7 de nov. de 2009

Premiadíssimo, consagrado - e quase inacessível

ESPECIAL
Mendes da Rocha projeta sem computador, trabalha sozinho e mantém a mesma rotina há décadas

Paulo Mendes da Rocha. Dizer que ele ganhou dois dos mais importantes prêmios da área - o Mies van der Rohe (em 2001) e o Pritzker (em 2006) - dá dimensão de como esse capixaba radicado em São Paulo é um mito da arquitetura brasileira. Aos 81 anos, repete sua rotina de criação solitária, num amplo e rústico escritório no prédio do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), projetado por Rino Levi (1901- 1965) no centro de São Paulo. Ali é seu endereço desde os anos 70, no mesmo andar que foi ocupado por Vilanova Artigas (1915-1985).

Na mesa, nada de computador. Seus projetos vão da lapiseira bege direto para a prancheta. Na parede, desenhos e garatujas de um dos netos são a única decoração. Mapas, plantas e livros, muitos livros, espalham-se pelas estantes metálicas. Como consegue projetar assim, em pleno século 21, sem modernos softwares, sem equipe afiada? Aos amigos, costuma dizer que arrumou um jeito de "institucionalizar sua vagabundagem". Na verdade, trabalha com escritórios associados - em geral, de ex-alunos.

Cinco por cento dos que responderam à enquete do Estado afirmaram ser este o melhor escritório de arquitetura da cidade. A atmosfera do estúdio de Mendes da Rocha não tem frescura. Largadão e despreocupado, o local não reflete a precisão e a minúcia que fizeram dele um dos mais importantes arquitetos contemporâneos do mundo.

Formado em 1954 pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, chamou a atenção já em seu primeiro grande projeto, o Ginásio do Club Athlético Paulistano (de 1957), onde utilizou concreto armado aparente e grandes espaços abertos. Uma obra modelo da que acabou conhecida como Escola Paulista de Arquitetura - crua e limpa.

Nos anos 60, iniciou sua trajetória acadêmica, tornando-se professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Defensor do papel social do arquiteto, desagradou ao governo militar e teve seus direitos políticos cassados em 1969 - nunca fez política partidária mas chegou a frequentar reuniões do Partido Comunista -, sendo afastado da universidade. Retornou à docência em 1980, já no processo de redemocratização do País.

Sua carreira é cheia de obras importantes. São de sua lavra o Estádio Serra Dourada, em Goiânia (de 1973); o Museu Brasileiro da Escultura (de 1986); a reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo (de 1988 a 1999); o Museu da Língua Portuguesa (de 2006)... Em 2002, viu-se numa polêmica: a cobertura sobre a Galeria Prestes Maia, na Praça do Patriarca, movimentou caloroso debate - e até hoje provoca a ira dos contrários à sua realização. Desde o ano passado, trabalha nas novas instalações do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa. Na última Bienal Internacional de Arquitetura, em 2007, foi homenageado ao lado de Niemeyer.

Houve cinco tentativas de agendar entrevista com Paulo Mendes da Rocha. Três telefonemas e dois e-mails - jamais respondidos. Por telefone, sua secretária afirmou que ele não tinha interesse em participar.


Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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