31 de out. de 2009

Jornalista Herval Faria, 74 anos

FALECIMENTO

A imprensa perdeu no sábado, aos 74 anos, o jornalista carioca Herval Faria, que na década 70 foi repórter do Estado na sucursal do Rio. Vítima de acidente vascular cerebral, após ter se submetido a uma cirurgia, Faria morreu no Hospital Adventista Silvestre, em Santa Tereza, no Rio, onde estava internado havia quatro dias. Deixou viúva, três filhos, noras, netos e um bisneto. Foi sepultado no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Além da passagem pelo Estado, Faria atuou nas redações do Jornal do Brasil, da Tribuna da Imprensa e da Rádio Tupi, além de ter produzido reportagens para a Bloch Editores. Também coube a ele chefiar a Assessoria de Imprensa do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 1988, iniciou suas atividades de empresário, fundando a Vídeo Clipping Produções. Em seguida, criou a editora e o jornal Correio da Serra, além do portal informativo Agência Rio de Notícias e dos boletins eletrônicos Atividades Nucleares e Setorial News Energia. Trabalhou ainda como livreiro.


Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

30 de out. de 2009

Por dentro da cabeça dos arquitetos paulistanos

ESPECIAL
Enquete do 'Estado' mergulha no cotidiano de quem pensa os espaços de São Paulo

De acordo com o Dicionário Houaiss, o substantivo feminino arquitetura significa "arte e técnica de organizar espaços e criar ambientes para abrigar os diversos tipos de atividades humanas, visando também à determinada intenção plástica". Não à toa, a arquitetura está presente no cotidiano de todo mundo. Do quarto onde dormimos à baia de escritório onde trabalhamos, sempre há uma (tentativa de) organização espacial. Com maior ou menor técnica. Com maior ou menor conforto. Com maior ou menor estética. Com maior ou menor arte.

E, assim como em todas as profissões, existem arquitetos e arquitetos. Uns acreditam que sua obra deve aparecer mais que o que ela abriga, outros exaltam a discrição; há os que se escondem atrás do próprio ego e os que preferem esconder o próprio ego; há os meios-termos; há tantos, tão vários que, paulistanos de tantas origens diferentes, têm sua parcela de mérito e culpa pelo caos urbano que é a maior metrópole brasileira, esta cidade de São Paulo que também são tantas infinitudes, imperfeições e belezas.

Em junho, o Estado decidiu promover uma enquete para entender como pensam os arquitetos paulistanos e, de quebra, pedir para que os próprios elegessem os melhores entre seus pares - missão difícil, já que era proibido que o eleitor votasse em si mesmo.

Para viabilizar a tarefa, o Estado contou com a ajuda da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA), que retransmitiu aos seus 144 associados paulistanos - responsáveis, segundo levantamento da entidade, por cerca de 70% das obras executadas em São Paulo - um questionário formulado pela reportagem.

Eram oito simples perguntas: data de fundação e número de arquitetos que trabalham no escritório; qual o projeto urbanístico que ele gostaria de ter sido o autor; qual jamais deveria ter sido feito; que local da cidade escolheria para melhorar; qual o maior símbolo da arquitetura paulistana; qual o melhor escritório de São Paulo; nome do escritório autor das respostas; nome do arquiteto responsável pelas respostas.

No total, o Estado recebeu de volta 64 e-mails. Após a apuração de tal amostragem, pôde-se entender um pouco a opinião dos arquitetos paulistanos sobre tais temas gerais.

Partiu-se então para a segunda etapa da reportagem. Os cinco escritórios de arquitetura mais admirados, segundo a enquete, foram procurados na penúltima semana de agosto, e informados do resultado do levantamento. Todos receberam o convite para participar das reportagens a seguir e foram incumbidos de uma mesma missão: apresentar uma ideia arquitetônica ou urbanística de presente para São Paulo. Tiveram seis semanas para desenvolver a proposta.

8.ª BIA
Com esta publicação especial, o Estado divulga os expoentes da arquitetura paulistana a dois dias da abertura da 8ª edição da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (www.bienalinternacionaldearquitetura.com), que vai até o dia 6 de dezembro no Pavilhão Ciccillo Matarazzo da Fundação Bienal, no Parque do Ibirapuera (R$ 12). A organização do evento espera receber 200 mil visitantes.

Embalada pelo fato de o Brasil ser a sede da Copa de 2014, a BIA deste ano pretende discutir como áreas degradadas em centros urbanos podem ser renovados graças a megaeventos.


Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

29 de out. de 2009

''Viciado'' em boas ideias, Cocenza virou o agitador do design em SP

PERFIL
Idealizador de evento que acontece na capital paulista entre hoje e amanhã, ele descobriu a vocação há 4 anos

Ele veste terno com tênis, tem um jeitão descolado, usa gírias e mais gírias. Irrequieto e tagarela, mostra empolgação com tudo o que faz. Não se cansa de declarar seu amor a São Paulo - ele, que nasceu em São José do Rio Preto, no interior do Estado, em 1965. Este é Roberto Cocenza, o agitador do design paulistano, idealizador do Boom SP Design - Fórum de Arquitetura, Design e Arte, cuja segunda edição acontece hoje e amanhã.

Interessante é que, apesar de estar à frente de um grande evento do setor, Cocenza não é designer - formou-se em Hotelaria - e só descobriu sua paixão pelo meio em 2005. "Foi quando organizei o Congresso Nacional de Design de Interiores (Conad). Conheci o (designer egípcio) Karim Rashid e percebi que era disso que eu gostava", lembra. "Aí, pensei: se eu não começar a fazer o que eu quero agora, não faço nunca mais."

Mesmo com o estalo vindo depois dos 40 anos, Cocenza recorda-se de passagens de sua infância que denunciam a afeição ao design. "Aos 10 anos, na escola, todo mundo olhava para meus tênis", conta, frisando que eram laranja e azul. "Também colecionava de tudo: tampinhas, pedras, óculos, relógio... E, quando fiz teste vocacional, deu Arquitetura."

E por que contrariou tudo isso e decidiu cursar Hotelaria? "Sempre gostei de investir em tendências. Naquela época, fui pesquisar e vi que o pensar em turismo estava bombando no Brasil", explica. "Mudei para São Paulo para estudar e, depois de formado, acabei trabalhando por três anos na área, até mudar de ramo." Foi quando, no fim dos anos 80, começou a organizar eventos. Fez festivais de música, trouxe circos, óperas e apresentações de balé.

Em 1991, resolveu montar uma empresa focada em eventos corporativos. "Desenvolvo projetos superexclusivos, eventos de relacionamentos, eventos para quem não quer sair na mídia", diz. "Pensamos na estratégia de cada cliente. Há eventos para apenas dez pessoas, outros para mil. Depende do que o cara quer." Era esse seu ganha-pão até a guinada ocorrida há quatro anos, quando organizou o Conad e resolveu dedicar-se também ao mundo do design.

O BOOM
Cocenza cntinua com a empresa de eventos corporativos, mas começou a oorganizar exposições de arte - trouxe, por exemplo, o mesmo Karim Rashid para uma mostra no Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros - e, no ano passado, inventou o Boom SP Design. Os 23 palestrantes - entre os quais o belga Arne Quinze, o grego Andreas Angelidakis e os americanos Todd Bracher e Brent White - atraíram cerca de 200 pessoas ao Shopping Iguatemi, onde ocorreu o evento.

Neste ano, serão 22 palestrantes. Há brasileiros, como os arquitetos Roberto Loeb, Ruy Ohtake e Marcio Kogan; e estrangeiros, como o sul-africano Gaby de Abreu, cujo escritório concebeu toda a identidade visual da Copa do Mundo de futebol, que será em seu país, no ano que vem.

"Acredito na força do design como agregador de valor, esse é o meu discurso. Ou você utiliza o design como ferramenta, embarca em um conteúdo bacana, ou vira grão de milho", comenta Cocenza. "Um exemplo: esta cadeira em que estou sentado vale 20 mil (a mesma da foto no alto). Porque foi desenhada pelo Karim (Rashid)."

Não à toa, acabou levando essa filosofia para outros campos de sua vida profissional. Acionista de uma empresa de iluminação, faz parcerias com designers internacionais que assinam suas luminárias - em troca de royalties. "Vou atrás de boas ideias em todas as feiras internacionais, dos Estados Unidos a Dubai", relata.

Para o ano que vem, além da terceira edição do Boom SP Design, Cocenza promete uma exposição em São Paulo com o americano Todd Bracher. "Essa é a pegada. Quero trazer o novo para a cena cultural paulistana", planeja.

Boom SP Design - Fórum de Arquitetura, Design e Arte: hoje e amanhã, na Unidade Design do Centro Universitário Belas Artes (Rua José Antônio Coelho, 879). Informações
pelo (11) 2925-3140


Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009

28 de out. de 2009

Jd. Alzira. Mas pode chamar de Fórmula 1

GP BRASIL
Pilotos, equipes e pistas dão nomes às ruas de bairro em Santo André

Para secar as roupas, um varal improvisado na rua. Rua Ferrari. Para brincar de bola, quatro tijolos, dois de cada lado, fazem as vezes de traves no campinho que é o meio da rua. Rua Benetton. Para compensar a falta da plaquetinha azul que sumiu, um rabisco no muro informa o nome da rua. Rua Minardi. Para chegar até essas vias, só um jeito: pela avenida principal. Avenida Ayrton Senna da Silva.

Com pouco movimento de carros, casas simples - na maioria só com reboco e cheias de puxadinhos - e um dia a dia calmo, esse miolinho do Jardim Alzira Franco, no município de Santo André, no ABC paulista, em nada se assemelha ao glamour e à ostentação que cercam o mundo da Fórmula 1. Mas suas 18 pequenas ruas, nas quais vivem cerca de 180 famílias, homenageiam pilotos, equipes e circuitos da categoria máxima do automobilismo mundial. Eis o Conjunto Habitacional Ayrton Senna.

"Copersucar? É por causa do Ayrton Senna", tentava explicar ao repórter a estudante Tábata Rocha, de 15 anos, recepcionista da escola de informática de sua família, na Rua Copersucar. "Acho que era o nome do campeonato que ele disputou. Ou da pista." Confusão. Acabou salva pelo seu pai, Tarcísio da Rocha, de 41 anos: "Foi a equipe do (Emerson) Fittipaldi." A poucos metros dali, na mesma rua, Eliana Júlia Vieira, de 35, dona de uma loja de roupas , também não fazia a menor ideia do motivo que levou alguém a batizar todas aqueles lugares "com nomes estranhos". "Não sei mesmo explicar", repetia, informando que sua casa fica "ali pertinho", na Rua Sauber.

LEI POPULAR
Não foi preciso andar muito até chegar a uma casa bem-acabada na Rua Jordan e conhecer o ferramenteiro Adílson Gardioli, de 43 anos. Antigo morador do bairro - está lá há cerca de 15 anos - não se cansa de espalhar a história, vivida por ele e outros pioneiros da região, que resultou na decisão de dar aos logradouros dali nomes não de autoridades, como é de praxe, mas de ícones do automobilismo. "Na época em que o Senna morreu, colocaram o nome dele na avenida. E alguém pintou seu rosto, bem grande, em um muro lá no alto", conta, apontando para a parte mais alta do bairro. "Ficou uma perfeição." Ele lembra que, na época, as ruas não tinham nome - "esta aqui era a Rua B". Então ocorreram reuniões para decidir como elas poderiam ser chamadas.

A situação só foi regularizada em 13 de outubro de 2003, por meio de uma lei municipal. De acordo com nota da prefeitura de Santo André, "os líderes comunitários realizaram uma consulta junto à comunidade, sugerindo nomes ligados à Fórmula 1 ao local, que já apresentava o nome de um piloto (Ayrton Senna)". As sugestões foram avaliadas por uma comissão da prefeitura e, então, submetidas à Câmara Municipal.

Morar em um bairro que tem Fórmula 1 por todos os lados deixa o fiscal de ônibus Sérgio de Souza, de 66 anos, feliz da vida. "Eu assisto a todas as corridas. Até aquelas de madrugada", afirma ele, cuja casa fica na Rua Benetton. Alegria, entretanto, que não é compartilhada pela maioria dos moradores dali. "Por que minha rua se chama Minardi?", espanta-se o auxiliar de almoxarifado Everton Oliveira Silva, de 38 anos. "Deve ser alguma homenagem a alguém, mas não sei." Foi o tipo de resposta mais ouvida pelo Estado.

HOMENAGEADOS
Pilotos: a avenida principal do bairro chama-se Ayrton Senna da Silva, em referência ao piloto brasileiro tricampeão mundial de Fórmula 1, morto em acidente ocorrido em 1.º maio de 1994, no GP de San Marino. Há também a Rua Senninha (personagem de histórias em quadrinhos que homenageia Senna) e Rua Prost (o piloto francês Alain Prost, tetracampeão mundial, principal rival de Senna). Há controvérsias sobre a Rua Suzuki: alguns acreditam que ela alude ao piloto japonês Aguri Suzuki, de inexpressiva carreira (sua melhor colocação foi um 3.º lugar); outros entendem que seria uma atrapalhada referência a Suzuka, circuito onde ocorre o GP do Japão

Equipes: com exceção da Rua Ferrari, todas as outras homenageiam equipes que não existem mais ou foram compradas, como Toleman (em cujo carro Senna estreou na F1, em 1984), Jordan (na qual Barrichello iniciou sua carreira, em 1993), Benetton (nela, o heptacampeão Michael Schumacher sagrou-se bicampeão mundial, em 1994 e 1995), Minardi, Copersucar (única equipe brasileira que já existiu na F1, fundada pelos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi) e Sauber (que, em 2002, lançou Felipe Massa na F1 e, hoje, com novo dono, se chama BMW Sauber F1 Team)

Autódromos: as referências vão dos brasileiros Interlagos (de São Paulo, que sedia a F1 no País), Jacarepaguá (do Rio de Janeiro) e Tarumã (de Viamão, no Rio Grande do Sul) aos estrangeiros Ímola (Itália), Monza (também da Itália) e Estoril (Portugal). Existe ainda a Rua Tamburello, alusiva à famosa curva do Autódromo de Ímola, onde Senna sofreu o acidente que
resultaria em sua morte


Domingo, 18 de outubro de 2009

27 de out. de 2009

Inexperiência de consórcio permitiu falha, diz ex-ministro

FRAUDE NO ENEM
Paulo Renato afirma que problemas de logística já vinham ocorrendo, até culminar no vazamento

Ministro da Educação entre 1995 e 2002 - sua gestão criou o Enem - e atual secretário de Estado da Educação de São Paulo, Paulo Renato Souza acredita que a inexperiência do consórcio que aplicaria a prova deste ano permitiu a falha de segurança e o vazamento.

"Problemas de logística vinham acontecendo. Começaram a chegar casos de alunos de classe média de tal bairro que teriam de fazer a prova em favelas", conta. "No meio de falhas assim, a segurança foi mais uma falha, grave, no esquema de logística." Para Paulo Renato, com a adoção do Enem nos critérios de seleção dos vestibulares das universidades federais "a prova passou a ter um valor econômico e social muito importante, aumentando a tentação da fraude".

Maria Helena Guimarães, ex-secretária de Educação do Estado de São Paulo e diretora do Inep na gestão de Paulo Renato no ministério, também atribui ao caráter de processo seletivo do novo Enem os maiores riscos de vazamento. "O risco e a complexidade de aplicar uma prova assim não se devem tanto pelo tamanho e pela quantidade de estudantes inscritos, mas pela natureza dela, que mudou. Isso exige uma dinâmica e uma logística diferentes", afirma.

"Fraude pode acontecer em qualquer processo e deve ser investigada pela polícia. Mas temos de lembrar que, no caso deste Enem, tudo foi muito atropelado, muito rápido", diz.

Diretor do Colégio Etapa, o educador Carlos Bindi diz que tudo não passou de uma "catástrofe anunciada". "O que aconteceu era previsível. Uma prova de vestibular convencional envolve a vida acadêmica e a honra dos que participam da sua preparação", compara. "O Enem, não. Não existe a mesma obsessão com a segurança. Ninguém do MEC fica tomando conta da impressão, da distribuição. É uma decisão de gabinete."

A educadora Maria Inês Fini, coordenadora do grupo de autores da prova do Enem desde sua criação, em 1998, até 2002, afirma que ficou "muito chateada" com a notícia. "Em meu tempo, adotávamos procedimentos diferentes. Não existia, por exemplo, uma cópia da prova no MEC. Apenas três pessoas, eu e outros dois consultores, conheciam a íntegra do exame", relata ela.

Para o coordenador de Vestibular do Curso Anglo, Alberto Francisco do Nascimento, havia "gente demais mexendo na coisa". "Mas recebi a notícia com espanto e incredulidade", afirma.

em parceria com Simone Iwasso.


Sexta-feira, 2 de outubro de 2009

26 de out. de 2009

Museu da Língua Portuguesa ''invade'' a Estação da Luz

CULTURA
Mostra da instituição ficará em espaço por onde circulam 400 mil pessoas por dia

Uma instituição que não se encerra em suas portas; abraça o entorno. É o que pretende ser o badalado Museu da Língua Portuguesa a partir de hoje, com a abertura da exposição multimídia Omistériootempoempoesias, do artista plástico mineiro Cacau Brasil. Pela primeira vez, um evento do museu - correalizado por Cooperativa Cultural Brasileira, Poiesis e Toca Brasil - acontecerá fora de seu prédio. Bem pertinho, aliás. A mostra poderá ser conferida, até 25 de janeiro, pelas 400 mil pessoas que circulam diariamente pela Estação da Luz.

Transformada em túnel, uma das três passarelas da estação terá poesia, pintura, música, teatro e vídeo. Ao longo do percurso de 34 metros, o visitante encontrará 15 painéis, nos quais a poesia é sugerida por meio de signos inscritos com cores metálicas. "Espero que a arte seja uma descoberta para o público", vislumbra Brasil.

Textos poéticos estampam placas de acrílico e a experiência multimídia será enriquecida com sons, melodias e uma videoinstalação. "Quero sensibilizar, criar uma vivência", deseja ele.

Para completar, o público poderá assistir a uma performance cênica com cerca de 25 minutos de duração - de quartas a sextas, às 11h e às 13h; aos sábados e domingos, às 11h, às 12h, às 14h e às 15h - realizada por quatro atores e quatro músicos. "Preocupamo-nos em fazer uma ligação da mostra com o espaço arquitetônico da estação", explica o ator Alexandre Roit, diretor teatral da exposição. "Essa ocupação certamente vai propor um novo olhar para o ambiente, uma nova luz para a Luz."

Se depender da vontade dos diretores do Museu da Língua Portuguesa, Omistériootempoempoesias deve ser apenas o primeiro de muitos outros eventos organizados fora do espaço físico da instituição - que, sucesso de público, recebe uma média de mais de mil visitantes por dia. "Desde a concepção do museu, sonhamos com a ideia de que ele tivesse uma relação próxima com as pessoas que passam pela Luz", diz o poeta e crítico literário Frederico Barbosa, diretor da Poiesis - organização que administra a instituição. "Queremos que o museu "saia para fora" dele."

HISTÓRIA
A montagem da mostra é resultado de mais de dois anos de "maturação" - como conta Cacau Brasil. Ele havia realizado duas intervenções similares em Fortaleza (CE), onde mora. Uma delas, em uma galeria de arte; a outra, em uma unidade do Sesc. "Então recebi o convite do Museu da Língua Portuguesa e foi um longo tempo para conseguirmos viabilizar o projeto aqui em São Paulo", lembra ele, citando que foram necessários inúmeros estudos e autorizações.

Posta em prática, concretizou o sonho antigo de expandir o museu para além de seus limites. "Desde a inauguração (da instituição), já pensávamos em levar eventos para fora", confirma Antonio Carlos Sartini, superintendente do Museu da Língua Portuguesa. "Costumo brincar que o Cacau está sendo nossa cobaia."

Uma cobaia sob medida, vale lembrar. Sartini frisa que, quando viu a montagem original do artista, em Fortaleza, teve a sensação de que era exatamente o que ele precisava para experimentar o espaço físico exterior ao museu. "Se o desafio era sair das nossas quatro paredes, uma instalação assim, sensorial, cumpre bem os objetivos", explica. "A mostra traz uma mistura interessante de experiências e seu resultado tem tudo a ver com a proposta de nosso museu."


Quinta-feira, 8 de Outubro de 2009

25 de out. de 2009

O centenário do prefeito das mil obras

MEMÓRIA
Missa lembra o legado urbanístico do engenheiro militar e político Faria Lima, nascido há 100 anos

Uma missa marcada para as 10 horas de hoje no tradicional Mosteiro de São Bento, centro da cidade, vai comemorar o centenário de nascimento do engenheiro militar e político José Vicente Faria Lima, morto em 1969, pouco tempo após encerrar seu mandato à frente da Prefeitura paulistana. O evento, no dia exato do aniversário de Faria Lima, é parte da série de homenagens prestadas a ele ao longo deste ano, organizadas por seu sobrinho, o economista e ex-deputado federal José Roberto Faria Lima.

Ainda neste mês, está previsto um passeio ciclístico na Avenida Brigadeiro Faria Lima - batizada com seu nome pouco depois de sua morte - e homenagens na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Em novembro, a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, deve exibir uma mostra de fotos em memória do brigadeiro. E está em processo de edição um livro, intitulado Faria Lima, com depoimentos laudatórios de 62 personalidades - na maioria, políticos e engenheiros. "A obra será distribuída a bibliotecas e instituições", adianta o sobrinho.

HISTÓRIA
Eleito com 463 mil votos, Faria Lima assumiu a Prefeitura de São Paulo em 1965, dono de um sólido currículo - engenheiro civil e aeronáutico, implantou o curso de Engenharia Aeronáutica na Escola Técnica do Exército; projetou e construiu o Parque Aeronáutico do Campo de Marte; foi secretário de Estado de Viação e Obras Públicas; presidiu o BNDES e a Vasp.

Assumiu uma São Paulo com muitos problemas estruturais - mais da metade da área urbana nem sequer tinha coleta de lixo; contavam-se 11 anos desde a instalação da última nova linha telefônica no sistema de 172 mil aparelhos; e faltavam vagas nos cemitérios. Para resolver tais problemas, decidiu descentralizar a administração pública, criando 12 regionais - modelo que deu origem às atuais subprefeituras. Também em sua gestão foram instituídas diversas secretarias, como a de Transportes e a de Serviços Municipais. "Era um prefeito muito hábil", diz o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). "Apesar de não se guiar por um plano geral de urbanismo, e ser criticado por isso, cercava-se de bons colaboradores e secretários para conseguir colocar suas obras em prática."

Obras que não foram poucas. Jornais da época estimam que Faria Lima tenha realizado mil intervenções de infraestrutura urbana. Entre elas, as Marginais do Tietê e do Pinheiros, as Avenidas Sumaré, Radial Leste, 23 de Maio e Rubem Berta, além do início do metrô. Inaugurou ainda 18 grandes viadutos e o Museu de Arte de São Paulo (Masp). "Não era de discursos, mas de ação", comenta seu sobrinho. "Fiscalizava pessoalmente os canteiros de obras, logo de madrugada, dirigindo seu fusca vermelho."

Seu comportamento workaholic era descrito em perfil publicado pelo Estado em 18 de março de 1969. "Ele quase sempre vai dormir às 2 da madrugada e nunca acorda depois das 5. Trabalha 30 dias por mês e tem uma saúde de ferro. Não fuma, não joga, bebe moderadamente", dizia o texto. A mesma reportagem lembra de sua paixão pelos animais - "na sua casa, chegou a ter, de uma só vez, 17 cães" - e sua pouca destreza na oratória - "gagueja quando fala em público". Quando prefeito, ficou um ano sem conseguir visitar sua fazenda de 200 alqueires, em Miguelópolis, interior paulista, onde criava gado gir e nelore.

Em sua despedida do poder, em 8 de abril de 1969, foi homenageado com milhares de rosas vermelhas. A ação, fruto da campanha "Uma rosa para Faria Lima", foi encabeçada por associações de amigos de bairro. "Ele foi o mais paulista dos cariocas", afirma seu sobrinho. "Vivi em São Paulo o dobro do tempo que fiquei no Rio. Adoro São Paulo", costumava repetir o brigadeiro.

Morreu de ataque cardíaco durante viagem à capital fluminense, em 4 de setembro de 1969. Trazido para São Paulo, foi velado em sua residência, no bairro de Santo Amaro, e enterrado no Cemitério do Campo Grande, em cerimônia acompanhada por 30 mil pessoas.


HOMENAGENS
Hoje, 10h: Missa solene no Mosteiro de São Bento
Dia 18 (data provável): Passeio ciclístico pela Avenida Brigadeiro Faria Lima
Dia 20, 19h: Sessão solene na Câmara Municipal
Dia 30, 19h: Sessão solene na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo
Dia 9 de novembro (data provável): Abertura de mostra fotográfica na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista
Sem data prevista: Lançamento do livro Faria Lima, com depoimentos de 62 personalidades sobre o brigadeiro. A obra deverá ser distribuída, gratuitamente, a bibliotecas e outras instituições


Quarta-feira, 7 de Outubro de 2009

24 de out. de 2009

Praticidade que custa o sossego

COPA-14

Moradores de ruas onde a nova linha do Metrô deve passar acreditam que será bom ter um transporte público rápido pertinho de casa. Mas se preocupam com o barulho que o vaivém dos trens irá causar. “Vai acabar o sossego”, diz o comerciante Otávio Oliveira Fernandes, morador da Rua Senador Otávio Mangabeira, no Morumbi. Já a diarista Antonia Ferreira da Silva, que há nove anos vive na Rua Itapaiuna e se desloca, de ônibus, para trabalhar na Avenida Santo Amaro, acha que seu dia a dia ficará mais fácil. “Levo mais de 40 minutos para chegar à casa de minha patroa, de ônibus”, comenta, imaginando que, de metrô, não vai gastar nem metade desse tempo. “O barulho (do trem) vai atrapalhar um pouco”, afirma. “Mas se for para melhor, fazer o quê?” Não será a primeira transformação da Rua Itapaiuna que a aposentada Geni Ricci Lopes testemunhará. Aos 76 anos, ela lembra muito bem de como era a região quando para lá se mudou, ainda criança. “Só tinha mato. E muito sossego”, recorda-se. “Hoje são muitos prédios e movimento.” Depois de tantas mudanças, ela nem parece se importar com mais esta. Só pensa que será mais fácil quando quiser “ir para a cidade”. “Hoje preciso pegar ônibus e metrô”, compara.

Sábado, 3 de outubro de 2009

23 de out. de 2009

Três nomes de rua, três explicações

HISTÓRIA

Rua Murmúrios da Tarde, em Itaquera
A rua homenageia o poema homônimo de Castro Alves (1847-1871), publicado no livro Espumas Flutuantes, único lançado em vida pelo autor romântico. Ao longo de seus 55 versos, Castro Alves antecipa o estilo descritivo do parnasianismo, que só se firmaria anos depois, com Olavo Bilac (1865-1918).
Curiosidade: fica nesta rua a entrada do Parque Raul Seixas.

Travessa Soneto à Lua, em Cidade Ademar
Estreita e pequena - mede menos de 100 metros -, esta ruazinha da Zona Sul carrega o mesmo nome de um soneto do diplomata, compositor e poeta Vinicius de Moraes (1913-1980). A obra foi publicada em 1938, no livro Novos Poemas.
Curiosidade: Até 1991, a rua era chamada de Travessa Santo Afonso.

Rua dos Aflitos, na Liberdade
Indigentes, criminosos e escravos mortos em São Paulo costumavam ser enterrados no Cemitério dos Aflitos, aberto em 1775. No século seguinte - mais precisamente a partir de 1858, com a abertura do Cemitério da Consolação - o local foi abandonado e, em ruínas, acabou loteado. Do terreno original, sobrou apenas a igrejinha que ficava dentro dele. O beco que dá acesso a ela é chamado de Rua dos Aflitos.


Domingo, 25 de outubro de 2009

22 de out. de 2009

Antiquário também é assunto de jovem

CULTURA
Galeristas trilham passos dos pais; há quem toque negócio próprio

Uma geração de jovens donos de antiquários e de galerias tem se destacado no comércio de artes de São Paulo. Em geral, são profissionais que seguem os passos dos seus pais e avós, seja continuando o negócio da família, seja conduzindo seus próprios empreendimentos. Segue nessa trilha, por exemplo, Julio Cesar Candido de Souza Bruço, de 22 anos. Ele vem sendo preparado pelo pai, Marco Antonio de Souza Bruço, de 58 anos, para tocar o antiquário da família, nos Jardins. "A vida dele é respirar antiguidades", afirma o pai, todo orgulhoso. O garoto trancou o curso de Direito. "Nem pretendo retomar a faculdade", anuncia Julio. "Nasci e cresci em meio a obras de arte."

Assim como Julio, pelos menos outros sete galeristas com idade entre 22 e 36 anos rejuvenesceram o Salão de Arte de São Paulo deste ano - cuja a 16ª edição ocorreu em agosto no clube A Hebraica. O evento reuniu 60 expositores. À frente de 14 edições, Vera Lúcia Cacchur Chadad vê com otimismo essa juventude em meio às antiguidades e às obras de arte. "Eu acompanhei o surgimento desses jovens", diz. "Muitos vinham acompanhar seus pais em anos anteriores. Isso passa de pai para filho mesmo."

Arquiteto por formação, Pedro Aguiar trocou a régua e a prancheta pela vida de galerista. Entre os raros projetos que ainda topa fazer está a concepção do próprio Salão, que assina há 11 edições. "Nem encaro a Arquitetura como uma coisa profissional. Para mim, é prazer", diz. Empreendedor, abriu no ano passado uma casa de leilão especializada em colecionismo. Sua galeria, conforme gosta de explicar, é preocupada em "tratar a arte de modo mais mercadológico". "Enxergamos uma brecha. Comercializamos peças que foram adquiridas anteriormente, que já estão no mercado", conta.

Mas mudança radical de ramo mesmo foi a realizada por Carlos Dale Junior, de 32 anos. Depois de exercer a profissão de dentista - ainda é proprietário de uma rede de cinco clínicas -, decidiu voltar às origens familiares e administrar, nos Jardins, a galeria de arte de sua mãe, Ana Dale, se tornando sócio. "No fundo, sempre gostei mais do comércio de arte do que da Odontologia", justifica-se.

O economista e ex-bancário James Acacio Lobo Lisboa, de 29 anos, se tornou galerista em 2004, por acaso - sua empresa fica nos Jardins. "Meu pai sempre trabalhou nessa área (é filho do leiloeiro de arte James Lisboa, de 55 anos)", conta. "Em 2001, criei um site para ele. A demanda passou a ser tão grande que passei a ajudá-lo. Decidi abrir uma galeria."

Desde 2001, quando se formou em Administração, Roberta de Araujo Pereira Lima, de 30 anos, dá um ar mais profissional ao escritório de arte de sua mãe, Hilda Araujo, no Real Parque. "No começo, ela só trabalhava com obras de meu tio (o artista plástico Carlos Araujo)", lembra. "Então ela abriu o leque e passou a atuar com outros artistas." Em seu dia a dia, Roberta procura assessorar quem já é colecionador e quem quer entrar no meio. "Arte não é uma coisa glamourosa", diz. "É uma empresa, um negócio, assim como vender vestido."

E na linha "filho de peixe", há Marcio Gobbi Fernandes, de 32 anos. Desde 2005 ele comanda um antiquário nos Jardins. "Com 12 anos, eu já ajudava meu pai (o artista plástico e escritor Antonio Abel Fernandes, hoje com 60 anos) no antiquário que ele tinha no Bexiga", recorda-se. "Acabei me especializando em quadros."


Sábado, 5 de setembro de 2009

21 de out. de 2009

Uma Virada para agitar 3 milhões

LAZER
Terceira edição de evento esportivo terá 2 mil atividades espalhadas por 350 locais da cidade, nos dias 19 e 20

A julgar pela expectativa dos organizadores, a terceira edição da Virada Esportiva, marcada para os dias 19 e 20 de setembro – das 10h da manhã de sábado às 10h da manhã de domingo –, deve atrair 3 milhões de participantes. “E isso não é público contemplativo. Queremos colocar todas essas pessoas praticando esportes”, afirma o coordenador do evento, Thiago Lobo. A programação ainda não está fechada, mas o evento deve ter mais de 2 mil atividades em 350 endereços. No ano passado, foram 2 milhões de pessoas em 703 eventos espalhados por 300 locais.

Neste ano, a maior concentração deve ser na região central, a exemplo da Virada Cultural. “É uma maneira de as pessoas se deslocarem para o coração da cidade, algo urbanisticamente importante”, acredita o secretário municipal de Esportes, Walter Feldman. “Estamos olhando mais para o centro por sua importância histórica e simbólica”, admite Lobo. “E há também a facilidade de acesso e o incentivo da Prefeitura à ocupação da região.”

Sendo assim, os arredores do bairro da Luz, que passa por grandes transformações, devem ser o palco principal da Virada, com basquete de rua, moto trial (manobras com motocicletas) e kart, entre outros. No restante da cidade, diversas atividades ficarão a cargo das subprefeituras. “Cada uma se comprometeu a organizar, no mínimo, dez eventos”, adianta o coordenador.

ALGUNS DESTAQUES
O Anhangabaú, com uma grande arena de esportes radicais, deve atrair boa parte do público. Ao longo das 24 horas, serão 40 modalidades como arvorismo, skate, patins, frescobol, futevôlei e outros. Até um ringue será montado, para prática de lutas.

No Largo Coração de Jesus, em Santa Cecília, deverá ocorrer um repeteco – ampliado, diga-se – de programa ocorrido em julho. O grupo Big Ball Basquete Social, com 30 jogadores, fará exibições do jogo e oferecerá aulas do esporte. Estima-se que 3 mil pessoas vão dar seus arremessos por ali – com uma plateia que pode chegar a 15 mil. Nos intervalos dos jogos, música e street dance – uma professora ficará à disposição para ensinar os passos a quem quiser se aventurar.

Outra atração que promete movimentar a região central vem do meio automobilístico. Ao lado da Pinacoteca do Estado será montado um circuito de kart com 550 metros. Às 21h do sábado (19) e às 4h do domingo (20) estão programadas dez baterias – com 12 carros em cada –, da qual participarão pilotos profissionais e artistas. Uma arquibancada será montada para que o público possa acompanhar as disputas. Ainda não está definido o local onde acontecerão as exibições de moto trial.

Para os baladeiros, a madrugada será quente em um galpão atrás do Shopping Morumbi. Em clima de boate, o público vai poder praticar “futetrônico” e “basquetrônico”, respectivamente futebol e basquete em uma pista de dança – os jogadores usarão roupas fosforescentes. Desse mesmo galpão deverá partir a patinação noturna, na qual os praticantes atravessarão a Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, em direção ao Parque do Povo. O trajeto ainda precisa ser aprovado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

Chamados pela organização de “esportes boêmios”, truco, pebolim, sinuca, botão e carteado também terão seu espaço. Serão praticados na Praça do Patriarca, no centro. E a edição deste ano terá a volta de uma atividade que só aconteceu em 2007: o remo no Rio Tietê, na manhã do domingo.

PEDALADA GAY
Outra novidade é o Passeio Ciclístico da Diversidade Sexual de São Paulo. Foi idealizado pelo SP Gay Bikers – uma turma de amigos que se tornou o primeiro grupo gay de amantes de bicicletas do Brasil – em parceria com a Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual de São Paulo, o Comitê Desportivo GLBT do Brasil e o gestor esportivo Karl Pynheiro.

Aberta a quem quiser participar, a pedalada, de 16,5 quilômetros, sairá às 20h do Largo do Arouche e passará por diversos pontos importantes do centro paulistano. Haverá um concurso para premiar a bike mais bacana.

DIVULGAÇÃO ONLINE
Já no ar, o site oficial da Virada Esportiva (www.viradaesportivasp.com.br) convida o internauta a postar vídeos engraçados ou inusitados sobre atividades físicas. Também é possível cadastrar novos eventos, organizados por voluntários, que se somarão à programação oficial da Virada. Em breve, a programação completa deve ser disponibilizada ali.


Segunda-feira, 31 de agosto de 2009

20 de out. de 2009

Estado terá biblioteca central no Carandiru

CULTURA
Com jeito de livraria, espaço vai permitir a leitores acesso fácil aos livros; 961 unidades municipais poderão estar interligadas à sede paulista

Um sonho da década de 1940 está prestes a ser realizado. Se tudo correr como previsto, os paulistas terão, a partir de 25 de janeiro do próximo ano, uma biblioteca central para as 961 bibliotecas públicas (municipais) espalhadas pelo Estado - dos 645 municípios paulistas, apenas 43 não têm biblioteca. A Biblioteca de São Paulo, como será chamada, vai funcionar em um pavilhão de 4,2 mil m² no Parque da Juventude - onde ficava a Casa de Detenção do Carandiru. "A ideia é que o espaço fique aberto de manhã, à tarde e à noite, também nos fins de semana", adianta a gestora do projeto, Adriana Ferrari, assessora de gabinete da Secretaria de Estado da Cultura.

A nova biblioteca - com projeto inspirado na Biblioteca Pública de Santiago do Chile - será utilizada como modelo para outras unidades. "O livro estará ao lado de todos os outros suportes, como CDs e DVDs, jornais e revistas. Será um espaço dinâmico, onde os livros não mofam nas estantes", diz o secretário de Estado da Cultura, João Sayad. "Queremos que fique parecido com grandes livrarias, que hoje recebem muito mais leitores do que bibliotecas."

Para se assemelhar às livrarias privadas, o projeto prevê estantes baixas, com livros ao alcance das mãos. Os bibliotecários serão instruídos a "atuar como vendedores", oferecendo dicas de livros para visitantes. No acervo de cerca de 30 mil livros, a promessa é que não haja espaço para preconceito - poderão ser encontrados livros e revistas com acesso proibido para menores de 18 anos. "Vai ter Machado de Assis, mas defendo que tenha Playboy também", afirma Sayad.

Projetada para ser totalmente acessível, a biblioteca terá um equipamento inovador: um "scanner" que transformará livros normais para a linguagem braile e em audiobooks. "Abrirá um leque enorme de leitura para pessoas cegas", diz o secretário. Equipamentos para autoempréstimo também estarão disponíveis. No que diz respeito ao mobiliário, com diversos tipos de cadeiras, bancos e mesas, nada será comprado pronto - todas as peças serão criadas por designers contratados.

Para a criação da biblioteca, serão investidos R$ 12,5 milhões - R$ 10 milhões do Estado e R$ 2,5 milhões do Ministério da Cultura. Ainda haverá verba de R$ 1 milhão para compor o acervo. "Devemos ter um valor semelhante, todos os anos, para atualizá-lo", diz Adriana. Uma vez pronta e aberta, a biblioteca será administrada pela Poiesis, organização social à frente também da Casa das Rosas e do Museu da Língua Portuguesa. "Vamos fazer dela uma biblioteca que não tenha medo do prazer, que incentive a leitura", explica o poeta e crítico literário Frederico Barbosa, diretor da Poiesis. "Nada daquela imagem de um lugar escuro com uma velha chata fazendo 'psiu'".

Não é a primeira vez que Barbosa tem a missão de conduzir uma biblioteca. De 2006 a 2008 ele foi curador, a convite da Prefeitura de São Paulo, da Biblioteca Alceu de Amoroso Lima, em Pinheiros - comandou a transformação dela na primeira biblioteca temática da cidade, dedicada à poesia. Talvez por isso esteja bastante otimista com o novo projeto. "Esperamos fazer uma biblioteca viva, pulsante", afirma, enfatizando a importância de que nela seja realizada uma intensa programação cultural, com debates, leituras e shows. "Será um centro de comemoração da vida e da literatura."

Os planos não param por aí. Instalada a biblioteca central, a meta será integrar toda a rede de bibliotecas públicas paulistas. "O primeiro passo será a criação de um sistema único de busca", conta Barbosa. "Só depois vem o nosso grande sonho: universalizar o acesso. Queremos que qualquer cidadão paulista, por sistema de intercâmbio, tenha acesso a livro de qualquer biblioteca."

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Terça-feira, 1º de setembro de 2009

19 de out. de 2009

Auditórios voltam à moda nas rádios de SP

MÍDIA
Sucesso nos anos 50, esse tipo de programa agora tem temas variados, abordando música, sexo e esportes


Nos anos 50, época de ouro do rádio, os programas de auditório eram grandes sucessos desse veículo. De uns anos para cá, as rádios paulistanas redescobriram o filão, atraindo público e melhorando a audiência. Um bom exemplo dessa nova safra é o Fim de Expediente, ancorado pelo ator Dan Stulbach na Rádio CBN.Às sextas-feiras, às 19h, o programete diário de 5 minutos é esticado para 1 hora. Na última edição do mês, Stulbach troca o estúdio pelo auditório da Livraria Cultura, na Avenida Paulista. “É diferente porque sinto a vibração da plateia, pelos silêncios e pelos risos”, diz.

A CBN tem ainda o No Divã do Gikovate (aos domingos, às 21h), no qual o psiquiatra Flávio Gikovate comanda um talk show sobre relacionamentos afetivos, sexo e comportamento. Uma vez por mês, o programa é gravado no auditório da Livraria Cultura, com a participação da plateia – um tanto inibida com os temas mais quentes. “O mais picante ainda fica para o estúdio. O rádio dá privacidade aos participantes”, comenta Gikovate.

O auditório da Rádio Eldorado é uma casa de shows – o Bourbon Street, em Moema. Ali, uma vez por mês – o programa deve retornar em outubro –, o músico e radialista Daniel Daibem apresenta a Sala do Professor Buchanan’s. “Lá eu faço no palco, com o músico, o que nos outros dias faço com a gravação no estúdio”, explica Daibem, em referência ao programa Sala dos Professores, diário (às 19h), que ele apresenta na emissora. “Com o músico ao lado, a gente tem o privilégio de tirar as dúvidas direto com o cara”, completa, lembrando que a proposta do programa é “desconstruir” as músicas, de forma didática.

Também com foco musical, a Alpha FM tem o Bossa Ao Vivo (domingos, às 13h), idealizado e apresentado pela cantora Patty Ascher. O programa é gravado quinzenalmente (o próximo será dia 14, às 17h) no auditório da Livraria da Vila, no Shopping Cidade Jardim.

Há também os esportivos, onde a plateia fica parecendo uma arquibancada – já que os torcedores, ops!, os espectadores, costumam aparecer trajando a camisa do seu time de coração. Exibido de segunda a sexta (às 20h), na Rádio Bandeirantes, o Esporte em Debate sai do estúdio às segundas: numa semana é transmitido da pizzaria 1900, nos Jardins, na outra vai para a churrascaria North Grill, no Shopping Frei Caneca. “As pessoas aparecem e aproveitam para tirar foto ao lado do convidado, um ídolo esportivo”, lembra um dos apresentadores, Leandro Quesada. Diariamente (às 18h), o Estádio 97, da Rádio Energia 97, recebe no estúdio uma pequena plateia de cerca de dez pessoas. “Começou como uma brincadeira: a gente pedia para o pessoal vir e trazer umas esfihas”, conta um dos apresentadores, Hilton Malta, o Sombra. A cada dois meses, o programa é apresentado em um auditório de verdade, com capacidade para 60 pessoas.



Domingo, 30 de agosto de 2009

18 de out. de 2009

Fogo destrói favela e desabriga 350 famílias

INCÊNDIO
Chamas, em área de 2 mil metros quadrados, começaram às 17 horas; causas ainda são investigadas, mas moradores falam em curto-circuito

Um incêndio destruiu, no início da noite de ontem, a Favela Diogo Pires, no Jaguaré, zona oeste de São Paulo, queimando uma área de 2 mil metros quadrados e desabrigando 350 famílias. Segundo o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas. Cinco pessoas sofreram intoxicação pela fumaça e foram encaminhadas, de ambulância, para um hospital da região. Outras se feriram levemente, por quedas enquanto corriam para fora dos barracos. Uma indústria química que fica ao lado da favela teve de ser isolada pelos bombeiros por causa do risco de explosões.

As causas do fogo, que começou por volta das 17h e só foi controlado 3 horas depois, são desconhecidas - moradores alegam que ocorreu curto-circuito em uma fiação. Além da indústria química, outra preocupação dos bombeiros era que o fogo atingisse um conjunto habitacional, vizinho da favela. Nem a fábrica nem os prédios sofreram consequências.

O prefeito Gilberto Kassab (DEM) esteve na favela e afirmou que havia um projeto da Prefeitura para a desocupação da área. Parte das famílias, segundo ele, já estava cadastrada por programas sociais da administração municipal. Ontem à noite, a Defesa Civil iria até o local para atender os desabrigados, que seriam levados para abrigos da Prefeitura. Os moradores esperavam o atendimento nas entradas da favela.

No entorno, o cenário era desolador. Famílias em pânico tentavam salvar o que podiam. Crianças choravam. A movimentação era constante. Nas ruas, acumulavam-se pilhas de roupas, eletrodomésticos e móveis. "Perdi tudo o que tinha", dizia a doméstica Josefa Pires Barbosa, de 33 anos, mãe de quatro crianças pequenas. "Só salvei os meus filhos."

O pedreiro Paulo Jorge Chagas, de 39, relatou que viu quando o incêndio começou. "Duas crianças tentaram apagar com água. Não conseguiram e o fogo tomou conta de tudo", afirmou. "Consegui tirar só a máquina de lavar roupas e o micro-ondas." Ele estava preocupado porque não sabia onde iria se abrigar com a família - a mulher e os três filhos. "Vamos ter de tentar alguma casa de parente", comentava, com os olhos marejados. Segundo os moradores, o incêndio consumiu toda a favela.

COM A ROUPA DO CORPO
O ajudante-geral Reinaldo Abreu da Silva, de 20 anos, também perdeu tudo. "Quando o fogo começou, eu corri para ajudar a tirar as crianças dos outros barracos", afirmava. "Saí só com a roupa do corpo." Ao lado de outros vizinhos, ele guardava um espaço na rua com cadeiras, roupas e objetos pessoais dos que conseguiram salvar algo. "Saí com uma filha no colo e outra pela mão. Mais nada", dizia a faxineira Taliciana Abreu Lima, de 19 anos.

em parceria com Cristiane Bomfim.


Segunda-feira, 12 de outubro de 2009

17 de out. de 2009

O chefe do GP Brasil

PAULISTÂNIA
Diretor de prova Carlos Montagner atua na F-1 desde a 1.ª edição brasileira

Próximo domingo, 13h. Faltando apenas uma hora para a largada do 38º Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, caberá ao paulistano Carlos Montagner, de 61 anos, a missão de dar a última volta no circuito antes da entrada dos velozes e barulhentos monopostos que disputarão a corrida. Atento ao volante de uma Mitsubishi Pajero, precisará observar se tudo está em perfeitas condições para a realização da prova.

No Brasil, talvez ninguém tenha pego uma carona tão confortável na história da categoria máxima do automobilismo mundial como Montagner. Ele trabalha na competição desde 1973, quando foi realizada a primeira corrida brasileira de F-1 para valer - no ano anterior, houve uma prova que não contou pontos para o campeonato. "Eu fazia parte do staff. Distribuía lanches para o pessoal, essas coisas", lembra.

Já no ano seguinte, atuou como bandeirinha. Depois, virou fiscal de boxes. Trabalhou também na comissão técnica e, anos mais tarde, virou comissário desportivo. "Vêm para o País dois comissários internacionais que se juntam a um local, que na época era eu", explica.

Desde 1995, Montagner é diretor de prova do GP Brasil. Sob seu comando, está um exército de 406 pessoas organizadas em cinco funções básicas: resgate, serviço médico, sinalização, boxe e comissão técnica. Com exceção da equipe médica (formada por cerca de 50 pessoas), todos são voluntários - até mesmo Montagner. "Trabalhar na Fórmula 1 é um prêmio. Eles ganham uniforme, alimentação, transporte e, principalmente, o prazer de conviver com a elite do automobilismo mundial", garante.

O não pagamento por tais atividades é característica apenas da Fórmula 1. Em todas as outras categorias, há remuneração, bancada pela empresa promotora do evento. Daí vem, aliás, boa parte do sustento de Montagner. Mas isso é assunto para a próxima volta.

ARQUITETO DE CEMITÉRIOS
Nascido na Barra Funda, Montagner passou a infância no Itaim-Bibi, para onde a família se mudou. Desde os 10 anos, passou a ajudar na loja de seu pai - "um bazar onde ele vendia miudezas, livros e cadernos escolares". Seu pais apostavam: ele seria arquiteto. Porque, criança, se entretinha por horas a fio com as peças do jogo "Pequeno Construtor". Na hora do vestibular, cravou: Arquitetura.

Estudava em uma faculdade de Mogi das Cruzes, se deslocando diariamente, de trem, de São Paulo para lá. Em 1973, começou a estagiar na Prefeitura de São Paulo. Era arquiteto de cemitérios, em um escritório que ficava dentro do Parque do Ibirapuera, na zona sul. "Ninguém gosta de cemitérios, mas eu tive de aprender a gostar. Afinal, era meu ganha-pão", conta. "Lembro-me que, quando chovia forte, era comum que desbarrancassem alguns cemitérios. Apareciam corpos para tudo que é lado. Aí tinha de ver o que aconteceu, fazer um relatório... Era um Deus nos acuda esse negócio."

Quando se formou, em 1975, acabou efetivado no emprego - onde ficou por dez anos. Depois trabalhou um tempo em uma construtora e, em seguida, no departamento pós-venda de uma fábrica de computadores. "Fazia algumas coisas também em casa (como arquiteto), para complementar a renda", comenta. Em 1992, se desligou totalmente da fábrica e passou a viver apenas do automobilismo.

VELOCIDADE MÁXIMA
Foi meio por acaso que Montagner entrou para o mundo da Fórmula 1. "Eu tinha um amigo que mexia com automobilismo e outros que corriam", lembra. "Aí, quando a Fórmula 1 veio oficialmente para o Brasil, em 1973, eles me convidaram para trabalhar no evento. Lógico que eu quis."

Montagner conta que as funções eram semelhantes às atuais - mas o grupo total tinha, no máximo, umas 200 pessoas. O trabalho era bem artesanal. "Um mês antes da prova, nós começávamos a nos reunir na casa de alguém e fazíamos tudo: os uniformes, os lanches...", diz. "A coisa só passou a ficar profissional lá pela quinta edição."

Em diversas funções, Montagner sempre trabalhou no GP. As duas exceções foram nos anos 80, período em que a prova foi realizada no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. "Quando entrei na fábrica de computadores, no início eu não conseguia a liberação para participar do automobilismo", relata. "Depois de um tempo eu negociei: eles me deixavam ir e, em contrapartida, eu passei a realizar serviços de construção civil para a empresa."

Nessa época, Montagner passou a complementar sua renda com os trabalhos no meio automobilístico. Porque se na Fórmula 1 a tradição é não pagar por esse tipo de serviço, o mesmo não acontece nas outras categorias - nas quais ele também passou a atuar. A outra parte da renda de Montagner vem dos cargos, remunerados, que ele ocupa na Federação de Automobilismo de São Paulo - ele é superintendente e 2º vice-presidente.

BANDEIRADA
Embora o trabalho, no autódromo, do diretor de prova do GP Brasil comece cerca de dez dias antes da corrida, a cena mais famosa dura poucos segundos: a bandeirada para o vencedor. Neste ano, pela terceira vez, a incumbência não caberá a Montagner - que, entretanto, permanecerá ao lado, monitorando tudo. A honraria deve ficar com o piloto brasileiro Felipe Massa, afastado das pistas desde que sofreu um acidente, em julho, no GP da Hungria.

Em 2002, Pelé foi incumbido da tarefa. Deu bobeira e não viu o ferrarista Michael Schumacher cruzar a linha de chegada. "Eu tinha combinado que apertaria sua perna na hora em que fosse para dar a bandeirada. Quando fiz o sinal, ele se virou para mim", conta Montagner. Dois anos depois, foi a vez da top model Gisele Bündchen. "A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) pediu para não deixar a bandeira na mão da celebridade (para que não ocorresse outra falha). Então eu segurei a bandeira junto com ela", conta, todo feliz. "Uma mulher daquela, uma baita mulher, cheirosa pra chuchu... Você não queria estar perto dela também?"


Domingo, 11 de Outubro de 2009

16 de out. de 2009

Kits sustentáveis

GERAL

Nas mãos de voluntários - são 5 mil na Grande São Paulo - garrafas pet se transformam em bolsas, caixinhas de leite em sacolas, potes de maionese em porta-cotonetes. Restos de tecidos viram mantas e roupinhas de bebê. Idealizado por uma igreja, o projeto "Mãos que Ajudam" chega amanhã, Dia das Crianças, à marca de 13 mil kits para gestantes distribuídos desde a sua criação, em 2001. Além de ser um programa de ajuda humanitária e serviço comunitário, ainda contribui com o meio ambiente. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail conselho.apme@sudmail.com.br.


Domingo, 11 de outubro de 2009

15 de out. de 2009

Os artistas do lixo, em filminho

ARTE

Em maio, graças a uma dica do fotógrafo Tiago Queiroz, conheci Rodrigo Machado e Cleber Padovani, uma dupla de artistas plásticos que fazem esculturas de lixo pelas ruas da cidade. Rendeu reportagem no jornal e post aqui no blog.

Eles continuam na ativa. Volto ao assunto porque recentemente fizeram e me enviaram um videozinho que mostra bem como é o seu esquema de produção. Eis o filme:




Domingo, 11 de outubro de 2009

14 de out. de 2009

Em três anos, apenas 8 quilômetros de "asfalto borracha"

URBANISMO

Em 2006, São Paulo começou a testar o chamado "asfalto de borracha" em sua malha viária urbana. O material, que leva em sua composição 15% de pó de pneu, foi utilizado em um trecho de 2,5 quilômetros da Avenida Olavo Fontoura, na Zona Norte.

O "asfalto de borracha" já é bastante utilizado em cidades europeias e em algumas rodovias brasileiras, como a Anhanguera, a Castello Branco e a Imigrantes. Ecologicamente correto - por aproveitar, em sua composição, pneus velhos e ter vida útil duas vezes maior -, tem ainda a seu favor outra vantagem: ajuda a reduzir o barulho causado pelo tráfego.

Na capital paulista, entretanto, o projeto não evoluiu muito. Três anos se passaram e a cidade conta apenas com 8 quilômetros de "asfalto de borracha". Confira:

1. Avenida Olavo Fontoura: 2.500 metros
2. Praça Campo de Bagatelle: 786 metros
3. Ruas Major Natanael, Itajobi e Capivari: 1.058 metros
4. Rua Libero Badaró: 670 metros
5. Viaduto do Chá: 240 metros
6. Rua Tajuras: 500 metros
7. Alça da Ponte Cidade Jardim: 366,7 metros
8. Alça da Ponte Cidade Universitária: 1.526 metros
9. Rua Boa Vista: 550 metros

Sexta-feira, 28 de agosto de 2009

13 de out. de 2009

Homenagens ao centenário do ex-prefeito Faria Lima

MEMÓRIA

Começa hoje uma série de eventos em memória do engenheiro militar e político José Vicente Faria Lima (1909-1969), cujo centenário de nascimento será comemorado em 7 de outubro. Às 17h, durante o encerramento da 15ª Semana de Tecnologia Metroferroviária, no centro de convenções do Shopping Frei Caneca, o Instituto de Engenharia vai conferir um diploma póstumo em homenagem a Faria Lima. "Com o gesto, resgatamos a importância dele para nossa história", afirma o vice-presidente do instituto, Amândio Martins.

Até outubro, estão confirmadas outras honrarias ao militar, que foi prefeito de São Paulo de 1965 a 1969. Em setembro, está prevista uma exposição de fotos em sua homenagem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e sessões solenes alusivas à sua memória na Associação Comercial de São Paulo, no Tribunal de Contas do Município e na seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No mês seguinte, novas homenagens estão previstas na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do Estado. No dia 4 de outubro, deve ser celebrada uma missa em intenção ao centenário de seu nascimento no Mosteiro de São Bento. Também se planeja um passeio ciclístico - a possível data seria 18 de outubro - pela Avenida Brigadeiro Faria Lima, que tem esse nome em homenagem ao ex-prefeito.

Toda essa movimentação vem sendo organizada, desde o início do ano, pelo economista e ex-deputado federal José Roberto Faria Lima, sobrinho do homenageado. "Sentia a necessidade de prestar uma homenagem ao tio José, pela pessoa que ele foi e por tudo o que fez", justifica.

Nascido no Rio, Faria Lima ingressou na Força Aérea Brasileira (FAB) aos 21 anos. Galgou postos até chegar à patente de brigadeiro do ar. Desde os tempos de Colégio Militar, já mostrava muita aplicação. Nos anos 30, voou muito pelo interior do País, atuando no Correio Aéreo Nacional.

Faria Lima especializou-se em Engenharia na Escola Superior de Aeronáutica da França. Teve participação ativa na criação do Ministério da Aeronáutica e chegou a presidir a Vasp.

Sua gestão na Prefeitura de São Paulo ficou marcada por obras como as Marginais do Tietê e do Pinheiros, as Avenidas Sumaré, Radial Leste, 23 de Maio e Rubem Berta, além do início do metrô. "Ele era um homem enérgico e acompanhava pessoalmente os canteiros de obras criados na cidade", conta seu sobrinho. "Madrugava, dirigindo seu Fusquinha vermelho."


Sexta-feira, 28 de agosto de 2009

12 de out. de 2009

Euclides da Cunha, pelas hermas dos poetas

MEMÓRIA

Mais de um século depois, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco deve, enfim, ter os bustos de três poetas que lá estudaram: Álvares de Azevedo (1831-1852), Castro Alves (1847-1871) e Fagundes Varela (1841-1875). Em 1907, após diversas campanhas, os alunos do Centro Acadêmico conseguiram viabilizar a construção apenas da herma de Azevedo.

Agora, graças a uma parceria da Associação de Antigos Alunos da Faculdade com a Editora Lettera.doc, um livro será lançado com a conferência que Euclides da Cunha (1866-1909) proferiu sobre Castro Alves, na época, para arrecadar dinheiro para as homenagens. Quem adquirir um exemplar (R$ 50) até segunda-feira (31), terá seu nome publicado no final da obra, como colaborador do projeto.

Duas correspondências de Euclides da Cunha mostram sua preocupação com o evento de 1907. A primeira, dirigida ao então presidente do Centro Acadêmico, César Lacerda de Vergueiro. A outra, enviada a seu amigo Francisco de Escobar. Ei-las:

A César Lacerda de Vergueiro:

César Lacerda de Vergueiro
Centro Acadêmico Onze de Agosto
Rua 15 de Novembro 54 (2º Andar)
S. Paulo

Rio – 27-11-1907

Ilmo. Sr. Dr. César de Lacerda Vergueiro,

confirmando o meu telegrama anterior, comunico que partirei daqui no próximo domingo, 1º de Dezembro, pelo noturno, realizando-se a nossa conferência no dia 2, à noite. Renovo comunicação apenas por temer que se tenha extraviado o telegrama. O assunto é – conforme também já mandei dizer “Castro Alves e o seu tempo”.

Com a mais elevada consideração e estima, sou seu
compatriota atº amº obrdº
Euclides da Cunha


A Francisco de Escobar:

Rio, 28 de novembro de 1907

Escobar

Somente hoje retirei a tua carta registrada, com valor, ficando desapontado por ver que me mandavas uns dezessete mil réis, quase não me lembrava mais. Que diabo de preocupação foi essa? Então andamos como dois massudos burgueses, a regularem contas? Felizmente, o desagradável incidente foi compensado, porque na mesma carta me dás notícias tuas, e diz que estás bom, assim como a d. Francisca e todos.

Também por aqui me anda a praga dos filhos. Nasceu mais um, no dia 16 de novembro. Chamei-o Luís, percorrendo o calendário exausto.

Estou ficando patriarca. Apesar disto, e das grandes barbas brancas ideais que me andam pelo rosto, lá vou pelo noturno, de domingo, 1º de dezembro, à S. Paulo, onde farei, no dia seguinte uma conferência sobre Castro Alves, para auxiliar a construção da herma do poeta. Andei em talas para arranjar coisa que possa agradar a estudantes. Mas conto com o insucesso. Felizmente, de qualquer modo, lucrará o poeta. Obrigado, pelo que dizes do “Peru versus Bolívia”.

Ah! Realmente tem razão o João do Rio (vide Gazeta de domingo passado) ao proclamar-me o único funcionário público romântico, que ainda houve nesta terra.

Adeus. Por que não nos encontraremos em S. Paulo, no salão..., à noite?
Lembranças a todos. Do teu
Euclides da Cunha.


Quinta-feira, 27 de agosto de 2009

11 de out. de 2009

Após 100 anos, poeta da São Francisco terá busto

MEMÓRIA
Ex-alunos da faculdade retomam campanha iniciada pelos colegas no século passado para arrecadar dinheiro e homenagear Castro Alves

Celeiro de literatos, a Faculdade de Direito do Largo São Francisco, fundada em 1827 em São Paulo, costuma se orgulhar dos intelectuais que formou. Não à toa, no início do século passado, um grupo de estudantes franciscanos decidiu eleger três grandes poetas que estudaram ali e homenageá-los com hermas (bustos) de bronze. Mereceriam a honraria Álvares de Azevedo (1831-1852), Castro Alves (1847-1871) e Fagundes Varela (1841-1875).

Diversas campanhas foram organizadas para viabilizar a ideia. O ponto alto, amplamente divulgado pela imprensa da época, foi uma conferência ministrada pelo então já consagrado escritor e jornalista Euclides da Cunha (1866-1909), em 1907, cujos ingressos seriam revertidos à causa. O dinheiro arrecadado, entretanto, não foi suficiente para a tripla homenagem. A história oral relata que, apesar da divulgação maciça, a conferência não foi um sucesso de público.

Há quem acredite, até mesmo, que os organizadores chegaram a bancar a entrada de diversas pessoas, para fazer número e não deixar o ilustre convidado falando para pouca gente na plateia.

O fato é que apenas o busto de Álvares de Azevedo foi construído e inaugurado naquele mesmo 1907. Para fazer justiça e recuperar essa história, uma nova campanha está em andamento, organizada pela Associação de Antigos Alunos da Faculdade de Direito e pela Editora Lettera.doc.

No dia 28 de setembro, eles lançarão um livro - Castro Alves e Seu Tempo - contendo a conferência integral proferida por Euclides da Cunha, a repercussão do evento na imprensa paulistana da época e uma antologia de poemas de Castro Alves e Euclides da Cunha, além de rica iconografia.

A renda obtida será revertida para a construção da herma de Castro Alves, estimada em R$ 50 mil. "Trata-se de um evento de grande importância histórica, já que, ao que tudo indica, é a única conferência que Euclides fez na vida", afirma Cássio Schubsky, proprietário da Lettera.doc, bacharel em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco e historiador pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. O livro está em pré-venda, por R$ 50, no site www.hermasdospoetas.com.br ou pelo telefone (11) 3101-8489. Quem comprá-lo até segunda-feira terá seu nome publicado no final do livro. "Já vendemos mais de 500 exemplares", conta Schubsky, confiante de que o projeto será viabilizado.

A meta é que a escultura seja inaugurada ainda neste ano. "Muito em breve deveremos definir quem será o escultor e escolher qual a imagem de Castro Alves que será utilizada", adianta o presidente da Associação de Antigos Alunos, José Carlos Madia Souza.

Mas a campanha não deve parar aí. No ano que vem, a editora mais uma vez se unirá à associação. A ideia é produzir um livro sobre a vida de Fagundes Varela, cuja renda seria revertida para a construção do terceiro busto planejado mais de cem anos atrás pelos estudantes franciscanos.



Quinta-feira, 27 de agosto de 2009

10 de out. de 2009

Reintegração: moradores de favela permanecem acampados

HABITAÇÃO
Cerca de 400 pessoas se recusam a sair da rua; um dia após ação, ainda havia fogo no local

Um dia depois da operação de reintegração de posse de um terreno de 33 mil m² no Capão Redondo, zona sul, onde ficavam os 800 barracos da Favela Olga Benário, o cenário era desolador. Montanhas e montanhas de restos de móveis e objetos pessoais ainda crepitavam, lentamente. Muita fumaça. Cheiro forte de queimado.

A tristeza se materializava do outro lado da Rua Ana Aslan, onde centenas de ex-moradores da favela - 400, segundo a Organização Não-Governamental (ONG) Frente de Luta por Moradia -, sem lugar para ir, acamparam após serem desalojados de seus barracos. "Ainda não acredito no que vejo", diz, com olhos marejados, o pintor José Carlos da Silva, de 47 anos."Perdi armário, cama, colchão, guarda-roupa, geladeira. Tudo queimado", lamenta a desempregada Cleuza Silva, de 52 anos. "Jogaram os tratores em cima sem nem dar tempo de eu salvar minhas coisas", reclama a desempregada Vera Ferreira, de 49.

Com um discurso afinado pela Frente de Luta por Moradia, todas as pessoas que restavam no local defendiam o direito de, despejadas da favela, ocupar a via pública. E, de comum acordo, não aceitavam a hipótese de serem removidas para albergue. "Quero moradia digna", afirma Cleuza. "Em um albergue vão esquecer a gente." Ontem aconteceram duas assembleias, lideradas pela representante da ONG Felicia Mendes Dias. "Não dá para ficar só na promessa do poder público. Precisamos de moradia definitiva."

Por volta das 15 horas, o local recebeu a visita do assessor da presidência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), Antonio Lajarin. "Iremos iniciar imediatamente estudos de desapropriação para a construção de habitações definitivas", promete.

No final da tarde, um grupo de oito ex-moradores foi à Subprefeitura de Campo Limpo. Pediram para ser provisoriamente alojados em um espaço público - a escola ou ginásio de esportes - até conseguirem moradia definitiva da CDHU. As negociações não avançaram. Os ex-moradores devem continuar na Rua Ana Aslan.

A decisão de reintegração de posse do terreno, de propriedade da Viação Campo Limpo, foi emitida após recurso impetrado pela empresa no Tribunal de Justiça. Da operação, ocorrida na segunda-feira, participaram 250 agentes, entre integrantes da Tropa de Choque e do 37º Batalhão da Polícia Militar, além de bombeiros. Um grupo de moradores montou barricadas. Pneus e automóveis foram incendiados para dificultar a entrada. O confronto ainda teve pedras, rojões e coquetéis molotov.

Ontem, cerca de cem PMs ainda eram mantidos no local. "A ordem já foi cumprida. Não vamos obrigar as famílias a sair da calçada. Apenas estamos mantendo a segurança", explica o major Delfranio de Carvalho. Os policiais distribuíram lanches e marmitas aos desabrigados "para amenizar um pouco o sofrimento".

Não foi a única ajuda que receberam. A Igreja Católica, por meio de uma paróquia próxima, distribuiu mil lanches. Uma padaria doou 500 marmitas. A partir de hoje, a Secretaria Municipal de Assistência Social entregará aos ex-moradores 800 cestas básicas - a eles foram oferecidos colchões, passagens de volta para cidades de origem e vagas em albergues, mas ninguém aceitou.

"Não consigo imaginar para onde eu vou", afirma o pedreiro Gregório de Andrade, de 39 anos, ao lado da mulher, Marta de Jesus, de 36, e rodeado pelos sete filhos. Mãe de três crianças - a mais nova, com 10 meses -, Alessandra da Silva, de 21 anos, também está inquieta. "O neném chorou a noite toda e está com os olhos irritados por causa da fumaça." Ana Claudia Pereira, de 32 anos, mãe de quatro filhos, é outra que não para de se preocupar. "Meu pequenininho (o filho caçula, de 8 meses) não entende o que está acontecendo", conta. "Ele parece nervoso."


Quarta-feira, 26 de agosto de 2009

9 de out. de 2009

Mortes de crianças em acidentes caem 17%

INFÂNCIA
Mas 90% dos casos ainda poderiam ter sido evitados

Em sete anos, caiu 17% o número de mortes de crianças até 14 anos, de acordo com estudo da organização não-governamental (ONG) Criança Segura. Para a avaliação, a organização utilizou os dados mais atuais divulgados pelo Ministério da Saúde - de 2000 a 2007. Apesar da queda no número de vítimas, 90% dos acidentes poderiam ser evitados. "Trata-se de um grave problema de saúde pública, que atinge principalmente famílias de baixa renda, a maioria em países em desenvolvimento", comenta a coordenadora de Políticas Públicas da ONG, Luiza Batista de Sá Leitão. "De acordo com estudos norte-americanos, seria possível fazer alguma intervenção para que não ocorressem esses acidentes."

Acidentes - de trânsito, afogamentos, sufocações, queimaduras, quedas, intoxicações e outros - ainda são a principal causa de mortes de crianças no Brasil. Em 2000, 6.656 menores de 14 anos foram vítimas de acidentes em todo o País - 13,20 casos por 100 mil habitantes. Em 2007, o número caiu para 5.325 - 11,02 por 100 mil. Das 6,9 mil crianças brasileiras que morreram em 2007 de causas externas (acidentes e violência), a maioria (77%) foi vítima de acidentes. Um problema mundial, aliás. De acordo com o Relatório Mundial Sobre Prevenção de Acidentes com Crianças, lançado em dezembro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Unicef, 830 mil crianças morrem em todo o planeta, por ano, em decorrência de acidentes.

"Uma criança não pode ser vista como um adulto em miniatura", lembra a coordenadora da Criança Segura. "Ela não entende o que é risco, vive um desenvolvimento psicomotor, tem muita curiosidade. Para a sua descoberta do mundo, precisa ter um ambiente propício." Para Luiza, a queda no número de fatalidades envolvendo crianças nos sete anos analisados é decorrente da melhoria nas condições de vida da população. "Com isso, há uma melhora no ambiente em que a criança vive", justifica a coordenadora. Ela também atribui parte dos resultados à ação das organizações não-governamentais. "Provocamos um debate e demos visibilidade à causa", explica. "Cada vez mais estamos mostrando que um acidente é problema de saúde pública, e não uma fatalidade."

De acordo com o Ministério da Saúde, das 5.325 mortes de crianças por acidentes em 2007, a maioria (2.134) foi em consequência do trânsito. Afogamentos (1.382), sufocações (701), queimaduras (337), quedas (254), intoxicações (105), acidentes com armas de fogo (52) e outros (359) aparecem em seguida.

No mesmo ano de 2007, houve 136.326 hospitalizações de crianças acidentadas - a maior parte (73.455) por quedas. Na sequência, aparecem acidentes de trânsito (15.194), queimaduras (15.392), intoxicações (5.013), acidentes com arma de fogo (551), sufocações (548), afogamentos (528) e outros (25.648).

CAMPANHA
"O número de hospitalizados (em decorrência de acidentes) é alto. Por isso, a conscientização e a prevenção deveriam ser encarados como prioridade", adverte a coordenadora da ONG. "Não adiantam campanhas pontuais", defende Luiza. "Precisamos de um programa contínuo." O próximo domingo será o Dia da Prevenção de Acidentes com Crianças, data instituída pela ONG. "Estamos convidando instituições, como escolas e igrejas, para a mobilização em prol das prevenção de acidentes", diz a coordenadora. "Será um alerta público." Espera-se agora que, no próximo levantamento, os números sejam mais positivos.


Segunda-feira, 24 de agosto de 2009

8 de out. de 2009

Preciosidades de Guilherme de Almeida

CULTURA



Fazia tempo que eu queria conhecer o sobrado de número 187 da Rua Macapá, em Perdizes. Ali viveu, de 1946 até a morte, o poeta, advogado, jornalista, crítico de cinema, ensaísta e tradutor Guilherme de Almeida (1890-1969). Fechado há três anos, o imóvel, que pertence ao governo paulista desde a década de 70, sofre uma série de adequações para ser reaberto, no primeiro semestre de 2010, como museu e Centro de Estudos de Tradução Literária. Há cerca de um mês, passei algumas horas lá dentro, guiado pelo poeta e diretor do espaço Marcelo Tápia, a fim de escrever uma reportagem para o Estado.

A casa, de 230 m², é impressionante. Móveis, obras de arte e objetos pessoais de Almeida estão ali, preservados, intactos ao tempo (acima, desenho que ele fez do próprio sobrado). Dias depois de minha visita, Tápia enviou-me um e-mail com imagens de algumas preciosidades da casa. Ei-las:


Capa, concebida por Guilherme de Almeida, da revista modernista Klaxon.


Anúncio da Lacta, com design de Guilherme de Almeida, publicado na revista Klaxon.


Capa do livro Nós, de 1917, primeiro de Guilherme de Almeida.


Paulicea Desvairada, de Mário de Andrade, com dedicatória do autor para Guilherme de Almeida. A casa possui um acervo de 6 mil títulos, entre eles muitas primeiras edições de modernistas, autografadas.


Dedicatória de Oswald de Andrade, em seu Memórias Sentimentais de João Miramar a Guilherme de Almeida.


Sagarana, de Guimarães Rosa, com dedicatória do autor para Guilherme de Almeida. O ex-libris de Almeida, concebido e desenhado por ele, traz o lema Sub boni et mali arboris umbra, que quer dizer: "à sombra da árvore do bem e do mal".


Partitura da canção Desejo, parceria de Guilherme de Almeida com o maestro Villa-Lobos.


Segunda-feira, 24 de agosto de 2009

7 de out. de 2009

O humor político dos Parlapatões

CULTURA

O bar que funciona junto ao Espaço Parlapatões tem um caráter político. Quem afirma isso é o próprio palhaço, ator e dramaturgo Hugo Possolo, fundador da trupe que comanda a casa. E isso não é piada.

Frequentado por artistas de todo o tipo e muita gente que gosta de artes em geral, o bar é um dos tantos pontos de encontro da Praça Roosevelt, que nos últimos anos se transformou em cenário para acalorados debates informais acerca do "fazer cultura" em São Paulo.

Mas não é só isso. O ativismo político dos Parlapatões também está presente em suas peças, sempre provocativas. A comédia O Papa e a Bruxa - texto do italiano Dario Fo -, atualmente em cartaz, trata de temas polêmicos para a Igreja, como as drogas, o aborto, a Aids e o celibato.

Outra peça recente que experimentou grande sucesso - e está prevista para voltar à programação no ano que vem, em versão remodelada - foi O Pior de São Paulo. Os Parlapatões prepararam um verdadeiro city-tour pela cidade - os espectadores embarcavam em um ônibus - com esquetes cômicos em cada uma das paradas. "Quando anunciamos a peça, as pessoas imaginavam que iríamos mostrar a pobreza e a sujeira da cidade", lembra Hugo. "Mas São Paulo tem coisa muito pior: por isso escolhemos locais como a Daslu e o Fasano."


Domingo, 23 de agosto de 2009

6 de out. de 2009

No teatro de rua, ex-parlapatão retoma origem

Um dos fundadores dos Parlapatões, o ator Alexandre Roit se desligou do grupo no início de 2002. "Nossas ambições estavam divergindo demais e as relações pessoais começaram a se desgastar", conta. De lá para cá, atuou em diversas montagens de outras companhias e voltou às origens: o teatro de rua. Com seu espetáculo Pelada na Rua tem excursionado por todo o Brasil - "porque nem só do eixo Rio-São Paulo vive o homem", alardeia - e por outros países latino-americanos, como México, Colômbia, Argentina e Venezuela. "É esse teatro que fazíamos no início dos anos 90", diz. "Quando saí, os Parlapatões estavam ganhando um formalismo e perdendo a espontaneidade." Do núcleo original, outros dois atores não integram mais a trupe: Jairo Mattos - que, além de teatro, dedica-se a telenovelas - e Artur Leopoldo e Silva.

Domingo, 23 de agosto de 2009

5 de out. de 2009

Humor maior de 18 anos

PAULISTÂNIA
Da rua para um movimentado espaço próprio, Parlapatões celebram a maturidade

Para um palhaço, a maturidade não se traduz em cara séria. E é por isso que, antes mesmo de começar a entrevista com Hugo Possolo, de 47 anos, e Raul Barretto, de 50 - os dois mais antigos Parlapatões em atividade -, o repórter ouve o primeiro comentário engraçadinho. "Grava isso, porque mentira gravada é sempre melhor, né?", provoca Hugo. Para um palhaço, risos valem mais do que palmas.

Hoje, os Parlapatões, Patifes e Paspalhões são uma bem-sucedida empresa. A companhia emprega 40 pessoas - entre elenco, produção e administração -, desde 2006 mantém um espaço próprio na Praça Roosevelt - cuja aquisição deve ser completamente quitada dentro de dois anos - e é sócia do Circo Roda Brasil. Com 33 peças no currículo, o grupo teatral comemora a maturidade profissional fazendo uma reflexão, sem perder o deboche, de sua trajetória. "Essa história de 18 anos é marketing para vocês falarem da gente", ri Hugo. "Mas é claro que, com o tempo, vieram as conquistas, que são muito fortes, o que nos deixa triplamente mais responsáveis. Afinal, hoje, precisamos pensar como empresários, pensar que há pessoas empregadas aqui, que dependem disso para sobreviver. Pessoas dedicando sua vida a um projeto completamente abstrato e efêmero: o teatro."

Nem sempre foi assim. A ligação da trupe com São Paulo é telúrica, pé no chão, sapato no asfalto. No começo da carreira, nada de cortinas, palco ou bilheteria. "O grupo nasceu na Praça da República e no Parque do Ibirapuera, com apresentações de rua", lembra. "Depois a gente passava o chapéu." No início, Raul fazia participações especiais. Foi incorporado definitivamente à companhia, da qual faziam parte outros integrantes, em seguida.

Ambos são paulistanos. Paulistaníssimos. "Sou fissurado pela cidade. Tanto que acredito que a linha pontilhada na qual o mundo gira se chama Avenida Paulista", afirma Hugo que, na verdade, nasceu em Vitória (ES). "Mas vim para cá com menos de 1 ano. Sou mais paulistano que muito paulistano." Raul é filho legítimo da cidade. "Nasci na própria Avenida Paulista", frisa.

De personalidades distintas, os dois percorreram caminhos diferentes até se conhecerem, no Picadeiro Circo Escola, nos anos 80. Hugo era um menino quieto, bom aluno, tímido até. Queria ser dramaturgo. "Então, na adolescência, comecei a fazer teatro para me aproximar dessa gente. Tanto falaram que eu era engraçado que resolvi estudar para ser palhaço", conta. "Mas, fora de cena, Deus me livre, até hoje acho que sou muito sério - se bem que ando mais avacalhadinho." Paralelamente às aulas teatrais, se formou em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em 1981.
Mais extrovertido, Raul era do tipo que aprontava todas em casa e na escola. "Sempre fui do fundão, aquele sujeito com carinha de bonzinho que sacaneava todo mundo", define. "O palhaço é um sacana, né? Na sala de aula, eu atrapalhava e provocava as pessoas. Hoje continuo fazendo isso no teatro." Começou a fazer cursos de teatro quando estava no 3º ano de Engenharia Civil, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Graduou-se em 1982. "No dia da formatura, saí de smoking do (centro de convenções) Anhembi e fui direto para o Sesc Pompeia. Era minha estreia no teatro", lembra. "Cheguei a exercer (a profissão de engenheiro). Trabalhei em um escritório grande. Todo dia, durante meio período, eu fiscalizava obras, media vão de janelinha um por um, via a cubagem de caminhão de pedra, caminhão de areia... Depois ia para o teatro."

De certo modo, a formação "exata" até hoje transparece nele. "É o nosso 'Parlapadata'", brinca Hugo. "Sim, guardo os números, estatísticas, informações do grupo, fluxo de público", confirma Raul. E, como que para provar, diz que, por mês, o Espaço Parlapatões recebe cerca de 3,5 mil pessoas - em média, seis peças ficam simultaneamente em cartaz; o teatro tem capacidade para cem pessoas por espetáculo.

Como não podia deixar de ser, esse jeitão rende piadas à dupla. Um exemplo é a conhecida história - repetida sempre aos amigos - de que eles jamais viajam em férias juntos. "Tem de ser, pelo menos, em Estados diferentes. O ideal é que sejam em continentes diferentes", alfineta Hugo. "Uma vez estávamos em Florianópolis (SC) com um espetáculo. Houve um dia de folga e conhecemos 25 praias de lá. Em duas horas e meia", lembra Raul. "Dia de folga com o Raul é um stress", rebate Hugo. "O maior tempo que consegui ficar em uma praia foram seis minutos. Isso porque o carro atolou e a gente teve de empurrar." Viagens, aliás, são constantes na carreira dos Parlapatões. No total, o grupo passa de dois a três meses por ano fora da capital. Na última sexta-feira, por exemplo, se apresentaram, como convidados de honra, do II Festival de Teatro Infantil de Salto, no interior do Estado.

BAR CHEIO, CASA CHEIA
Metáfora da filosofia do grupo, o bar que funciona no mesmo endereço que o teatro costuma ficar bastante movimentado. "Às vezes, querem nos classificar de 'botequeiros' mas isso é um equívoco", garante Hugo. "O bar é ação política. Só fica cheio quando a peça é um sucesso. E ele só é vivo porque as pessoas vêm aqui para discutir arte, se encontrar com a arte." De acordo com ele, hoje o bar responde por cerca de 30% do faturamento do espaço. O restante é resultado do teatro. Mas a sacada é a interação com o público, antes, durante e depois das peças. "O artista é diálogo", justifica. "Teatro não pode ser visto como cultura de massa, como a televisão, onde o artista é inatingível."

Televisão, aliás, é algo que não atrai a dupla. "Conseguimos criar uma estrutura de tal forma que, se o cara oferece muito pouco por uma novela, podemos falar: ?não, eu ganho mais com o teatro?", diz Hugo, lembrando que foram 18 anos de trabalho para alcançar essa estabilidade. "Já recebi convite para atuar em novela, mas é uma coisa muito chata, né?", conta Raul, que chegou a fazer trabalhos para a TV Cultura "por puro prazer". "A Rede Globo odeia teatro, então não há espaço para impor nossa agenda e conseguir conciliar. Só uma Maria Fernanda Cândido ou um (Antônio) Fagundes é que conseguem."

Tanto um quanto outro são bem caseiros em se tratando de tempo livre. Raul é fanático por cinema, mas admite que, ultimamente, tem preferido curtir as folgas em sua casa, na Pompeia - onde vive com a mulher, a atriz Helena Cerello. "Fico tanto tempo fora que, quando estou livre, tenho quinhentas coisas para fazer em casa", diz. "É prateleira para grudar, jardim para arrumar..." Casado há 17 anos - sua mulher, Márcia Chiochetti, administra o bar do teatro -, Hugo também se refugia em casa, na Vila Maria, quando quer sossego. "Afinal, um grande sofá é a cara de São Paulo", compara.


Domingo, 23 de agosto de 2009

4 de out. de 2009

SP celebra Beirute, a ''capital mundial do livro''

CULTURA
Exposição e palestras no Sesc Vila Mariana têm a capital libanesa no centro das atenções

Beirute, a capital do Líbano, foi escolhida pela Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - como a capital mundial do livro em 2009. Para celebrar o fato, a comunidade libanesa brasileira - maior colônia daquele país, com 7 milhões de descendentes, 3 milhões deles no Estado de São Paulo, sendo 1,5 milhão na capital - prepara uma série de eventos, abertos ao público, com início programado para hoje à noite.

O título de "capital mundial do livro" é conferido pela Unesco desde 2001. De acordo com o comunicado divulgado pela entidade em julho de 2008, Beirute foi escolhida "por sua implicação em matéria de diversidade cultural, de diálogo e de tolerância, assim como pela variedade e o caráter dinâmico de seu programa". "Culturalmente, é um título importante. Por isso queremos celebrá-lo", afirma Lody Brais, presidente da Associação Cultural Brasil-Líbano e coordenadora dos eventos.

Na noite de hoje, será aberta, no Sesc Vila Mariana (Rua Pelotas, 141, Vila Mariana), a exposição Olhar o Líbano, com 76 imagens captadas pelo fotógrafo paulista Cristiano Mascaro em viagem ao país há cinco anos. Em um carro alugado, o fotógrafo percorreu boa parte do Líbano ao longo de 12 dias, registrando diversas cenas. A exposição, que fica em cartaz até 20 de setembro, retrata as transformações vividas pela nação. Há fotos que mostram ruínas e castelos medievais e imagens nas quais transparece a modernidade da capital, com seu efervescente comércio.

Também no Sesc Vila Mariana, duas palestras sobre o Líbano estão planejadas para os próximos dias. Em 2 de setembro, às 20h30, o professor de Literatura Árabe Paulo Daniel Farah e o geógrafo Aziz Ab'Saber dividem a mesa intitulada Do Líbano ao Brasil. E no dia 10, às 20h30, o escritor Salim Miguel falará sobre as Influências das Raízes Ancestrais na Literatura, com mediação do professor de Literatura Árabe Mamede Jarouche.

A comunidade libanesa no Brasil foi homenageada com duas outras manifestações em alusão ao título recebido por Beirute. Recentemente, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou um selo dedicado ao tema, cuja estampa focalizou o escritor e pintor libanês Gibran Khalil Gibran (1883-1931). A Caixa Econômica Federal, por sua vez, emitiu um bilhete da loteria federal com estampa em homenagem a Beirute.


Sexta-feira, 21 de agosto de 2009

3 de out. de 2009

Arquiteto de SP lança livro sobre suas obras

URBANISMO
Profissional prestigiado, Carlos Bratke selecionou criações premiadas para publicação

Com quatro décadas de carreira e cerca de 300 obras no currículo, o arquiteto paulistano Carlos Bratke está colecionando alvíssaras neste ano. Há menos de um mês, uma de suas obras, o Edifício Oswaldo Bratke - onde fica a sede de seu escritório, na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini -, foi selecionada pelo Conselho Curador do museu francês Georges Pompidou para compor seu acervo permanente. Outra criação de sua prancheta, o Edifício Brigadeiro 1, foi recentemente contemplada com o Grande Prêmio Especial da Editora Flex, desbancando 960 concorrentes. E hoje, às 19 horas, será lançado, na unidade Jardins da Livraria da Vila (Alameda Lorena, 1.731; 3062-1063), o livro Carlos Bratke - Arquitetura (Editora J. J. Carol, 130 páginas, R$ 59), uma espécie de portfólio, com detalhes de oito projetos executados e um em fase de construção, no Estado de São Paulo.

"Selecionei (para o livro, que é o quarto com suas criações) algumas obras que elejo como marcantes. São projetos que já foram premiados ou publicados", explica Bratke. "Não quis que parecesse um livro biográfico, então escolhi obras que, além de eu gostar, apontam um caminho. Do ponto de vista da composição, todas têm uma coerência no tratamento do espaço." No caso de Bratke, espaço não necessariamente construído. É constante em sua carreira a fascinação pelos vazios, pelas sobras. Predileção talvez originada da grande admiração que o arquiteto nutre pela modernista Lina Bo Bardi (1914-1992). "Veja o Masp (Museu de Arte de São Paulo, uma das criações de Lina): sua poética está no vão livre. Esse tipo de composição é uma questão artística."

Filho do também arquiteto Oswaldo Bratke (1907-1997), o paulistano Carlos nasceu em 1942. Vinte e cinco anos depois, graduou-se em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. De lá para cá, dividiu-se entre criações de projetos, atividades docentes - lecionou no Mackenzie e na Belas Artes - e publicações. São de sua lavra cerca de 60 edifícios da Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, a Igreja São Pedro e São Paulo - nas bordas do Parque Alfredo Volpi - e o Parque do Povo. Também assinou projetos de várias escolas públicas e particulares, centros culturais, indústrias, shopping centers, hotéis e residências.

Sua consistente carreira rendeu convites para projetar no Uruguai, Israel, México e Estados Unidos. "Durante a construção, ficou minha placa lá na Quinta Avenida de Nova York", diz, com indisfarçável orgulho, quando se recorda da sede de uma joalheria de luxo que concebeu, em 1999. Mas não vira as costas para o início da carreira, no fim dos anos 60. "As primeiras obras são as mais importantes, porque são didáticas."

É com bom humor que o arquiteto relembra as dificuldades da construção, nos anos 80, do Edifício Oswaldo Bratke, recentemente incorporado ao Georges Pompidou. "Eu planejei muitas lajes desencontradas, de modo que era difícil para o mestre de obras entender aquilo", conta. "Fiz uma maquete de madeira maciça, com 1,6 metro de altura, e deixei na obra para que ele consultasse sempre que tivesse alguma dúvida." Como agradável lembrança, a maquete ficava em seu escritório. Não mais. Agora está no museu francês.


Quinta-feira, 13 de agosto de 2009

2 de out. de 2009

A fina arte nos salões do poder

CULTURA
Governo, Prefeitura, Câmara e Assembleia têm em suas sedes acervos dignos dos melhores museus

Os austeros prédios dos poderes guardam mais que burocracia. Em corredores imponentes e espaçosas salas com grande pé-direito, obras de arte assinadas por célebres pintores e escultores brasileiros embelezam o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, o Palácio Nove de Julho, onde fica a Assembleia Legislativa, o Edifício Matarazzo, endereço da Prefeitura, e o Palácio Anchieta, onde funciona a Câmara Municipal.

O mais vistoso desses acervos, sem dúvida, é o do governo estadual. "Trata-se de uma coleção de 4 mil peças, extremamente importante dos pontos de vista histórico e artístico", explica a economista e historiadora da Arte Ana Cristina Carvalho, curadora do Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Os itens ficam distribuídos nas três residências oficiais do governo: o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, em São Paulo; o Palácio do Horto, no Horto Florestal, também na capital; e o Palácio da Boa Vista, em Campos do Jordão. "Nossas obras priorizam o percurso do Modernismo brasileiro, constituindo um acervo cobiçado por muitos museus." Entre as peças, há nove pinturas de Tarsila do Amaral, como Retrato de Mário de Andrade, óleo sobre tela de 1922, e Operários, de 1933.

Embora nem todos saibam, é possível conhecer, in loco, parte dessa coleção. Diariamente, das 10 às 17 horas, 12 educadores ficam à disposição para mostrar algumas preciosidades aos visitantes do Palácio dos Bandeirantes. "Por meio das obras de arte, conseguimos contextualizar um pouco a história de São Paulo", afirma Isaura Maria Bonavita, diretora técnica do Centro de Monitoria do Palácio.

No hall nobre, 14 peças permanentes formam oito painéis, assinados por Clóvis Graciano, Candido Portinari, Djanira Motta e Silva, Tomie Ohtake, Alfredo Volpi, Aldemir Martins e Antonio Henrique do Amaral. Este último é o autor de São Paulo, Brasil - Criação, Expansão e Desenvolvimento, um acrílico sobre tela de 16 metros de largura por 4,5 m de altura. "Em 1989 houve um concurso para escolher a obra que ficaria aqui", conta Isaura. "Ele (Amaral) ganhou e levou nove meses para concluir o trabalho."

Integrar o seleto acervo do Palácio dos Bandeirantes não é tarefa simples para os artistas. Todos os anos, a curadoria de lá recebe de 40 a 50 propostas de doações de obras. "Aceitamos, em média, dez", conta Ana Cristina. Há uma explicação para tal cuidado. "Cada item adquirido representa um gasto de manutenção, afinal temos um compromisso patrimonial." As propostas de doações são submetidas ao crivo de um conselho, que analisa a obra e a biografia do artista. "Ao contrário de outros acervos do poder, bastante decorativos, aqui nos preocupamos com o caráter museológico e o valor artístico", frisa a curadora. "Nossa coleção foi, ao longo dos anos, sendo formada com o aval de especialistas. Não incorporamos peças ao léu ou por apadrinhamento."

OUTRAS COLEÇÕES
No Palácio Anchieta, no centro, sede da Câmara Municipal, estão outras preciosidades artísticas. Há 26 obras no catálogo, entre elas Retrato de Fábio da Silva Prado, de Cândido Portinari; Retrato de Manuel Deodoro da Fonseca, de Benedito Calixto; duas telas intituladas Fundação da Cidade, de Clovis Graciano; e cinco painéis conjugados de Aldemir Martins. Não existe um programa de visitação, como o que funciona no Palácio dos Bandeirantes.

Há três anos, cinco restauradores transformaram uma sala da Câmara em ateliê. Ali, ao longo de meses, dedicaram-se a deixar tinindo os quadros que se encontravam degradadas pelo tempo. "Hoje temos muito amor por essas obras", afirma José Carlos Teixeira de Camargo Filho, coordenador do Centro de Comunicação da Câmara, área incumbida da manutenção do acervo.

A Assembleia Legislativa mantém, desde 2002, o Museu de Arte do Parlamento de São Paulo. "São cerca de 1,3 mil itens", diz o curador, Emanuel von Lauenstein Massarani. "A proposta do acervo é humanizar a instituição, propiciando aos funcionários um ambiente melhor e, aos visitantes, uma atração cultural." A coleção está distribuída entre os vários ambientes do Palácio 9 de Julho, perto do Parque do Ibirapuera.

Um ano depois da criação do Museu de Arte, foi fundado o Museu da Escultura ao Ar Livre, nos jardins do palácio, hoje com 73 peças - de mármore, bronze, terracota, chapas de ferro, alumínio e cerâmica.

Já as obras expostas no Edifício Matarazzo, no centro, sede da Prefeitura, não compõem um acervo do próprio prédio. Fazem parte da Coleção de Artes da Cidade de São Paulo - atualmente com 2,8 mil peças -, mantida em reserva técnica do Centro Cultural São Paulo, no Paraíso, zona sul. Além de serem expostas esporadicamente, costumam ser cedidas para decorar órgãos públicos. Atualmente, nove obras estão no gabinete do prefeito Gilberto Kassab. De tempos em tempos, elas são trocadas.

Segunda-feira, 10 de agosto de 2009

1 de out. de 2009

O passado e o futuro em só 2 mãos

CULTURA
Funcionária preserva único dos três museus de Mococa ainda aberto

A história de Mococa, embora rica – foi importante trincheira de tropas revolucionárias, em 1932 –, vem sendo deixada de lado. Dos três museus da cidade, dois não funcionam e outro, o Histórico e Pedagógico Marquês de Três Rios, em processo de municipalização, sobrevive pelos esforços de uma funcionária. Construído no fim do século 19, o casarão histórico onde funciona a instituição está infestado de cupins, as paredes têm rachaduras e, nos dois andares, não há extintores de incêndio.

“Apesar do fogo, que consumiu o térreo do prédio, em 1992, há ainda todas essas falhas”, conta a professora Eliana Galvani, que cuida do museu desde 1994. A preocupação é com o acervo – cerca de 5 mil peças, grande parte uniformes e armas da Revolução. “Parece que não aprendemos com os problemas pelos quais passamos antes.”

Na cidade, há também o Museu de Artes Plásticas, fundado com empurrãozinho de Assis Chateaubriand. Com doações expressivas do mecenas, o acervo com mais de 400 obras – entre elas, uma gravura de Tarsila do Amaral – está trancado há dois anos na Câmara. “Estamos procurando um novo espaço”, diz o diretor do Departamento de Cultura, Antônio Ventura. “Mas não há verba.” O Museu de Arte Sacra está fechado desde 2005, por problemas judiciais com a paróquia local.

Mococa não tem dotação orçamentária para museus. “É preciso entender que municípios pequenos têm prioridades mais urgentes”, diz Ventura. “O Estado está lavando suas mãos. Nunca ajudou esses museus do interior e agora sai de cena como mocinho.”

Em Casa Branca, o descaso é evidente no Museu Afonso e Alfredo de Taunay. A instituição, um das primeiras instaladas em São Paulo, em 1958, funciona numa sala de um prédio municipal. No local, há documentos de quase 200 anos, que revelam a origem de Ribeirão Preto, São José do Rio Pardo e Caconde. “Ficam armazenados num quartinho de 20 m². Aqui, tem gente que chama de almoxarifado municipal”, diz Adolpho Legnaro Filho, o único funcionário.

Em Pirassununga, o Museu Dr. Fernando Costa está fechado desde 2005, “montadinho”, como diz o secretário municipal de Cultura e Turismo, Roberto Bragagnollo. Em 2002, o espaço, no entanto, foi cedido para a festa de peão. “Usaram o museu como sede administrativa e alojamento”, conta o secretário. “O resultado foi que rasgaram fotos e levaram uma pá de prata que pertencia ao acervo.” Depois de comprovado o sumiço, foi aberta uma sindicância. Enquanto nada se resolve, o museu fica fechado.

em parceria com Vitor Hugo Brandalise.


Domingo, 9 de agosto de 2009