25 de out. de 2009

O centenário do prefeito das mil obras

MEMÓRIA
Missa lembra o legado urbanístico do engenheiro militar e político Faria Lima, nascido há 100 anos

Uma missa marcada para as 10 horas de hoje no tradicional Mosteiro de São Bento, centro da cidade, vai comemorar o centenário de nascimento do engenheiro militar e político José Vicente Faria Lima, morto em 1969, pouco tempo após encerrar seu mandato à frente da Prefeitura paulistana. O evento, no dia exato do aniversário de Faria Lima, é parte da série de homenagens prestadas a ele ao longo deste ano, organizadas por seu sobrinho, o economista e ex-deputado federal José Roberto Faria Lima.

Ainda neste mês, está previsto um passeio ciclístico na Avenida Brigadeiro Faria Lima - batizada com seu nome pouco depois de sua morte - e homenagens na Câmara Municipal e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Em novembro, a sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista, deve exibir uma mostra de fotos em memória do brigadeiro. E está em processo de edição um livro, intitulado Faria Lima, com depoimentos laudatórios de 62 personalidades - na maioria, políticos e engenheiros. "A obra será distribuída a bibliotecas e instituições", adianta o sobrinho.

HISTÓRIA
Eleito com 463 mil votos, Faria Lima assumiu a Prefeitura de São Paulo em 1965, dono de um sólido currículo - engenheiro civil e aeronáutico, implantou o curso de Engenharia Aeronáutica na Escola Técnica do Exército; projetou e construiu o Parque Aeronáutico do Campo de Marte; foi secretário de Estado de Viação e Obras Públicas; presidiu o BNDES e a Vasp.

Assumiu uma São Paulo com muitos problemas estruturais - mais da metade da área urbana nem sequer tinha coleta de lixo; contavam-se 11 anos desde a instalação da última nova linha telefônica no sistema de 172 mil aparelhos; e faltavam vagas nos cemitérios. Para resolver tais problemas, decidiu descentralizar a administração pública, criando 12 regionais - modelo que deu origem às atuais subprefeituras. Também em sua gestão foram instituídas diversas secretarias, como a de Transportes e a de Serviços Municipais. "Era um prefeito muito hábil", diz o arquiteto e historiador Benedito Lima de Toledo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). "Apesar de não se guiar por um plano geral de urbanismo, e ser criticado por isso, cercava-se de bons colaboradores e secretários para conseguir colocar suas obras em prática."

Obras que não foram poucas. Jornais da época estimam que Faria Lima tenha realizado mil intervenções de infraestrutura urbana. Entre elas, as Marginais do Tietê e do Pinheiros, as Avenidas Sumaré, Radial Leste, 23 de Maio e Rubem Berta, além do início do metrô. Inaugurou ainda 18 grandes viadutos e o Museu de Arte de São Paulo (Masp). "Não era de discursos, mas de ação", comenta seu sobrinho. "Fiscalizava pessoalmente os canteiros de obras, logo de madrugada, dirigindo seu fusca vermelho."

Seu comportamento workaholic era descrito em perfil publicado pelo Estado em 18 de março de 1969. "Ele quase sempre vai dormir às 2 da madrugada e nunca acorda depois das 5. Trabalha 30 dias por mês e tem uma saúde de ferro. Não fuma, não joga, bebe moderadamente", dizia o texto. A mesma reportagem lembra de sua paixão pelos animais - "na sua casa, chegou a ter, de uma só vez, 17 cães" - e sua pouca destreza na oratória - "gagueja quando fala em público". Quando prefeito, ficou um ano sem conseguir visitar sua fazenda de 200 alqueires, em Miguelópolis, interior paulista, onde criava gado gir e nelore.

Em sua despedida do poder, em 8 de abril de 1969, foi homenageado com milhares de rosas vermelhas. A ação, fruto da campanha "Uma rosa para Faria Lima", foi encabeçada por associações de amigos de bairro. "Ele foi o mais paulista dos cariocas", afirma seu sobrinho. "Vivi em São Paulo o dobro do tempo que fiquei no Rio. Adoro São Paulo", costumava repetir o brigadeiro.

Morreu de ataque cardíaco durante viagem à capital fluminense, em 4 de setembro de 1969. Trazido para São Paulo, foi velado em sua residência, no bairro de Santo Amaro, e enterrado no Cemitério do Campo Grande, em cerimônia acompanhada por 30 mil pessoas.


HOMENAGENS
Hoje, 10h: Missa solene no Mosteiro de São Bento
Dia 18 (data provável): Passeio ciclístico pela Avenida Brigadeiro Faria Lima
Dia 20, 19h: Sessão solene na Câmara Municipal
Dia 30, 19h: Sessão solene na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo
Dia 9 de novembro (data provável): Abertura de mostra fotográfica na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, na Avenida Paulista
Sem data prevista: Lançamento do livro Faria Lima, com depoimentos de 62 personalidades sobre o brigadeiro. A obra deverá ser distribuída, gratuitamente, a bibliotecas e outras instituições


Quarta-feira, 7 de Outubro de 2009

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