12 de dez. de 2008

Tesouros revelados

MEMÓRIA
Bisneto de fotógrafo alemão recupera 1 500 imagens de São Paulo entre os anos 20 e 40

Quando o alemão Theodor Preising chegou a São Paulo, nos anos 20, encontrou uma cidade de meio milhão de habitantes e raríssimos carros nas ruas. Câmeras fotográficas – tão banais na era digital – eram trambolhos complicados e caros, manuseados apenas por profissionais. Ele trouxe sua Voigtlander e, munido de um tripé, passou a registrar cenas do cotidiano paulistano. "Sempre que a gente tirava fotos na rua, formava-se uma rodinha de curiosos", lembra Karl Fritz Preising, 93 anos, filho do fotógrafo. "Muitos ficavam fazendo pose e atrapalhando." Os negativos eram revelados e ampliados em um laboratório próprio, e os melhores viravam cartões-postais.

Nascido na cidade de Hildesheim, em 1883, Preising clicou as frentes de batalha da I Guerra Mundial. Quando o conflito terminou, mudou-se para a América do Sul. Morou alguns meses na Argentina. Não se adaptou e resolveu vir para o Brasil. De 1920 a 1924, produziu e vendeu cartões-postais no Guarujá. A partir daí, estabeleceu-se em São Paulo, onde montou um laboratório fotográfico. Por vezes, tomava um trem e passava uma temporada fora, captando imagens de outras cidades. Preising foi um dos pioneiros na utilização de máquinas de pequeno formato, como a Leica e a Contax, na década de 30. Nessa época, trabalhou com o fotógrafo Benedito Junqueira Duarte, na Revista São Paulo.

Com o início da II Guerra, as coisas começaram a se complicar para Preising. Ele foi proibido de tirar fotos externas nas cidades. "A polícia tinha medo de que mandássemos as imagens para a Alemanha e a cidade fosse bombardeada", conta seu filho. Como alternativa, o alemão passou a fotografar a agricultura no interior. Os fazendeiros adoravam comprar registros de suas lavouras de algodão, café, banana e trigo. Acometido pela doença de Parkinson, o fotógrafo aposentou-se em 1948 e morreu catorze anos depois. As preciosidades deixadas por Theodor Preising – um acervo de 14 000 negativos de diferentes formatos, 1 500 dos quais com cenas da capital paulista – ficaram praticamente esquecidas pela família até 2001. Foi o bisneto do fotógrafo, Douglas Aptekmann, que decidiu organizar o arquivo e zelar pela conservação do material.


Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

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