1 de fev. de 2009

Casarão em SP volta a ser posto de atenção a portadores do HIV

Construído em 1922, prédio estava fechado há quatro anos e foi restaurado
SAÚDE

De 1980 até hoje, foram registrados 67,7 mil casos de aids em São Paulo. Só no ano passado, foram 1.693. Há uma semana, um prédio histórico na Alameda Cleveland, no bairro dos Campos Elíseos, voltou a funcionar como posto de atendimento especial a portadores de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis. O casarão, de 1.175 metros quadrados, foi construído em 1922 para prestar serviços de assistência médica aos funcionários da Estrada de Ferro Sorocabana. Desde 1996 abrigava um serviço de atendimento a soropositivos mantido pela Secretaria Municipal de Saúde.

Tudo ia bem até janeiro de 2004, quando o imóvel foi fechado por causa de problemas estruturais. E assim ficou até o ano passado. De novembro para cá, graças a investimentos de R$ 4 milhões do Hospital Sírio-Libanês, passou por uma restauração total.

O prédio, em estilo neocolonial, é tombado tanto pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) quanto pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Por isso, toda a obra foi cercada de cuidados especiais.

No período em que o casarão ficou fechado, o atendimento dos cerca de 2,7 mil pacientes cadastrados foi deslocado para um endereço nas proximidades, na Rua Albuquerque Lins. “Não era a mesma coisa, pois o local já tinha uma identidade forte com os usuários”, diz a psicóloga Maria Cristina Abbate, que desde 2003 coordena o Programa Municipal de DST/Aids. Por causa da localização geográfica, lá é onde mais se atende moradores de rua, travestis e prostitutas.

CAMISINHAS
O trabalho da Prefeitura de São Paulo para atendimento a soropositivos e
prevenção da aids existe há 25 anos. Atualmente há 24 postos como o da Alameda Cleveland em funcionamento. cFazemos diagnósticos, trabalhos de prevenção e distribuímos camisinhas”, diz Maria Cristina.

Nos postos é possível fazer exame de HIV em uma hora, retirar preservativos – por ano, são distribuídos 41 milhões em toda a rede – e ter acompanhamento médico. Cerca de 150 agentes comunitários de saúde atuam conscientizando a população mais vulnerável. Ganham uma bolsa de R$ 300 por mês. “Tomamos cuidado para que jovens orientem jovens, mulheres orientem mulheres”, diz a psicóloga.

Em 2007 houve uma diminuição de 34% no número de casos de aids comparado ao ano anterior. Toda a rede acompanha cerca de 50 mil pessoas. Quase 15 mil tomam medicação anti-retroviral.
Gestantes soropositivas recebem cuidado especial para que os bebês não sejam infectados. Isso significa, entre outras precauções, não amamentar o recém-nascido. Em 2004, 8% dos bebês nascidos de mães portadoras de HIV contraíram o vírus. No ano seguinte, esse índice caiu para 1%. Ainda não há dados mais recentes, pois a estatística depende de um acompanhamento de longo prazo das crianças.

CULTURA
Para marcar a reinauguração do serviço nos Campos Elíseos, três exposições entrarão em cartaz no casarão, a partir de 2 de setembro. A primeira será um documentário do trabalho de restauração do prédio, com fotos do antes e depois e de alguns detalhes do processo de recuperação.

A jornalista Roseli Tardelli organizará outra mostra: uma compilação de artigos sobre aids publicados nos últimos 20 anos. Roseli comanda a Agência de Notícias da Aids, organização fundada por ela em 2003.

Por fim, Retratos de Um Universo Escondido é um ensaio produzido pelo fotógrafo e advogado Barry Michael Wolfe. Escocês radicado no Brasil desde 1986, ele produziu uma série de fotografias com os travestis usuários do serviço de atendimento dos Campos Elíseos.

O apoio na restauração não é a primeira parceria que o Hospital Sírio-Libanês faz com a Prefeitura. Desde 2003, um veículo com dois funcionários mantidos pelo hospital circula em 13 postos de saúde da região central. Os profissionais fazem manutenção dos prédios e dos sistemas de informática.


Segunda-feira, 25 de agosto de 2008

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