8 de nov. de 2009

Do Masp ao Minhocão: São Paulo

ESPECIAL
Enquete revela o que, na opinião dos arquitetos, é motivo de orgulho e vergonha para os paulistanos

"Procurei uma arquitetura que pudesse comunicar de imediato aquilo que, no passado, se chamou de 'monumental'", disse, certa vez, Lina Bo Bardi (1914-1992) sobre sua criação na Avenida Paulista. Monumental, a sede do Museu de Arte de São Paulo (Masp), inaugurada em 1968, foi lembrada por 28% dos participantes da enquete do Estado como o maior símbolo da arquitetura de São Paulo. O prédio é o que é não só pela área construída mas - e, talvez, principalmente - pelo vão livre. "Um enorme vazio, uma grande janela para olhar a cidade", definiu o arquiteto Benedito Abbud, ao justificar seu voto. Carlos Eduardo Warchavchik acrescentou que a obra é "brutalista, com concreto aparente, racional, e de um formalismo contido".

Também foram muito citados como símbolo o Parque do Ibirapuera (10%), a Avenida Paulista (6%) e, não sem uma pitada de ironia, as Marginais do Tietê e do Pinheiros (6%).

Para tentar entender a admiração dos arquitetos paulistanos - e provocar um pouco a inveja dos mesmos -, o Estado também perguntou: "Qual obra da cidade você gostaria de ter feito?" Com 20% dos votos, deu Parque do Ibirapuera. "Porque só melhora com o uso", comentou o arquiteto Luiz Laurent Bloch. "Porque esta cidade precisa respirar, ter locais de lazer e encontro das pessoas", complementou Siegbert Zanettini.

Na sequência apareceram, empatados, a sede do Masp e o Conjunto Nacional, ambos com 7%. "Pela multiplicidade de usos que, após meio século de existência, ainda é atual e de qualidade", escreveu Luiz Felipe Aflalo Herman.

Surgiram também algumas respostas curiosas. Ruy Ohtake, por exemplo, preferiu não elencar nenhum. "Acho que devemos nos contentar com os nossos projetos", sentenciou.

O PIOR DE SÃO PAULO
E, na opinião dos arquitetos, qual é a obra que jamais deveria ter sido construída? O mais lembrado, por 44% dos que responderam à enquete, foi o Elevado Costa e Silva, o Minhocão. Inaugurado em 1971, é a principal ligação leste-oeste da cidade - em seus 3,4 quilômetros de extensão trafegam 70 mil carros por dia. Sua existência é responsabilizada pela degradação do entorno. De quebra, os moradores dos cerca de 140 prédios vizinhos a ele sofrem com barulho e poluição.

Em 2006, a Prefeitura lançou um concurso de ideias propondo alternativas para o problema do Minhocão. Participaram 46 concorrentes. Venceram - e embolsaram o prêmio de R$ 100 mil - os arquitetos Juliana Corradini e José Alves, do escritório Frentes. Eles sugeriram "encaixotar" a via, criando uma espécie de túnel suspenso para os carros. A parte de cima viraria um parque. "Resolveria o problema acústico e ainda se construiria uma outra área de lazer", defende Juliana. A ideia, entretanto, não foi levada adiante pela administração municipal.

Com expressivos 17% dos votos, a segunda obra mais citada como a que nunca deveria ter sido construída foi o Complexo Cidade Jardim - shopping de mesmo nome e conjunto de torres residenciais e comerciais, em estilo neoclássico, erguidos perto da Marginal do Pinheiros, cuja primeira fase foi inaugurada em 2008. "(Os prédios) são uma agressão ao hábitat urbano. Feios, sem proporção e desatualizados como linguagem", criticou o arquiteto Rogerio Batagliesi. "(O complexo não deveria ter sido construído) pelo estilo ultrapassado, pela densidade e pelo isolamento e separação do contexto urbano", comentou Roberta Homem de Mello. Arquiteto responsável pelo projeto, Pablo Slemenson defendeu-se. "Os arquitetos odeiam (a arquitetura neoclássica), mas os clientes adoram. Acho que os arquitetos deveriam se preocupar com a qualidade do espaço e não com a estética."

Por fim, quando perguntados sobre qual ponto da cidade escolheriam para melhorar, se pudessem, os arquitetos se lembraram, principalmente, do centro e das Marginais do Tietê e do Pinheiros (ambos foram citados por 14% deles). Em seguida, apareceram os parques (11%), a região da cracolândia (10%) e o Minhocão (8%).


Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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