17 de out. de 2009

O chefe do GP Brasil

PAULISTÂNIA
Diretor de prova Carlos Montagner atua na F-1 desde a 1.ª edição brasileira

Próximo domingo, 13h. Faltando apenas uma hora para a largada do 38º Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, caberá ao paulistano Carlos Montagner, de 61 anos, a missão de dar a última volta no circuito antes da entrada dos velozes e barulhentos monopostos que disputarão a corrida. Atento ao volante de uma Mitsubishi Pajero, precisará observar se tudo está em perfeitas condições para a realização da prova.

No Brasil, talvez ninguém tenha pego uma carona tão confortável na história da categoria máxima do automobilismo mundial como Montagner. Ele trabalha na competição desde 1973, quando foi realizada a primeira corrida brasileira de F-1 para valer - no ano anterior, houve uma prova que não contou pontos para o campeonato. "Eu fazia parte do staff. Distribuía lanches para o pessoal, essas coisas", lembra.

Já no ano seguinte, atuou como bandeirinha. Depois, virou fiscal de boxes. Trabalhou também na comissão técnica e, anos mais tarde, virou comissário desportivo. "Vêm para o País dois comissários internacionais que se juntam a um local, que na época era eu", explica.

Desde 1995, Montagner é diretor de prova do GP Brasil. Sob seu comando, está um exército de 406 pessoas organizadas em cinco funções básicas: resgate, serviço médico, sinalização, boxe e comissão técnica. Com exceção da equipe médica (formada por cerca de 50 pessoas), todos são voluntários - até mesmo Montagner. "Trabalhar na Fórmula 1 é um prêmio. Eles ganham uniforme, alimentação, transporte e, principalmente, o prazer de conviver com a elite do automobilismo mundial", garante.

O não pagamento por tais atividades é característica apenas da Fórmula 1. Em todas as outras categorias, há remuneração, bancada pela empresa promotora do evento. Daí vem, aliás, boa parte do sustento de Montagner. Mas isso é assunto para a próxima volta.

ARQUITETO DE CEMITÉRIOS
Nascido na Barra Funda, Montagner passou a infância no Itaim-Bibi, para onde a família se mudou. Desde os 10 anos, passou a ajudar na loja de seu pai - "um bazar onde ele vendia miudezas, livros e cadernos escolares". Seu pais apostavam: ele seria arquiteto. Porque, criança, se entretinha por horas a fio com as peças do jogo "Pequeno Construtor". Na hora do vestibular, cravou: Arquitetura.

Estudava em uma faculdade de Mogi das Cruzes, se deslocando diariamente, de trem, de São Paulo para lá. Em 1973, começou a estagiar na Prefeitura de São Paulo. Era arquiteto de cemitérios, em um escritório que ficava dentro do Parque do Ibirapuera, na zona sul. "Ninguém gosta de cemitérios, mas eu tive de aprender a gostar. Afinal, era meu ganha-pão", conta. "Lembro-me que, quando chovia forte, era comum que desbarrancassem alguns cemitérios. Apareciam corpos para tudo que é lado. Aí tinha de ver o que aconteceu, fazer um relatório... Era um Deus nos acuda esse negócio."

Quando se formou, em 1975, acabou efetivado no emprego - onde ficou por dez anos. Depois trabalhou um tempo em uma construtora e, em seguida, no departamento pós-venda de uma fábrica de computadores. "Fazia algumas coisas também em casa (como arquiteto), para complementar a renda", comenta. Em 1992, se desligou totalmente da fábrica e passou a viver apenas do automobilismo.

VELOCIDADE MÁXIMA
Foi meio por acaso que Montagner entrou para o mundo da Fórmula 1. "Eu tinha um amigo que mexia com automobilismo e outros que corriam", lembra. "Aí, quando a Fórmula 1 veio oficialmente para o Brasil, em 1973, eles me convidaram para trabalhar no evento. Lógico que eu quis."

Montagner conta que as funções eram semelhantes às atuais - mas o grupo total tinha, no máximo, umas 200 pessoas. O trabalho era bem artesanal. "Um mês antes da prova, nós começávamos a nos reunir na casa de alguém e fazíamos tudo: os uniformes, os lanches...", diz. "A coisa só passou a ficar profissional lá pela quinta edição."

Em diversas funções, Montagner sempre trabalhou no GP. As duas exceções foram nos anos 80, período em que a prova foi realizada no Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. "Quando entrei na fábrica de computadores, no início eu não conseguia a liberação para participar do automobilismo", relata. "Depois de um tempo eu negociei: eles me deixavam ir e, em contrapartida, eu passei a realizar serviços de construção civil para a empresa."

Nessa época, Montagner passou a complementar sua renda com os trabalhos no meio automobilístico. Porque se na Fórmula 1 a tradição é não pagar por esse tipo de serviço, o mesmo não acontece nas outras categorias - nas quais ele também passou a atuar. A outra parte da renda de Montagner vem dos cargos, remunerados, que ele ocupa na Federação de Automobilismo de São Paulo - ele é superintendente e 2º vice-presidente.

BANDEIRADA
Embora o trabalho, no autódromo, do diretor de prova do GP Brasil comece cerca de dez dias antes da corrida, a cena mais famosa dura poucos segundos: a bandeirada para o vencedor. Neste ano, pela terceira vez, a incumbência não caberá a Montagner - que, entretanto, permanecerá ao lado, monitorando tudo. A honraria deve ficar com o piloto brasileiro Felipe Massa, afastado das pistas desde que sofreu um acidente, em julho, no GP da Hungria.

Em 2002, Pelé foi incumbido da tarefa. Deu bobeira e não viu o ferrarista Michael Schumacher cruzar a linha de chegada. "Eu tinha combinado que apertaria sua perna na hora em que fosse para dar a bandeirada. Quando fiz o sinal, ele se virou para mim", conta Montagner. Dois anos depois, foi a vez da top model Gisele Bündchen. "A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) pediu para não deixar a bandeira na mão da celebridade (para que não ocorresse outra falha). Então eu segurei a bandeira junto com ela", conta, todo feliz. "Uma mulher daquela, uma baita mulher, cheirosa pra chuchu... Você não queria estar perto dela também?"


Domingo, 11 de Outubro de 2009

Nenhum comentário: