8 de fev. de 2009

Incêndio atinge igreja histórica

Parte de templo católico do Paiçandu, sem alvará de funcionamento, pegou fogo na madrugada de ontem
PATRIMÔNIO

Um princípio de incêndio atingiu, na madrugada de ontem, uma sala externa da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paiçandu, no centro de São Paulo. Testemunhas tentaram apagar o fogo com baldes de água. Por volta das 2h30, uma viatura do Corpo de Bombeiros chegou ao local e, em minutos, extinguiu as chamas.

De acordo com a auxiliar administrativa da igreja, Gláucia Dias, a sala – que havia sido utilizada para manter velas acesas – estava interditada havia uma semana. “Passamos o velário para uma área mais central, porque ali os fiéis reclamavam que apareciam muitos marginais”, explica. Desde então, o espaço funcionava como depósito de parafina usada – havia cinco sacos com o resíduo. “A estrutura da igreja não foi abalada”, afirma Gláucia. “Cedeu o telhado do quartinho, apenas, e as fiações foram queimadas.”

Segundo a Secretaria de Coordenação das Subprefeituras, a paróquia estava sem alvará de funcionamento. No final da tarde de ontem, fiscais foram até o prédio – que pode ser fechado, se não apresentar a documentação nos próximos dias.

Durante o incêndio não havia ninguém no templo, cujo funcionamento não foi prejudicado – abriu normalmente às 7h. A administração da igreja afirmou que irá pedir investigações para apurar se o incêndio foi criminoso. O pároco, padre Lázaro Mendes, não quis comentar o caso.

Tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio (Conpresp) em 1992, a Igreja dos Homens Pretos foi construída entre 1904 e 1906 por trabalhadores negros. Seu nome alude à irmandade homônima, criada no início do século 18 por escravos e negros alforriados. Por ser mantida por uma irmandade, não tem vínculo patrimonial com a Arquidiocese de São Paulo – que, entretanto, presta assistência espiritual à comunidade. O cardeal arcebispo, d. Odilo Pedro Scherer, foi ao local no início da tarde de ontem.

A primeira capela fundada pela irmandade foi inaugurada em 1737, perto do Vale do Anhangabaú. O local se tornou um ponto de encontro na luta abolicionista. No final do século 19, a Prefeitura desapropriou a área. A irmandade foi transferida, em caráter provisório, para o Largo da Sé. Como indenização, recebeu dinheiro e um terreno no Largo do Paiçandu. Ali foi erguida a nova igreja, inaugurada em 1906.


Quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

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