24 de dez. de 2008

Ciclovia, playground e pilates no cemitério

FINADOS
Em alguns pontos da Grande SP, pessoas se divertem entre os jazigos

Duas vezes por semana, a cabeleireira Priscila de Araújo Viana faz aula de pilates no cemitério. Em Mauá, na Região Metropolitana de São Paulo, existe desde 1996 um cemitério dedicado ao bem-estar dos vivos. "Desde o início nos preocupamos em quebrar o preconceito de que é um lugar tenebroso, de tristeza", afirma Ivani de Oliveira Ferraz, a administradora do Vale dos Pinheirais.

Com jeitão de parque, o espaço de 137 mil metros quadrados oferece - além da capacidade para 30 mil jazigos - lanchonete, playground, ciclovia, pista de cooper e um centro cultural. Este, em forma de uma inusitada pirâmide de vidro, serve para palestras motivacionais, apresentações musicais, massagens e aulas de ioga e pilates. "Nossa idéia é: se a pessoa compra o espaço no cemitério quando ainda está viva, por que não usar isso?", justifica Ivani.

Quem compra um jazigo e paga a taxa de manutenção pode, com a família, desfrutar de toda a estrutura do espaço sem pagar mais nada por isso - nem pelas aulas. Os preços variam de R$ 4.994 a R$ 13.980.

As sessões semanais de massagem e as aulas de ioga e pilates são as que atraem maior público. Juntas, cativam quase cem freqüentadores assíduos. Mas ainda há quem não entenda tão estranho rol de atividades em um cemitério. "Quem não conhece acha fora do normal", diz a cabeleireira Priscila. "Mas eu gosto muito do ambiente. Nem parece um cemitério." Abertos também a quem não tem jazigo ali, há cursos de noções de secretariado, artesanato e manicure, entre outros. Todos de graça.

Hoje, por causa do Dia de Finados, a programação do Vale dos Pinheirais é bem movimentada. Haverá quatro missas e um encontro de oração, além de exames para diagnosticar câncer de garganta e diabetes, sessões de massagem e medição de pressão arterial.

Quem visitar o Cemitério da Consolação hoje receberá um livreto que conta sua história e descreve as principais obras de arte que podem ser vistas ali. O material é assinado pelo sociólogo José de Souza Martins, colunista do Estado, e foi viabilizado graças a uma parceria entre as Secretarias de Serviços e de Cultura.

Também será distribuído um mapa com a relação de personalidades ali enterradas, com a localização de seus túmulos. Há nomes como a pintora Tarsila do Amaral, o ex-presidente Washington Luís e o poeta Mário de Andrade. "Cemitério também é cultura", defende o secretário municipal, Carlos Augusto Calil.

Ele antecipa que, para incrementar as visitações ao Cemitério da Consolação, até o fim do ano devem começar a ser feitas ali obras de "reurbanização interna". Túmulos serão restaurados, haverá intensa arborização e, sob as sombras, bancos devem ser instalados. Só o restauro do pórtico principal está orçado em R$ 150 mil.

O maior cemitério do Brasil, que fica na Vila Formosa, na zona leste da capital, espera receber hoje mais de 150 mil pessoas. São 87 mil sepulturas distribuídas em uma área de 760 mil metros quadrados. De acordo com a administradora, Maria Lúcia de Carvalho, há um projeto para que seja feito ali dentro um parque contemplativo.

"Sete mil mudas de árvores já foram plantadas", revela. "O próximo passo será a construção de uma pista de caminhada, de um espaço para leitura e de um local para a realização de cultos ecumênicos." Mesmo sem o tal parque, moradores já desfrutam do imenso espaço do cemitério. "De manhã, é comum ver gente caminhando por aqui", conta Maria Lúcia. "E crianças empinam pipas, principalmente em época de férias escolares."


Festa e caminhada dos mortos

Não é só nos cemitérios que o paulistano celebra o Dia de Finados. Ontem estava previsto para ocorrer, no Centro Universitário Maria Antonia, na Vila Buarque, um debate intitulado Morrer em São Paulo, com uma perspectiva histórica sobre a morte na capital.

Para hoje, está programada a terceira edição da Zombie Walk, uma caminhada de pessoas fantasiadas de morto-vivo, com saída às 15 horas, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Patrocinada pelo Conselho de Promoção Turística do México, uma cooperativa de arte alternativa preparou um altar com oferendas no Conjunto Nacional, na Paulista. “No México é tradição homenagear algum defunto da família com um altar cheio de coisas que ele gostava em vida”, explica o administrador do conselho, Francisco Méndez.

Com cardápio mexicano, restaurantes também celebrarão. No Obá, nos Jardins, até o dia 9 se homenageia Dercy Gonçalves. Já o La Mexicana, da Vila Olímpia, lembra o Seu Madruga, do seriado Chaves.


Domingo, 2 de novembro de 2008

Um comentário:

edson disse...

Cemitério "tem" que parecer cemitério sim, essa Priscila não sabe o que fala, muito menos o secretário Calil que sai com o clichê de que "cemitério também é cultura"... Ora, cemitério tem que parecer cemitério sim e sempre poderá incorporar inovações que continuará sendo cemitério... e por mais simples e insignificante que seja, ele é cultura, cemitério é cultura de toda a humnanidade. Maravilha! Que possamos perpetuar e curtir o cemitério, o espaço mais "verdadeiro" da sociedade humana.