19 de nov. de 2009

Paixão por ópera que vem de casa

PAULISTÂNIA
A jovem diretora Lívia Sabag estreia sua 15ª montagem

Lá no fundo, quase na última fileira das aveludadas poltronas do Teatro São Pedro, escondida em meio ao público esperado de cerca de 600 pessoas, estará, na noite da próxima quarta, uma moça de voz doce e olhos atentos. Assistirá à estreia da famosa ópera Pagliacci - escrita em 1892 pelo compositor napolitano Ruggiero Leoncavallo (1857-1919) - com conhecimento absoluto de tudo o que deve acontecer. Trata-se de Lívia Sabag, a diretora do espetáculo.

Esta é a 15ª montagem da carreira desta jovem paulistana de 29 anos. E tem um significado especial: pela primeira vez, tem na equipe o pai, o maestro Marco Antonio da Silva Ramos, de 59 anos, regente do coro. "É fácil trabalhar com ela", derrete-se o maestro. "De todas as pessoas com quem eu trabalhei, raras vezes tive alguém com um profissionalismo tão claro."

Lívia não nega que a influência familiar pesou muito em sua escolha profissional. Aliás, conta isso com indisfarçável orgulho. "Quando criança, tinha muito contato com ópera por causa de meu pai (Marco é professor de Música da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo)", lembra. "A primeira que vi inteira foi Aida (de Giuseppe Verdi), pela televisão, aos 10 anos. Prestei muita atenção na interpretação, achava tudo bonito visualmente." Dois anos mais tarde, assistiu pela primeira vez a um espetáculo ao vivo, no Teatro Municipal: em cartaz, Il Tritico (de Giacomo Puccini), composto pelas óperas Il Tabarro, Suor Angelica e Gianni Schicchi. "Marcou-me mais a Suor Angelica, que era dirigida por Bia Lessa", recorda.

Ainda sobre a adolescência, Lívia conta que certa vez seu pai comprou um disco com a ópera Zaide (de Mozart). "Fiquei apaixonada pela ária Ruhe Sanft", afirma.

ESCOLHA
A menina que cresceu no meio musical - "frequentava ensaios com meu pai o tempo todo, vivia nesse mundo" - começou levar a sério a possibilidade de seguir carreira. "Aos 14 anos, fui conversar com uma professora da USP para saber como era lá", diz. "Eu queria um ponto de vista que não fosse o do meu pai."

Entre aulas de violão e teatro, preparou-se para ingressar na universidade. Fez Artes Cênicas, formando-se em 2002. Trabalhou como atriz e dançou balé antes de se especializar em óperas, mas o gostinho pela área era constantemente cultivado. "Ao longo do curso, eu já dizia que queria direção. E direção de ópera."

Outra figura familiar contribuiu para as aspirações de Lívia, com conselhos pontuais, longas conversas e planos - jamais concretizados - de um dia fazerem algo juntos. Ela é sobrinha-neta do ator, diretor e produtor de teatro, cinema e televisão Fábio Sabag (1931-2008), nome importante da dramaturgia brasileira com, estima-se, cerca de 7 mil participações em produções artísticas ao longo de seis décadas de carreira. "Lembro-me que, no começo de minha carreira, eu estava naquele esquema de teatro alternativo e era muito interessante conversar com ele sobre isso", emociona-se Lívia, com uma pausa em sua fala. "Ele era brilhante, uma figura inteligentíssima", intercala, antes de nova pausa. "Meu tio tinha uma visão tradicional bacana de trabalho com o texto, então conversávamos bastante sobre isso. Era uma relação de orientação."

CIRCUITO CULTURAL
No tempo livre, Lívia costuma se divertir no circuito cultural paulistano, principalmente teatro e cinema. "Quando estava na faculdade, acho que conheci todos os teatros da cidade. Íamos a todos os bairros, todas as regiões."

Outra predileção são os restaurantes japoneses, que costuma frequentar com o pai.

São Paulo é sua cidade mais do que por nascimento, por devoção. Entre 8 e 15 anos de idade, morou em Campinas, com a mãe - seus pais são separados. "Não gostava. Senti muita falta daqui", admite. "Era um desespero para voltar logo para São Paulo e acabei vindo morar com meu pai." Desde os 21 anos, vive sozinha em um apartamento em Pinheiros.

A especialização em ópera obriga Lívia a se dedicar muito aos estudos. Não só do ramo em si, mas também de outros idiomas - além do português, ela domina o inglês, o italiano, o francês e o espanhol e está "quase lá" no alemão.

Ao longo do mês que precede a estreia de uma montagem, ela divide com o elenco e a equipe uma rotina árdua de ensaios diários. "Fico no palco com eles, pego cada um, faço junto...", enumera. Em Pagliacci, são mais de 60 pessoas, entre solistas, coro, músicos e equipes de produção, cenário e figurino.

Serviço
Pagliacci: Teatro São Pedro, na Rua Barra Funda, 171, Barra Funda; tel.: (11) 3667-0499. Dias 11 e 13, às 20h30; e 15, às 17h. R$ 20,00


Domingo, 8 de novembro de 2009

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