28 de out. de 2009

Jd. Alzira. Mas pode chamar de Fórmula 1

GP BRASIL
Pilotos, equipes e pistas dão nomes às ruas de bairro em Santo André

Para secar as roupas, um varal improvisado na rua. Rua Ferrari. Para brincar de bola, quatro tijolos, dois de cada lado, fazem as vezes de traves no campinho que é o meio da rua. Rua Benetton. Para compensar a falta da plaquetinha azul que sumiu, um rabisco no muro informa o nome da rua. Rua Minardi. Para chegar até essas vias, só um jeito: pela avenida principal. Avenida Ayrton Senna da Silva.

Com pouco movimento de carros, casas simples - na maioria só com reboco e cheias de puxadinhos - e um dia a dia calmo, esse miolinho do Jardim Alzira Franco, no município de Santo André, no ABC paulista, em nada se assemelha ao glamour e à ostentação que cercam o mundo da Fórmula 1. Mas suas 18 pequenas ruas, nas quais vivem cerca de 180 famílias, homenageiam pilotos, equipes e circuitos da categoria máxima do automobilismo mundial. Eis o Conjunto Habitacional Ayrton Senna.

"Copersucar? É por causa do Ayrton Senna", tentava explicar ao repórter a estudante Tábata Rocha, de 15 anos, recepcionista da escola de informática de sua família, na Rua Copersucar. "Acho que era o nome do campeonato que ele disputou. Ou da pista." Confusão. Acabou salva pelo seu pai, Tarcísio da Rocha, de 41 anos: "Foi a equipe do (Emerson) Fittipaldi." A poucos metros dali, na mesma rua, Eliana Júlia Vieira, de 35, dona de uma loja de roupas , também não fazia a menor ideia do motivo que levou alguém a batizar todas aqueles lugares "com nomes estranhos". "Não sei mesmo explicar", repetia, informando que sua casa fica "ali pertinho", na Rua Sauber.

LEI POPULAR
Não foi preciso andar muito até chegar a uma casa bem-acabada na Rua Jordan e conhecer o ferramenteiro Adílson Gardioli, de 43 anos. Antigo morador do bairro - está lá há cerca de 15 anos - não se cansa de espalhar a história, vivida por ele e outros pioneiros da região, que resultou na decisão de dar aos logradouros dali nomes não de autoridades, como é de praxe, mas de ícones do automobilismo. "Na época em que o Senna morreu, colocaram o nome dele na avenida. E alguém pintou seu rosto, bem grande, em um muro lá no alto", conta, apontando para a parte mais alta do bairro. "Ficou uma perfeição." Ele lembra que, na época, as ruas não tinham nome - "esta aqui era a Rua B". Então ocorreram reuniões para decidir como elas poderiam ser chamadas.

A situação só foi regularizada em 13 de outubro de 2003, por meio de uma lei municipal. De acordo com nota da prefeitura de Santo André, "os líderes comunitários realizaram uma consulta junto à comunidade, sugerindo nomes ligados à Fórmula 1 ao local, que já apresentava o nome de um piloto (Ayrton Senna)". As sugestões foram avaliadas por uma comissão da prefeitura e, então, submetidas à Câmara Municipal.

Morar em um bairro que tem Fórmula 1 por todos os lados deixa o fiscal de ônibus Sérgio de Souza, de 66 anos, feliz da vida. "Eu assisto a todas as corridas. Até aquelas de madrugada", afirma ele, cuja casa fica na Rua Benetton. Alegria, entretanto, que não é compartilhada pela maioria dos moradores dali. "Por que minha rua se chama Minardi?", espanta-se o auxiliar de almoxarifado Everton Oliveira Silva, de 38 anos. "Deve ser alguma homenagem a alguém, mas não sei." Foi o tipo de resposta mais ouvida pelo Estado.

HOMENAGEADOS
Pilotos: a avenida principal do bairro chama-se Ayrton Senna da Silva, em referência ao piloto brasileiro tricampeão mundial de Fórmula 1, morto em acidente ocorrido em 1.º maio de 1994, no GP de San Marino. Há também a Rua Senninha (personagem de histórias em quadrinhos que homenageia Senna) e Rua Prost (o piloto francês Alain Prost, tetracampeão mundial, principal rival de Senna). Há controvérsias sobre a Rua Suzuki: alguns acreditam que ela alude ao piloto japonês Aguri Suzuki, de inexpressiva carreira (sua melhor colocação foi um 3.º lugar); outros entendem que seria uma atrapalhada referência a Suzuka, circuito onde ocorre o GP do Japão

Equipes: com exceção da Rua Ferrari, todas as outras homenageiam equipes que não existem mais ou foram compradas, como Toleman (em cujo carro Senna estreou na F1, em 1984), Jordan (na qual Barrichello iniciou sua carreira, em 1993), Benetton (nela, o heptacampeão Michael Schumacher sagrou-se bicampeão mundial, em 1994 e 1995), Minardi, Copersucar (única equipe brasileira que já existiu na F1, fundada pelos irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi) e Sauber (que, em 2002, lançou Felipe Massa na F1 e, hoje, com novo dono, se chama BMW Sauber F1 Team)

Autódromos: as referências vão dos brasileiros Interlagos (de São Paulo, que sedia a F1 no País), Jacarepaguá (do Rio de Janeiro) e Tarumã (de Viamão, no Rio Grande do Sul) aos estrangeiros Ímola (Itália), Monza (também da Itália) e Estoril (Portugal). Existe ainda a Rua Tamburello, alusiva à famosa curva do Autódromo de Ímola, onde Senna sofreu o acidente que
resultaria em sua morte


Domingo, 18 de outubro de 2009

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