9 de fev. de 2009

Com festas, comida e pedidos, capital celebra Iemanjá

Casas paulistanas de circuitos boêmios comemoram orixá na próxima segunda-feira
SOCIEDADE

De olho em um ponto da Vila Madalena, conhecido bairro boêmio de São Paulo, o então gerente de Bar Joaquim Alvares arrumou as malas e foi para Maresias, no litoral norte, em dezembro de 2007. “Levei uma garrafa com um pedido para Iemanjá”, conta. “Uma semana depois, apareceu um investidor para meu projeto.” Então ele comprou o local, onde funcionava uma padaria e transformou em seu próprio bar.

Na próxima segunda-feira, dia 2, ele e seus três sócios comemoram o dia da “rainha do mar” com uma festa no boteco, batizado de Bar Iemanjá. Inaugurado em outubro, após oito meses de obras, o boteco soma-se aos tantos que existem no agitado bairro paulistano. “Não costumamos abrir às segundas, mas será uma ocasião especial”, diz outro dos sócios, Marcelo Lewandowski.

Os frequentadores da casa poderão comemorar o dia de Iemanjá com duas bandas e um DJ. “Todo mundo terá de vestir camisa branca”, estipula Joaquim, conhecido pelo apelido de Kim. “Também gostaríamos que as pessoas trouxessem rosas brancas para homenagearmos a orixá.” No que depender do entusiasmo de Kim, a festa passará a ser uma tradição do boteco.

Desde que foi aberto, o bar tem em sua decoração um barco onde as pessoas podem colocar seus pedidos para a divindade. Já são mais de mil papeizinhos. “No domingo de manhã levarei o barco para Maresias”, promete Kim, em tom de agradecimento. “Vou colocar os pedidos no mar na segunda-feira. Filmarei tudo e, à noite, mostraremos o vídeo no bar.”

Nascido em São Paulo, Kim jura por todos os orixás que sua devoção à “rainha do mar” não é questão de marketing para promover o seu estabelecimento comercial. “Sei que nome de santo pega em bar”, admite. “Mas morei em Maresias por dez anos. Depois vivi um tempo em um veleiro, percorrendo todo o Caribe. Sempre fui ligado em Iemanjá. Meu contato com ela é cada vez maior.”

A “SANTA”
Iemanjá é um orixá africano. Seu nome é originário da expressão iorubá “yèyé omo ejá” – que significa “mãe cujos filhos são peixes”. No Brasil, seu culto foi trazido durante o período da escravidão. É uma orixá muito popular entre os seguidores de religiões afro-brasileiras.

A maior festa em sua homenagem ocorre em Salvador, capital baiana. Todos os anos, em 2 de fevereiro, milhares de pessoas vestidas de branco se dirigem à foz do Rio Vermelho, onde depositam pedidos e oferendas: espelhos, comidas, perfumes, bijuterias.

Comemorações à Iemanjá também são comuns durante o réveillon em cidades litorâneas. As oferendas costumam ser depositadas no mar, tanto por devotos quanto por turistas que “entram na brincadeira”. “Quando era surfista, tinha o hábito de pedir onda para Iemanjá”, lembra. “Agora só quero harmonia. E que o bar dê certo”, diz Kim.

Graças ao sincretismo religioso no Brasil, no mesmo dia também se comemora a santa católica Nossa Senhora dos Navegantes. Em algumas cidades, religiosos organizam grandes procissões fluviais para celebrar a santa.

FESTIVAL GASTRONÔMICO
O Bar Iemanjá não é o único lugar paulistano em que a orixá é reverenciada. No restaurante Obá, nos Jardins, a divindade africana está sendo celebrada, pelo quarto ano consecutivo, com festival gastronômico. “Iemanjá nos protege e a casa bomba”, comemora o restauranteur Hugo Delgado.

Até a próxima segunda, os clientes encontram no menu 18 pratos feitos com peixes e frutos do mar. Tem casquinha de siri com farofa (R$ 15), salada de polvo grelhado com abacaxi, hortelã e ervas frescas (R$ 34), moqueca capixaba de peixe, com arroz, farinha e pirão (R$ 45) e lagosta ao molho de tomate (R$ 69), entre outros.

“Em todas as mesas colocamos envelopinhos para que as pessoas façam seus pedidos à Iemanjá”, conta Delgado. “Depois levamos tudo para a praia.” De acordo com ele, 85% dos frequentadores topam participar e deixam seus recados à divindade. “No ano passado, foram mais de 800 envelopes.”

Serviço:
Bar Iemanjá: Rua Mourato Coelho, 1325, Vila Madalena, (0xx11) 3032-6881
Obá Restaurante: Rua Doutor Melo Alves, 205, Jardim Paulista, (0xx11)
3086-4774


Quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Nenhum comentário: