15 de abr. de 2009

Entre resgates e tragédias, até partos

ESTRADAS
Em 2007, as 15 concessionárias do Estado prestaram 50,6 mil socorros OHL iniciou ontem atendimento nas Rodovias Régis e Fernão Dias

Eram 8 horas e a técnica em enfermagem Alceli de Oliveira havia acabado de chegar ao posto da SPVias em Alambari, no km 144,5 da Rodovia Raposo Tavares, para mais um dia de trabalho. Mas seu primeiro atendimento naquele 29 de abril de 2007 não foi nenhuma tragédia, como é comum acontecer – apenas no ano passado a concessionária efetuou 5,8 mil resgates a acidentados nos 516 quilômetros de estradas que administra. Em suas mãos, nasceria o pequeno Eduardo, filho da dona de casa Jocimara Rosa Martins, que estava sendo levada para fazer o parto em um hospital de Itapetininga. “Foi uma alegria fazer o parto”, lembra Alceli. “É uma história que repetirei para o resto da vida.”

Dos mais de 20 mil quilômetros de malha rodoviária estadual, apenas 3,5 mil têm administração privada. Os serviços de socorros médico e mecânico oferecidos pelas 15 concessionárias que atuam no Estado são uma contrapartida a quem utiliza as estradas e, para tanto, precisa pagar pedágio. Somadas todas as concessionárias, foram 50,6 mil atendimentos com ambulância no ano passado e 608 mil socorros mecânicos, de acordo com a Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo (Artesp).

A oferta de assistência acaba beneficiando não só os motoristas e passageiros que trafegam pelas rodovias como também os moradores que vivem nas proximidades. “É comum que nos procurem, porque o atendimento é mais rápido que o oferecido pelos serviços públicos de saúde”, diz o motorista de resgate Jaime Ferreira, que há seis anos trabalha em rodovias – atualmente está na SPVias. Nesses casos, funcionários da concessionária precisam pedir autorização à direção da empresa antes de agir. “Na semana passada mesmo, atendemos um morador de um bairro rural em São Miguel Arcanjo, perto de Sorocaba”, conta Ferreira.

No caso do menino que nasceu na Rodovia Raposo Tavares, os profissionais da concessionária fizeram até uma visitinha no dia seguinte. Foram ao Hospital Regional de Itapetininga e levaram um kit de fraldas, talco e xampu ao recém-nascido. A Câmara Municipal de Sarapuí, cidade onde mora a mãe, Jocimara, homenageou os “parteiros” com uma moção de aplauso. Mas, geralmente, as histórias não têm um segundo capítulo. “Em nossa profissão, a gente tenta se desapegar das coisas”, afirma a técnica em enfermagem Alceli. “A maioria é tragédia. São muitos acidentes e, quando o trabalho acaba, preferimos esquecer.”

NOVA EMPRESA
Um fato como esse ocorre raramente. “A concessionária não nega o atendimento, mas nossa prioridade é socorrer o usuário da rodovia”, explica Eneo Palazzi, superintendente da Autopista Régis Bittencourt. A rodovia começou ontem seu serviço de auxílio aos motoristas, assim como as outras quatro sob concessão da OHL Brasil: Fernão Dias, BR-101 (da Ponte Rio-Niterói até a divisa com o Espírito Santo), BR-116 (de Curitiba até a divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul) e o corredor que liga Curitiba a Florianópolis (BR-101). Nos últimos seis meses, os socorros médico e mecânico vinham sendo realizados pela Polícia Rodoviária, Corpo de Bombeiros e guinchos particulares da região.

Entre meia-noite e 18 horas de ontem, primeiro dia de funcionamento, ocorreram 247 atendimentos nas cinco estradas. Desses, 25 foram acidentes. Só a Régis Bittencourt, conhecida como “rodovia da morte”, registrou 15, a maioria na Serra do Cafezal, próximo a Juquitiba, um trecho com pistas simples e onde 70% do movimento é de caminhões. A concessionária promete iniciar obras de duplicação no próximo ano. A expectativa é que sejam concluídas em 2012.

A empresa não revela quanto investiu no sistema de atendimento, cujos gastos estão incluídos no orçamento de R$ 776 milhões para este ano. Mas, para atender os 450 mil motoristas diários, o sistema conta com 66 ambulâncias, 55 guinchos e 42 viaturas para inspeção nas cinco estradas. Um total de 836 profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos e resgatistas, ficarão à disposição de quem trafega pelas rodovias. Por enquanto, não é cobrado pedágio. Mas a tarifa deverá ser criada até o fim do ano. Já o sistema Anchieta-Imigrantes, administrado pela Ecovias há oito anos, realiza por mês 8 mil atendimentos mecânicos, 4 mil com guinchos e 420 socorros médicos.

NÚMEROS
27.874 acidentes nos 3.500 quilômetros de estradas paulistas sob concessão foram registrados no ano passado.
Resultaram em 741 mortes, diz a Agência Reguladora de Transportes do Estado de São Paulo. 4.148 é o total de cabines telefônicas nas rodovias sob concessão. Só na Via Dutra são 800.
621 câmeras monitoram as estradas do Estado.
R$ 934 milhões foi o total investido em 2007, segundo a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias.
1.028 cabines fazem cobrança de pedágio no Estado – 174 são da AutoBan.

em parceria com Mônica Cardoso.


Sábado, 16 de agosto de 2008

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