7 de fev. de 2009

O fotógrafo da São Paulo distorcida

Angelo Pastorello quer revelar a cidade com sua câmera rudimentar
PAULISTÂNIA

Funciona como uma metáfora da cidade, esta gigante metrópole de tantas distorções. Munido de uma câmera pinhole - uma caixa escura, sem lente nem visor, apenas com um orifício -, o fotógrafo Angelo Pastorello decidiu, em outubro, fazer um ensaio do Mercado Municipal. "São imagens que não têm um enquadramento lógico", observa. "Para dizer a verdade, nem consigo saber direito o que estou fotografando." O inusitado produto dessa experiência acaba de sair em livro, integrando o recém-lançado Imagens de São Paulo, Vol. 02 (Editora Décor, 268 páginas, R$ 185).

A julgar pelos seus planos, Pastorello tomou gosto pela primitiva engenhoca de fotografar. "Quero juntar alguns pontos da cidade que eu acho bacanas e preparar um livro ou uma exposição só com pinhole", adianta. Ainda no ano passado, realizou o trabalho no Aeroporto de Congonhas. "É um lugar que me atrai afetivamente", diz. "Foi ali que vi um avião pela primeira vez, quando era criança." O próximo local a ganhar um ensaio distorcido já está escolhido: a Estação da Luz. Em janeiro, ele fez alguns estudos, com uma câmera digital convencional, explorando as possibilidades do espaço.

Paulistano de Santa Cecília - criado nas Perdizes, bairro onde ainda vive -, Pastorello adquiriu o gosto da fotografia ainda adolescente. "Quando eu tinha 14 anos, houve um curso de fotografia no colégio (o Rainha da Paz, no Alto de Pinheiros)", lembra ele, hoje com 49 anos. "Eu me fascinei pelo laboratório, pela revelação, pelas possibilidades químicas." Quando completou 15 anos, ganhou do pai um minilaboratório para poder revelar e ampliar suas próprias fotos. "Eu montava no banheiro", conta.

Aos 18, trabalhou como laboratorista na Fujifilm, no setor de ampliação. Depois virou assistente de um estúdio que fazia fotos de arquitetura e decoração. "Eu queria estudar Cinema, mas, como tentei duas vezes e não passei no vestibular da USP, resolvi trabalhar nesse estúdio", comenta. Aos 22, começou a fazer fotos, como freelancer, para revistas como Vogue e Casa Claudia.

E é em meio a esse trabalho editorial - até hoje colabora com diversas publicações, de Época a Capricho, de Playboy a Sexy - e a fotos publicitárias - já fez campanhas para a TAM, a TIM, a Microsoft etc. - que ele se dedica a trabalhos mais autorais. "Eu normalmente uso meu tempo livre para fotografar", conta. "Outro dia, peguei a câmera e fui até o Parque da Luz à tarde. Gosto de ficar pensando em construir a imagem."

São dessas produções artísticas que surgem as exposições - já participou de 15, entre coletivas e individuais - e os livros. Além do Imagens de São Paulo, Pastorello participa do The Art Book Brasil - Fotografia em Preto e Branco (Editora Décor, 268 páginas, R$ 185). "Estou negociando outro livro, possivelmente com fotos de nu."

Há dois anos, Pastorello é um dos professores da escola de fotografia Fullframe, em Pinheiros. Recentemente decidiu ensinar também adolescentes - e de forma voluntária. A partir de março vai promover, por meio do projeto Cidade Escola Aprendiz, uma série de oficinas voltada a alunos da Escola Estadual Carlos Maximiliano Pereira dos Santos, na Vila Madalena. "Consegui uma doação de 12 câmeras simples, analógicas, bem comuns. Vou monitorar grupos de alunos que serão estimulados a fotografar o intervalo das aulas", explica. "A ideia é usar o olhar do adolescente, empiricamente. Em um segundo momento, pretendemos expandir para um projeto que ensine noções de fotografia aos participantes."

Quando dá uma pausa nas câmeras fotográficas - atualmente ele possui seis -, Pastorello se divide entre quatro paixões: cinema, futebol, música e bons restaurantes, especialmente de comida italiana, que ele costuma frequentar com a namorada. De música, é quase profissional. Entre 1984 e 2006, tocou contrabaixo e violão na banda de rock progressivo psicodélico Violeta de Outono - dos sete discos lançados, ele só não participou do último, de 2007. "Saí porque estava difícil de conciliar o tempo", explica ele, que assina duas composições da banda: Faces e Trópico.

Palmeirense, confessa que não vai ao Palestra Itália há cerca de três anos. "Mas acompanho tudo pela televisão, inclusive os programas de debate", afirma. Nunca fotografou futebol, entretanto. E tem vontade? "Imagina só levar a pinhole ao estádio e fotografar de dentro do gol do Marcos (goleiro do Palmeiras)", se empolga. "Eu adoraria. Desde que ele não tome nenhum gol, é claro."


Domingo, 1º de fevereiro de 2009

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