26 de abr. de 2009

Um terço dos shoppings de SP usa água de poço

URBANISMO
DAEE registra aumento de 10% ao ano em perfurações na capital

Economia financeira e discurso ecologicamente correto. Eis as principais vantagens que fazem 18 dos 48 shoppings da capital paulista trocarem a água da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) pela de poços de profundidade, num esforço inicial também para virarem “conjuntos verdes”. “Sem dúvida, o principal atrativo é a vantagem financeira”, admite Ricardo Ferraz, diretor comercial da General Water, empresa de captação e exploração de águas subterrâneas. “Praticamos preços que chegam a ser 60% inferiores aos da Sabesp.”

Até o estrelado Shopping Iguatemi se rendeu ao sistema – desde dezembro de 2005 mantém quatro poços. A General Water atende ainda a outros cinco centros de compras na região metropolitana. “Foi uma decisão da administração”, diz o gerente operacional do Frei Caneca. “Desde agosto de 2007, temos economizado R$ 12 mil por mês.”

Em média, um poço do gênero alcança o lençol freático a 250 metros de profundidade. No caso do Iguatemi, a escavação chegou aos 400 metros; no Frei Caneca (com dois poços), ficou entre 360 e 400 metros. E as empresas costumam cobrar de R$ 80 a R$ 100 por metro perfurado acabado. “E para cada área precisamos de uma autorização do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), uma autarquia estadual, para a exploração do recurso hídrico”, explica Ferraz.

Com tantas dificuldades e burocracias, por que a maioria dos shoppings tem mais de um poço? “Por razões estratégicas”, afirma o especialista. “As vazões dos poços em São Paulo não são muito elevadas e, portanto, um só pode não atender à demanda.”

De acordo com o DAEE, de 350 a 400 poços de profundidade regularizados são construídos em São Paulo por ano. A autarquia registrou um crescimento de 10% no número dessas perfurações. Oficialmente, existem 5 mil poços na capital. Mas segundo estimativas da Associação Brasileira de Águas Subterrâneas (Abas), de um total de 50 mil poços novos por ano no País, 15% seriam feitos em São Paulo, considerando os clandestinos.

Os números surpreendem. “O volume de água subterrânea utilizado na cidade equivale ao total do Sistema Cantareira (que abastece 9 milhões de pessoas)”, compara o presidente da associação, Everton de Oliveira. E é nesse ponto que o discurso “ecologicamente correto” vira “uma questão socialmente responsável”, na visão do diretor comercial da General Water.“Quando um grande consumidor deixa de usar o que é disponibilizado pela concessionária pública, libera recursos para o restante da população.”

No entanto, poços de profundidade só valem a pena para grandes consumidores de água. A General Water, por exemplo, atende apenas a quem usa mais de 2 milhões de litros de água por mês. Para o presidente da Abas, Everton de Oliveira, ao optar pelos poços as grandes empresas são impulsionadas, principalmente, pela autonomia. “A garantia é de que não faltará água nem haverá queda brusca na qualidade.”

A qualidade, aliás, é a maior preocupação que passa pela cabeça de um freqüentador de um desses espaços. “Garanto que é boa”, diz o gerente operacional do Shopping Frei Caneca, Alberto Duarte. “Fazemos análise mensal da água e nunca tivemos problemas”, afirma, ressaltando que não se suspendeu totalmente o fornecimento pela Sabesp. “Nossos dois poços não são suficientes”, afirma. “Agora estamos estudando a possibilidade de fazer um terceiro poço.”

em parceria com Renato Machado.


Segunda-feira, 6 de outubro de 2008

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