24 horas. A inspiração é européia. Em capitais como Paris, Roma e Bruxelas, as chamadas noites brancas estão se tornando tradição. Mas uma das principais diferenças entre a maratona paulistana e as que ocorrem na Europa é que, enquanto lá a programação é mais centralizada e os interessados podem acompanhá-la por inteiro, aqui se apostou na simultaneidade de eventos. "Queremos revelar a nós mesmos a força e a diversidade de São Paulo", afirma o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil, que calcula um investimento de 3 milhões de reais na festa.

Para o músico Tom Zé, que se apresenta no Vale do Anhangabaú às 18 horas, o ponto alto do evento é a oportunidade de levar cultura para diversas regiões da cidade. "Será como um umbigo, que vai religar o paulistano aos seus artistas", acredita. O Anhangabaú e o Museu do Ipiranga serão os eixos principais da Virada Cultural. No primeiro, o compositor Paulo Vanzolini (que não faz shows há um ano e meio) irá, às 16 horas, relembrar sucessos como Ronda e Volta por Cima ao lado de Eduardo Gudim e Vânia Bastos. Ali também acontecem as apresentações de Jorge Mautner (às 20 horas) e Elza Soares (às 4h30). Já no museu, os destaques são o Balé da Cidade (às 22 horas), o Balé Stagium (à meia-noite) e a Companhia Cisne Negro (às 2 horas), além, é claro, da possibilidade de visitar o acervo durante a madrugada.

Haverá programações especiais ainda no Centro Cultural Banco do Brasil, na Casa das Rosas, no Museu da Casa Brasileira e na Pinacoteca, entre outros locais. Alguns cinemas aderiram. O CineSesc terá uma programação específica, incluindo a pré-estréia de Free Zone, do israelense Amos Gitai, às 4 horas. Por causa da virada, estações de metrô e trens funcionarão durante toda a noite e a SPTrans promete reforço nas linhas de ônibus. "Meu sonho de consumo sempre foi viver em um lugar em que tudo fosse 24 horas", afirma o poeta Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas. No próximo fim de semana, ele poderá sentir o gostinho de ter seu desejo realizado.


Quarta-feira, 16 de novembro de 2005

10 de jan. de 2009

Em 2 horas, 1/3 das chuvas do mês

CLIMA
A maior precipitação do ano na capital paulista deixou 45 pontos de alagamento, 37 deles totalmente intransitáveis

Em duas horas, a maior chuva do ano fez São Paulo registrar 45 pontos de alagamento - 37 deles intransitáveis. Entre 14 e 16 horas, choveu 64,8 milímetros, de acordo com a empresa Climatempo, o que representa praticamente um terço de tudo o que estava previsto para o mês de dezembro, conforme o meteorologista Marcelo Pinheiro. Até as 19 horas, os pluviômetros marcavam 67,4 milímetros. A maior chuva em volume deste ano, até então, ao longo de um dia todo, foi de 65,8 milímetros, no dia 15 de janeiro.

A capital toda ficou em estado de atenção até 18h55. Às 17h20, quando havia 20 pontos de alagamento, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) registrava 167 quilômetros de congestionamento - o índice aumentou para 174 quilômetros às 18h55. Trechos das Avenidas Ibirapuera, Santo Amaro, 23 de Maio e Interlagos ficaram completamente intransitáveis, além das Marginais do Tietê e do Pinheiros.

Entre 14 horas e 15h30, os bombeiros receberam cinco chamados de pessoas ilhadas em carros, a maioria na zona norte. Os soldados também precisaram resgatar crianças e idosos presos nas próprias casas nos bairros do Jaçanã e do Carandiru. Pelo menos 15 árvores caíram. Por precaução, o Metrô reduziu a velocidade de seus trens - os da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) funcionaram normalmente.

O Aeroporto de Congonhas, na zona sul, fechou às 15h30, com 31 vôos atrasados - dos 145 previstos - e 9 cancelados. As operações só foram retomadas às 16h55, com auxílio de instrumentos. Enquanto isso, o Aeroporto Campo de Marte, na zona norte, ficou alagado. As duas regiões foram as mais afetadas.

Trechos de Pinheiros, Butantã, Lapa, Santo Amaro, Ibirapuera, Itaim-Bibi, Ipiranga, Vila Guilherme, Santana e Vila Maria ficaram sem energia elétrica. Os Shoppings Ibirapuera e Metrô Santa Cruz ficaram só com geradores por cerca de meia hora. Também houve registros de falhas de abastecimento em pontos isolados nos municípios de São Bernardo do Campo, Mauá e Itapecerica da Serra. A expectativa da AES Eletropaulo é de que até as 23 horas 90% das ocorrências fossem resolvidas. Nos demais casos, a luz deveria voltar até o início da manhã de hoje.

Na Grande São Paulo, outros municípios também registraram problemas. Houve alagamentos em Sorocaba e no km 273 da Rodovia Régis Bittencourt, em Taboão da Serra. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) interditou o trecho, o que causou uma fila de veículos de 18 km, que só diminuiu no fim da noite.

TEMPO
Segundo a empresa Climatempo, hoje a previsão é de mais chuva forte. "O dia será bem parecido, com sol pela manhã e chuva à tarde, por causa do calor e da umidade", afirma o meteorologista Marcelo Pinheiro. "Uma frente fria ainda deve chegar a São Paulo na quinta e o tempo não vai melhorar até o fim da semana."


Terça-Feira, 23 de Dezembro de 2008

9 de jan. de 2009

Livro resgata as casas bandeiristas

PATRIMÔNIO
Ainda que rudimentar, para pesquisadora esse tipo de construção contribui para SP se orgulhar de seu passado

Porque orgulho é uma coisa sem explicação, geralmente atrelado às raízes, ao que há de mais essencial, o paulista elegeu como símbolos de sua arquitetura histórica as simples, pobres e rudimentares "casas velhas". Casas velhas era como o poeta Mario de Andrade (1893-1945) chamava as residências rurais do período colonial que encontrou em suas andanças pelo Estado, em 1937, incumbido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de determinar o que merecia ser tombado. Casas velhas que, menos de duas décadas mais tarde, já consagradas como tesouro paulista, foram chamadas em discurso solene de "casas bandeiristas". Por outro poeta, Guilherme de Almeida (1890-1969). E é sob este nome, que alude aos desbravadores bandeirantes presentes no imaginário paulista, que elas passaram a ser tratadas a partir de então. "Mesmo que nenhuma delas tenha pertencido a bandeirantes", afirma a arquiteta Lia Mayumi, do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura de São Paulo.

Hoje estão catalogadas - e devidamente tombadas - 38 casas bandeiristas no Estado. Doze delas na capital. Seis sob a administração do DPH, onde Lia trabalha há 21 anos. "Ao longo do tempo, algumas foram doadas à Prefeitura, outras acabaram adquiridas", conta. Ela aproveitou o conhecimento conseguido durante o trabalho de restauração e preservação dessas construções de taipa de pilão para desenvolver sua tese de doutorado na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), em 2006. E acaba de lançar o bem-acabado livro Taipa, Canela-Preta e Concreto - Estudo Sobre o Restauro de Casas Bandeiristas (Editora RG, 317 páginas, R$ 35).

Quem já visitou uma dessas construções - as seis mantidas pelo DPH, por exemplo, recebem periodicamente exposições temporárias - logo imagina uma casa rústica, mas toda branca, limpinha e clean. "Não eram assim. Isso foi um paradigma criado", explica a arquiteta. "Originalmente, cada uma era de um jeito. Eram pintadas a cal, mas havia moradores que misturavam pigmentos, deixando os cômodos azuis, verdes, amarelos, ocres..." O conceito de casa bandeirista, tal e qual se conhece na atualidade, foi desenvolvido pelo arquiteto Luiz Saia (1911-1975), que dos anos 30 até a morte trabalhou no Iphan e atuou na descoberta de todas as casas bandeiristas. Até hoje o DPH utiliza o método de Saia para preservar esse patrimônio da arquitetura.

É óbvio que, mesmo com as diferenças entre si, as casas bandeiristas apresentam um conjunto de características comuns que permite sua classificação dentro da mesma categoria. Para começar, todas são construções coloniais paulistas, ou seja, foram erigidas entre os séculos 17 e 18. Sua paredes são de taipa de pilão e as telhas, de canal. Saia também observou que havia uma preferência que elas fossem construídas próximas a riachos - na certa para facilitar o acesso à água. A disposição dos cômodos também era semelhante, como se as casas tivessem uma divisão interna em três alas: a social, a familiar e a de serviço.

O resgate das casas bandeiristas, simbolizado pelo já citado discurso de Guilherme de Almeida durante as comemorações do Quarto Centenário, em 1554, contribuiu para que São Paulo também pudesse se orgulhar de seu passado arquitetônico. Ainda que fossem construções rudimentares. "Enfim, o povo paulista sentia que tinha um tipo de edifício próprio da região", afirma Lia. "Era pobre, não tinha ouro como o barroco mineiro, porque não havia riqueza aqui no período colonial." Esse sentimento é revisitado toda vez que alguém se dispõe a conhecer uma das casas velhas que restaram (no quadro, as mantidas pelo DPH).


AS SEIS DO DPH
Butantã: Praça Monteiro Lobato, s/n.º. Construída no século 18 e restaurada em 1954
Caxingui: Praça Enio Barbato, s/n.º. Construída no século 17 e restaurada em 1967
Mirim: Avenida Doutor Assis Ribeiro, s/n.º. Construída em 1759 e restaurada em 1967
Ressaca: Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3. Construída em 1719 e restaurada em1979
Morrinhos: Rua Santo Anselmo, 102. Construída em 1702 e restaurada em 1984 e 2000
Tatuapé: Rua Guabiju, 49. Construída no século 18 e restaurada de 1980 a 1981


Sexta-Feira, 26 de Dezembro de 2008

8 de jan. de 2009

Doutor em árvore de Natal

PAULISTÂNIA
William da Conceição Hering cultiva pinheiros há 60 anos na Ilha do Bororé

Quando percorre as trilhas de sua fazenda de 1,4 milhão de metros quadrados, na Ilha do Bororé, o paulistano Edwin William da Conceição Hering, de 74 anos, sempre carrega um facão. Ao se deparar com um pinheirinho precisando de poda, não resiste e faz o serviço. "Visitei plantações de coníferas nos Estados Unidos, no Canadá, na Dinamarca, na Inglaterra e na Alemanha, aprendendo as melhores técnicas para uma árvore de Natal perfeita", conta. "Eu mesmo ensinei aos meus funcionários."

Hering, ou Doutor William - como é chamado por todos - domina cinco idiomas e cursou duas faculdades (Economia, na PUC, e Direito, na USP). Mas sua especialidade são as árvores que, enfeitadas, trazem alegria nesta época do ano. Tudo começou em 1942, quando seu pai, o alemão Hans Wolfgang Hering, comprou terras na Ilha do Bororé e, aposentado de seu trabalho como representante comercial de uma marca de máquinas de lavar, decidiu plantar eucaliptos - para fazer lenha - e coníferas.

Em pouco tempo, a casa da família, no Jardim Europa, tornou-se um ponto de venda movimentado no segundo semestre. "Formavam filas ali em frente", recorda-se. "Depois começamos a alugar terrenos nos Jardins para comercializar os pinheiros." O negócio foi dando certo. Aos poucos, a carteira de clientes aumentou. Tanto que Doutor William nem exerceu a advocacia. "Desde cedo ajudei a administrar a fazenda."

A história de sua família, tanto do lado paterno quanto do lado materno, foi fortemente influenciada pela crise de 1929. "Meu pai veio para o Brasil pouco antes, seguindo o conselho de meu avô, que dizia ser o momento de recomeçar em outro país", conta. Já sua mãe, de família quatrocentona, era filha do Conde de Serra Negra, um bem-sucedido cafeicultor que tinha 25 fazendas. "Com a crise, só conseguiu salvar uma, a menor, em Botucatu", relata.

E era nessa fazenda que o menino William costumava passar suas férias quando criança. "Queria ser fazendeiro", lembra. O sonho foi concretizado muitos natais depois.

William nasceu na Rua Turiaçu e costumava brincar no Parque da Água Branca. Estudou no Colégio Visconde de Porto Seguro, que ainda se chamava Deutsche Schule, e no Colégio Marista Arquidiocesano. Em 1942, além da fazenda, seu pai também comprou uma casa na Rua França, no Jardim Europa, para onde a família se mudou. "Nunca mais saí de lá", conta ele, que atualmente vive com sua segunda mulher.

Em sua casa, Natal sempre foi uma solenidade. "Meus pais adornavam uma árvore na sala de visitas, que ficava trancada", rememora. "Reuníamo-nos na sala de jantar e, só depois de o sininho tocar, podíamos entrar e ver os enfeites, as velas, os presentes." O que mais ficou em sua lembrança foi uma bicicleta aro 24 que ele ganhou em 1943, com uma fita vermelha.

Era com ela que William ia, todos os fins de semana, até a Rua Mourato Coelho, na Vila Madalena, onde havia uma cocheira em que ficavam os cavalos de seu pai. "Andava pelo bairro todo. As ruas eram de terra e só tinha mato", diz.

BISCOITOS DE NATAL
Doutor William controla tudo o que acontece na fazenda Castanheiras. Recebe, por fax, relatórios diários com as atividades dos 25 funcionários. Quando vai para lá, geralmente uma vez por semana, é generoso nos elogios e rigoroso nas cobranças. Ele também exige boa qualidade dos pinheirinhos. "De cada mil que plantamos, não cortamos nem cem exemplares", revela, lembrando que só as melhores recebem uma etiqueta indicando que podem ser vendidas. Um pinheiro de 3 metros pode chegar a custar R$ 900.

Na fazenda, ele fica à vontade. Veste calça jeans e tênis e demonstra agilidade para caminhar, saltar do trator e interagir com os sagüis - que atrai para perto com um apito. No escritório, na Rua Xavier de Toledo, no centro, de onde administra a fazenda e cerca de 40 propriedades urbanas, o clima é mais sério. Veste paletó e gravata e tem um ar mais sisudo, concentrado. Visível de um sofá de espera, há uma tabuleta azul dependurada, com os dizeres: "Por fineza, aguardar na ante-sala." Dali, podem ser observados quadros espalhados pelas paredes, com fotografias de sua propriedade rural. Tanto na fazenda como no escritório, o café é servido em xícaras decoradas com desenhos de pinheirinhos.

Aos poucos, Doutor William vem diminuindo a plantação de coníferas. "Em 30 anos, quero ter 40% de minha fazenda com mata nativa", promete. "Murei-a toda, porque o pessoal entrava para roubar palmito e caçar. Quero deixar uma área preservada para a posteridade."

O discurso ecologista é trazido para as ações do dia-a-dia. Doutor William é conhecido entre os funcionários do prédio onde fica seu escritório por uma excentricidade: não utiliza os elevadores. São 12 andares subidos e descidos diariamente a pé. "Desde 1991 eu só uso escadas. Elevadores demandam muita energia elétrica", justifica.

Seus pinheirinhos podem ser encontrados na loja de conveniência de um posto de gasolina próximo à Ponte Cidade Jardim. Antes de ter se tornado posto, ali era uma floricultura, que já comercializava as árvores de sua fazenda. O terreno é uma das propriedades que ele aluga. O maior pinheiro que ele já cortou tinha 16 metros de altura. Foi utilizado no Anhembi, em 1982, para decorar um evento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae).

Tradições natalinas são mantidas pelo Doutor William. Quem o visita em dezembro, já sabe: vai ganhar um "biscoito de Natal", costume que atravessa gerações de sua família, alemã de origem escocesa. Saborear um deles é sentir o gosto de um feliz Natal.


Domingo, 21 de dezembro de 2008

7 de jan. de 2009

A cidade acelera na velocidade da F1

AUTOMOBILISMO
Pelo terceiro ano consecutivo, o campeonato mundial será definido em São Paulo

Quando for dada a largada do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, às 14 horas deste domingo (21), o mundo do automobilismo estará a 71 voltas da definição do campeão de 2007. Pela primeira vez na história da competição, o favorito é um novato de 22 anos, estreante na categoria: com 107 pontos, o inglês Lewis Hamilton tem 4 de vantagem para seu companheiro de McLaren, o espanhol bicampeão do mundo Fernando Alonso. Em seguida, aparece o finlandês Kimi Raikkonen (100 pontos), aposta da Ferrari. No outro cockpit ferrarista, o paulistano Felipe Massa, que no início do ano era apontado como forte candidato a levar o campeonato, derrapou o suficiente para ficar de fora da disputa na antepenúltima prova da temporada – na classificação geral, ele aparece em quarto, com 86 pontos. Mesmo assim, não desanima. E espera alegrar a torcida brasileira com um repeteco da vitória ocorrida há um ano em Interlagos. "Vou lutar para vencer, como sempre faço, e acredito que minha equipe tem boas chances por aqui", afirma.

Fora das pistas, a Fórmula 1 é um negocião para a cidade, embora a prefeitura gaste muito para organizá-la – neste ano foram injetados 30 milhões de reais. De acordo com um levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a cada 1 real investido na corrida, outros 3,20 entram na cidade. Os hotéis ficam lotados, 14 000 empregos diretos e indiretos são criados, a arrecadação de impostos aumenta e 120 000 pessoas, paulistanos e turistas, ocupam as arquibancadas para assistir aos treinos e à corrida. A movimentação começa antes, já nos preparativos. Trezentas toneladas de parafernália das equipes, inclusive os 22 carros, vieram da China em sete aviões Jumbo e desembarcaram no Aeroporto de Viracopos, em Campinas. De lá, entre os dias 11 e 13, foram trazidas para São Paulo em um comboio formado por 120 carretas, escoltadas por carros de segurança. Acompanhar a corrida no autódromo pertinho dos barulhentos motores é um sonho que custa caro. Os ingressos variam de 300 a 1 865 reais – vips e sortudos disputam, todos os anos, as 2 500 vagas em um dos camarotes de empresas patrocinadoras.

Mas nem sempre houve tanto glamour. Em 30 de março de 1972, a primeira corrida de Fórmula 1 disputada no Brasil nem valeu pontos para o campeonato. Serviu apenas para homologar a entrada do país no calendário do ano seguinte. Os ingressos custavam bem menos – em valores atuais, de 33 a 67 reais. Na véspera da prova, o garoto José Carlos Barbirotto, então com 12 anos, esperou que os pais dormissem para tomar um ônibus de Santana, onde morava, até Interlagos. Ansioso, aguardou o dia amanhecer para assistir ao GP assim, escondido. "Estive em todas as competições realizadas em São Paulo", conta. Em 1992, tornou-se um dos 400 voluntários que trabalham na organização e fiscalização da corrida. Desde então tira suas férias – ele ganha a vida como analista de sistemas – de acordo com o calendário do automobilismo. "São duas semanas em que chego às 7 horas e só vou embora do circuito por volta das 9 da noite", diz. Quando começou, atuava como empurrador, ajudando a tirar os carros da brita, por exemplo. Fez carreira e, no ano passado, tornou-se diretor adjunto de resgate. Durante a corrida, fica na mesma sala que o diretor de prova, Carlos Montagner, e o diretor de corridas da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Charlie Whiting. Dezoito monitores mostram todos os trechos da pista para que os diretores controlem e orientem o esquadrão de voluntários. Em caso de acidente grave, o aparato médico é acionado. Mantido pelo Hospital São Luiz, funciona em Interlagos um centro com UTI, sala para exames radiológicos, laboratório de análises clínicas... Até um centro cirúrgico é montado ali. "Se necessário, temos ainda dois helicópteros à disposição", diz o diretor médico, Dino Altmann. "Em três minutos podemos levar um piloto à unidade do Morumbi ou do Itaim."

Com o ingresso na mão, o problema passa a ser o trânsito, que se torna caótico nos arredores do autódromo em dias de GP. Há duas opções para fugir dele. Uma delas, nova e baratinha, é o trem. A CPTM inaugurou na quarta-feira (17) a Estação Autódromo, na Linha C, a 600 metros do circuito. O bilhete custa 2,30 reais, e o sistema está integrado ao metrô. Quem quiser conforto, e estiver disposto a pagar por isso, pode ir de helicóptero. A empresa LRC cobra 700 dólares por pessoa para levar e trazer de qualquer heliponto da cidade ao circuito com hora marcada. Afinal, para quem curte velocidade e fica atento aos milésimos de segundo, nada pior do que passar a manhã de domingo preso em um congestionamento.


TRÊS CARROS NA RETA FINAL
Sete aviões Jumbo trouxeram da China as 22 máquinas que vão compor o grid de largada. Três delas decidem o título de 2007 neste domingo (21).

GLOSS E MINISSAIA
As 22 modelos contratadas só saberão de seu posicionamento no grid pouco antes da largada. "Torço para o Massa, mas quero mesmo é ficar pertinho do Alonso", derrete-se Patricia Fischer, de 24 anos.

QUEM SABE EM 2008...
Não foi a temporada dos sonhos para o paulistano Felipe Massa, que de favorito termina 2007 amargando a quarta colocação. "Tenho certeza de que vamos brigar pelo título no ano que vem", diz.

A TRÊS MINUTOS DO HOSPITAL
Dois helicópteros ficam de prontidão para, em caso de acidente grave, levar pilotos às unidades do Morumbi ou do Itaim do Hospital São Luiz. Em três minutos.

AO LADO DOS CHEFÕES
Felippe Biazzi e José Carlos Barbirotto são dois dos 400 voluntários que trabalham no GP Brasil. Eles fazem parte do seleto grupo – formado por dez pessoas – que divide uma sala com as autoridades máximas da prova: o diretor do GP, Carlos Montagner, e o diretor de corridas da FIA, Charlie Whiting.

TORCIDA ANIMADA
Durante os três dias do GP (treinos e corrida), cerca de 120 000 pessoas lotam as arquibancadas de Interlagos. São fanáticos com dinheiro para bancar os ingressos, que variam entre 300 e 1 865 reais.


Quarta-feira, 24 de outubro de 2007

6 de jan. de 2009

São Paulo clicada do céu

TECNOLOGIA
Já ouviu falar em aerofotogrametria? Pois há quatro empresas paulistanas que vivem disso, fotografando a cidade de cima

O bimotor Piper Aztec sobrevoa a Marginal Pinheiros a 1 300 metros de altura, numa velocidade de 280 quilômetros por hora. Dentro dele, o piloto Eduardo Amantino e o fotógrafo Michel Balazs têm uma visão única da recém-inaugurada Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira. Com uma câmera Wild RC-10 que pesa 80 quilos e fica acoplada ao piso do avião, Balazs faz um clique a cada vinte segundos. "Já fotografei assim mais de 400 cidades brasileiras", conta, com um jeitão de quem não se impressiona mais diante do que vê voando baixinho. A dupla trabalha na Multispectral, uma das quatro empresas paulistanas de aerofotogrametria – ou seja, que fazem mapas a partir de fotos aéreas. É um serviço especializado que depende muito das condições meteorológicas para dar certo. A foto da nova ponte, por exemplo, precisou de duas tentativas, em dias diferentes, até ficar boa. "Qualquer nuvenzinha nos obriga a abortar o vôo e a retornar à pista de pouso", afirma o piloto. "O céu ideal é o azul limpo, sem nada", completa o fotógrafo. "É quando você olha para cima e não vê nuvem nenhuma."

Mas o trabalho não se encerra nas alturas. Quando acabam de fotografar, levam o enorme rolo de filme (sim, tudo é analógico) para a sede da empresa, no Campo Belo. Ali, eles revelam as fotos em um laboratório próprio – cada rolo custa cerca de 5 000 reais e rende 270 imagens –, fazem a digitalização e, com a ajuda de softwares de computador, montam um verdadeiro quebra-cabeça do que se tornará um mapa. "Com recursos como o GPS, o ganho de tempo no trabalho é astronômico", diz o engenheiro cartográfico Valdir Grossi. "Uma medição que antigamente demorava um dia inteiro hoje é feita em meia hora." Contratar um trabalho desses evidentemente não é barato. Para fotografar uma cidade de 200 000 habitantes, por exemplo, a empresa cobra 1 milhão de reais. Os clientes variam. São desde prefeituras, interessadas em delimitar corretamente os terrenos para acertar a cobrança de impostos, até construtoras que planejam lotear terrenos para lançar um condomínio.

Há algumas peculiaridades características da aerofotogrametria. Como o espaço aéreo é considerado área de segurança nacional, cada vôo do gênero necessita de uma autorização especial do Ministério da Defesa. Para operar, a empresa precisa controlar todas as etapas do processo. Tanto o avião quanto o laboratório de revelação têm de ser próprios. O produto final fica sob sua posse, mas não é de sua propriedade. "Se chegar um funcionário do Ministério da Defesa aqui somos obrigados a ceder o material que ele quiser", exemplifica o sócio-proprietário da empresa Wagner Pacifico. Desde o ano passado, a Multispectral decidiu oferecer em um de seus sites (http://www.geoportal.com.br) boa parte das fotos produzidas por ela. O serviço ainda está em fase experimental, mas a idéia é que indique rotas e seja uma ferramenta de localização para o internauta.


Quarta-feira, 4 de junho de 2008