4 de nov. de 2009

Um casamento de meio século

ESPECIAL
A parceria de Botti e Rubin vem dos tempos de faculdade; hoje seu escritório emprega 30 arquitetos

Para ficar em três exemplos: o Centro Empresarial do Aço, no Jabaquara (projetado em 1989), as três torres do Centro Empresarial Nações Unidas, na Marginal do Pinheiros (também de 1989), e o Centro Brasileiro Britânico, em Pinheiros, são uma amostra do trabalho do escritório Botti Rubin na paisagem de São Paulo.

Citado por 8% dos arquitetos que responderam à enquete do Estado, o escritório fundado em 1956 por Alberto Botti, hoje com 78 anos, e Marc Rubin, de 77, nasceu como consequência de um concurso de arquitetura, quando eles ainda estudavam na Universidade Presbiteriana Mackenzie. "Juntamos as forças para projetar um hospital. Aquela coisa de estudante: trabalho que hoje faríamos em um mês, levamos seis", lembra Botti, contando que um outro colega de curso participou desse projeto mas acabou saindo do grupo quando o escritório passou a existir de fato. "Não ganhamos o concurso, mas isso não vem ao caso. O importante é que, depois, montamos um "escritorinho" e continuamos trabalhando."

"Escritorinho" que hoje emprega 30 arquitetos, em um prédio projetado pela própria dupla na Rua Hungria, e contabiliza cerca de mil obras realizadas. Mas nem sempre foi assim. "No início, tínhamos uma salinha naquele edifício do Oscar Niemeyer na Rua Barão de Itapetininga", afirma Botti, referindo-se ao Califórnia, concebido por Niemeyer em 1951. "Trabalhávamos dia e noite."

Lá, a sala da Botti Rubin era vizinha à sede de uma construtora. "Quando começamos a crescer e eles também, eu disse ao proprietário: ou nós ou vocês precisamos sair daqui, para o outro usar as duas salas", recorda-se. "Ele acabou saindo e nós dobramos a nossa área."

Nos anos 60, o escritório se desdobrou em outras empresas. "Tínhamos construtora, administradora e incorporadora", enumera. Foi assim por 12 anos, quando a sede era na Rua Brigadeiro Luís Antonio. "Era uma máquina de ganhar dinheiro, mas não tínhamos tempo para fazer arquitetura", conta. No início da década de 70, duas tragédias fizeram os sócios repensar o futuro: durante viagem pela Itália, a primeira mulher de Botti morreu em acidente de carro; pouco tempo depois, Rubin sofreu um enfarte. "Vendemos tudo e ficamos só com o escritório de arquitetura", resume Botti.

BARCOS, ESQUI, GOLFE...
Botti e Rubin eram amigos de faculdade antes de firmarem o bem-sucedido "casamento" de sua sociedade. O primeiro, filho de um banqueiro, nasceu em Santos e passou a viver em São Paulo ainda criança. Rubin, que carrega até hoje o forte sotaque francês, nasceu em Paris e mudou-se com a família para o Brasil durante a 2ª Guerra. "Meu pai era engenheiro de telecomunicações e veio trabalhar aqui", relembra, citando a empresa multinacional que ele dirigia. "Encantei-me com a arquitetura brasileira e resolvi estudar isso para também criar espaços."

E qual a receita de tantos anos de parceria? "Temos temperamentos complementares, por isso é que dá certo", acredita Botti. "Resumindo: ele gosta de barco a vela e eu de barco a motor." Os veleiros, aliás, foram um grande passatempo de Rubin - "já fui até campeão de competição, em 1983, mesmo sem nunca ter sido um grande velejador" -, assim como o esqui na neve. Ultimamente, dedica-se ao golfe nas horas vagas. Mora na Chácara Flora, com a mulher, com quem é casado há 43 anos.

Com o privilégio de quem vive - em uma casa projetada por ele - a menos de 1 km do escritório, Botti conta que até uns dez anos atrás costumava ir de bicicleta ao escritório. "Agora venho de carro, por comodidade." Seu maior hobby continuam sendo os barcos - o seu fica em Santos. "Barcos de velocidade. Gosto de mulheres lentas e barcos rápidos", explica ele, que após a viuvez, casou-se pela segunda vez.

Botti, que de 1973 a 1975 presidiu a Empresa Municipal de Urbanização do Município de São Paulo (Emurb), é um crítico da forma como vem sendo feita a revitalização da região da Luz. Por isso, quando foi convidado a apresentar uma ideia para o Estado, tratou de recuperar uma proposta desenvolvida em 2004 por seu escritório. "A região é hoje ocupada por edifícios baixos e sem maior valor arquitetônico", diz. "O ideal seria uma reconstituição das quadras, formando espaços maiores, e um sistema viário mais generoso, com amplos calçadões onde a vida acontece. Com edifícios de dimensões amplas, de usos mistos: habitação, serviços e comércio, de forma equilibrada."

De acordo com ele, isso supriria as deficiências de funções do centro velho paulistano e alavancaria a recuperação da região. "O problema maior (das obras que vêm sendo feitas) é que se pegou uma areazinha pequena. O resto continua como era. A renovação urbana não pode ser feita em área muito pequena. Está se perdendo uma oportunidade", critica. "Por que não estender a renovação até a Marginal do Tietê?"


Quinta-feira, 29 de outubro de 2009

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