7 de jun. de 2009

Nem hospitais escapam do incômodo

MAPA DO BARULHO
Trânsito é o grande vilão: ruído na Avenida Doutor Arnaldo, onde estão centros médicos, chega a 77 decibéis

Durante o dia, buzinas e roncos de motores fazem uma barulheira que só aumenta o incômodo de quem já precisa conviver com os irritantes congestionamentos. Essa algazarra mecânica não perdoa nem as proximidades dos hospitais. A pedido do Estado, o arquiteto Eliseu Genari, pesquisador de acústica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, realizou medições em 15 pontos da cidade para verificar se o nível de ruídos estaria de acordo com o indicado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Na tarde de segunda-feira, foi medido o nível de ruído na Avenida Doutor Arnaldo, onde estão o Hospital das Clínicas, o Instituto do Câncer e o Instituto Emílio Ribas. Os dados ficaram em níveis superlativos: 77 decibéis, quando o máximo recomendado pela ABNT para o horário é 50 decibéis – numa escala logarítmica, isso significa que o som estava 501 vezes mais alto. Na Avenida Rebouças, próximo do Instituto do Coração (Incor), os ruídos atingem 74 decibéis. Nos dois locais, o trânsito causa os altos índices.

“O maior causador de ruído na cidade é o tráfego”, observa o arquiteto Cesar Bergstrom, diretor de Urbanismo do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco). Para ele, o melhor meio de atenuar o problema consiste em promover uma intensa arborização. “Árvores absorvem o som”, explica.

O trânsito também responde pelos altos índices em três outros locais medidos: no cruzamento da Avenida Paulista com a Rua da Consolação, na Marginal do Tietê e no Elevado Costa e Silva, o Minhocão. Os dois primeiros foram analisados no pico da tarde – 17h30. Eles apresentaram, respectivamente, 81 e 83 decibéis. No Minhocão, onde há apartamentos perto do nível do elevado, foram registrados 82 decibéis às 20 horas – nível de ruído diretamente sentido por quem reside ali.

Tormento dos moradores da região, o Aeroporto de Congonhas continua sendo o ponto de maior intensidade de barulho em São Paulo. Quando um avião pousa ou decola, a intensidade de barulho medida nas redondezas chega próximo dos 100 decibéis. “Por aqui muitos têm problemas de audição”, comenta a presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Moema, Lygia Horta. Graças ao embate com quem vive na região, vôos em Congonhas só são permitidos das 6 às 23 horas. Mas há exceções. “Têm ocorrido muitos de madrugada ultimamente”, diz Lygia. De acordo com a Assessoria de Imprensa do aeroporto, são permitidos vôos de emergência – geralmente de aviões-UTI ou com órgãos para transplante – e aeronaves militares. Em outubro, ocorreram nove pousos ou decolagens durante a madrugada.

Morador da Vila Madalena desde 1945, o contador aposentado Durval Barros Nascimento viu – e ouviu – bem a evolução do bairro, que se transformou em point boêmio. “Nos anos 90, cheguei a organizar um abaixo-assinado com mais de 5 mil nomes, para que a Prefeitura tomasse alguma atitude”, conta. “Com o tempo, admito que me acomodei.” Quando foi medido o ruído da região, na Rua Aspicuelta, entre dois bares com música ao vivo, na noite de quarta, a média foi de 79 decibéis.

GUERRA HISTÓRICA
A guerra travada entre os paulistanos e o barulho é histórica. O que mudou foi o perfil dos vilões. Em 16 de janeiro de 1879, este jornal, ainda sob o nome de A Província de São Paulo, publicou uma nota registrando o grande número de reclamações “contra a trombeta que usam os bondes que partem de madrugada”. O aviso sonoro utilizado para comunicar os passageiros incomodava. “Quem precisa de trombeta (dizem eles) que mande-a tocar por um criado dentro de seu quarto de dormir”, completava o texto.

Publicada em 13 de janeiro de 1919, uma crônica intitulada “A Capital do Barulho” reclamava do repicar dos sinos das igrejas do centro – às 6 horas da manhã! –, dos bondes da Light, das buzinas dos automóveis e de cornetas que, pelas ruas, já anunciavam o carnaval.

Em outubro de 1960, a Prefeitura lançou uma campanha de combate ao barulho, uma série de debates para discutir o problema que já incomodava. Desde aquela época, o tema se mantém em pauta. “A população de São Paulo luta de forma aguerrida contra os ruídos”, afirma o arquiteto João Gualberto Baring, professor de acústica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e coordenador da Comissão de Estudos de Desempenho Acústico de Edificações da ABNT. O Psiu foi implementado em dezembro de 1994.


LIMITES PELA ABNT

Em áreas estritamente residenciais ou com hospitais e escolas: 50 decibéis de dia e 45 à noite

Em área predominantemente residencial: 55 decibéis durante o dia e 50 à noite

Em área mista, com comércio: 60 decibéis de dia e 55 à noite

Em área mista, com vocação recreacional: 65 decibéis durante o dia e 55 à noite

Em área predominantemente industrial: 70 decibéis durante o dia e 60 à noite

em parceria com Renato Machado.


Domingo, 16 de Novembro de 2008

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