17 de mai. de 2009

''A crise não pegou o Jockey''

ENTREVISTA: Márcio Toledo: presidente do Jockey Club de São Paulo
GP São Paulo de amanhã terá premiação recorde; Toledo reclama do IPTU e diz que não há risco de clube ser desapropriado

Amanhã, às 16h50, ocorre o Grande Prêmio São Paulo. Será o evento máximo de um fim de semana em que o Jockey Club paulistano estará movimentadíssimo: os 22 páreos programados para hoje (a partir das 13h30) e amanhã (a partir das 13h) terão uma premiação total de R$ 1,3 milhão - só o Grande Prêmio São Paulo dará aos vencedores R$ 509.892, recorde histórico. O presidente da agremiação, empresário Márcio Toledo, conversou com o Estado sobre o evento, a história de que o clube pode ser desapropriado pela Prefeitura e a enorme dívida de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) que eles negociam. "Somos cobrados em R$ 6 milhões por ano. Isso é impagável", afirma.

Premiação recorde em tempos de crise mundial. Como isso foi possível?

Não tivemos queda significativa em número de apostas ou em público. A crise não pegou o Jockey. Nos últimos quatro anos, fizemos um trabalho muito forte e sério, renegociando todos os contratos, buscando mais receitas e diminuindo as despesas históricas. Além disso, passamos a sediar diversos eventos, desde shows musicais até a Casa Cor.

A maior fonte de renda do Jockey hoje são os eventos?

Sim. Hoje representam 50% das receitas do clube todo. O segundo item em termos de receita é a exploração do patrimônio do Jockey (o clube tem um prédio no centro da cidade, com a maior parte das unidades locadas) e as anuidades dos sócios (atualmente, 3,5 mil). As corridas praticamente empatam dinheiro. Do volume total de apostas, 75% volta para o apostador, em prêmios. Os outros 25% servem para pagar a premiação dos cavalos e toda a infraestrutura de promoção das corridas.

No início do ano, surgiu uma história de que a Prefeitura estaria interessada em desapropriar o Jockey, para ali manter um parque...

Nós ficamos sabendo disso por meio da imprensa. Nunca aconteceu nada de concreto.

A Prefeitura jamais o procurou para conversar a esse respeito?

Não.

E quanto ao IPTU? A dívida do Jockey continua imensa?

É uma discussão polêmica que existe desde 1933, quando o Jockey definiu que mudaria sua sede da Mooca para a Cidade Jardim. De lá para cá, houve momentos em que ele foi anistiado e momentos em que essa cobrança existiu. O que discutimos hoje é uma dívida que vem de 1989.

Mas qual é a discussão?

O Jockey questiona se é justa essa cobrança. Os outros clubes de São Paulo são parcialmente isentos do IPTU, ou seja, pagam apenas o imposto predial, e não o territorial. Ao Jockey é imputada cobrança total, de uma área de 620 mil m², com a mesma tributação de uma mansão no bairro.

Qual é o valor do IPTU?

Em torno de R$ 6 milhões por ano. É um valor impagável. Todas as receitas brutas do Jockey são de R$ 2,5 milhões por mês. Como dirigente de uma entidade não posso me furtar a questionar e buscar um valor que chegue a outro patamar. É claro que tudo o que já foi julgado e incorporado como dívida vem sendo pago, parceladamente, à Prefeitura. No ano passado mesmo o Jockey pagou um total de R$ 1,2 milhão dessa dívida. É um processo complexo.

Então o desejo do Jockey é ter isenção do imposto territorial?

Exatamente. Se formos equiparados aos outros clubes, pagaríamos em torno de 5% a 7% do que nos é cobrado hoje. Cerca de R$ 300 mil. Um valor palatável.

Aí daria para pagar?

Seria mais razoável, apesar de continuar caro diante de nossas receitas. Eu acredito que as autoridades públicas precisam entender que o Jockey é um espaço da cidade, um patrimônio de São Paulo. Toda grande cidade tem um hipódromo, que é um ponto importante, turístico. Nem todos oferecem essa amplitude de eventos que nós oferecemos. É preciso uma mudança de mentalidade. Na França, por exemplo, o governo dá dinheiro para promover as corridas de cavalos, porque as entende como patrimônio cultural.

O senhor acredita nesse caminho?

Acredito muito numa solução para o futuro. Nós sempre estaremos cumprindo os processos de parcelamento dessas dívidas. Damos nossa demonstração de seriedade e acredito muito na sensibilidade das autoridades públicas para entenderem a importância do Jockey. São Paulo é uma cidade tão carente de espaços e o Jockey oferece entretenimento. Não o vejo como uma área só de seus sócios, mas como espaço de toda a cidade. O Jockey recebe eventos, se fortalece e passa a ter utilidade pública.

Há alguma outra dívida do Jockey hoje?

Não. Essa questão tributária é nossa única pendência. Durante muitos anos o Jockey foi devedor de bancos e chegou a atrasar o pagamento de seus fornecedores. Quando eu assumi, devíamos água e energia elétrica. Estávamos na iminência de ter a luz cortada por falta de pagamento. Hoje está tudo regularizado, seja com os bancos, seja com as empresas.

Como o senhor conseguiu?

Logo no início de minha gestão, tomei uma medida muito dura: suspendi todos os pagamentos durante 60 dias, até entender cada um dos contratos. Passei a renegociá-los, então, obtendo uma relação comercial melhor.

Como o senhor avalia as comparações entre o presente do Jockey e seu passado glamouroso?

Tenho uma leitura um pouco diferente da história do Jockey. Ele foi fundado pela elite e quem fez seu glamour foi a elite. Mas são as camadas populares que fizeram o patrimônio do Jockey. O povo de São Paulo lotava nossos espaços, apostava nos cavalos. Isso possibilitava a riqueza e o glamour. O glamour só existe quando há plateia.

E hoje, há plateia?


Quem for ao Grande Prêmio São Paulo irá ver mulheres elegantes e grandes empresários, sim. E o público vem aumentando. No ano passado tivemos 20 mil pessoas e neste ano esperamos 30 mil (a capacidade total é de cerca de 40 mil pessoas).


Sábado, 16 de maio de 2009

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