21 de nov. de 2009

Eles sobreviveram para contar...

ACIDENTE NO RODOANEL
Apesar do susto e do mau estado dos veículos, vítimas escaparam do acidente com ferimentos de pouca gravidade

Caminhoneiro experiente, com mais de 20 anos de profissão, Reginaldo Aparecido Pereira, de 40 anos, está acostumado às surpresas das estradas. Ao ouvir na noite de sexta-feira um forte estrondo, imaginou que estava sobre uma grande buraco. Assustado, abriu a porta do caminhão em movimento e se jogou no acostamento. Ele ficou desacordado até ser socorrido pela equipe de resgate. O susto foi tão grande que Reginaldo não se lembra do que aconteceu do momento que se jogou do veículo até entrar na ambulância.

Quem conta a história é a sobrinha Rosemeire Ferreira dos Santos, que acompanhou a tia, mulher do caminhoneiro, Cleusa Inácio Pereira, de 48 anos, até o hospital na madrugada de ontem. O encontro foi emocionante. Todos choraram muito diante da sorte de Reginaldo de ter sobrevivido ao desabamento das vigas sobre o caminhão.

O caminhoneiro quebrou três costelas, teve um corte leve no rosto, uma fratura na clavícula e sofreu uma torção no braço. O rosto ficou inchado, mas ele conversava sem dificuldades. "Ele está consciente e reconhece todo mundo", disse Cleusa. Ontem à tarde estava prevista uma segunda tomografia pela equipe médica para confirmar se estava tudo bem. Ele deve ter alta do hospital hoje.

O casal Reginaldo e Cleusa, muito religioso, visitou a Basílica de Aparecida no fim de semana para pagar uma promessa. Rosemeire não sabe qual era o pedido, apenas que era algo referente à vida dos próprios tios. Cleusa fez aniversário na quarta-feira.

Habituada com a rotina do marido, Cleusa costuma falar com ele por telefone várias vezes ao dia. Na sexta-feira à noite ela sabia que ele iria até a empresa de transportes onde trabalha para trocar de caminhão. Era azul, novinho em folha. Ficou completamente destruído, enquanto Reginaldo, como todos diziam, "nasceu de novo".

A família, que mora em Osasco, assistia à TV quando soube do acidente, pouco depois das 21h. O último telefonema entre os dois havia sido às 20h30. Rosemeire tentou convencer a tia de que o caminhão não era o de Reginaldo, mas Cleusa afirmava, chorando: "É ele, é ele." Ela tentou falar pelo rádio e pelo celular. Ninguém respondia. Estava confirmado que Reginaldo era uma das três vítimas. Desde a madrugada Cleusa não saiu do lado do marido no hospital.

Luana Augusto Coradi, de 21 anos, passa todos os dias pela Régis Bittencourt, pois mora em Embu. "Vi as vigas chegando em uma carreta, depois as vi sendo colocadas e, por fim, as vi caindo", conta a bancária, que, ao contrário de muitos supersticiosos, tem o número 13 como um amuleto. "Ela conheceu o namorado no dia 13. O aniversário dele também é no dia 13 e foi no último dia 13 que Luana nasceu de novo", diz a mãe da bancária, Maria Estênia Augusto Otaviano.

Luana atribui à mãe a sorte de estar viva. "Naquela noite, estava indo ao aniversário de um amigo", lembra Luana. "Antes de sair, parei para me despedir de minha mãe e parei para falar com ela." Esses poucos minutos fizeram a diferença. Enquanto guiava seu automóvel Clio vermelho 2008, "novinho", pela Régis Bittencourt, Luana olhou para as vigas do Rodoanel. "Vi a ponte entortando e um pó caindo. Logo depois, tudo desabou."

Luana diz que não se lembra muito bem do que aconteceu depois disso. "Tudo ainda está muito confuso", diz a bancária que está tomando três remédios, um deles, calmante. "Só sei que bati em um Celta (o veículo de Carlos Fernando Rangel) e capotei, só não sei quantas vezes", recorda. O carro de Luana ficou de cabeça para baixo e ela conseguiu sair pela janela, engatinhando pelo chão, lotado de cacos de vidro. Os joelhos dela estão machucados dos cortes que sofreu e do impacto da batida.

Por não estar muito ferida, Luana foi deixada de lado pelos policiais que trabalhavam no resgate das vítimas e ligou para o namorado, Thomaz José Angelo Filho, de 26 anos. "Cheguei muito rápido ao local e levei Luana com o meu carro até o Pronto-Socorro Municipal Central de Embu", fala o namorado. Luana não chegou a fazer os curativos no PS. "Não havia condições. O médico não tinha nem luvas para tratar do meu joelho e não havia cadeiras de rodas para todos os que aguardavam."

De lá, Thomaz a levou para o Hospital Professor Edmundo Vasconcelos, no bairro da Vila Clementino, zona sul de São Paulo. Lá, ela usou seu plano de saúde para ser atendida. "Limparam meus ferimentos, fizeram chapa dos meus joelhos e colocaram a proteção no meu pescoço, que está dolorido por causa do capotamento", conta Luana, mostrando ainda a marca do cinto de segurança em seu peito. "Isso porque nunca uso cinto de segurança. Sexta-feira, algo me fez colocá-lo."

Maria Estênia está indignada com a falta de atenção que os policiais do resgate deram à sua filha. "Vou querer indenização, mas estamos vendo ainda como fazer isso", relata a mãe, uma vez que o plano de saúde cobre metade do tratamento e Luana tem de pagar o restante. Já Luana não quer pensar na burocracia de uma indenização. "Ainda não consegui dormir, acredita? Fecho os olhos e vejo o acidente. Agora, só quero respirar, porque tudo foi muito intenso."

O sapateiro José Carlos dos Santos, de 56 anos, estava voltando para a casa em Embu com a mulher, Rosa Helena, de 53, a filha Giovana, de 11, e a neta Nicole, de 7. Ele trabalha em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, e mora na região há 20 anos. Num outro carro, logo atrás, vinham o filho Eduardo Alves dos Santos, de 29 anos, e a mulher dele, Luciana Gomes, de 24 anos, os pais de Nicole. Assim, José Carlos que passou pelo viaduto, escutou um barulho. Então, ouviu gritos e o trânsito da pista contrária começou a parar. "Olhei para trás e vi o viaduto no chão", diz Carlos. "Vi uma correria. Gente pedindo extintor, um carro esmagado e um caminhão", conta Rosa Helena.

Passados alguns segundos do choque, o casal se lembrou do filho e da nora. Rosa Helena pegou o celular e ligou para eles. Os dois já tinham chegado em casa. "Por sorte, a minha nora sugeriu que fizessem outro caminho, que fossem pela Estrada do Campo Limpo, que não tem tanto caminhão como o Rodoanel", conta o sapateiro. A mulher respirou aliviada e jurou que nunca mais pegaria aquele trecho do Rodoanel novamente.

em parceria com Valéria França, Paula Pacheco, Etienne Jacintho e Moacir Assunção.

Domingo, 15 de novembro de 2009

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