22 de jan. de 2009

Vaga é o que não falta

DEPOIMENTO
Em um dia, repórter de Veja São Paulo tenta se empregar
como motoboy em três firmas. Foi aprovado em todas


Dirijo moto há quatro anos. Acho incrível sentir o vento batendo no corpo e ouvir o ronco do motor. É um misto de liberdade e perigo. Se não fosse jornalista, até que eu poderia ganhar a vida sobre duas rodas. No último dia 18, uma sexta-feira, vesti uma camiseta alaranjada, uma surrada calça jeans e calcei um par de tênis velhos. Treinei algumas gírias para parecer mais convincente – abusei de "trampo", "mano", "treta", "barão" e "é nóis na fita". Fui pedir emprego em três firmas de motofrete. Logo na primeira, na Vila Olímpia, um motoboy chamado Paulo me animou: "Se trabalhar direitinho, dá para tirar até um barão e meio, filho". Ou seja, 1 500 reais. Ele me orientou a pedir informação no balcão de atendimento. "Sempre tem vaga." Mandaram que eu preenchesse uma ficha com dados pessoais e do meu emprego anterior. Entreguei o papel e fiquei quase uma hora esperando para ser entrevistado. Enquanto aguardava, outro candidato, Rodrigo, puxou assunto. "Entra nessa, não, mano. Já caí quatro vezes", contou ele, com seus seis anos de experiência. Durante a entrevista, a funcionária foi simpática, disse que eu iria ganhar três camisas de uniforme e seria contratado como esporádico, ganhando 6 reais por hora. "Ser registrado só depende de você", garantiu. "Então chegue sempre no horário e cumpra suas obrigações." Bons motociclistas ainda são recompensados com uma cesta básica no fim do mês. Aprovado na primeira etapa, teria de entregar toda a documentação (RG, CPF, foto 3 por 4, CNH e atestado de antecedentes criminais) na próxima segunda para agendar minha entrevista com a psicóloga. Fiquei preocupado, mas o motoboy Paulo falou que era "mamão" (algo fácil). "De boa, mano. Aqui todo mundo é louco mesmo."

Dali, eu me dirigi a uma empresa menor, em Santo Amaro. Na entrada, uma faixa anunciava: "Precisa-se motoqueiro". Ofereci-me. Fátima, a responsável pela firma, me deu um caderno espiral. "Escreva aí seu nome, endereço, telefone e RG." "E quando começo?" "Pode vir na segunda, pagamos de 5,30 reais a 5,50 reais a hora, de acordo com o cliente." Com dois empregos na garupa, tentei um terceiro na Vila Mariana. O atendimento foi bem parecido com o da Vila Olímpia. Um homem que se apresentou como Sampaio pediu que eu levasse os documentos na segunda-feira. Começaria no dia seguinte. Na cidade dos congestionamentos, o que não falta é vaga para motoboy.


Quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

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