27 de jan. de 2009

Brasil às moscas

CIDADE
Tradicional avenida paulistana está com 15% de seus imóveis vazios

Basta um passeio rápido pelos 2,5 quilômetros da Avenida Brasil, no Jardim América, para notar a abundância de placas de imobiliárias: de cada sete imóveis da via, um está disponível para venda ou locação. Uma média de 15%, mais que o dobro da encontrada no restante da capital. Os altos preços cobrados pelos proprietários, as restrições da Lei de Zoneamento e a idade dos imóveis são as causas da baixa procura. "Quando analisam a relação custo-benefício, os interessados optam por instalar seus escritórios na região da Paulista, por exemplo", afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). O aluguel de um casarão na Brasil chega a custar 80 000 reais mensais. Para se tornar dono do imóvel, então, é preciso assinar um cheque de até 10 milhões de reais.

Antes estritamente residencial, a Avenida Brasil atualmente é ocupada por quase duas dezenas de clínicas e laboratórios médicos, além de escritórios. Estão ali uma unidade do Hospital Albert Einstein e consultórios como o do cirurgião plástico Munir Curi, o do especialista em reprodução humana Roger Abdelmassih e o da dermatologista Ligia Kogos. "A região vem se caracterizando por ter centros médicos de boa qualidade", acredita Abdelmassih, que paga mais de 25 000 reais de aluguel por uma casa de 1 600 metros quadrados. "É um lugar tradicional e de fácil acesso a quem vem de fora", diz Ligia, que há seis anos atende em um sobrado construído no início do século passado. A avenida também é o endereço de dez lojas de material para construção, todas camufladas como showrooms (a Lei de Zoneamento permite apenas serviços no local, restringindo o comércio a alimentação, móveis, farmácias, antiquários e bancas de revistas).

Quando foi urbanizado, em 1915, o corredor era uma das vitrines da São Paulo que se modernizava. Ganhou amplos canteiros centrais, ornamentados com palmeiras, tipuanas e paineiras, e assumiu o posto de principal via do Jardim América, loteamento da companhia inglesa City planejado pelo arquiteto e urbanista Barry Parker. Foi lá que ocorreu uma das primeiras provas automobilísticas da cidade, em 1936, vencida pelo lendário italiano Carlo Pintacuda. O evento terminou em tragédia: a também famosa corredora francesa Hellé-Nice perdeu o controle de seu Alfa Romeo e matou quatro espectadores. Outros 22 ficaram feridos. Algumas décadas depois, muitos moradores migraram para ruas do miolo dos Jardins, onde o barulho causado pelo trânsito é menor e a privacidade, maior.

Se as condições atuais continuarem espantando interessados, os casarões vazios devem provocar a desvalorização de seu entorno. Enquanto um imóvel leva em média cerca de três meses para ser negociado em São Paulo, na Brasil esse processo tem demorado mais de seis. "A tendência é que, a médio prazo, os preços caiam", acredita Pompéia.


Quarta-feira, 12 de abril de 2006

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