6 de jun. de 2009

Na Oscar Freire, mil vezes mais ruído que o ideal

MAPA DO BARULHO
Com média de 80 decibéis à noite, obra de estação da Linha Amarela do Metrô inferniza vida de vizinhos

Eram exatamente 23h40 quando a agente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) sinalizou positivamente e a primeira das três carretas Scania modelo E 142 começou a manobrar na Rua Oscar Freire. Para levar a carga para dentro da obra de expansão da Linha Amarela do Metrô, o veículo de pelo menos 20 metros de comprimento segue para frente e para trás algumas vezes, num período em que a rua fica bloqueada e o barulho faz luzes acenderem nos apartamentos ao redor. O mesmo processo precisa ser repetido pelas outras duas carretas.

A cena, flagrada pela reportagem do Estado na noite de quarta-feira, contribuiu para aumentar o barulho na região, que já é afetada pelas máquinas que operam dentro do canteiro de obras e pelos gritos dos trabalhadores. A medição dos ruídos naquele momento e o cálculo feito pelo arquiteto Eliseu Genari, pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, apontou uma média de 80 decibéis, quando o indicado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é 50.

Embora, aos leigos, isso pareça “apenas” 30 pontos de diferença, a realidade é outra. A intensidade de ruídos é medida em decibéis, uma escala logarítmica. Isso significa que um som 10 vezes mais forte do que 0 decibel mede 10 decibéis; 20 decibéis seria um som cem vezes mais forte do que 0 decibel; 30 decibéis, um som mil vezes mais forte do que 0 decibel; e assim por diante. Por isso, a obra do metrô – com 80 decibéis – faz mil vezes mais ruído do que o aceitável para a região.

Muito barulho causa reclamações dos moradores. Pelo tanto de caminhões que a estudante Nadine Tani, de 21 anos, vê parado na entrada da obra, ela tem uma idéia do incômodo que enfrentará pela madrugada. “Quando vêm aquelas carretas carregadas de blocos de concreto é o pior, porque até para empilhar lá dentro é um barulho insuportável”, diz ela, que mora praticamente na frente do portão da obra. Por causa dos ruídos, a estudante mantém as janelas sempre fechadas, mas mesmo assim tem dificuldades para dormir. Sua mãe, que a visita duas vezes por semana porque cursa uma pós-graduação na capital, precisa tomar remédios para não ter o sono atrapalhado pela obra.

Em nota, o Consórcio Via Amarela, responsável pela construção, afirmou que “adota uma série de medidas e providências em relação a ruídos e os funcionários são treinados para minimizar, ao máximo, os impactos sonoros”. O consórcio também alega que trocou os geradores de energia por outros mais silenciosos e instalou abafadores de ruído nas saídas dos dutos dos
ventiladores.

SERVIÇOS PÚBLICOS
Concessionárias de serviços também têm tirado o sono dos paulistanos. Só a Comgás faz cerca de cem obras simultâneas na cidade. A medição feita pelo Estado, à 0h30 de quinta-feira, registrou média de 84 decibéis em obra na Rua do Arouche, centro. Britadeiras faziam um coro desagradável, que ecoava a centenas de metros dali e podia ser ouvido em todos os cantos da Praça da República.

A companhia alega não ter culpa por trocar a noite pelo dia. “Quem determina o horário é a CET”, afirma Ana Claudia Castro, gerente de Licenças e Autorizações da Comgás. Nas prioridades, a fluidez do trânsito parece vir antes do sono do paulistano.

A companhia não soube precisar o número de reclamações que tem recebido por causa da barulheira pela cidade, mas admite que elas ocorrem com freqüência. “Nesses casos, tentamos explicar às pessoas a necessidade da obra”, diz Antonio Henrique Gross, superintendente de Assuntos Institucionais da Comgás. “Normalmente, elas entendem.”

Gross frisa que a companhia tem investido para que os equipamentos emitam o mínimo ruído possível. “Temos consciência do incômodo que causamos à população”, afirma. Ele diz que os funcionários são orientados a melhorar o processo, concentrando os trabalhos mais barulhentos no mesmo espaço de tempo, para causar um desconforto menor aos moradores das redondezas.

Casal investe em janela anti-ruído

A publicitária Silvia Mekaru e seu marido, o empresário Robert Restad, já fizeram de tudo para tentar resolver o problema do barulho. O apartamento deles fica logo ao lado da obra de expansão da Linha Amarela do Metrô – eles avistam o guindaste de todos os quartos. Quando reclamaram na ouvidoria da companhia, receberam como resposta que os ruídos estavam dentro da lei. “Ou a regra é muito flexível ou eles não a cumprem”, diz Silvia. Sem outras opções, o casal vai investir na compra de janelas anti-ruído – R$ 3,5 mil por quarto.

em parceria com Renato Machado.


Domingo, 16 de Novembro de 2008

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